segunda-feira, 31 de agosto de 2020

Defesa da propriedade por G.K. Chesterton

Estou perfeitamente consciente de que na nossa época a palavra 'propriedade' foi pervertida pela corrupção dos grandes capitalistas. Pelo que as pessoas dizem, poder-se-ia pensar que os Rothchilds e os Rockfellers são partidários da propriedade. Mas é óbvio que eles são seus inimigos, porque são inimigos dos seus limites. Não desejam a sua própria terra, mas a dos outros. (...) 

O homem que leva consigo a verdadeira poesia da posse deseja ver um muro no encontro do seu jardim com o do sr. Smith, uma cerca no encontro da sua fazenda com a do sr. Brown. Não consegue ver a forma da sua própria terra sem ver os limites da do vizinho. 

O duque de Sutherland possuir todas as chácaras (quintas) numa única propriedade rural é a negação da propriedade, assim como seria a negação do casamento se ele tivesse todas as nossas esposas num único harém.

G. K. Chesterton in 'O que há de errado com o mundo'


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Asperge me

Domine, hysopo et mundabor:
lavabis me, et super nivem dealbábor


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Uma confissão com o Padre Pio

Depoimento da conversão de Frederick Abresh
Em Novembro de 1928, quando fui ver o Padre Pio pela primeira vez, poucos anos tinham passado desde que eu me convertera do protestantismo para o catolicismo, algo que apenas tinha feito por mera conveniência social. Eu não tinha fé; pelo menos agora entendo que apenas tinha a ilusão de tê-la. Tendo sido criado numa família muito anti-católica e imbuído de preconceitos contra os dogmas - até o ponto de que uma ligeira instrução não era suficiente para apagá-los - eu estava sempre ansioso por coisas secretas e misteriosas.

Encontrei um amigo que me introduziu nos mistérios do espiritismo. Muito rapidamente, no entanto, cansei-me dessas mensagens pouco conclusivas que vinham do além-túmulo; entrei pesadamente no campo do ocultismo e das magias de todos os tipos. Foi então que eu conheci um homem que me disse, em ares de mistério, que ele detinha a verdade única: a 'teosofia'. Rapidamente tornei-me seu discípulo, e nas nossas mesas, fomos acumulando livros com os títulos mais atraentes e tentadores. Com muita presunção, ele utilizava palavras como reencarnação, logos, Brahma, Maja, esperando ansiosamente alguma nova e grande realidade que supostamente deveria acontecer.

Não sei porquê - ainda acho que era para agradar à minha esposa - mas de vez em quando ainda me acercava dos santos sacramentos. Este era o estado da minha alma, quando, pela primeira vez, ouvi falar do padre capuchinho que descreviam como um crucifixo vivo, fazendo milagres contínuos. Cheio de curiosidade, decidi ir vê-lo com os meus próprios olhos. Ajoelhei-me no confessionário e disse ao Padre Pio que considerava a confissão uma boa instituição social e educacional, mas que não acreditava de modo algum na divindade do sacramento. O padre, com expressão de viva dor, respondeu-me: 'Heresia! Então, todas as suas comunhões foram sacrílegas...tem de fazer uma confissão geral. Examinar a sua consciência e lembrar quando foi a última vez que fez uma boa confissão. Jesus tem sido mais misericordioso consigo do que com Judas'.

Olhando, então, por cima da minha cabeça, com um olhar severo, disse em alta voz: 'Louvados sejam Jesus e Maria!' E dirigiu-se à igreja para ouvir as confissões de algumas mulheres, enquanto eu fiquei na sacristia, profundamente comovido e impressionado. A minha cabeça girava e eu não me conseguia concentrar, pois martelavam-me nos ouvidos as suas palavras: 'Lembre-se de quando foi a última vez que fez uma boa confissão!' Com dificuldade, consegui chegar à seguinte decisão: vou dizer ao Padre Pio que eu era protestante e que, depois da abjuração, fui rebaptizado condicionalmente e que todos os meus pecados de minha vida passada haviam sido apagados pelo santo baptismo mas, para a minha inteira tranquilidade, eu gostaria de começar a confissão desde a minha infância.

Quando o padre retornou ao confessionário, repetiu-me a mesma pergunta: 'Então, quando foi a última vez que fez uma boa confissão?' '. Eu respondi: 'Padre, eu ... e ele então interrompeu-me, dizendo: 'a última vez que fez uma boa confissão foi quando regressou da sua lua de mel, vamos deixar tudo o mais de lado e começar a partir daí'. Fiquei sem palavras, tomado de estupor, e percebi que havia tocado o sobrenatural. 

O padre, entretanto, não me deu tempo para reflectir. Revelando o seu conhecimento do meu passado, na forma de um questionário, enumerou todas as minhas culpas com absoluta precisão e clareza. Depois me fez conhecer todos os meus pecados mortais com palavras impressionantes, que me levaram a compreender a gravidade dos meus pecados, acrescentando com um tom de voz inesquecível: 'cantava um hino a Satanás, enquanto Jesus, de braços abertos, ardia de amor à sua espera'. Então deu-me a penitência e absolveu-me.

Katharina Tangari in 'Stories of Padre Pio'


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sábado, 29 de agosto de 2020

Sanctus da Missa 'De Angelis'

Sanctus da Missa 'De Angelis' from Senza Pagare on Vimeo.



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Ninguém morre por uma verdade da qual não está seguro

Os bem-aventurados apóstolos foram os primeiros a ver Cristo suspenso na cruz; choraram a sua morte, ficaram atemorizados face ao prodígio da sua ressurreição mas, logo a seguir, transportados de amor por esta manifestação do seu poder, não hesitaram em derramar o seu sangue para atestar a verdade do que tinham visto. 

Pensai, irmãos no que era pedido a esses homens: ir por todo o mundo pregar que um morto tinha ressuscitado e subido ao céu; e sofrer, devido à pregação dessa verdade, tudo o que aprouvesse a um mundo insensato: privações, exílio, cadeias, tormentos, carrascos, feras ferozes, a cruz e morte. Teriam sofrido tudo isso por um desconhecido?

Teria Pedro morrido para sua própria glória? Teria pregado em proveito próprio? Ele morria e Outro, que não ele, era glorificado por essa morte; ele foi morto e Outro foi adorado. Só a chama ardente da caridade, unida à convicção da verdade, pode explicar semelhante audácia! Eles pregavam o que tinham visto. 

Ninguém morre por uma verdade da qual não está seguro. Ou deveriam eles negar o que tinham visto? Mas não negaram, antes pregaram esse Morto que sabiam estar perfeitamente vivo. Eles sabiam por que vida desprezavam a vida presente, sabiam por que felicidade suportavam provas passageiras, por que recompensa espezinhavam todos esses sofrimentos. A sua fé pesava mais na balança que o mundo inteiro.

Santo Agostinho in Sermão 311, 2


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sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Colher o que Semeámos

Estudos recentes revelam que os níveis de esperma de homens no ocidente desceram 60% desde 1971, evocando a grande distopia de P.D. James “Os Filhos dos Homens”, com a sua visão de uma sociedade que já não se consegue reproduzir. Baseado no Reino Unido, em 2021, esta ficção assustadora descreve uma mundo de infertilidade em massa entre os homens, um mundo em que não nascem crianças há 25 anos. No livro, o último bebé que nasceu é agora um adulto e a população está a envelhecer. Tal como na realidade actual, os cientistas no livro de James ainda não conseguiram descobrir uma cura, ou sequer uma causa, para a infertilidade. 

No artigo em que publicam as suas descobertas, na revista Human Reproduction Update, os investigadores – de Israel, Estados Unidos, Dinamarca, Brasil e Espanha – concluem que o total de contagem de esperma caiu 59.3% entre 1971 e 2011 na Europa, América do Norte, Austrália e Nova Zelândia. 

Alguns cientistas afirmam que a “vida moderna” causou sérios danos à saúde dos homens. Pesticidas, poluição, dieta, stresse, tabaco e obesidade… todos têm sido associados ao problema, com algum grau de plausibilidade. Mas há menos homens a fumar do que nunca e os controlos de poluição e de pesticidas que os governos têm implementado ao longo dos últimos 40 anos diminuíram vários destes riscos. 

Durante a Revolução Industrial, no século XIX, os homens incorriam em riscos de saúde muito maiores ao trabalhar em fábricas numa altura em que não havia sequer regulamentos sobre a qualidade do ar. Havia menos problemas de fertilidade nessa altura, as famílias eram numerosas e ninguém se preocupava com a contagem de esperma. 

A obesidade pode ser um factor, mas os investigadores ainda não conseguiram estabelecer uma ligação. Um grupo de investigadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Loma Linda fez um estudo ao longo de quatro anos com uma população de Adventistas do Sétimo Dia, que são rigorosamente vegetarianos. Os resultados revelaram que os vegetarianos têm uma média de contagem e de mobilidade de esperma significativamente mais baixas que carnívoros, mas o veganismo é um estilo de vida minoritário ainda, especialmente entre homens, e por isso não pode ser a principal causa do fenómeno. 


As causas para este declínio de fertilidade continuam por apurar. Mas para se compreender as consequências de uma sociedade estéril, a história de P.D. James descreve um mundo sombrio em que emerge um Governo totalitário para manter a ordem – e fornecer “conforto” aos residentes. É um mundo em que os animais de estimação se substituem às crianças e a religião parece ter perdido o seu sentido. Porém, na tentativa fraca de manter os rituais cristãos as igrejas anglicanas levam a cabo cerimónias de baptismo elaboradas para os gatinhos de estimação da população, repletas de vestidos brancos e boinas. 

Na sociedade estéril de P.D. James, o sexo entre os jovens tornou-se “o menos importante dos prazeres sensoriais do homem”. E embora os homens e as mulheres ainda se casem, é frequentemente com pessoas do mesmo sexo. O desejo sexual diminuiu a par da fertilidade masculina, não obstante os esforços do Governo para estimular o desejo através de lojas de pornografia patrocinadas pelo Estado. 

De certa forma o romance de James descreve uma sociedade que conseguiu precisamente aquilo que queria: prazer sexual sem risco de gravidez. Mas a ironia é que não havendo possibilidade de procriação, o sexo perde o seu sentido. É um facto que enfrentamos cada vez mais hoje enquanto debatemos se o Estado deve obrigar todos os contribuintes, incluindo aqueles que têm objecções religiosas, a pagar pelos “direitos reprodutivos” de todas as mulheres, numa altura em que há cada vez mais preocupações com a infertilidade masculina. 

Há muito que os antropólogos e os sociólogos sabem que a questão da fertilidade humana numa dada população tem de ser vista de uma perspectiva cultural. A cultura é a forma de vida, ou a concepção de vida que caracteriza cada sociedade humana. Inclui os valores partilhados, normas e comportamentos de uma dada sociedade. 

Para compreender as taxas de fertilidade e a diminuição da população, devem-se identificar e modificar as influências culturais. A cultura é importante para se compreender as taxas de fertilidade e para modificar a actividade sexual, criando uma relação entre o sexo e a reprodução e o sistema de valores de uma cultura. Quando, numa determinada sociedade, a chegada de uma criança é desvalorizada, o acto sexual que produz a criança também se desvaloriza. Note-se que os níveis de fertilidade masculina estão em queda no Ocidente e não em África, onde as crianças continuam a ser altamente valorizadas e acolhidas em amor. 

Esta perspectiva sociológica ou cultural estava claramente expressada na Humanae Vitae: Sobre a Regulação da Natalidade, emitida pelo Papa Paulo VI no dia 25 de Julho de 1968, onde se lê: 

“O problema da natalidade, como de resto qualquer outro problema que diga respeito à vida humana, deve ser considerado numa perspectiva que transcenda as vistas parciais – sejam elas de ordem biológica, psicológica, demográfica ou sociológica – à luz da visão integral do homem e da sua vocação, não só natural e terrena, mas também sobrenatural e eterna.” 

Talvez seja chegada a hora de considerar a sociologia em torno da cultura de “direitos reprodutivos” que criámos – a cultura de contracepção que o Ocidente abraçou. Temos de nos questionar sobre o eventual custo psíquico de uma cultura em que a contracepção e o aborto são de tal forma importantes que o ObamaCare procurou obrigar todos os empregadores – incluindo instituições religiosas – a fornecer aos seus funcionários seguros de saúde que incluíam cobertura para medicamentos contraceptivos e abortivos abortivos para todos. 

É importante realçar que estes declínios de fertilidade começaram a registar-se em 1971 com o surgimento da pílula contraceptiva e liberalização do aborto a pedido através de Roe v. Wade. Será que, tal como na distopia de James, há um preço psíquico a pagar quando começamos a partir do princípio que podemos controlar todos os aspectos das nossas vidas? Será possível que tenhamos sobrecontrolado a nossa própria fertilidade? 

Anne Hendershott in thecatholicthing.org (traduzido por 'Actualidade Religiosa')

Anne Hendershott é professora de Sociologia e directora do Centro Veritas para Ética na Vida Pública, da Universidade Franciscana de Steubenville, Ohio. É autora do livro The Politics of Deviance


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quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Se Deus aparecesse nos noticiários...

Se Deus aparecesse nos noticiários que lugar restaria à liberdade humana, ao livre arbítrio e à Fé? Como poderíamos duvidar de uma evidência?

Como faria o homem o caminho da confiança, de volta a uma relação entretanto traída? Não! A maior razão da Fé reside na salvaguarda da liberdade humana; em reganhar uma confiança entretanto perdida pela Queda. 

É preciso viver a revolução permanente, contra o espírito da época, contra a heresia da moda. Só assim se obtém o perdão e o regresso a casa. 

G.K. Chesterton


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terça-feira, 25 de agosto de 2020

Falar com Deus

Se o facto de contares aos homens os teus infortúnios pessoais e descreveres as provações por que passaste traz algum alívio à tua desventura, como se através das palavras se exalasse uma brisa refrescante, com muito mais razão se falares ao Senhor dos sofrimentos da tua alma encontrarás consolo e conforto em abundância! 

De facto, muitas vezes os homens dificilmente suportam aqueles que vêm lamentar-se e chorar para o pé de si: afastam-se e repelem-nos. Mas Deus não age assim; pelo contrário, Ele faz com que te aproximes e abraça-te; e mesmo que passes o dia inteiro a narrar os teus infortúnios, ficará ainda mais disposto a amar-te e a acolher favoravelmente as tuas súplicas. 

São João Crisóstomo



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Cardeal Sarah celebrará Missa Pontifical na Basílica de São Pedro durante a Peregrinação Summorum Pontificum

Entrevista com o Padre Claude Barthe, capelão da Peregrinação
 
Todos os anos, desde 2012, é realizada, em Roma, uma peregrinação em acção de graças pelo motu proprio Summorum Pontificum do Papa Bento XVI. Vai acontecer este ano? O Capelão deste encontro, padre Claude Barthe, anuncia que não só se realizará a peregrinação, mas também que no dia 24 de Outubro o Cardeal Sarah celebrará a principal Missa na Basílica de São Pedro.
 
Summorum Pontificum News :  Então, este ano acontecerá a peregrinação Summorum Pontificum em Roma?
 
Padre Claude Barthe :  Sim, como todos os anos desde 2012! É verdade que este ano é especial: devido à chamada "crise sanitária", reina uma atmosfera um tanto surreal que afecta todas as actividades religiosas e especialmente as peregrinações. Estive em Lourdes há alguns dias, onde encontrei apenas alguns poucos fiéis. Porém, após um exame cuidadoso, o Coetus Internationalis, que organiza a Peregrinação, decidiu, considerando o que esta iniciativa católica representa, mantê-la, tendo em conta as restrições que nos são impostas.
 
Summorum Pontificum News :  Qual será o programa?
 
Padre Claude Barthe : A própria peregrinação reduzir-se-á ao acontecimento mais importante: a Missa Pontifical na Basílica de São Pedro, no altar da Cátedra, no sábado, 24 de Outubro. Com, no dia seguinte, a Missa do Domingo de Cristo Rei.
No sábado, 24 de Outubro, os peregrinos, clérigos e fiéis reunir-se-ão em frente à entrada da Basílica às 11h30, onde o Cardeal Burke os receberá e entrará com eles na Basílica de São Pedro. Às 12h00, o Cardeal Robert Sarah celebrará a Missa Pontifical de São Rafael Arcanjo.
 
Summorum Pontificum News :  Quais peregrinos?
 
Padre Claude Barthe : As autoridades vaticanas pedem, actualmente, que os fiéis presentes nas cerimónias da Basílica de São Pedro não ultrapassem os 150. É pouquíssimo. Mas é possível que essas medidas sejam amenizadas antes do final de Outubro.
 
Em qualquer caso, excepcionalmente, pedimos aos que desejam assistir a esta Missa que se inscrevam aqui: https://bit.ly/3hCY4K4. Guardaremos os lugares assim que forem "clicados" e confirmá-los-emos. Quando um determinado número for atingido, avisaremos os que ultrapassarem esse número que serão colocados em lista de espera e mantê-los-emos informados sobre as informações que recebermos das autoridades da Basílica.
 
Summorum Pontificum News :  E no domingo, 25 de Outubro?
 
Padre Claude Barthe : Segundo a tradição, a nossa peregrinação terminará na festa de Cristo Rei. A Missa Pontifical será celebrada às 11 horas, domingo, 25 de Outubro, pelo Cardeal Raymond Leo Burke, na paróquia Trinità dei Pellegrini que, segundo a sua vocação, funciona como uma espécie de quartel general, onde os sacerdotes que participam da peregrinação celebram as suas Missas privadas.
 
Summorum Pontificum News :  Além disso, a associação Oremus / Paix Liturgique anunciou um encontro. Sempre terá lugar?
 
Padre Claude Barthe : Com certeza. Os organizadores farão um anúncio sobre isso em breve, mas posso dizer que este Encontro será realizado na sexta-feira, 23 de outubro, na aula magna do Augustinianum, próximo da Praça de São Pedro, entre as 10h00 e as 16h00. Este ano receberá intervenções de uma série de oradores, incluindo o Cardeal Raymond Leo Burke, e também Joseph Shaw, Presidente da Latin Mass Society, Jean de Tauriers, Presidente da ND de Chrétienté, Padre Antony Ike, seminarista nigeriano especializado em África Católica e Trinidad Dufourq que testemunhará a vitalidade e o desenvolvimento da Missa tradicional na Argentina. Os organizadores solicitam que as pessoas se inscrevam no Encontro aqui: https://bit.ly/3in6sOl.
 
O Encontro encerrar-se-á no mesmo dia, às 17h, na Basílica de Santa Maria ad Martyres do Panteão, com o canto das Vésperas Pontificais, presidido por Mons. Gianfranco Girotti, Bispo titular de Meta e Regente Emérito da Penitenciária Apostólica. Novamente, será necessária inscrição para as vésperas no Panteão: https://bit.ly/2XpGhhM.
 
Summorum Pontificum News : Podemos dizer que esta Peregrinação 2020 será uma questão de princípio?
 
Padre Claude Barthe : Vai ser muito mais do que isso! Julgamos que este ano será muito especial. Por exemplo, muitos dos nossos amigos na América não se poderão juntar a nós. Mas os presentes representarão todos os peregrinos intencionais do mundo que nos acompanharão com as suas orações. Os peregrinos in re representarão a multidão de peregrinos in voto! Também este ano levaremos ao Túmulo do Apóstolo o pedido para que a Igreja se salve e pela difusão da antiga liturgia romana que contribuirá poderosamente para que isso aconteça com a irradiação da mais pura lex orandi.



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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Humildade e sofrimento

A humildade e o sofrimento libertam o homem de todo o pecado; a humildade acaba com as paixões espirituais, o sofrimento com as corporais.

 São Máximo o Confessor



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sábado, 22 de agosto de 2020

Beato Contardo Ferrini, modelo de professor e intelectual católico


Filho de Ricardo Ferrini e de Luísa Buccellati, um casal muito católico, Contardo era um jovem de memória prodigiosa. Estudioso, chamavam-lhe o Aristóteles. Aprendia tudo o que lhe ensinavam com a maior facilidade. Um dia, apareceu pela Ambrosiana, a pedir ao prefeito da biblioteca que lhe ensinasse o hebreu. Estudou o hebreu, e depois o siríaco, o sânscrito e o copta.

Em Pavia, em 1876, com 17 anos, começou o curso de Direito. Ali, o abade Buccellati, seu tio, ministrava o direito penal. Dos colegas debochados, dos ditos obscenos, dos risos que as ordinarices provocavam, o jovem Ferrini fugia, atormentado. Trazia o cilício sempre bem apertado e procurava o confessionário todos os dias.

Em 1881, fez um voto de castidade. Um dia, um colega apontou-lhe duas jovens irmãs, bastante bonitas, de boa família, e, pois, óptimos partidos. Qual delas escolheria Contardo? O jovem respondeu:

– Eu sou pela terceira, ainda por nascer.

Em Junho de 1880 defendeu, brilhantemente, em Pavia, a sua tese – uma dissertação latina que girava em torno da importância de Homero e de Hesíodo para a história do direito penal – tese que lhe valeu uma bolsa de viagem. (...)

Do professorado, Contardo fez o seu sacerdócio. Foi mestre sempre compenetrado, sério, grande estudioso, que não procurou matérias que levam ao sucesso fácil, mas o direito penal romano e o direito bizantino. Nesta última disciplina, foi quase que um iniciador na Itália. (...)

Assistindo à Missa todos os dias, diante do tabernáculo, Contardo, a orar, chegava ao êxtase.

Aos Domingos, se o procuravam em casa, o porteiro avisava:

– Não é fácil, em dias de festa, achar o professor em casa. Não! Está sempre na igreja, onde tem tanta coisa para fazer!

Terciário franciscano, desde 1886, Ferrini era doce, humilde, paciente, sempre procurando a perfeição.

'Eu procurarei, escreveu duma feita, ser modelo de mansidão, de doçura, de caridade e de humildade. Repararei cada falta por uma redobrada atenção, para evitá-las, e procurarei, todos os dias, ocasião de praticar as virtudes'.

Depois:

'Durante o dia, farei uma visita a Jesus no Santo Sacramento, lembrando-me do seu amor, da sua ternura e da sua doçura inefáveis: a Ele irei em espírito de afectuosa confiança e de humildade. Permanecerei unido a Ele todo o dia com frequentes aspirações e uma grande pureza de intenção. A caridade espiritual para com os outros será meu primeiro cuidado; hei de ser humilde e afável. Falando de Deus aos outros, rogarei a Ele que termine a minha obra com a sua acção inefável'.

De real espírito de pobreza, Ferrini era verdadeiramente indiferente pelo dinheiro. Professor em Pavia, hospedara-se na casa da irmã. Metódico, levantava-se às cinco horas e meia, invariavelmente. Ao final das aulas, depois de atender às perguntas dos alunos, sempre a rodeá-lo, tornava a pé para casa.

Contardo Ferrini faleceu aos 43 anos, em 1902. Foi o tipo do homem que mostrou, e de modo cabal, que a ciência e a religião não são incompatíveis. Beatificado em 1947.

Pe. René François Rohrbacher in 'Vidas dos Santos' (Volume XVIII) - Editora das Américas (São Paulo), 1961, pp. 292-294


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sexta-feira, 21 de agosto de 2020

Perdoar aos nossos devedores


"Tu, Senhor, voltas com alegria e amor a levantar o que Te ofende, e eu não torno a reabilitar e a honrar quem me irrita."

São João da Cruz


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quinta-feira, 20 de agosto de 2020

Há 106 anos morria um Santo Padre

Há 106 atrás, no dia 20 de Agosto de 1914, os grandes sinos da Basílica de São Pedro tocavam "Pro Pontífice Agonizante", anunciando ao Mundo a morte de um Papa Santo, o gloriosíssimo Pio X, que durante 11 anos havia governado a Igreja com bondade e muita sabedoria.

Padre Pio referiu-se a ele como: “O homem mais puro a pisar o Vaticano após São Pedro”.


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Corramos para os irmãos que nos esperam - São Bernardo

Hoje é dia de São Bernardo de Claraval, Doutor da Igreja, Pregador das Cruzadas e fundador dos Cistercienses.

Que aproveitam aos Santos o nosso louvor, a nossa glorificação e até esta mesma solenidade? Para quê tributar honras terrenas a quem o Pai celeste glorifica, segundo a promessa verdadeira do Filho? De que lhes servem os nossos panegíricos (discursos de louvor)? Os Santos não precisam das nossas honras e nada podemos oferecer lhes com a nossa devoção. Realmente, venerar a sua memória interessa nos a nós e não a eles.

Por mim, confesso, com esta evocação sinto me inflamado por um anseio veemente. 

O primeiro desejo que a recordação dos Santos excita ou aumenta em nós é o de gozar da sua amável companhia, de merecermos ser concidadãos e comensais dos espíritos bem aventurados, de sermos integrados na assembleia dos Patriarcas, na falange dos Profetas, no senado dos Apóstolos, no inumerável exército dos Mártires, na comunidade dos Confessores, nos coros das Virgens; enfim, de nos reunirmos e nos alegrarmos na comunhão de todos os Santos. 

Aguarda-nos aquela Igreja dos primogénitos e nós ficamos insensíveis; desejam os Santos a nossa companhia e nós pouco nos importamos; esperam-nos os justos e nós parecemos indiferentes.

Despertemos, finalmente, irmãos. Ressuscitemos com Cristo, procuremos as coisas do alto, saboreemos as coisas do alto. Desejemos os que nos desejam, corramos para os que nos aguardam, preparemo-nos com as aspirações da nossa alma para entrar na presença daqueles que nos esperam. Não devemos apenas desejar a companhia dos Santos, mas também a sua felicidade, ambicionando com fervorosa diligência a glória daqueles por cuja presença suspiramos. Na verdade, esta ambição não é perniciosa, nem o desejo de tal glória é de modo algum perigoso.

Ao comemorarmos os Santos, um segundo desejo se inflama em nós: que, tal como a eles, Cristo, nossa vida, Se nos manifeste também e que nos manifestemos também nós com Ele revestidos de glória. É que de momento a nossa Cabeça revela-Se-nos não como é, mas como encarnou por nós, não coroada de glória, mas rodeada dos espinhos dos nossos pecados. Envergonhemo-nos de sermos membros tão requintados sob uma Cabeça coroada de espinhos, à qual por agora a púrpura não proporciona honras mas afronta. 

Chegará o momento da vinda de Cristo; e já não se anunciará a sua morte, para sabermos que também nós estamos mortos e que a nossa vida está escondida com Ele. Aparecerá a Cabeça gloriosa e com ela resplandecerão os membros glorificados, quando Ele transformar o nosso corpo mortal e o tornar semelhante ao corpo glorioso da Cabeça que é Ele mesmo.


Desejemos pois esta glória com total e segura ambição. Mas para podermos esperar tal glória e aspirar a tamanha felicidade, devemos desejar também ardentemente a intercessão dos Santos, a fim de nos ser concedido pelo seu patrocínio o que as nossas possibilidades não alcançam.

in Sermão 2 dos Sermões de São Bernardo, abade


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Eugenio Pacelli, futuro Papa Pio XII, no dia em que celebrou a sua primeira Missa (Abril 1899)




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quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Depoimento no notário testemunha que São Luís Maria curou um cego

«A senhora Hilaire Nicolas depôs ter sabido por uma das damas de honor da senhora de Montespan que o dito padre Grignion, acabando um dia de celebrar a Santa Missa na capela da dita senhora de Montespan, entrou na sacristia a fim de efectuar a sua acção de graças; ao sair, deu-se conta da presença de um homem cego e perguntou-lhe se ele queria ser curado, ao que o homem respondeu que sim; então, Montfort molhou um dedo na saliva, esfregou-lhe os olhos e, no mesmo instante, o cego recuperou a vista e gritou que via muito bem». 

Depoimento registado a 25 de Novembro de 1718, perante Perronet e Sigonière, notários reais em Poitiers.

Joseph Grandet in 'La vie de Messire Louis-Marie Grignion de Montfort, prête, missionaire, apostolique, composée par un prête du clergé' (Nantes, Ed. Verger, 1724, p. 428) 


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terça-feira, 18 de agosto de 2020

Quem não vive como pensa acaba por pensar como vive

"Quem não vive como pensa, acaba por pensar como vive."

Este belo adágio, que contém um perspicaz trocadilho, é muito verdadeiro.

Quantas pessoas - apesar de terem perfeita noção do certo e errado, do bem e do mal - por fraqueza ou desleixo, começam a viver alguma coisa que sabem estar errada. No princípio ficam com problemas de consciência, mas o "amor" por aquela realidade fala mais alto e, mais tarde ou mais cedo, aquilo que sempre foi errado já não é...o mau passou a ser bom.

Temos que lutar para conseguirmos ser coerentes entre o que pensamos e o que fazemos. E que isto esteja por sua vez de acordo com o bem, porque ser coerente no mal não ajuda ninguém.


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Miss Pensilvânia e candidata a Miss EUA: "Fui concebida por violação"

Valerie Gatto, Miss Pensilvânia e candidata ao concurso de beleza Miss Estados Unidos  da América 2014, revelou que foi concebida num estupro. No entanto, isso não tem prejudicado o seu caminho para o sucesso, pelo contrário, pretende ser uma fonte de inspiração para as pessoas saberem que "não podem deixar as circunstâncias definirem as suas vidas".

Entrevistada pela Today.com, Valerie, que ficou entre as 20 primeiras colocadas no concurso de beleza, afirmou: "Eu acredito que Deus me colocou aqui por um motivo: para inspirar as pessoas, para encorajá-las, dar-lhes esperança de que tudo é possível e não podes deixar que as circunstâncias definam a tua vida. Ser filha de um estupro, não saber quem é o meu pai, não saber se ele alguma vez será encontrado, a maioria das pessoas pensam que é uma situação muito negativa", disse ela.

No entanto, Valerie disse: "Eu cresci com a minha mãe e os meus avós. Eles nunca viram isso como algo negativo. Eu tenho uma família amorosa, que me apoia e me disse que eu poderia ser presidente dos Estados Unidos".

A jovem, que também é consultora de marketing, lembrou que quando era mais jovem e perguntou à sua mãe como ela foi concebida, a mãe lhe disse que "algo de mau me aconteceu. Um homem muito mau feriu-me, mas Deus deu-me um presente, tu".

"Infelizmente, temos que estar alerta para estes crimes", disse Valerie Gatto, que se tem esforçado para compartilhar a sua experiência com diversos grupos de pessoas para ajudar na prevenção contra casos de estupro.

"Espero mostrar a outras como ser pró-activa, o que fazer, estar presente, estar atenta à sua volta,... Eu estou a educar as mulheres sobre um assunto que é muito grave, mas é tão maravilhoso ver as suas respostas. Elas dizem que lhes muda a vida".

Valerie disse que não compartilhou a sua história "por publicidade", e sim que, "estou realmente fazendo isso para mudar o mundo e fazer a diferença."

Numa entrevista anterior, no final de 2013, quando foi recém-coroada Miss Pensilvânia, Valerie lembrou que a sua mãe "sempre me disse que eu era a sua luz", e observou que "a partir do momento da concepção tenho sido essa luz, em meio à escuridão".


in aciprensa


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segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Ser um pobre de Deus

Meus irmãos, quando digo que Deus não inclina os seus ouvidos para o rico, não deduzais que Deus não atende os que possuem ouro e prata, criados e patrimónios. Se eles nasceram nessas condições e ocupam esse lugar na sociedade, que se lembrem desta palavra do apóstolo Paulo: «Recomendo aos ricos deste mundo que não sejam orgulhosos» (1Tim 6,17). 

Aqueles que não são orgulhosos são pobres diante de Deus, que inclina os seus ouvidos para os pobres e os necessitados (Sl 85,1). Com efeito, eles sabem que a sua esperança não está no ouro nem na prata, nem nas coisas de que gozam durante algum tempo. 

Basta que as riquezas não os levem à perdição e que, se elas nada podem para os salvar, ao menos não lhes sirvam de obstáculo. Quando um homem despreza tudo quanto alimenta o seu orgulho, é um pobre de Deus; e Deus inclina-Se para ele, porque conhece os tormentos do seu coração.

Santo Agostinho in 'Discursos sobre os salmos' (85,3; CCL 39, 1178) 


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domingo, 16 de agosto de 2020

Santa Teresa de Ávila e a Santa Missa

Uma vez, Santa Teresa de Ávila estava abismada com a bondade de Deus e perguntou-Lhe: "Como Vos posso agradecer?" O Senhor respondeu: "Ouve uma Missa."


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sábado, 15 de agosto de 2020

Foi Assumpta ao Céu a Virgem Santa Maria!

Foi em 1950, que o Papa Pio XII proclamou o dogma da Assunção de Nossa Senhora em corpo e alma aos Céus. Para tal, na sua Bula Munificentissimus Deus, o Santo Padre deixou-nos alguns fundamentos para afirmar a Assunção da nossa Mãe do Céu:

14. Os fiéis, guiados e instruídos pelos pastores, souberam por meio da Sagrada Escritura que a virgem Maria, durante a sua peregrinação terrestre, levou uma vida cheia de cuidados, angústias e sofrimentos; e que, segundo a profecia do santo velho Simeão, uma espada de dor lhe traspassou o coração, junto da cruz do seu divino Filho e nosso Redentor. E do mesmo modo, não tiveram dificuldade em admitir que, à semelhança do seu unigénito Filho, também a excelsa Mãe de Deus morreu. Mas essa persuasão não os impediu de crer expressa e firmemente que o seu sagrado corpo não sofreu a corrupção do sepulcro, nem foi reduzido à podridão e cinzas aquele tabernáculo do Verbo divino. Pelo contrário, os fiéis iluminados pela graça e abrasados de amor para com aquela que é Mãe de Deus e nossa Mãe dulcíssima, compreenderam cada vez com maior clareza a maravilhosa harmonia existente entre os privilégios concedidos por Deus àquela que o mesmo Deus quis associar ao nosso Redentor. Esses privilégios elevaram-na a uma altura tão grande, que não foi atingida por nenhum ser criado, exceptuada somente a natureza humana de Cristo.

16. De modo ainda mais universal e esplendoroso se manifesta esta fé dos pastores e dos fiéis, com a festa litúrgica da assunção celebrada desde tempos antiquíssimos no Oriente e no Ocidente. Nunca os santos padres e doutores da Igreja deixaram de haurir luz nesta solenidade, pois, como todos sabem, a sagrada liturgia, "sendo também profissão das verdades católicas, e estando sujeita ao supremo magistério da Igreja, pode fornecer argumentos e testemunhos de não pequeno valor para determinar algum ponto da doutrina cristã".[1]

20. A Liturgia da Igreja não cria a fé católica, mas supõe-na; e é dessa fé que brotam os ritos sagrados, como da árvore os frutos. Por isso os santos Padres e doutores nas homilias e sermões que nesse dia fizeram ao povo, não foram buscar essa doutrina à liturgia, como a fonte primária; mas falaram dela aos fiéis como de coisa sabida e admitida por todos. Declararam-na melhor, explicaram o seu significado e o fato com razões mais profundas, destacando e amplificando aquilo a que muitas vezes os livros litúrgicos apenas aludiam em poucas palavras, a saber, que com esta festa não se comemora somente a incorrupção do corpo morto da santíssima Virgem, mas principalmente o triunfo por ela alcançado sobre a morte e a sua celeste glorificação à semelhança do seu Filho unigénito, Jesus Cristo.

21. S. João Damasceno, que entre todos se distingue como pregoeiro dessa tradição, ao comparar a assunção gloriosa da Mãe de Deus com as suas outras prerrogativas e privilégios, exclama com veemente eloquência: "Convinha que aquela que no parto manteve ilibada virgindade conservasse o corpo incorrupto mesmo depois da morte. Convinha que aquela que trouxe no seio o Criador encarnado, habitasse entre os divinos tabernáculos. Convinha que morasse no tálamo celestial aquela que o Eterno Pai desposara. Convinha que aquela que viu o seu Filho na cruz, com o coração traspassado por uma espada de dor de que tinha sido imune no parto, contemplasse assentada à direita do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse o que era do Filho, e que fosse venerada por todas as criaturas como Mãe e Serva do mesmo Deus".[2]

29. Entre os escritores sagrados que naquele tempo com vários textos, comparações e analogias tiradas das divinas Letras, ilustraram e confirmaram a doutrina da assunção em que piamente acreditavam, ocupa lugar primordial o doutor evangélico S. António de Pádua. Na festa da assunção, ao comentar aquelas palavras de Isaías: "glorificarei o lugar dos meus pés" (Is 60,13), afirmou com segurança que o divino Redentor glorificou de modo mais perfeito a sua Mãe amantíssima, da qual tomara carne humana. "Daqui, vê-se claramente", diz, "que o corpo da santíssima Virgem foi assunto ao céu, pois era o lugar dos pés do Senhor". Pelo que, escreve o Salmista: "Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca da vossa santificação" (Sl 131, 8). E assim como, acrescenta ainda, Jesus Cristo ressuscitou triunfante da morte e subiu para a direita do Pai, assim também "ressuscitou a Arca da sua santificação, quando neste dia a virgem Mãe foi assunta ao tálamo celestial".[3]

34. [...] Seguindo o comum sentir dos cristãos, recebido dos tempos antigos S. Roberto Belarmino exclamava: "Quem há, pergunto, que possa pensar que a arca da santidade, o domicílio do Verbo, o templo do Espírito Santo tenha caído em ruínas? Horroriza-se o espírito só com pensar que aquela carne que gerou, deu a luz, alimentou e transportou a Deus, se tivesse convertido em cinza ou fosse alimento dos vermes".[4]

35. De igual forma S. Francisco de Sales afirma que não se pode duvidar que Jesus Cristo cumpriu do modo mais perfeito o divino mandamento que obriga os filhos a honrar os pais. E a seguir faz esta pergunta: "Que filho haveria, que, se pudesse, não ressuscitava a sua mãe e não a levava para o céu?"[5] E S. Afonso escreve por sua vez: "Jesus não quis que o corpo de Maria se corrompesse depois da morte, pois redundaria em seu desdouro que se transformasse em podridão aquela carne virginal de que ele mesmo tomara a própria carne".[6]

38. Todos esses argumentos e razões dos santos Padres e teólogos apoiam-se, em último fundamento, na Sagrada Escritura. Esta nos apresenta a Mãe de Deus extremamente unida ao seu Filho, e sempre participante da sua sorte. Pelo que parece quase que impossível contemplar aquela que concebeu, deu à luz, alimentou com o seu leite, a Cristo, e o teve nos braços e apertou contra o peito, estivesse agora, depois da vida terrestre, separada dele, se não quanto à alma, ao menos quanto ao corpo.

40. Deste modo, a augustíssima Mãe de Deus, associada a Jesus Cristo de modo insondável desde toda a eternidade "com um único decreto" [7] de predestinação, imaculada na sua concepção, sempre virgem, na sua maternidade divina, generosa companheira do divino Redentor que obteve triunfo completo sobre o pecado e suas consequências, alcançou por fim, como suprema coroa dos seus privilégios, que fosse preservada da corrupção do sepulcro, e que, à semelhança do seu divino Filho, vencida a morte, fosse levada em corpo e alma ao céu, onde refulge como Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos (cf. 1Tm 1,17).


44. "Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus omnipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos s. Pedro e s. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial".

45. Pelo que, se alguém, o que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta nossa definição, saiba que naufraga na fé divina e católica.

47. A ninguém, pois, seja lícito infringir esta nossa declaração, proclamação e definição, ou temerariamente opor-se-lhe e contrariá-la. Se alguém presumir intentá-lo, saiba que incorre na indignação de Deus omnipotente e dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo.

Dado em Roma, junto de São Pedro, no ano do jubileu maior, de 1950, no dia 1° de Novembro, festa de todos os santos, no ano XII do nosso pontificado.



Neste dia tão especial, recorramos à nossa Mãe, ela que é a Medianeira de todas as graças, com confiança, sabendo as palavras do Papa Leão XIII, no ponto 12 da sua Carta Encíclica Octobri Mense:

Por consequência, pode-se com toda a verdade e rigor afirmar que, por divina disposição, nada nos pode ser comunicado, do imenso tesouro da graça de Cristo - sabe-se que "a glória e a verdade vieram de Jesus Cristo" (Jo 1, 17), - senão por meio de Maria. De modo que, assim como ninguém pode achegar-se ao Pai Supremo senão por meio do Filho, assim também, ordinariamente, ninguém pode achegar-se a Cristo senão por meio de sua Mãe.

Honremos, então, a Santíssima Virgem, cantando-lhe o que ela mesma cantou:

Em Latim:

Magnificat anima mea Dominum
Et exultavit spiritus meus in Deo salutari meo.
Quia respexit humilitatem ancillæ suæ: ecce enim ex hoc beatam me dicent omnes generationes.
Quia fecit mihi magna qui potens est, et sanctum nomen eius.
Et misericordia eius a progenie in progenies timentibus eum.
Fecit potentiam in brachio suo, dispersit superbos mente cordis sui.
Deposuit potentes de sede et exaltavit humiles.
Esurientes implevit bonis et divites dimisit inanes,
Suscepit Israel puerum suum recordatus misericordiæ suæ,
Sicut locutus est ad patres nostros, Abraham et semini eius in sæcula.

Gloria Patri, et Filio, et Spiritui Sancto
Sicut erat in principio, et nunc, et semper, et in saecula saeculorum.
Amen.

Em Português:

A minha alma glorifica o Senhor
E o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
Porque pôs os olhos na humildade da sua Serva: de hoje em diante me chamarão bem aventurada todas as gerações.
O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas: santo é o seu nome.
A sua misericórdia se estende de geração em geração sobre aqueles que o temem.
Manifestou o poder do seu braço e dispersou os soberbos.
Derrubou os poderosos de seus tronos e exaltou os humildes.
Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu de mãos vazias.
Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,
Como tinha prometido a nossos pais, a Abraão e à sua descendência para sempre

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo
Como era no princípio, agora e sempre.

Amén.


Regina in caelum assumpta, ora pro nobis!

PF

Notas:

[1] Pio XII, Carta Enc. Mediator Dei
[2] S. João Damasceno, Encomium in Dormitionem Dei Genetricis semperque Virginis Mariae, hom. II, 14
[3] S. António de Padua, Sermones dominicales et in solemnitatibus. In Assumptione S. Mariae Virginis Sermo
[4] S. Roberto Belarmino, Conciones habitae Lovanii, concio 40: De Assumptione B. Mariae Virginis
[5] S. Francisco de Sales, Sermon autographe pour la fête de l'Assomption
[6] S. Afonso Maria de Ligório, As glórias de Maria, parte II, disc. 1
[7] Pio IX, Bula Ineffabilis Deus


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