sexta-feira, 27 de maio de 2022

Algumas Dicas sobre a Oração

A Oração, segundo eminentíssimos Santos e Padres da Igreja, é um elevar-se da alma a Deus que desemboca num diálogo com Ele. S. Francisco de Assis considerava fundamental uma consciência não só da sua miséria, mas também da grandeza e Majestade de Deus, por isso repetia, inclusive durante vigílias muito prolongadas ‘Quem és Tu, Deus Omnipotente e Misericordioso, e o que sou eu, miserável verme, indigno de ti’. As orações que compôs são essencialmente como que um esquecimento de si mesmo e um extasiar-se em Deus, louvando-O continuamente não só por Ele ser quem É, mas também por toda a Criação, que não só O revela, como nos ajuda a reconhecer e cantar, com profunda gratidão, todas as Suas obras.

Sta. Teresa de Jesus (de Ávila) ensinava que antes de rezar devíamos considerar quem fala - nós grandes pecadores -, com Quem fala - com Sua puríssima e Santíssima Majestade Divina -, e como se fala, isto é, com toda a humildade e Reverência. Esta mística extraordinária, dizia que a Oração era ‘Um entreter-se de amizade, estando muitas vezes a sós, com Alguém (Jesus Cristo) que sabemos que nos ama’. Por insistência das Irmãs, que lhe pediam um livro sobre a Oração, escreveu o “Caminho da Perfeição”. Poderá parecer extraordinário, mas a verdade é que quase todo texto se refere às condições indispensáveis para a Oração, a saber, o desapego ou desprendimento quer de coisas quer de pessoas; a humildade, ou verdade, que proporciona o conhecimento de Deus na Sua grandeza e o da própria pessoa como inteiramente dependente do Criador, e também no conhecimento da sua miséria, embora esta seja vista à luz da Infinita Misericórdia Divina; e a caridade em tudo para com todos aqueles que nos rodeiam. Sta. Teresa considerava que sem estas virtudes não seria possível uma verdadeira vida de Oração-contemplação.

Na sua autobiografia, e no seu livro das Moradas torna muito claro, contrariando muitos teólogos de então, que a verdadeira e mais elevada Contemplação não é possível senão através da humanidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, e aponta como exemplo S. Francisco de Assis. Compreende-se, entre outras influências, a marcante Direcção Espiritual, por parte do sublime S. Pedro de Alcântara, franciscano, não só durante a sua vida terrena, mas mesmo depois da sua morte, uma vez que, segundo o testemunho da própria, continuou a acompanhá-la.

Nos tempos idos em que se debatiam distinções agudas entre oração vocal e oração mental, Sta. Teresa não titubeia e afirma claramente que toda a Oração vocal que seja rezada com atenção, considerando o que se diz, é necessariamente Oração mental.

O P. António Vieira, jesuíta, que escreveu trinta magníficos Sermões sobre o Rosário (o Terço), a determinada altura pergunta-se como será possível que uma Oração tão potente rezada por tanta gente não dê os frutos esperados e prometidos. A esta interrogação responde dizendo que o Terço não tem sido bem rezado, pois para sê-lo não basta recitar as orações, mas mais importa meditar os Mistérios da vida de Cristo. E adianta, quando rezamos o Pai-nosso e as Ave-marias falamos nós com Deus, mas quando meditamos os Mistérios da vida de Cristo é Deus que fala connosco; e acrescenta, é muito mais importante escutar atentamente o que Deus nos diz do que aquilo a que Ele dizemos. Uma vez que falamos do Terço do Rosário, parece vir a propósito recordar que até S. Pio V somente se rezava a primeira parte da Ave-Maria que terminava com o Nome de Jesus. S. Pio V, certamente inspirado pelo Espírito Santo, acrescentou a segunda parte, a saber, ‘Santa Maria, etc.’

Sto. Inácio de Loyola sintetiza nos seus Exercícios Espirituais a tradição dos Padres do deserto, das Ordens Monásticas e Religiosas que o antecederam. Mesmo as suas regras de discernimento já se encontravam em grandes autores e pregadores espirituais. Isto em nada diminui o seu mérito. Aliás os seus Exercícios tiveram um impacto enorme e muito positivo na Igreja. Infelizmente, hoje em dia, em algumas regiões, são utilizados de um modo que Sto. Inácio nunca admitiria, a saber, manipulados, em nome do discernimento, para fugir à Doutrina da Igreja sobre os absolutos morais, induzindo muitos a pensar que podem em boa consciência praticar aquilo que é intrinsecamente perverso (mau). Ora os absolutos morais obrigam sempre, em qualquer circunstância e sem excepção alguma.

Sta. Teresinha do Menino Jesus praticou e ensinou a “Infância Espiritual”. Este caminho tão extraordinário, acessível a qualquer Crente, conquistou uma imensidade de almas para o Amor a Jesus. Mas, segundo grandes teólogos, por exemplo, Hans Urs von Balthasar, terá sido a sua fase, no final da sua vida - em que experimentou tremendas dúvidas de Fé, permanecendo, não obstante, na firmeza da fidelidade Àquele em que sempre acreditou -, que Sta. Teresinha suportou vicariamente o ateísmo do séc. XIX, passando de algum modo para esses ateus a Fé em Deus.

Sta. Isabel da Trindade, também ela carmelita, recebeu Graças extraordinárias, sendo que a principal foi a de tomar consciência da habitação da Santíssima Trindade na sua alma. Toda ela se deixava absorver por essa Presença. O Pai, o Filho e o Espírito Santo estavam nela, como estão em todas as almas em Graça. No entanto, há tantos que não têem esta consciência. Dessa consciência e meditação contínua brotou toda a sua alegria, toda a sua devoção e contemplação: ‘O Céu é Deus, tenho Deus na minha alma, porque em mim habitam o Pai, o Filho e o Espírito Santo, por isso possuo o Céu na terra.

Padre Nuno Serras Pereira


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