quinta-feira, 27 de junho de 2019

A impressionante Peregrinação Paris-Chartres

Este ano fui pela primeira vez à Peregrinação Paris-Chartres. Esta peregrinação começou em 1983 com o objectivo de reunir os franceses afectos ao Rito Tradicional Romano, que tinha então sido posto de lado por grande parte dos Bispos e sacerdotes, como se pudesse ser proibido. O número de peregrinos foi aumentando e, no ano 2000, a peregrinação começa a ser organizada pela associação Notre-Dame de Chrétienté.

Normalmente a peregrinação une as duas catedrais góticas de Paris e Chartres. No entanto, devido ao incêndio que destruiu parte da Catedral de Notre Dame em Paris, a peregrinação saiu da igreja de Saint-Sulpice em Paris. O destino continuou a ser a Catedral de Chartres, que é um destino de peregrinações já desde o séc. XII. 

A peregrinação está divida em dois grupos: adultos (no qual se incluem jovens) e famílias. O primeiro grupo percorre um caminho que pode ser considerado duro: são 100 quilómetros em dois dias e meio. O segundo grupo faz um caminho mais tranquilo, percorrendo menos quilómetros. Os dois grupos vão-se encontrando: para a Santa Missa, refeições ou pernoitar no mesmo local. Estima-se que este ano, na Catedral de Chartres (dentro e fora), tenham estado cerca de 15 mil pessoas.

A organização é admirável: mais de 1000 voluntários. A logística necessária numa peregrinação com 15 mil pessoas é de loucos! Tudo tem de estar organizado até ao mais ínfimo pormenor. E nisso os franceses deram uma prova de grande capacidade. O despertar era às 5 da manhã. Levantar e arrumar as coisas porque as enormes tendas começavam logo a ser desmontadas. Comer qualquer coisa e às 6h30 começavam a andar os primeiros peregrinos.

Os peregrinos estão divididos em capítulos. Os capítulos podem representar uma língua, um país ou apenas um grupo que se organizou para que pudesse caminhar junto. Este ano houve um capítulo português pela primeira vez. Estavam presentes bastantes capítulos "estrangeiros", dos mais variados países. Mas muito mais capítulos franceses, obviamente. Os capítulos seguem-se uns aos outros, segundo a ordem estipulada pela organização. 

Esta peregrinação é um verdadeiro desapego das coisas mundanas. Além do caminho que implica esforço e sofrimento, os luxos são poucos ou inexistentes. Cada um leva a própria comida, o que dá lugar a grandes "partilhas". A organização oferece café de manha, água durante o dia e sopa à noite. Nas refeições oferece também algumas pequenas 'baguettes', pão típico francês. Os banhos são escassos. As tendas estão normalmente a abarrotar de gente. Cá fora está um frio de rachar.

Na peregrinação há centenas de sacerdotes. Quase todos fazem a peregrinação de batina. Muitos deles também com sobrepeliz e estola roxa porque vão confessando peregrinos ao longo do caminho. São milhares e milhares de confissões! Também se encontram religiosos e religiosas de inúmeras congregações religiosas tradicionais. A maioria são novas vocações.
O ambiente de oração é fantástico. A começar pelas Missas, celebradas em Rito Tradicional com toda a solenidade possível, silêncio absoluto e um coro belíssimo. Os capítulos rezam alguns terços durante o dia. Era normal ouvir Avé-Marias cantadas em latim, em francês e noutras línguas. Os capítulos tinham ainda catequeses próprias, dadas enquanto se andava porque parar é morrer!

Uma peregrinação com 15 mil pessoas é impressionante. Uma peregrinação com 15 mil pessoas na Europa descristianizada é muito impressionante. Mas uma peregrinação na Europa descristianizada com 15 mil pessoas, das quais a grande maioria são jovens, é uma visão do Céu. A média de idades no ano passado foi 21 anos. Este é, sem dúvida, o futuro da Igreja. 

Estes católicos franceses têm vindo a preparar os seus filhos para o combate. Combate espiritual e não só. Na peregrinação havia muitos grupos de jovens com espírito verdadeiramente militante: obedientes, respeitando uma hierarquia e seguros dos valores que querem para as suas famílias e para a sociedade. Eram muitos os hinos patrióticos cantados - às vezes berrados até! - a plenos pulmões. As bandeiras e pendões eram incontáveis e do mais variado.

Na Peregrinação Paris-Chartres respira-se a fé católica e respira-se a civilização católica. Isto, como não poderia deixar de ser, no meio de uma grande alegria que é própria de quem se sabe amado por Deus e chamado a ser santo. Vale a pena experimentar aquele santo ambiente, nem que seja uma vez na vida.

João Silveira


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