domingo, 27 de agosto de 2017

A Europa aos tiros nos pés

Não me agradam nada as coisas que vejo num futuro relativamente próximo, e com as quais terei que viver durante grande parte da minha idade adulta. Temo vir a viver num país onde os valores que nos moldaram como Sociedade Ocidental deixem de existir. 

Digo isto porque penso que será natural que a presente diluição cultural da Europa nos contagie com cada vez mais força. Temo particularmente dois aspectos: a islamização da Europa e a ideologia de género.

1. É grave a tremenda falta de capacidade da Europa para lidar com um problema de movimentação massiva de povos, e que não tem qualquer retorno – pelo menos que eu vislumbre. 

Acredito que a Europa que eu herdei terminou. Pelo menos um ciclo. E isso preocupa-me. E não me satisfaz absolutamente nada a resposta de “tem que ser assim”, “as coisas mudam”, “temos que aprender a viver com a mudança”. E cada vez me convencem menos aqueles que dizem que não, que a Sociedade Ocidental não está nem vai mudar.

A primeira reacção que tenho ao ver o que se passa com a migração islâmica e a sua exagerada ostentação é que parece haver uma acção clara de confronto. Preocupar-me-ia moderadamente se a questão residisse apenas num cada vez mais elevado número de pessoas que procurassem refúgio numa Europa culturalmente rica, capazmente integradora das diferenças. A questão é que não é isto que se passa. O que se passa é um óbvio e naturalíssimo aproveitamento, por parte de uma cultura inteira, dum vácuo de ideias, de um fosso de visão de uma não-cultura encapotada numa politicamente correcta “abertura e acolhimento”, que, neste caso, já se verificou que é o mesmo que dizer: “não temos identidade nenhuma, não temos ideia nenhuma do que fazer convosco, ocupem o fosso cultural que vos deixámos”. A minha crítica não é a essa nova cultura, é a nossa falta de cultura.

Preocupa-me a incompreensível e suicida falta de interesse dos decisores do Ocidente em encontrar uma resolução para esta questão. Preocupa-me a ideia de que sejamos tão básicos que a nossa inacção se prenda apenas com interesses económicos imediatistas de grandes grupos. Não vejo resposta nenhuma para esta situação. Viveremos numa Europa em declínio, sem volta a dar?
Como cristão, preocupa-me que certos valores em que acredito venham a ser cada vez mais postos em causa. Intriga-me a ideia de que estes valores venham a ser atacados por uma cultura que, com toda a probabilidade, me virá bater à porta mais tarde ou mais cedo. 

Talvez seja exagero meu, este receio desta nova cultura, mas neste caso culpo os órgãos de comunicação social que me fazem chegar esta visão a casa. Acho que sou realista ao temer que não se trata meramente do sensacionalismo mediático. 

2. O segundo aspecto que vejo contribuir para a diluição cultural da Europa é o tentacular lobby da ideologia do género, que, como a peste negra, contamina o Ocidente. 

Obviamente ligado ao problema da migração cultural que antes referi está o facto de a Europa, ao invés de se querer afirmar como Civilização, parecer que quer enterrar a cabeça e a alma com ainda mais força, rapidez e urgência, como uma avestruz. Não pretendendo definir ideologia do género, espanta-me a eficácia dos seus tentáculos. A título nada exaustivo, refiro dois ou três:

a) a destruição da educação aliada ao endoutrinamento forçado de crianças e adultos. Hoje, todos somos coagidos por todos os meios a aceitar ideias que se opõem em absoluto aos valores com que fomos educados e à visão de matriz cristã acerca do Homem. No espaço de poucas décadas, programas de (des)educação foram feitos com o objectivo de obrigar as crianças a acreditar em ideias que, até hoje, estavam na liberdade educativa dos pais passarem aos filhos. 

O pelouro da educação no que respeita aos valores e à identidade (o cerne da educação) foi sendo sub-repticiamente retirado aos pais em prol da promoção de valores que só por fora são bons: como é que se chegou ao ponto de achar que é normal que “promover a saúde pública” se faça ensinando multidisciplinarmente “valores sobre sexualidade” a crianças até aos dez anos?

b) a opressão de valores tão básicos como a liberdade editorial de livros não obrigatórios através da censura, disfarçada de protecção de “direitos à igualdade” (o caso recente da amedrontada Porto Editora).  Como é que se pensa que é razoável “promover a igualdade” obrigando editoras particulares a repensarem os seus conteúdos, ao ousarem afirmar que a cor ‘’azul está associada aos rapazes? Como é que é possível que um médico que emita uma opinião pessoal, não pretendendo representar ninguém a não ser ele mesmo, seja publicamente linchado como um Hitler?

E o espantoso é que a óbvia contradição lógica de censurar e perseguir quem emita opiniões discordantes do que “é suposto” em prol da igualdade e da liberdade não é sequer problema para quem censura e persegue. 

c) há um quase inexplicável ódio e uma fúria quase incompreensível atrás desta onde que acena a bandeira da “igualdade e da liberdade para tudo e mais alguma coisa” contra aqueles que defendem o que a Sociedade Ocidental nos legou. Há uma urgência evidente em cortar com todas as raízes que serviram de base ao que somos hoje. Há uma escondida, actuante e sistemática excomunhão dos conceitos como Tradição, Verdade, Beleza, Bem.

Preocupa-me, claro, pensar que soluções e caminhos encontrará a minha Europa para estas questões. Se me parece realisticamente negro o cenário que as duas realidades que abordei implicarão para o mundo em que os meus filhos viverão, alegra-me por outro lado pensar que, como cristão, esta é já uma história muito antiga e que devo depositar toda a minha esperança n´Aquele que disse que O devo amar sobre todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo.

Resta-me tentar viver isso com aqueles com quem me cruzo, rezar pelos que atacam as ideias e valores em que acredito, e pedir a Deus pela unidade cada vez maior daqueles que são d´Ele. 
A confusão destes tempos leva a um quase incompreensível radicalizar de posições mesmo dentro dos cristãos. Verifico em mim que, não podendo ceder à Verdade daquilo que Jesus ensinou, sou obrigado a uma permanente análise à minha misericórdia, em primeiro ligar com os que estão na mesma barca que eu.

Tenho para mim que estes não são tempos para sermos light nas coisas que fazemos, nas coisas que dizemos, nos comportamentos que temos. Este tempo exige que tentemos ser intrinsecamente bons, mesmo quando ninguém vê ou ouve o que pensamos. Diariamente. Deus nos ajude!

Bernardo Castro


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