segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

São Francisco Sales sobre o amor às criaturas

Há certos amores que parecem extremamente grandes e perfeitos aos olhos das criaturas, e que diante de Deus são pequenos e de nenhum valor. E a razão é que estas amizades não estão fundadas na verdadeira caridade, que é a caridade para com Deus, mas apenas em certas tendências e inclinações naturais.

Pelo contrário, há outros amores que parecem extremamente reduzidos e vazios aos olhos do mundo, e que diante de Deus serão cheios e muito excelentes, porque os atos correspondentes se fazem apenas por Deus e em Deus, sem mistura do nosso interesse pessoal. Os atos de caridade que fazemos por aqueles que amamos desta maneira são mil vezes mais perfeitos, na medida em que tudo é puramente por Deus, mas os serviços e outras ajudas que prestamos àqueles que amamos por inclinação têm muito menos mérito, devido à grande complacência e satisfação que obtemos com a sua realização, e ao facto de, em geral, os fazermos mais por este movimento que por amor a Deus.

Há ainda outra razão que torna as primeiras amizades de que falámos menores que as segundas: o facto de não durarem, uma vez que, sendo a sua causa tão frágil, logo que surge um obstáculo, esfriam e alteram-se; coisa que não acontece àquelas que são apenas em Deus, porque a sua causa é sólida e permanente.

Os sinais de amizade que damos contra a nossa inclinação às pessoas pelas quais temos antipatia são melhores e mais agradáveis a Deus que aqueles que damos atraídos pelo afeto sensível. E a isto não deve chamar-se duplicidade nem dissimulação, porque o sentimento contrário que experimento reside na parte inferior de mim, e os atos que faço são feitos com a força da razão, que é a parte principal da minha alma.

Assim, aqueles que nada têm de amável são felizes, porque o amor que se lhes dá é excelente, pois vem de Deus.

São Francisco de Sales in 'Sobre o amor às criaturas'


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1 comentário:

Anónimo disse...

Daí, Jesus afirmar que " há atitudes boas ( humanamente pensando), que se não estiverem de acordo com a Vontade de Deus, mais mereciam castigo.
Logo, este tema fez- me pensar nas atitudes, aparentemente boas e misericordiosas, da atual Igreja, como a agilização das nulidades matrimoniais, que o Papa Francisco pede, tendo em conta o Bem das pessoas, em primeiríssimo lugar, sem respeitar seriamente
a intransigência de Jesus nessa matéria.
Pede aos Juízes que orem de joelhos, mas já partindo de primícias erradas e contrárias à Verdadeira Doutrina, pois, antes do C.V. II, as nulidades nunca seriam dadas a casais com filhos ou que tivessem consumado o casamento.
As exceções eram muito poucas.
Hoje, assim, os filhos legítimos é que viram bastardos!
Apenas mudam o nome às coisas, como se fosse possível enganar a Deus.