sexta-feira, 17 de abril de 2020

Desabafo de um Sacerdote sobre a suspensão das Missas públicas e celebrações do 13 de Maio

Caros amigos, preciso de partilhar convosco a minha dor, o meu sofrimento, que me impedem de viver em júbilo estes dias: a suspensão das celebrações dominicais, por causa da pandemia. Eu não estou a minimizar a gravidade da pandemia e eu próprio estou confinado à minha residência, obedecendo às orientações da DGS e às ordens do governo. 

Não me escandaliza o facto de o governo ter proibido as celebrações, tarefa que lhe foi facilitada pela antecipação dos bispos, dispensando os fiéis do preceito dominical. Deus quer que todos celebrem o dia que a Ele pertence, que Ele fez, como cantamos durante esta semana pascal e que se repete semanalmente ao domingo, dia do Senhor. Ao dispensar assim os fiéis deste mandamento divino, os bispos ultrapassaram os limites das suas competências. Ninguém pode dispensar ninguém de cumprir os Mandamentos da Lei de Deus. Ao fazerem isto, os bispos cometeram um grande pecado, de consequências inimagináveis. Como Adão, vão descobrir agora que estão nus, que perderam toda a sua autoridade. 

Foi feita a consagração de Portugal ao Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria no dia 25 de Março. Mas dizem-me que o mesmo bispo que presidiu à consagração já declarou a suspensão das celebrações do 13 de Maio… Minha Nossa Senhora, valei-me! Então Nossa Senhora não tem poder para proteger os peregrinos que a ela recorrem? Então para que serviu a consagração? Estamos a viver uma profunda crise de fé ao nível da mais alta hierarquia da Igreja. 

Talvez agora é que se cumpre a mensagem de Fátima: o Anjo e Nossa Senhora mostraram aos Pastorinhos a profunda «tristeza de Deus». Como Deus deve estar triste hoje! Porquê? Por causa da coronavírus? Por causa dos doentes com cancro? Por causa de outros males que nos afectam? Não, com certeza! Por causa da falta de fé; por causa dos pecados que «bradam aos céus»: sobretudo o homicídio voluntário, o aborto, que atinge proporções nunca vistas de calamidade mundial! O clamor do sangue das crianças que não deixam nascer sobe da terra aos céus, como o sangue do justo Abel. 

Por isso, mais do que triste, Deus deve estar indignado, zangado, tendo chegado ao limite da Sua divina paciência! Ao suspenderem as missas dominicais, contra o preceito divino, os bispos aparentemente tomaram uma decisão corajosa, mas comprometeram irremediavelmente a sua autoridade. Logo o governo «proibiu» todas as celebrações, não só as dominicais, e agora será o governo quem há-de decidir quando elas serão permitidas e em que condições, porque paira sempre no ar um perigo, real ou potencial, para a saúde pública. Em nome da nossa segurança, tiram-nos a liberdade. E tudo para o nosso bem, porque estamos todos no mesmo barco, até Deus, como disse o Papa na mensagem antes da bênção «Urbi et Orbi», e a nova versão da missa votiva em tempo de calamidade, recentemente aprovada pela Congregação dos ritos e dos sacramentos. Meu Deus, perdoai-lhes, porque não sabem o que dizem nem o que fazem! 

Nas circunstâncias actuais, tomo muito a sério aquela frase que li em Luisa Piccaretta e que já vos referi: «Quando permito que as Igrejas sejam abandonadas, os ministros dispersos, as missas reduzidas, significa que os sacrifícios são ofensivos para mim. As orações, insultos; as adorações, irreverência; as confissões sem fruto. Portanto, não mais encontrando a Minha glória, mas somente ofensas nem bem nelas, não Me servindo mais, Eu mesmo os removo». Então não foram nem os bispos que suspenderam as missas; nem o governo que as proibiu; foi o próprio Senhor que está cansado de tanta indiferença, falta de respeito, como naquela vez em que amaldiçoou a figueira, porque estava seca, sem fruto. E isso diz-nos a todos respeito, tanto aos padres como aos leigos, porque deixámos de ter o respeito devido ao Santíssimo Sacramento, com terríveis profanações e sacrilégios. 

Por isso, porque também eu sou pecador e preciso da misericórdia divina, porque estas palavras aceito-as como ditas, em primeiro lugar, para mim, vivo estes dias em atitude penitencial própria da quaresma. Este tempo festivo por excelência vivo-o como luto! S. Tomás tem uma frase que me consola nesta desolação: «Deus não permitiria um mal, se dele não pudesse tirar um bem maior». É esta esperança que me anima, porque Cristo Ressuscitou, venceu Satanás, o pecado e a morte. A Ele toda a glória e o poder para sempre.

Padre José Jacinto Farias - Professor de Teologia Dogmática na Faculdade de Teologia da Universidade Católica de Lisboa


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6 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia.

Será que as Igrejas não podiam estar abertas, mais que não fosse, seguindo o critério adotado para tantas situações do dia-a-dia (entram x pessoas de cada vez a cada y minutos, com x e y ajustados de acordo com a Igreja)?

Cumprimentos.

MValle disse...

Só para agradecer este lindíssimo e excelente texto e note-se a triste diferença de atitudes dos nossos governantes a apelar a todos nós para se celebrar o 1º de Maio - trabalhadores..? Quais, onde andam, em que situação estão? No mínimo, é revoltante. Descabido e triste - bastante e enfim..

Luís Lopes disse...

Os bispos cometeram pecado, ao serem prudentes e tentarem seguir as orientações de saúde pública para evitar o alastramento da Covid 19? Eu acho que não. Acho que foram sensatos.Pode até ser que o autor do texto esteja a cometer pecado ao condenar dessa forma os bispos.
Que o Governo impeça as celebrações da Páscoa e agora abra as do 25 de Abril e 1 de Maio, acho mal. Deve haver coerência.
Para mim, com o devido respeito pelas outras celebrações, a Páscoa é a maior! A ressureição de Cristo, a sua vitória, o que Ele alcançou - perdão dos pecados dos que o aceitam, vida eterna... - é muito maior que tudo.
Ele é aliás o único Senhor e é pena que muitos continuem erradamente a chamar Senhora a Maria. Não, há um só Senhor, Jesus!
É um período difícil e triste, mas esperamos que Deus nos ajude a atravessá-lo e que as comunidades cristãs (e outras) possam voltar à normalidade, com liberdade total para congregação

Anónimo disse...

https://peticaopublica.com/pview.aspx?pi=PT99164

Miguel Lima disse...

Infelizmente, podemos dizer que os Srs. Bispos cometeram uma grande falha ao fecharem as Igrejas ao culto Divino. o que deveriam ter feito, foi o que agora se vai fazer... entradas limitadas com máscara e distanciamento.
Podemos dizer que houve uma atitude de subserviência a ateus, corruptos e assassinos/abortistas..., na sequência de outras. Historicamente, podemos confirmar que este não é o único período da nossa já longa História em que verificamos falta de Fé e de coragem por parte dos Bispos e subserviências a gente maligna, tal como aconteceu em 1910.
Honra ao Bispo, Dom António Barroso que foi Homem e Servo de Deus..., esteve de joelhos diante de Deus e de pé diante dos homens... e por isso, tem estado abafado pela hierarquia, que também tem mostrado ingratidão com governantes cristãos e que a defenderam quando necessário.

Maria disse...

A minha paróquia e mais duas ou 3 que conheço, com todas as condições e cuidados sanitários, de distanciamento, etc., sempre estiveram abertas e disponibilizam a possibilidade de nos confessarmos e comungarmos, quando o pedimos, claro. Eu pude comungar desde o 1º dia, graças a Deus e ao nosso Pároco, muito jovem e santo! Até tivemos procissão no dia 12, com cantos, velas, lenços do adeus e muitos moradores nas varandas, encantados com esta sorte!
Penso que os interessados também têm que ir e pedir, ajudando assim os sacerdotes.