terça-feira, 2 de outubro de 2012

Por causa de um livro que li na cadeia

Tinha 29 anos e estava preso há dois anos por causa de um delito. Nessa altura eu via Deus muito longe da minha vida. Via-O no céu e a mim na terra. A única coisa que tinha claro é que Ele existia.

Não sabia nada acerca de S. Josemaria Escrivá, até ao momento em que uma Irmã das Filhas da Caridade me trouxe um livro chamado Amigos de Deus. Depois de ler o referido livro, posso dizer que, agora sim, sei que Deus não está só no céu e na terra, mas também está dentro de mim.

Na minha infância tive uma boa educação católica mas na adolescência os meus amigos diziam-me: “Deus não existe, que tolice, temos que progredir, é preciso ser moderno…”. E deixei-me levar… Às vezes é bom termos alguém que nos fale claro, e a mim, S. Josemaria falou-me através desse livro.

Dei-me conta de há quanto tempo tinha abandonado o Senhor na minha vida, e de quanto o tinha defraudado. Aí comecei a entender que Deus não é um número de emergência para chamar só em caso de uma urgência; descobri que temos de O amar nos bons e nos maus momentos, e tê-Lo sempre ao lado, porque sem Ele, não podemos fazer nada.

Graças a esse livro comecei um caminho de que até hoje não me arrependi, de ter empreendido. Comecei a ler todos os livros de S. Josemaria e emprestava-os aos meus companheiros da cadeia, que não mos devolviam!

Ao passar a cruz das JMJ pela prisão, algo forte me abanou o coração e nasceu em mim um sonho, um projeto maravilhoso: trazer a minha irmã, que vivia no meu país, à JMJ de Madrid e participar com ela. Eu trabalhava na lavandaria da prisão e ganhava muito pouco dinheiro, mas poupando podia começar a fazer projetos a sério.

Naquela altura a minha irmã tinha 20 anos, estudava na Universidade e não tinha meios económicos para poder vir. A minha família desmembrou-se há seis anos: o meu pai abandonou a minha mãe e deixou-as, a ela e à minha irmã, praticamente sem proventos. A minha irmã, é certo, estuda graças a meu pai, mas com muitos esforços.

Envolvido neste sonho, pus toda a minha esperança no Senhor e, depois de me privar até do mínimo durante um ano, consegui juntar o dinheiro necessário e mandar-lho. Assim, ela pôde inscrever-se na JMJ com a delegação oficial da Conferência Episcopal do meu país.

Quando parecia que o sonho começava a tornar-se realidade, negaram-me a licença de sair para assistir à JMJ. Tinha cumprido 4 anos de uma pena de 6, faltavam 3 meses para ter a liberdade condicional, e inexplicavelmente, a prisão, sabendo que a minha irmã vinha e que eu tinha juntado o dinheiro com muito sacrifício, negou-me a licença sem apresentar qualquer razão.

A dois meses da JMJ sentia-me destroçado; tinha escrito cartas ao director da prisão, ao juiz, às Guarda prisional da Penitenciária… expliquei-lhes a minha situação e o desejo de participar com a minha irmã na JMJ, depois de 4 anos sem a ver e sem ver ninguém da minha família, já que em Espanha não tenho ninguém. Não recebia resposta e já começava a perder a esperança. Via a JMJ do outro lado do muro e estava quase a dar-me por vencido. Nesse momento, a minha irmã começou uma novena a S. Josemaria, 9 dias de mortificação, oração e recolhimento, pedindo que me dessem essa licença de que tanto precisava.

Já me tinha acomodado à ideia de que só a minha irmã estaria em Madrid em Agosto; para mim isso era o mais importante. Contudo, não deixava de sentir por dentro a impotência de que, apesar de tanto esforço, de tantas privações, não ia poder acompanhá-la e que teria de me conformar com vê-la durante duas horas por trás de um vidro. Uma viagem tão longa para vê-la apenas assim!

Então, sucedeu o milagre: um dia depois da minha irmã ter terminado a novena, o décimo dia, chegou o despacho da Guarda prisional, que autorizava a minha saída durante os seis dias da JMJ para ir a Madrid e reencontrar-me com ela.

Nem queria acreditar, mas por fim chegou a data da JMJ e voltei a ver a minha irmã. O momento culminante dessa semana foi o encontro dos jovens com o Papa em Quatro Ventos. Naquela noite decidi não fazer esperar mais o Senhor; decidi entregar-Lhe a minha vida, viver só para Ele. Viver em santidade, santificar a minha vida e a dos outros.

S. Josemaria ensinou-me a viver: esse homem fez-me reagir e devo-lhe muito do que sou. Ele formou-me espiritualmente e ajudou-me a purificar-me por dentro, a perdoar, a pedir perdão, a perdoar-me a mim mesmo, e ensinou-me que Jesus é realmente nosso amigo, nosso Pai, e que nos ama mais que ninguém. Antes de O conhecer eu não tinha nada, não era nada. Agora sou feliz e a minha vida, graças a Ele, por fim ganhou sentido.

Agora que já cumpri a pena, regressei à minha terra diferente de como entrei na prisão; e tudo graças a Deus, que pegou na minha vida para a reconstruir de novo. Agora que Lhe entreguei a minha vida estou a preparar-me para, se Deus quiser, entrar no seminário. 
J.A. in opusdei.pt


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1 comentário:

Maria de Fátima disse...

E vamos ter um bom padre,certamente. Lembro-me de que Jesus disse: " Há mais alegria no céu por um pecador que se arrepende ..."