quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Vale dos Caídos, em Espanha. A maior Cruz da Europa.




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As duas artimanhas do demónio para afastar os jovens da virtude - S. João Bosco

O demónio tem normalmente duas principais artimanhas para afastar os jovens da virtude. A primeira consiste em persuadi-los de que o serviço de Deus exige uma vida triste, sem nenhum divertimento nem prazer. Mas isto não é verdade, meus caros jovens. Vou mostrar-vos um plano de vida cristã que poderá manter-vos alegres e contentes, fazendo-vos conhecer ao mesmo tempo quais são os verdadeiros divertimentos e os verdadeiros prazeres, para que possais exclamar com o santo profeta David: “Sirvamos ao Senhor na santa alegria”.

A segunda artimanha do demónio consiste em fazer-vos conceber uma falsa esperança duma vida longa,  que permite converter-se na velhice ou na hora da morte. Prestem atenção, meus caros jovens, muitos já se deixaram prender por esta mentira. Quem nos garante que chegaremos à velhice? Se se tratasse de fazer um pacto com a morte e de esperar até então... Mas a vida e a morte estão nas mãos de Deus, que dispõe de tudo a seu bel-prazer.

E mesmo se Deus vos concedesse uma vida longa, escutai entretanto a sua advertência: “O caminho do homem começa na juventude, ele segue-o na velhice até à morte”. Ou seja, se começamos com uma vida exemplar, seremos exemplares na idade adulta, a nossa morte será santa e entraremos na felicidade eterna. Se, pelo contrário, os vícios começam a dominar-nos desde a juventude, é muito provável que nos mantenham na escravidão toda a nossa vida até a morte, triste prelúdio de uma eternidade terrível.

Para que esta infelicidade não vos aconteça, apresento-vos um método de vida alegre e fácil, mas que lhes bastará para se tornarem a consolação dos vossos pais, a honra da vossa pátria, bons cidadãos, e depois felizes habitantes do Céu...

Meus caros jovens, amo-vos de todo o coração e basta-me que sejam jovens para que vos ame extraordinariamente. Garanto-vos que encontrareis livros que vos foram dirigidos por pessoas mais virtuosas e mais sábias que eu em muitos pontos, mas dificilmente encontrareis alguém que vos ame mais do que eu, em Jesus Cristo, e que deseje mais a vossa felicidade.

Conservem no coração o tesouro da virtude, porque possuindo-o tendes tudo, mas se o perdeis, sereis os homens mais infelizes do mundo. Que o Senhor esteja sempre convosco e vos conceda seguir os simples conselhos presentes, para que sejais capazes de aumentar a glória de Deus e obter a salvação da alma, fim supremo para o qual fomos criados. Que o Céu vos dê longos anos de vida feliz e que o santo temor de Deus seja sempre a grande riqueza que vos enche de bens celestes aqui e por toda a eternidade.


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segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

A Confissão destrói o mau cheiro do pecado

O pecado só é vergonhoso quando o fazemos, mas sendo convertido em confissão e penitência é honroso e saudável. A contrição e a Confissão são tão formosas e de tal fragrância, que apagam a fealdade e desvanecem o mau cheiro do pecado.

São Francisco de Sales in Filoteia


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São Francisco Sales sobre o amor às criaturas

Há certos amores que parecem extremamente grandes e perfeitos aos olhos das criaturas, e que diante de Deus são pequenos e de nenhum valor. E a razão é que estas amizades não estão fundadas na verdadeira caridade, que é a caridade para com Deus, mas apenas em certas tendências e inclinações naturais.

Pelo contrário, há outros amores que parecem extremamente reduzidos e vazios aos olhos do mundo, e que diante de Deus serão cheios e muito excelentes, porque os atos correspondentes se fazem apenas por Deus e em Deus, sem mistura do nosso interesse pessoal. Os atos de caridade que fazemos por aqueles que amamos desta maneira são mil vezes mais perfeitos, na medida em que tudo é puramente por Deus, mas os serviços e outras ajudas que prestamos àqueles que amamos por inclinação têm muito menos mérito, devido à grande complacência e satisfação que obtemos com a sua realização, e ao facto de, em geral, os fazermos mais por este movimento que por amor a Deus.

Há ainda outra razão que torna as primeiras amizades de que falámos menores que as segundas: o facto de não durarem, uma vez que, sendo a sua causa tão frágil, logo que surge um obstáculo, esfriam e alteram-se; coisa que não acontece àquelas que são apenas em Deus, porque a sua causa é sólida e permanente.

Os sinais de amizade que damos contra a nossa inclinação às pessoas pelas quais temos antipatia são melhores e mais agradáveis a Deus que aqueles que damos atraídos pelo afeto sensível. E a isto não deve chamar-se duplicidade nem dissimulação, porque o sentimento contrário que experimento reside na parte inferior de mim, e os atos que faço são feitos com a força da razão, que é a parte principal da minha alma.

Assim, aqueles que nada têm de amável são felizes, porque o amor que se lhes dá é excelente, pois vem de Deus.

São Francisco de Sales in 'Sobre o amor às criaturas'


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domingo, 28 de janeiro de 2024

Padre Duarte Sousa Lara fala sobre a homossexualidade



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Começa hoje a Septuagesima: 3 semanas de preparação para a Quaresma

Desde os primórdios do Cristianismo, havia uma prática de jejum antes da Páscoa. Rapidamente, o número de 40 dias de jejum estabilizou-se, em memória dos 40 dias de jejum de Jesus no deserto. No entanto, havia um problema, porque era proibido jejuar aos Domingos e na festa da Anunciação da Virgem Maria, que ocorre durante a Quaresma. Por isso, para "preencher" os dias que faltavam da Quaresma, começaram a antecipar a Quaresma numa semana.

Assim, passou a ser conhecido como Domingo Gordo ou Domingo de Quinquagesima. A partir desse dia, as pessoas começaram a deixar de comer carne (na tradição romana, daí a palavra "Carnaval"), e o jejum total começava na Quarta-Feira de Cinzas, preservando o simbolismo dos 40 dias de jejum da Quaresma. As primeiras adopções desta prática encontram-se em Roma do século VI e a sua difusão no Oriente é atribuída ao imperador Heráclio, como parte da sua penitência durante a invasão persa (embora Egeria insinue a existência do Domingo de Carnaval já no final do século IV em Jerusalém).

Pela mesma razão, rapidamente surgiu a prática de renunciar gradualmente a certos alimentos numa semana específica. Assim, duas semanas antes do primeiro Domingo da Quaresma, começava-se a jejuar de carne e, uma semana antes, limitava-se os produtos lácteos. Por fim, no Oriente e no Ocidente, foi acrescentado o terceiro Domingo antes da Quaresma, criando três semanas de preparação para a Quaresma.


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sábado, 27 de janeiro de 2024

Hoje é Sábado de Enterro do Aleluia

Aleluia (do hebr. = Louvai a Deus) é uma aclamação de júbilo, frequentemente usada nos salmos, e adoptada, desde os tempos primitivos do cristianismo, na Liturgia. No Rito romano é suprimido o Aleluia nos Ofícios pelos defuntos e desde a Septuagésima até ao Sábado Santo, o "Sábado de Aleluia".

Existem vários costumes relacionados com a supressão do Aleluia da Liturgia no Domingo da Septuagésima. Nos livros litúrgicos romanos, isso é feito da maneira mais simples possível: no final do Ofício das Vésperas do sábado anterior ao Domingo da Septuagésima, o “Alleluia” é acrescentado duas vezes ao final do “Benedicamus Domino” e “Deo gratias”, que são cantados em tom pascal, sendo substituído pelo Laus tibi Domine, rex aeternae gloriae, no início das horas canónicas. A palavra é então abandonada completamente na Liturgia até a Vigília Pascal.

Em alguns usos medievais, entretanto, o Aleluia foi acrescentado ao fim de cada antífona destas Vésperas. E nos tempos em que a participação do povo na Liturgia era mais intensa, fazia-se, em alguns países, o “enterro” do Aleluia com certa solenidade (antífona e oração próprias) ou até com cerimónias especiais, por exemplo, imitando um enterro cristão. Assim vários costumes, alguns formalmente incluídos na liturgia e outros não, cresceram em torno dessa despedida do Aleluia.

Um dos costumes mais populares é o enterro do Aleluia. Para isso, costuma-se proceder do seguinte modo:

1. Escreve-se a palavra “Alleluia” num grande pedaço de pergaminho e depois das Vésperas enterravam-no no adro da igreja, para que possa ser desenterrado novamente no Domingo de Páscoa.

2. Coloca-se o pergaminho “Alleluia” numa caixa (caixão). Caso contrário, nalgum plástico para garantir que não se estrague.

3. Enterra-se o caixão do Alleluia no chão.

E pode ainda acrescentar-se uma cruz de madeira sobre o túmulo de Aleluia e escreve-se: “Aqui jaz o Alleluia”. Desenterra-se o Aleluia no Domingo de Páscoa!

O enterro é feito com uma procissão da igreja até ao seu adro, onde é feito o enterro. O espírito de tal cerimónia é realmente o de despedida. Quem reza o Breviário vai à Missa Tradicional percebe e sente a falta dessa manifestação de alegria e júbilo na Liturgia, pois a supressão do Aleluia marca o início de várias outras supressões e mudanças na Liturgia até o Tríduo Pascal.







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Poderosa oração de São João Crisóstomo

Senhor, não me priveis de vossas bênçãos celestes e eternas.
Senhor, livrai-me dos tormentos eternos.
Senhor, se eu pequei por palavras ou obras, com a mente ou com o espírito, perdoai-me.
Senhor, livrai-me de toda infelicidade, ignorância, esquecimento, preguiça e dureza de pedra do coração.
Senhor, livrai-me de todas as tentações e espiritual abandono.

Senhor, iluminai meu coração que se obscureceu pelo mau desejo.
Senhor, sendo humano, eu peco; mas Vós, sendo Deus, tende misericórdia de mim.
Senhor, olhai para a fraqueza da minha alma, e ajudai-me com a Vossa graça para que o Vosso santo nome seja glorificado em mim.
Senhor Jesus Cristo, inscrevei o nome de Vosso servo no livro da vida, concedendo-me um final abençoado.
Senhor meu Deus, eu não tenho feito nada de bom; ainda assim, por vossa compaixão, ajudai-me a começar um novo início.

Senhor, refrescai meu coração com o orvalho de Vossa graça.
Senhor, Deus do céu e da terra, lembrai-vos de mim, que sou um pecador, desgraçado, mau e impuro, em Vosso reino, de acordo com o vosso inabalável amor.
Senhor, recebei-me no meu arrependimento e não me abandoneis.
Senhor, não me coloqueis à prova.
Senhor, concedei-me bons pensamentos.

Senhor, concedei-me lágrimas de arrependimento, recordação da morte e contrição.
Senhor, concedei-me sincera confissão do meu pensamento.
Senhor, concedei-me humildade, libertação de minha própria vontade e obediência.
Senhor, concedei-me paciência, indulgência e mansidão.
Senhor, infundi em mim o Vosso santo temor, fonte de todas as bênçãos.

Senhor, capacitai-me a amar-Vos com toda a minha alma, minha mente e meu coração; e o meu próximo como a mim mesmo.
Senhor, protegei-me das pessoas más e dos demónios, das paixões impuras e de todas as coisas indecorosas.
Senhor, como Vós ordenastes; Senhor, como Vós conheceis todas as coisas; Senhor como vós desejais, eu desejo a Vossa bondade; que a Vossa vontade seja feita em mim.
Senhor, que a Vossa vontade, e não a minha, seja feita pela intercessão da toda-santa Theotokos e de todos os santos, porque Vós sois bendito para sempre. Amém. 


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sexta-feira, 26 de janeiro de 2024

Missa Tradicional no Capitólio em Washington

Foi celebrada uma Missa Tradicional no Capitólio norte-americano. A cerimónia teve lugar na H-137 no edifício capitolino. Estiveram presentes cerca de 60 pessoas, alguns eram visitantes e outros eram trabalhadores do Capitólio.

A data foi escolhida para marcar o primeiro aniversário da publicação de um relatório do FBI que deixou em choque os Católicos norte-americanos. De facto, no dia 23 de Janeiro de 2023, veio a saber-se que o FBI tinha enviado agentes secretos para se infiltrarem em igrejas Católicas onde era celebrada a Missa Tradicional.

Segundo o relatório, os Católicos que frequentam a liturgia tradicional, foram apresentados como apresentando um risco à segurança nacional dos Estados Unidos. 

Os Católicos que se reuniram naquela sala quiseram demonstrar que não podem ser olhados pelas forças da autoridade como "terroristas domésticos".   


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S. Policarpo, discípulo do Apóstolo S. João

S. Policarpo foi discípulo de S. João Evangelista e por ele colocado à frente da igreja de Esmirna, como bispo. Foi também amigo de S. Inácio de Antioquia, que hospedou em sua casa, quando ele se dirigia para Roma, onde viria a ser martirizado. E foi Inácio que o definiu como “bom pastor com fé inabalável” e “forte atleta por causa de Cristo”. Este juízo foi totalmente confirmado no ano 155, quando o corajoso bispo de Esmirna enfrentou o martírio pelo fogo, no estádio da cidade. A sua morte trouxe para a Igreja, como o seu nome indica “muito fruto”.

Meditatio

S. Policarpo teve a felicidade de conhecer e de abraçar a religião cristã desde a juventude. Foi nela instruído pelos próprios apóstolos, e particularmente por S. João evangelista, que o estabeleceu depois bispo de Esmirna. Governou a Igreja de Esmirna durante 62 anos. O brilho das suas virtudes fazia com que fosse visto como o chefe e o primeiro dos bispos da Ásia. Os fiéis reverenciavam-no, esforçavam-se por lhe tirarem os seus sapatos no regresso das suas viagens apostólicas, considerando uma graça prestarem-lhe um pequeno serviço. 

Formou vários discípulos, como ele mesmo tinha sido formado pelos apóstolos. Santo Ireneu, bispo de Lião, foi deste número. «Tenho ainda presente no espírito, diz este santo, a gravidade do seu caminhar, a majestade do seu rosto, a pureza da sua vida e as santas exortações com que alimentava o seu povo. Parece-me que ainda o ouço dizer como tinha conversado com S. João, e com vários outros que tinham visto Jesus Cristo, as palavras que tinha escutado das suas bocas e as particularidades que tinha aprendido dos milagres e da doutrina deste divino Salvador. Tudo o que acerca disto dizia era absolutamente conforme às divinas Escrituras, como sendo transmitido por aqueles que tinham sido as testemunhas oculares do Verbo, da palavra de vida» … A virtude é sempre provada. 

Nosso Senhor, no Apocalipse, descreve as provações do nosso grande santo: «Conheço a tua tribulação e a tua pobreza – e no entanto és rico – e sei que és difamado pelos que se dizem judeus, mas não são mais do que uma sinagoga de Satanás. Não temas os sofrimentos que te esperam. O diabo vai meter alguns de vós na prisão, para serdes postos à prova; e sereis atribulados durante dez dias. Sê fiel até à morte e dar-te-ei a coroa da vida.» O povo enganado pediu a sua morte, como tinha feito para Cristo. Procuraram o santo no seu modesto quarto. Teria podido salvar-se, mas não quis. «Que se faça a vontade de Deus!», diz. Os guardas queriam persuadi-lo a oferecer incenso aos ídolos e a César para salvar a sua vida. «Não posso», disse-lhes simplesmente. Como Jesus, foi conduzido ao suplício, bruscamente e sem considerações. Caiu e levantou-se pelo caminho. 

No anfiteatro, ouviram uma voz do céu que dizia: «Coragem, Policarpo, sê firme!» O magistrado pressionou-o em vão para que renunciasse a Jesus Cristo. «Há oitenta e seis anos que o sirvo, diz o santo, e nunca me fez mal». O povo gritava: «É o chefe dos cristãos, o destruidor dos nossos deuses; foi ele que ensinou a muitos a não mais os adorarem”. Teriam querido que o entregassem aos leões, mas o espetáculo público tinha terminado. Condenaram-no ao fogo. O povo correu a procurar madeira nas lojas e nos banhos públicos e preparou uma grande fogueira. (Leão Dehon, OSP 3, p. 92s.).

Policarpo, segundo a palavra de Paulo, “oferecei os vossos corpos como sacrifício vivo, santo, agradável a Deus” (Rm 12, 1), fez de si mesmo, uma oblação a Deus. A eucaristia que celebrava no altar plasmou totalmente a sua vida e a sua morte. O seu martírio foi uma verdadeira celebração litúrgica.

Oratio

Grande santo, ajudai-me. Vós sois uma testemunha do amor do Coração de Jesus, aceso na vossa alma pelo apóstolo S. João. Ajudai-me a amar o Coração de Jesus, a imitar as suas virtudes de humildade, de mansidão, de generosidade, a sofrer com Ele e por Ele, esperando a hora de ir gozar na sua presença. (Leão Dehon, OSP 3, p. 94).

Contemplatio

Aconteceu a S. Policarpo o que tinha acontecido ao seu mestre S. João, o fogo do seu coração ultrapassou e extinguiu o fogo material com que o envolviam. Tinha-se entregue ao suplício. Como o quisessem pregar a um poste, disse: «Deixai-me; aquele que me dá a força para sofrer o fogo, dar-me-á a graça de permanecer firme na fogueira, sem o socorro dos vossos pregos». Contentaram-se em ligá-lo com cordas. Assim amarrado, ergueu os seus olhos ao céu e disse: «Senhor, Deus todo-poderoso, dou-vos graças pelo que me haveis concedido neste dia, por entrar no número dos vossos mártires e tomar parte no cálice do vosso Cristo, a fim de que eu ressuscite para a vida eterna. 

Que eu seja admitido hoje com eles na vossa presença, como uma vítima de agradável odor, tal como a haveis preparado, predito e cumprido, vós que sois o verdadeiro Deus; eu vos bendigo, vos glorifico pelo pontífice eterno e celeste, Jesus Cristo vosso filho, ao qual seja dada glória, assim como a vós e ao Espírito Santo, agora e em toda a eternidade. Ámen!» Quanto disse ámen, acenderam o fogo, mas por um milagre surpreendente, a chama, em vez de consumir o santo mártir, estendeu-se à volta dele como a vela de um barco enfunada pelo vento. Os pagãos, vendo que o fogo se recusava a servi-los, mandaram ferir o santo com um golpe de espada e o seu sangue extinguiu a fogueira. (Leão Dehon, OSP 3, p. 93s.).

Actio

Repete muitas vezes e vive hoje a palavra: “Recebei-me, Senhor, como oblação de suave odor” (S. Policarpo).

in dehonianos.org


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quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

Octavário da Cátedra da Unidade

De 18 a 25 de Janeiro faz-se o octavário da Cátedra da Unidade. Esta devoção foi autorizada pelo Papa Pio X em 1908 e institucionalizada pelo Papa Bento XV em 1916. De sublinhar que a imagem desta unidade, tão desejada, é a Cátedra (Cadeira) de São Pedro, cuja missão é confirmar na Fé os discípulos de Jesus Cristo.

Infelizmente, nos nossos dias, esta semana é usada para promover o sincretismo religioso, através de orações em comum com autoridades religiosas que não têm a Fé Católica (várias vezes condenadas pela Igreja), chegando até ao grave pecado da 'communicatio in sacris' (comunhão nas coisas sagradas), por exemplo com celebrações litúrgicas chamadas "ecuménicas".

Isto afasta-se totalmente das intenções originais, dadas pela Santa Sé, pelas quais devemos rezar durante este octavário:  

18 de Janeiro: Pela união de todos os Cristãos na única e verdadeira Fé e na Igreja.

19 de Janeiro: Pelo regresso dos Cristãos orientais separados à comunhão com a Santa Sé.

20 de Janeiro: Pela reconciliação dos Anglicanos com a Santa Sé.

21 de Janeiro: Pela reconciliação dos Protestantes europeus com a Santa Sé.

22 de Janeiro: Para que os Protestantes americanos se tornem um só em união com a Cátedra de Pedro.

23 de Janeiro: Pela reintegração na vida sacramental da Igreja dos Católicos que se afastaram.

24 de Janeiro: Para que o povo judeu receba a sua herança em Jesus Cristo.

25 de Janeiro: Pelo crescimento missionário do reino de Cristo ao Mundo inteiro.


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A conversão do maior dos Apóstolos

Hoje é dia da conversão do grande São Paulo. De perseguidor e assassino de cristãos passou a ser o maior dos Apóstolos, até dar a vida pelo seu grande amor: Jesus Cristo.

Vemos isso, muitas vezes, nos que mais odeiam a Igreja e que a combatem ferozmente, uma vez convertidos tornam-se em apóstolos incansáveis. Ao passo que os mornos, normalmente, continuam mornos.

As cartas de São Paulo são apaixonantes, são desconcertantes, são reflexo de alguém que não parou enquanto não tornou a verdade conhecida em todo o lado onde conseguiu chegar. Como escreveu Santo Agostinho:

"Paulo foi derrubado para ser cegado;
foi cegado para ser mudado;
foi mudado para ser enviado;
foi enviado para que a verdade aparecesse.”

Este quadro da Conversão de São Paulo é da autoria de Michelangelo Merisi (Caravaggio) e encontra-se na igreja de Santa Maria del Popolo, em Roma.


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quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Os 7 degraus do Altar: a concepção tradicional do Sacramento da Ordem

Após o primeiro ano de formação, o jovem seminarista receberá a batina, que é a farda do exército de Cristo. E estará vestido de preto porque deve morrer para o mundo, e as coisas do mundo não devem significar nada para ele.

Depois da batina, o seminarista receberá o que chamamos de “tonsura”. A tonsura é uma cerimónia muito antiga, em que o bispo corta o cabelo do seminarista em forma de cruz, que repete depois do bispo as palavras do Salmo XV: Dominus pars hereditatis meae et calicis mei, tu es qui restitues hereditatem meam mihi. “O Senhor é a parte da minha herança e meu cálice, tu és aquele que restaurará a minha herança para mim.” O seminarista declara que o Senhor é a sua porção e o seu quinhão neste mundo, como os levitas do Antigo Testamento. E este é o significado da palavra “clérigo”: ter o Senhor como nossa porção e sermos nós mesmos a porção do Senhor.
Tonsura
Tradicionalmente, a tonsura é considerada a entrada no estado clerical e conduz o seminarista aos sete degraus do altar, que são os sete graus do sacramento da Ordem. Portanto, embora o sacramento da Ordem seja um, ele é dividido em graus, e o seminarista subirá um degrau de cada vez.

O primeiro degrau é a Ordem de Ostiário. Com esta ordem o seminarista recebe a incumbência de abrir e fechar a igreja, e cuidar dos vasos sagrados.
Ostiário: entrega da chave
O segundo degrau é a Ordem de Leitor. Com esta ordem o seminarista recebe a tarefa de ler as Sagradas Escrituras durante o Ofício Divino e catequizar o povo.
Leitor: entrega do livro
O terceiro degrau é a Ordem de Exorcista. Com esta ordem o seminarista recebe o poder de expulsar o demónio dos corpos daqueles que estão possuídos (embora o uso desse poder esteja sujeito a formação e permissão adicionais).
Exorcista: entrega do livro
O quarto degrau é a Ordem de Acólito. Com esta ordem o seminarista recebe o ofício de servir a Santa Missa.
Acólito: entrega da vela


Acólito: entrega das galhetas
Estas são as quatro ordens que chamamos de menores. E em seguida vêm as três ordens ditas maiores.

O quinto degrau do Altar é o Subdiaconato. É durante essa ordenação que o jovem levita faz sua promessa, o seu voto de castidade perpétua. Ele recebe, então, o poder de ajudar o diácono e o sacerdote no Altar. Vemos bem que primeiro ele promete castidade, e só então recebe o poder de servir no Altar. Por isso, podemos ver claramente que a castidade e o serviço do Altar devem andar sempre juntos.
Subdiácono: promessa de castidade

Subdiácono: entrega do cálice

 

Subdiácono: entrega do livro das Epístolas
O sexto degrau do Altar é o Diaconato. Com esta ordem, o seminarista recebe o poder de ajudar o sacerdote no altar, de anunciar o Evangelho, pregar e baptizar.
Diácono: imposição da mão

Diácono: entrega do livro dos Evangelhos
Finalmente, o sétimo degrau do Altar é a Ordem dos Sacerdotes, que inclui tanto os simples padres (presbiterado) quanto bispos (episcopado).
Sacerdote: imposição das mãos

Sacerdote: unção das mãos

Sacerdote: entrega do cálice e hóstia

Sacerdote: promessa de obediência
Na sua ordenação o sacerdote recebe um poder que nem sequer foi concedido aos próprios Anjos de Deus: o poder de consagrar o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e o poder de perdoar os pecados. O grande plano de salvação está nas pequenas mãos do sacerdote. O padre é tão pequeno, mas ao mesmo tempo tão grande. Que missão, que vocação! A vocação mais sublime da Terra: ser sacerdote, ser outro Cristo, continuar a obra da redenção de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Nós, sacerdotes, recordamos com grande emoção todos os passos que nos conduziram ao altar de Deus: a nossa tonsura, as ordens menores, o subdiaconato, o diaconato e, por fim, o sacerdócio. É uma grande alegria ser sacerdote, de tal forma que nunca voltaríamos atrás. Se tivéssemos mil vidas, mil vezes nos entregaríamos a Deus, para a salvação de almas.

Que alegria baptizar e dar vida espiritual a uma alma! Que alegria reconciliar o pecador com Deus no sacramento da confissão! Que alegria abençoar um casamento, pedindo as graças de Deus para a nova família! Que alegria acompanhar os moribundos nos seus últimos momentos, com o sacramento da extrema unção, abrindo-lhes as portas do reino dos céus com o poder das chaves colocadas nas mãos do sacerdote! Que alegria indizível oferecer o Santo Sacrifício da Missa e elevar a Hóstia Sagrada e o Santo Cálice para a glória de Deus e a salvação das almas! Que alegria ser padre!

Mas, para ser justo, devo dizer que ser padre é também uma cruz. Não é uma reclamação, é um facto. Quando passamos a compartilhar mais da vida de Nosso Senhor, passamos a compartilhar mais dos Seus sofrimentos. E porque o sacerdócio é a assimilação mais forte a Cristo, é normal que traga sofrimento. No dia da sua ordenação, a mãe de São João Bosco disse-lhe: “Meu filho, hoje começas a sofrer”.

Essas são, de facto, palavras fortes, que não nos devem atemorizar, mas devem recordar que qualquer sacerdote, como outro Cristo, é chamado a ser sacerdote e vítima. Qualquer sacerdote é chamado a oferecer Cristo ao Pai, mas também a se oferecer com Cristo, para a glória de Deus e para a salvação das almas. O Sacerdócio é o mistério da Quinta-Feira Santa: reúne em si a alegria da Última Ceia e a agonia do Getsémani.

Por isso, meus queridos irmãos, gostaria de pedir-lhes que rezassem todos os dias pelos sacerdotes, para que possamos ser fiéis à nossa vocação. E, por favor, rezem também para que muitos jovens possam ouvir a voz de Deus e ter a coragem de deixar tudo para trás e seguir o Mestre. 


Cónego Heitor Matheus, ICRSS, in Rorate Caeli
(Tradução: Fratres in Unum)


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A importância de pertencer só a Deus

A Deus pertenceis vós sempre nesta vida mortal, servindo-o fielmente no meio dos trabalhos que tiverdes, levando a cruz, acompanhando-o na vida imortal, bendizendo-O eternamente com toda a corte celeste. É o grande bem das nossas almas o estarem com Deus; é o maior bem pertencer só a Deus.

Quem só pertence a Deus, não se entristece nunca senão por ter ofendido a Deus, e a sua tristeza neste ponto consiste numa profunda, mas tranquila e pacífica, humildade e submissão, depois da qual se eleva para a bondade divina por uma confiança doce e perfeita sem temor nem despeito.

São Francisco de Sales in Pensamentos Consoladores


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terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Château de Maintenon​ (França)



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5 mitos sobre a Confissão

1. Ninguém se arrepende de se confessar, tenha sido fácil ou difícil

Pergunta a qualquer católico praticante, ele dirá que a confissão é uma das melhores coisas de se ser católico. A paz de limpar tudo para trás, de admitir a culpa e de ouvir que estás perdoado mesmo daqueles pecados é indescritível. Recorda que não são os teus pecados que dizem que tu és. Porém, eles vão continuar a moer-te até que Cristo os apague na confissão.

2. Não interessa há quanto tempo não te confessas 

A Bíblia – ou melhor, Jesus – diz, “Digo-vos Eu: haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não necessitam de conversão” (Lc 15,17). Garanto que não interessa quando foi a última confissão. O padre não te vai acusar e dizer "com que então andaste fugido, hem? Vai-te embora daqui!". Pelo contrário, quanto mais afastado tiveres estado, mais feliz vai ficar ao ver-te voltar. Se não sabes muito bem como é que é isso de te confessares, podes ler, descarregar, imprimir material que possa ajudar, nomeadamente exames de consciência.

Ou então ir à confissão, e dizeres ao padre que.não fazes lá muita ideia do que é tens que fazer. Vai-te confessar e diz ao Padre que não fazes ideia do que estás a fazer. Vais ver que ele até vai ficar contente por te poder ajudar. Acredita que foi o que eu fiz nos meus dois primeiros anos como católico, porque eu era demasiado preguiçoso para aprender o que é que tinha de fazer para me confessar como deve ser. Nunca me repreenderam. Para além disso é costume as orações estarem numa folha no confessionário que lá puseram para nossa ajuda. 

3. Podes confessar-te sob anonimato 

A Igreja quer que todos nós possamos, se quisermos, confessar-nos sem que ninguém saiba . Isto é, em muitos confessionários podes ter a opção de te ajoelhares junto de uma pequena janela de grade ou rede apertada de tal maneira que o padre não te vê. Também podes preferir, diferentemente, sentar-te numa cadeira em frente do sacerdote. Se, ainda assim, receias ser reconhecido pela voz, sempre podes ir confessar-te noutra paróquia, embora para dizer a verdade nenhum padre vai ficar impressionado contigo ou te vai julgar. 

4. Não há nada que possas dizer que o padre não tenha já ouvido 

Depois de anos a ouvir confissões podes confessar o que quer que seja que o padre não se vai escandalizar. De certeza que já ouviu pior. 

5. O padre nunca pode falar sobre a tua confissão, NUNCA, nem mesmo contigo 

É verdade. É o chamado “sigilo sacramental da confissão” (sigilo = selo): o que é dito no confessionário fica (selado) no confessionário. O Código de Direito Canónico de 1983 diz no cânone 983§1, “O sigilo sacramental é inviolável; pelo que o confessor não pode denunciar o penitente nem por palavras nem por qualquer outro modo nem por causa alguma.” 

Sublinho este ponto, porque é mesmo importante. Uma vez estava-me a confessar com o meu director espiritual. Durante a confissão, ele pediu-me para eu lhe voltar a falar, na próxima conversa fora da confissão, sobre um dos pontos que eu referi na confissão. Eu disse, “Senhor Padre, se eu me esquecer, lembre-me!". Ele chamou-me logo à atenção que isso não ia acontecer porque ele não podia referir nada que ouvisse numa confissão, mesmo que fosse falando comigo sobre coisas que tinha sido eu a contar. A Igreja insiste nisto por algumas razões. A melhor delas é para te sentires confortável e seres 100% sincero na confissão, sem estares preocupado de que algo seja revelado fora do confessionário. É um generoso dom que a Igreja nos deu e que vale a pena aproveitar. 

Ryan Eggenberger


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segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Agasalhem-se




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São Vicente, Mártir

A Igreja comemora no dia de hoje a festa de São Vicente, mártir, que nasceu em Saragoça (Espanha) e recebeu do Bispo Valério o diaconato. Valério estava com dificuldades em falar. Para que não faltasse aos fiéis a pregação da palavra divina, encarregou Vicente da missão de pregar em seu lugar. O jovem diácono desempenhou com tanta proficiência este cargo, que a diocese de Saragoça se distinguiu pelo espírito de piedade. 

Quando Diocleciano começou a perseguição aos Cristãos, chegou à península ibérica o seu emissário, Daciano, com ordens para exterminar a Igreja Católica. Valério e Vicente foram as primeiras vítimas. Valério foi mandado para o desterro e Vicente submetido a cruéis torturas. Tão desumanas foram, que – assim diz Santo Agostinho – para sofrê-las era preciso uma assistência divina especial. O mesmo santo elogia Vicente dizendo que tinha uma paciência angélica, uma tranquilidade imperturbável e uma paz tão extraordinária que causou admiração e espanto até aos próprios algozes. 

Daciano, ao ver isto, não pôde dominar a fúria, que se lhe manifestava no olhar faiscante e na voz trêmula. Ferro e fogo foram os instrumentos de que Daciano se serviu, para martirizar o santo diácono. Mas Deus não abandonou o seu servo. O cárcere do mártir encheu-se de grande luz, e os Anjos desceram, cantando com Vicente louvores a Deus. O próprio carcereiro, vendo este espectáculo, converteu-se ao Cristianismo e recebeu o baptismo. 

Os Cristãos, que estavam proibidos de falar com o diácono-mártir, aproximaram-se, beijaram-lhe as feridas e embeberam panos no seu sangue, guardando-os como preciosas relíquias. Para que os Cristãos nada pudessem fazer com o corpo do mártir, Daciano deu ordem que fosse lançado num pântano, mas um corvo defendeu-o contra as feras. Mandou então que o atirassem ao mar, mas o mar despejou-o. 

Os Cristãos tomaram o corpo e sepultaram-no numa capela perto de Valência. Mais tarde as santas relíquias foram transportadas para a abadia de Castres, em Languedoc, na França, num evento em que se registaram muitos milagres.

in Página do Oriente


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domingo, 21 de janeiro de 2024

Dia de Santa Inês, Virgem e Mãrtir

Santa Inês (cujo nome significa cordeiro) é uma das santas mais importantes dos primeiros séculos da Igreja Latina, de tal maneira que recebeu a honra enorme de ter o seu nome no Cânone da Missa.

A curta vida de Inês é sinal de loucura e espanto para os mundanos por vários motivos, a saber:

- Ainda muito jovem decidiu entregar-se completamente a Deus, fazendo o voto de virgindade perpétua;
- Resistiu à pressão dos muitos e poderosos pretendentes;
- Negou ofereceu incenso aos falsos deuses, o que significaria cometer apostasia;
- Olhou com indiferença e desprezo para os instrumentos de tortura que lhe foram apresentados para a amedrontar;
- Rejubilou diante da sentença de morte que faria com que desse a vida pela fé em Jesus Cristo;
- Ela própria inclinou a cabeça para que pudesse ser decapitada, sem qualquer tipo de resistência, lamúria ou desespero.

A sua cabeça pode ser venerada na igreja de Santa Inês, na Piazza Navona, em Roma.


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sábado, 20 de janeiro de 2024

A alegria que vem da fidelidade a Jesus




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Heroicidade nos primeiros séculos da Igreja: São Sebastião e os companheiros mártires

O imperador Carino vivia ainda, quando dois irmãos gémeos, Marcos e Marceliano, foram aprisionados em Roma. Um cristão, criado nos cargos militares, ia frequentemente visitá-los. Era Sebastião, nascido em Narbona, na Gália, mas criado em Milão, de onde era originária a família. A princípio, resolvera não encetar a carreira das armas; o desejo de servir os irmãos nas perseguições que sofriam levara a melhor contra o pendor. Aceitou, portanto, um posto, e fez-se amar dos soldados e de todos. 

Sob as vestes militares, dedicava-se incessantemente às boas obras do cristão, conservando todo o segredo possível. Por Jesus Cristo não tinha medo de perder nem a vida nem os bens; mas o segredo lhe proporcionava mais meios de animar os cristãos que sucumbiam sob a violência dos tormentos, e de garantir para Deus as almas que o demónio pretendia raptar. Visitava todos os dias os dois irmãos Marcos e Marceliano, os quais padeceram com constância as vergastadas que os dilaceravam, e foram condenados a ter decepada a cabeça.

Os dois irmãos pertenciam a mais ilustre família de senadores. Com o pai e a mãe, velhos e ainda pagãos, tinham mulheres e filhos. A família, vendo-os condenados à morte, obteve do prefeito de Roma, chamado Cromácio, um prazo de trinta dias para experimentar fazê-los mudar de resolução. Foram os dois postos na casa do primeiro escrivão da prefeitura, Nicóstrato, onde os conservavam de mãos acorrentadas. O pai, a mãe, as mulheres e os filhos ainda pequeninos, além dos amigos, tudo envidaram para os convencer; já começava a alma deles a curvar-se diante de tantas lágrimas, quando Sebastião, chegando, os reanimou com palavras cheias de fogo, que a todos impressionaram.

O santo parecia envolto numa luz divina. Quando terminou de falar, Zoé, mulher de Nicóstrato, atirou-se-lhe aos pés, tentando dar-lhe a compreender, pelos gestos, o que dele desejava, pois havia seis anos que uma enfermidade lhe fizera perder a palavra. Sebastião fez o sinal da cruz sobre a boca da mulher, pedindo em voz alta a Jesus Cristo que se dignasse curá-la, se tudo quanto acabara de ouvir era verdade. O efeito seguiu-se à palavra, e Zoé pôs-se a louvar o santo e a declarar que acreditava no que ele acabava de dizer. Vira um anjo descido do céu, segurando um livro aberto diante dos olhos de Sebastião, no qual tudo quanto ele dissera estava escrito palavra por palavra. 

Nicóstrato, diante da cura da mulher, lançou-se igualmente aos pés do santo, pediu perdão por haver mantido os dois mártires aprisionados, tirou-lhes os grilhões e rogou-lhes que se fossem para onde mais lhes conviesse, declarando que se consideraria feliz por ser aprisionado e morto no lugar deles. Marcos e Marceliano louvaram tão perfeita fé, mas nem sequer pensaram em abandonar a luta para a ela expor outro.

A graça não se deteve em Nicóstrato e sua mulher; espalhou-se sobre todos os presentes. Marcos e Marceliano firmaram-se na fé, e tiveram o consolo de ver os que tantos esforços tinham enviado para arrancá-los a Jesus Cristo tornar-se humildes discípulos. Marcos dirigiu-lhes palavras em que, dirigindo-se particularmente ao pai e à mãe, à mulher e à do irmão, os exortou a defender corajosamente a fé que pretendiam abraçar, e a não temer o que o demónio poderia fazer para impedi-lo; a desprezar, por uma ventura sem limites, uma vida que mil acidentes nos podem fazer perder, e que só acarreta aflições e crimes. Todos choraram, unindo o pesar da infidelidade passada às ações de graças que prestavam a Deus por os ter libertado. 

Nicóstrato afirmou que não beberia nem comeria, se não recebesse o santo batismo. Mas Sebastião, respondeu-lhe que, antes, devia mudar de dignidade, tornar-se oficial de Jesus Cristo, em vez de oficial do prefeito, e levar-lhe todos os presos que lhe tinham sido confiados, para que fossem catequizados. "Porque se o diabo, acrescentou, se esforça por raptar os que pertencem a Jesus Cristo, nós, pelo contrário, devemos esforçar-nos por restituir ao Criador aqueles que o inimigo injustamente usurpou", e assegurou que se oferecesse tal presente a Jesus Cristo, logo no início da conversão, não tardaria em ser recompensados pelo martírio. 

Entretanto, Cláudio disse a Nicóstrato que o prefeito ficara descontente com o facto da presença de todos aqueles presos, e que dele exigia satisfações. Nicóstrato rumou para lá imediatamente, e satisfez o prefeito, afirmando-lhe que tudo fizera para ainda mais espantar os cristãos postos sob sua vigilância, mediante o exemplo do suplício dos outros. Tratava-se de uma mentira, mas desculpável em pessoa ainda pouco instruída. Voltando, contou a Cláudio, que o acompanhava, tudo quanto sucedera em sua casa, particularmente a cura da mulher. Cláudio comoveu-se e foi procurar duas crianças que tinha, uma das quais era hidrópica, sendo a outra afligida por diversos males. Colocou-as diante dos santos, dizendo que deles esperava a saúde daqueles pequeninos entes, e que, quanto a ele, acreditava de todo coração em Jesus Cristo. 

Os santos garantiram-lhe que as crianças e os demais presentes seriam curados dos males, apenas se tornassem cristãos. Ao mesmo tempo, registaram-se os nomes dos que exigiam o baptismo. Eram Tranquilino, pai dos dois mártires, com seis dos seus amigos; em seguida Nicóstrato; Castor, seu irmão; Cláudio, o carcereiro com seus dois filhos; Márcia, mulher de Tranquilino, com as mulheres e os filhos de São Marcos e São Marceliano; Sinforosa, mulher de Cláudio; Zoé, mulher de Nicóstrato; e toda a família de Nicóstrato, num total de trinta e três pessoas; por fim, os presos convertidos, dezasseis, o que totalizava sessenta e oito criaturas.

Nicóstrato foi procurar o carcereiro, chamado Cláudio, para ordenar-lhe que lhe conduzisse todos os presos, sob o pretexto de que desejava tê-los prontos para a primeira sessão. Sebastião dirigiu-lhes uma exortação, após a qual, vendo que provavam a mudança de coração pelas lágrimas, mandou lhes fossem tiradas as correntes, indo então chamar um santo padre, de nome Policarpo, oculto em virtude da perseguição, para levá-lo à presença de Nicóstrato. Policarpo, depois de se congratular com os novos convertidos, e de lhes dizer que esperassem na misericórdia divina, prescreveu-lhes o jejum até o cair da noite.

Foram todos baptizados por São Policarpo. Sebastião serviu de padrinho aos homens; Beatriz, depois mártir, e Lucina foram madrinhas das mulheres. Os dois filhos de Cláudio foram os primeiros baptizados, e saíram tão são quanto os outros, não lhes restando o menor sinal de qualquer enfermidade. Depois deles, foi baptizado Tranquilino. Havia onde anos que padecia de gota, e de tal maneira lhe doíam os pés e as mãos, que mal suportava que o carregassem. Nem sequer conseguia levar à mão à boca para comer; e sofreu tremendas dores, quando teve de despir-se para o baptismo. 

Findos os trinta dias, o prefeito Cromácio mandou buscar Tranquiliano, que lhe agradeceu o adiamento, por haver conservado os filhos ao pai e devolvido o pai aos filhos. Cromácio, não compreendendo o significado de tais palavras, disse-lhes ser preciso que os filhos fossem oferecer incenso aos deuses. Tranquilino, então, explicando-se mais claramente, declarou-lhe ser cristão, e que por tal meio se via curado da gota que tanto o afligira antes. O facto comoveu Cromácio, que sofria da mesma enfermidade. 

Todavia, impelido sem dúvida pela presença dos assistentes, mandou deter Tranquilino, dizendo que o levassem na primeira sessão. Contudo, ordenou que o levassem secretamente à sua presença durante a noite, e prometeu-lhe bastante dinheiro para que lhe indicasse o remédio que o havia curado. Tranquilino riu-se do dinheiro prometido e assegurou que outro remédio não havia senão a crença em Jesus Cristo; se Cromácio quisesse socorrer a Cristo, receberia indubitavelmente o mesmo alívio. Deixou-o Cromácio partir, pedindo-lhe que trouxesse quem o fizera cristão, para que, tal homem lhe prometesse curá-lo, pudesse abraçar a mesma religião.

São Policarpo perguntou-lhe se acreditava de todo coração que lhe Jesus Cristo, Filho único de Deus, seria capaz de perdoar-lhe todos os pecados, e o infeliz respondeu em voz alta que reconhecia ser Jesus Cristo filho de Deus, e poder devolver-lhe a saúde da alma e do corpo; mas pedia apenas a remissão dos pecados e, ainda que conservasse as dores após a santificação do baptismo, não poderia duvidar da fé de Jesus Cristo. Aquelas palavras arrancaram lágrimas de alegria de todos os santos, os quais rogaram a Deus concedesse ao enfermo o efeito de tão pura fé. 

Policarpo, após ungi-lo com o crisma, perguntou-lhe pela segunda vez se acreditava no Pai, no Filho e no Espírito Santo. Mal o enfermo respondeu que sim, curou-se-lhe a gora num momento, e ele exclamou: "Sois o Deus único e verdadeiro, que este mísero mundo não conhece". Em seguida, foram baptizados todos os outros, e durante os dez dias que sobravam dias trinta concedidos a Tranquiliano para os dois filhos, os novos cristãos somente se dedicaram a louvar a Deus e a se preparar para o combate, desejando todos ardentemente o martírio, inclusive as mulheres e as crianças.

Tranquilino foi imediatamente ter com São Policarpo, e secretamente o conduziu ao prefeito, que lhe prometeu a metade dos seus bens, no caso de ser curado da gota. Respondeu-lhe Policarpo que aquela transacção seria criminosa para um e para outro, mas que Jesus Cristo era capaz de lhe iluminar as trevas e curá-lo dos males, se nele acreditasse de todo o coração. Catequizou-o em seguida, e ordenou-lhe um jejum de três dias, de que ele se desincumbiu com Sebastião. No terceiro dia, voltaram juntos à presença de Cromácio, e valeram-se das dores causadas pela gota para lhe falar dos suplícios eternos. Cromácio deu imediatamente o seu nome e o de Tibúrcio, seu filho único, para se tornarem ambos cristãos.

Sebastião mostrou-lhe que na dignidade na qual se encontrava, não podia deixar de comparecer aos espectáculos profanos, sem falar do julgamento dos processos, onde era difícil se não misturasse com coisas contrárias à profissão do cristianismo. E era diante do prefeito de Roma que se perseguiam os cristãos. Assim, houve por bem aconselhar-se a pedir um sucessor, para libertar-se de todas aquelas ocupações do mundo, e cuidar apenas da salvação da alma. Cromácio pés em prática o conselho, e no mesmo dia solicitou dos amigos que tinha na corte o obséquio de o assistirem para tanto.

Sebastião, contudo, aconselhou-o a não desejar o baptismo pelo desejo de ser curado, e sim por uma questão verdadeira fé, e pediu-lhe que, como sinal de perfeita conversão, permitisse a quebra de todos os seus ídolos, assegurando-lhe que não deixaria de ser imediatamente curado. Cromácio quis que o ato fosse realizado por homens seus; mas o santo deu-lhe a ver que o diabo poderia prejudicar em virtude da infidelidade deles, e todos haveriam de dizer que se trataria de um castigo por terem abatido os ídolos. Por conseguinte, o próprio Sebastião para lá rumou acompanhado de Policarpo; e após orarem, quebraram os dois mais de duzentas estátuas.

No regresso, verificaram que Cromácio não estava curado. Disseram-lhe, então, que evidentemente restava alguma coisa por quebrar, ou que a sua fé não era ainda perfeita. Confessou-lhe Cromácio que tinha uma saleta repleta de aparelhos de cristal para a astrologia, a qual custara duzentas libras de ouro ao pai. Os santos deram-lhe a ver a inutilidade da astrologia e de todas as predições dela tiradas, e ele, por fim, concordou em que fizessem dos aparelhos o que mais lhes aprouvesse. Tibúrcio, filho de Cromácio, não se conformou com quererem despedaçar uma colecção tão preciosa e rara, não desejando, todavia, impedir a cura do pai, mandou acender dois fornos e garantiu que, se fosse despedaçada a saleta, sem que o pai se visse curado, mandaria a eles atirar Sebastião e Policarpo. 

Aceitaram os santos a condição, embora Cromácio se opusesse. Ao mesmo tempo em que despedaçavam os aparelhos, um jovem, aparecendo a Cromácio, disse-lhe ser enviado de Jesus Cristo para o curar. Curou-se na realidade, no mesmo instante, e pôs-se a correr atrás do jovem para lhe beijar os pés; mas o jovem se opôs, por não estar ainda Cromácio santificado pelo baptismo. Cromácio lançou-se, então, aos pés de Sebastião, e Tibúrcio aos pés de Policarpo.

Entretanto, sendo grande a perseguição contra os demais cristãos, Cromácio, a conselho do Papa, naquela época São Caio, chamou-o ao seu lado, ou melhor, chamou ao seu lado todos os que tinham sido convertidos havia pouco, e deles tão bem cuidou que não se viu obrigado a sacrificar nenhum. Sendo, todavia, difícil manter ocultada por mais tempo a sua mudança, pediu ao imperador licença para retirar-se à Campânia, onde possuía belas terras, fingindo estar desejoso de recobrar a saúde. Sabe-se, pela história, que os senadores eram obrigados a residir em Roma, a não ser que os dispensasse a idade ou um favor especial. 

Cromácio logrou obter a permissão, e ofereceu-se para conduzir em sua companhia rodos os cristãos que desejassem segui-lo. Nasceu então uma disputa entre Sebastião e Policarpo, para saber qual dos dois permaneceria na cidade ou acompanharia os novos fiéis à Campânia. Cada um deles pretendia ficar em Roma, para mais facilmente ir ao encontro do martírio. O Papa terminou a admirável disputa, achando que Policarpo, o qual tão dignamente exercia o sacerdócio e possuía a ciência de Deus, devia acompanhar os retirantes, a fim de animá-los e dar-lhes assistência.

Já próximo do baptismo, perguntou-lhe Policarpo, entre outras coisas, se renunciava a todos os pecados. Respondeu ser um pouco tarde para tal pergunta, mas que preferia tornar a vestir-se e a adiar o baptismo. Queria perdoar a todos os que lhe tinham dado motivos de cólera, esquecer o que lhe era devido, devolver tudo quanto tivesse tomado pela violência; tivera duas concubinas após a morte da mulher, e pretendia dar-lhes inteira liberdade e arranjar-lhes maridos. Policarpo aprovou-lhe o plano, e disse-lhe que era para a realização de tal renúncia que se prescreviam ordinariamente quarenta dias aos que pediam o baptismo. Tibúrcio renunciou à barra da justiça, com a qual pretendia haver-se, depois de adquirir bastante erudição e eloquência. 

Recebeu, então o baptismo. Cromácio, depois de renunciar a todos os afazeres do mundo, recebeu-o poucos dias depois. Com ele, foram baptizadas mil e quatrocentas pessoas de sua casa, às quais já dera, antes, a liberdade, dizendo que os que começavam a ter a Deus por pai não mais podiam ser escravos do homem.

Diocleciano, que passara a ser o único senhor do mundo com a morte de Carino, foi a Roma em 285. Não somente conservou Sebastião no posto, assim como os outros oficiais, como também se lhe afeiçoou, de tal sorte que lhe deu o cargo de capitão da primeira companhia dos guardas pretorianos, que pretendia deixar em Roma; e enquanto permaneceu na grande cidade, quis que o santo sempre lhe estivesse ao lado. Maximiano procedeu da mesma maneira.

Chegado o Domingo, o Papa celebrou os santos mistérios na casa de Cromácio e disse aos presentes: "Nosso Senhor Jesus Cristo, conh4cedor da fraqueza humana, estabeleceu dois graus entre os que nele acreditam, os confessores e os mártires, para que os que se não julgam suficientemente fortes para suportar o peso do martírio, conservem a graça da confissão, e, deixando o principal louvor aos soldados de Cristo, os quais vão combater pelo seu nome, deles cuidem com afinco. Logo, os que quiserem irão com nossos filhos Cromácio e Tibúrcio; e os que quiserem ficarão comigo na cidade. A distância na terra não separa absolutamente os que a graça de Cristo une; e os nossos olhos não sentirão a vossa ausência, porque vos contemplaremos com o olhar do homem interior."

Assim falou o Papa, e Tibúrcio bradou: "Conjuro-vos, ó Pai e Bispo dos bispos, não queirais que eu dê as costas aos perseguidores, pois a minha ventura e o meu desejo é morrer por Deus, mil vezes, se possível, contanto que obtenha a dignidade dessa vida que nenhum sucessor me arrebatará, e à qual nenhum tempo porá fim." O santo Papa, chorando de alegria, pediu a Deus que todos os que com ele permanecessem obtivessem o triunfo do martírio.

Tibúrcio, ao sair, certo dia, encontrou um jovem que, tendo caído de grande altura, de tal modo havia quebrado os membros que a única coisa de que se cuidava era sepultá-lo. Tibúrcio pediu aos pais debulhados em lágrimas que lhe permitissem dirigir-lhes algumas palavras, para Ver se o não curaria. Todos se afastaram. Tibúrcio proferiu sobre a vítima a oração dominical com o símbolo, e o jovem se viu imediatamente refeito, como se nada tivesse sofrido. Retirou-se, Tibúrcio, mas o pai e a mãe correram-lhe no encalço, detiveram-no, e disseram-lhe: " Fazei dele vosso escravo e com ele vos daremos todos os nossos bens, pois era nosso filho único e, de morto que estava, vós o ressuscitastes." Respondeu-lhes Tibúrcio: "Se fizerdes o que vos digo, considerar-me-ei muito bem pago pela cura." Retrucaram os pais: "E se vós quiserdes ter também a nós por escravos, não nos operemos; pelo contrário, desejamos ser vossos escravos, se nos julgardes dignos". 

Tibúrcio, pegando-os pela mão, conduziu-os a um lugar afastado da multidão, e ensinou-lhes a virtude do nome de Jesus Cristo. Ao vê-los firmes no temor de Deus, levou-os a Caio, e disse: "Venerável Papa e Pontífice da lei divina, eis aqueles que Cristo conquistou hoje, por meu intermédio; como novo arbusto, a minha fé produziu neles o primeiro fruto." O Papa baptizou o jovem e os pais.

Vemos aqui, como em São Cipriano, que eram postos no lugar dos confessores, não apenas os que confessavam a fé diante dos tribunais, senão também os que, para a não negar, se também, o título de bispo dos bispos dado ao Papa, como no mesmo São Cipriano e, antes dele, em Tertuliano. O Papa São Caio sucedera, em 15 de Dezembro de 283, ao Papa Santo Eutiquiano, morto no dia 7 do mesmo mês, e que, por sua vez, sucedera a São Félix, martirizado no império de Aureliano, em 22 de Dezembro de 274.

Ficou, portanto, Tibúrcio com o Papa, assim como Sebastião, Marceliano e Marcos, Tranquilino, pai deles; Nicóstrato, Zoé, sua mulher, e Castor, seu irmão; Cláudio e seu irmão Vitorino, com o filho Sinforiano, que se vira curado da hidropisia. Os demais retiraram-se com Cromácio. O Papa dez de Tranquilino sacerdote, e de seus filhos diáconos. Os outros foram ordenados, subdiáconos, excepto Sebastião que, servindo bastante aos fiéis sob as vestes de capitão, foi nomeado, dizem os actos, defensor da Igreja pelo Papa. Esse título assinalava, na época de São Gregório, aqueles que os Papas empregavam particularmente no auxílio e assistência dos pobres. 

Os santos que haviam permanecido em Roma, não conseguindo encontrar lugar seguro, retiraram-se com o Papa para o próprio palácio do imperador, para junto de um tal Cástulo, cristão com toda a família e adequadíssimo para os ocultar, uma vez que, vivendo no palácio onde era intendente dos banhos e das estufas, ninguém dele suspeitava. Lá ficavam os santos, dia e noite atarefados com as lágrimas, os jejuns e a prece para de Deus obterem a perseverança e a graça do martírio. Realizavam também grande número de milagres com os cristãos que lhes iam implorar a assistência.

Um ladino, chamado Torquato, fingindo-se ainda cristão, embora tivesse renunciado à fé, uniu-se ao grupo do santo Papa Caio. Tibúrcio não suportava vê-lo arrumar o cabelo, comer constantemente, beber com excesso, brincar nas refeições, ter gestos e maneiras efeminados, exibir-se por demais livremente às mulheres, evitar jejuns e preces, e dormir enquanto os outros vigiavam e passavam a noite a entoar louvores a Deus. Repreendia-o severamente, e Torquato fingia entristecer-se. Contudo, através de ardis, arranjou maneira de fazê-lo prender com ele e levar à presença do prefeito Fabiano, onde, interrogado, respondeu que era cristão, que Tibúrcio era seu amo, e que faria tudo quando o visse fazer. Tibúrcio confundiu-o com viva eloquência e desmascarou-lhe a trama perante o juiz.

Disse-lhe Fabiano: "Andareis melhor em cuidar da vossa salvação não desprezando as ordens dos príncipes. - Não posso garantir melhor a minha salvação, replicou Tibúrcio, que desprezando os vossos deuses e deusas, que confessando ser somente Jesus Cristo o meu Deus." Disse-lhe ainda Fabiano: "Voltai para o seio de vossa família, sede o que vos manda ser a natureza, pois de nascimento tão nobre, caístes tão baixo que vos encontrais na conjectura de sofrer o suplício, a infâmia e a morte."

Diocleciano surpreendeu-se bastante ao vê-lo, pois o julgava morto, segundo a ordem que dera. Disse-lhe o santo que Jesus Cristo lhe devolvera a vida, a fim de que protestasse diante de todo o povo ser extrema injustiça perseguir os servidores de Cristo. Diocleciano mandou imediatamente que o levassem ao hipódromo do palácio, onde o abaterem a bordoadas. De medo, porém, dizem os actos, de que os cristãos fizessem dele um mártir, lançaram-lhe de noite o corpo a uma cloaca. O santo apareceu a uma mulher chamada Lucina e mostrando-lhe o ponto em que estava o corpo, pediu-lhe o fosse enterrar nas catacumbas, na entrada da gruta dos apóstolos. Lucina executou religiosamente a ordem, e passou trinta dias ao pé do túmulo do santo. Isso se verificou, segundo parece, no ano de 228.

Retrucou-lhe Tibúrcio: "Oh, que sábio, que maravilhoso juiz possuem os romanos! Porque me recuso a adorar a prostituída Vénus, o incestuoso Júpiter, o finório Mercúrio, e Saturno, assassino de seus filhos, desonro a minha raça e recebo a marca da infâmia! E porque adoro o único Deus verdadeiro, ameaçais-me com a morte pelos suplícios!"

Fabiano mandou imediatamente acender uma fogueira e ordenou-lhe que a ela atirasse incenso ou sobre ela caminhasse de pés descalços. Tibúrcio fez o sinal da cruz e caminhou sobre os carvões sem sofrer a menor dor; depois desafiou o juiz a colocar apenas a mão na água fervente, em nome de Júpiter. "Quem não sabe, disse o juiz confuso, que o vosso Cristo vos ensinou magia?

- Calai-vos, desgraçado, replicou Tibúrcio, não me façais a injúria de proferir diante de mim com furiosos lábios tão sagrado nome".

Fabiano, encolerizado, o condenou imediatamente a perder a cabeça como blasfemo e culpado de haver proferido atrozes injúrias. Tibúrcio foi levado a um lugar da cidade, onde o executaram; mais tarde, Deus realizou no mesmo lugar Grande número de milagres.

O pérfido Torquato fez ainda enforcar Cástulo, o anfitrião dos cristãos. O santo foi interrogado e torturado três vezes e, não deixando nunca de persistir nas suas convicções, atiraram-no a um fosso sobre o qual lançaram um monte de areia. Os dois irmãos, Marcos e Marceliano, foram detidos em seguida e amarrados a um poste, com os pés furados pro pregos. Passaram um dia e uma noite em tal suplício, e finalmente morreram, atravessados por lanças, por ordem do juiz. Foram sepultados a duas milhas de Roma, num cemitério que deles recebeu o nome.

Após haver Sebastião fortalecido tantos mártires contra o temos dos suplícios, e encorajado a combater heroicamente pela coroa da glória, deu finalmente a conhecer a todos o que ele próprio era. Dioclecino, a quem o prefeito narrou o sucedido, mandou-o chamar e censurou-o por se esquecer das obrigações que lhe devia. Respondeu o santo que, notando haver loucura em pedir favores e socorros a pedras, havia incessantemente adorado a Cristo e o Deus do céu, para a salvação do príncipe e de todo império. Tão sábia resposta não satisfez absolutamente Diocleciano, que entregou o santo às mãos dos arqueiros da Mauritânia, os quais, por ordem sua, o vararam de flechas.

Deixaram-no, depois, por morto no lugar. Mas Irene, viúva de São Cástulo, tendo acorrido para sepultá-lo, encontrou-o ainda com vida e levou-o para casa, no próprio palácio do imperador, onde em pouco tempo o santo recobrou a saúde. Exortavam-no os cristãos a que se retirasse. Mas, após invocar a Deus, colocou-se numa escadaria pela qual passava Diocleciano, e censurou-o pela injustiça com a qual os seus pontífices o levavam a perseguir os cristãos, acusando-os de inimigos do estado, eles que oravam continuamente pelo império e pela prosperidade dos exércitos.

Padre Rohrbacher in 'Vida dos Santos' (Volume II, p. 46-62)



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