terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Os azares de John Galliano - P.Gonçalo Portocarrero de Almada

Um dos casos judiciais mais marcantes de 2011 foi a condenação, a uma multa de seis mil euros, por um tribunal de Paris, do estilista John Galliano. Este criador de moda da casa Dior, aparentemente ébrio, declarara o seu monstruoso amor a Hitler, desejando a morte do casal de judeus que estava a seu lado, num bar da antiga judiaria parisiense.

O primeiro azar de John Galliano foi o vinho. Não fosse o néctar dos deuses e o sujeito não teria experimentado o banco dos réus. Para maior infelicidade do etilizado estilista que, à conta disto, poderá ficar ainda mais anti-semita, a Bíblia atribui a Noé, o mesmo da prodigiosa arca, a invenção do vinho. Ainda assim, o balancear de Noé pelo convés seria mesmo coisa da maré, não do vinho … Porém, é verdade que a Sagrada Escritura conta que Noé se embriagou alguma vez, tendo também ele protagonizado tristes figuras.

Os antigos diziam: «in vino veritas», ou seja, o vinho predispõe à verdade. Pois é, mas isso é só quando é bebido com conta, peso e medida. Quando se está grosso, geralmente é grossa a asneira que sai. Foi o caso de Monsieur Galliano que, de facto, não poderia ter sido mais desastrado.

O segundo azar de John Galliano foi Adolf Hitler. Imagine-se que o agora condenado se tinha apresentado no bar envergando uma camisola com a efígie de Estaline, um boné à Mao, ou até que fazia um brinde à saúde, por sinal bastante debilitada, do camarada Lenine. É certo e sabido que ninguém se teria sentido incomodado com tais alusões, muito embora esta troika tristemente famosa tenha sido, até passando por alto a mórbida e mesquinha comparação contabilística das respectivas vítimas, tão prejudicial à humanidade quanto o diabólico líder nazi.

É razoável que se condene, sem hesitações, a tirania nazi, mas não parece justa a relativa complacência, ou cumplicidade, em relação às outras ditaduras. É de facto estranho que, na mentalidade dominante, haja, ao que parece, tiranos bons e tiranos maus: os primeiros podem desfilar em peças de roupa, ser elogiados e festejados em canções; mas, dos segundos, nem os nomes malditos podem ser tolerados. A foice e o martelo são adereços inócuos, mas a cruz suástica é uma provocação inadmissível. Amar Lenine, Estaline, Mao ou Che Guevara é politicamente aceitável, mas gostar de Hitler não.

O terceiro azar de John Galliano foi o facto de ter insultado um casal de judeus. Tivesse tido a sorte de ofender um par saloio cá da terra e, na pior das hipóteses, levava apenas um sopapo, à antiga portuguesa, e não se falava mais do caso. Mas tocar num casal judeu, o que é obviamente inadmissível, em especial quando a raça é o motivo, é muito mais grave do que incomodar um par de qualquer outra etnia ou religião. É óptimo que o sofrido povo hebraico goze dessa merecida protecção, mas seria desejável que, na comunidade internacional, não houvesse nacionalidades, ou credos, de primeira e de segunda classe.

O quarto azar de John Galliano foi a sua falta de pontaria quanto às vítimas da sua ofensa verbal. Teve azar, como já se disse, pelo facto de serem judeus ou, mais concretamente, por serem aqueles judeus. Com efeito, há judeus que podem ser ofendidos impunemente e, por isso, é fundamental a pontaria.

Se o estilista tivesse tido a sorte de, por hipótese, injuriar os judeus Jesus e Maria de Nazaré, o seu gesto não só não seria susceptível de procedimento criminal, como até seria previsivelmente louvado. Não faltaria quem defendesse a genialidade criativa do provocador e os eventuais protestos seriam silenciados, por contrários à laicidade das instituições e às sacrossantas liberdades artísticas. Cristo e sua Mãe são, com efeito, os dois únicos judeus que se podem insultar, à vontade, no mundo inteiro e, principalmente, no ocidente.

Quatro azares são demais para um homem só. Não parece fácil que o etilizado John Galliano se consiga reabilitar depois de tão monumental sarilho. Para que não seja em vão o azar do infeliz estilista, aprenda-se pois a lição.

Primeiro: não se embebede, se quiser insultar ou, pelo menos, não insulte, se estiver embriagado, ou ainda, em termos de prevenção rodoviária: se bebeu, não ofenda! Mas o melhor mesmo é que não insulte nunca ninguém. Segundo: declare o seu amor eterno a um tirano politicamente correcto, ou seja, qualquer um que não seja o execrável Hitler.

Terceiro: ofenda um par, de preferência casado em regime de comunhão de agravos, de qualquer religião ou nacionalidade que não a judaica. E, quarto: se, apesar de tudo, optar por judeus, não se esqueça que só há duas pessoas dessa nacionalidade que podem ser impunemente ultrajadas em público.

E, já agora, tenha também o que faltou ao desgraçado John Galliano: sorte!

P.S. Aviso à navegação: este artigo não é contra Noé, nem as arcas, nem o vinho, nem as camisolas, nem os estilistas, nem os comunistas, nem os judeus, nem os saloios, nem a prevenção rodoviária. Também não é a favor de Galliano, nem de Hitler, nem dos grupos nazis, nem do anti-semitismo, nem do comunismo, nem do fundamentalismo islâmico ou outro. Mas é, seguramente, contra a hipocrisia e a favor da verdade na caridade e da igualdade e liberdade de todos os homens, povos e religiões.


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domingo, 29 de janeiro de 2012

Um anel especial - Pe. Rodrigo Lynce de Faria

Abriu a porta da joalharia. Era jovem, simpático e bastante decidido. Sem olhar para as vitrinas, afirmou categoricamente que queria comprar um anel especial. O joalheiro mostrou-lhe um que lhe parecia apropriado. O rapaz contemplou-o com calma e, com um sorriso, manifestou o seu agrado. Inquiriu o preço. Preparava-se para abrir a carteira quando o ourives lhe perguntou:

«Vai-se casar em breve?». Gerou-se um momento de silêncio, como se a pergunta o apanhasse desprevenido. «Não. Nem sequer tenho namorada …» respondeu o rapaz. A surpresa do joalheiro divertiu-o. Depois continuou, como quem se convence de que, naquela ocasião, valia a pena dar uma explicação mais pormenorizada.

«É para a minha mãe. Quando eu ainda não tinha nascido, ela ficou sozinha. Alguém lhe aconselhou que interrompesse voluntariamente a gravidez, ou seja, que não me deixasse viver. A lei nessa altura facilitava tudo e, ainda por cima, o Estado “paternalmente” pagava todos os custos. Mas ela negou-se. Deixaram-na ainda mais sozinha. Havia muita gente disposta a ajudá-la a “livrar-se do incómodo” de ter um filho, mas pouca gente disponível para eliminar as dificuldades que tinha na sua vida.

Mas ela negou-se. Teve muitos problemas, muitos. Foi pai e mãe para mim ao mesmo tempo. Também foi amiga, irmã e sobretudo professora. Ensinou-me o sentido da vida. Fez-me ser aquilo que sou. Agora que já tenho algumas possibilidades, quero oferecer-lhe este anel especial. Ela nunca teve nenhum. Mais tarde, comprarei outro para a minha futura noiva. Mas será sempre o segundo. O primeiro, quero que seja para a minha mãe». O joalheiro não disse nada. Somente pediu ao empregado que o rapaz tivesse um desconto que só faziam aos clientes especiais.

Esta história faz-nos pensar. Será que em situações difíceis a “única solução” é suprimir legalmente a vida? Não nos apercebemos que uma lei assim facilita as pressões sobre a mulher para que essa seja vista como a “única solução”? Por acaso o dinheiro não seria melhor empregue em salvar vidas em vez de empregá-lo para eliminá-las?

E os problemas da mulher que está grávida? Será que não nos damos conta de que não podemos resolver os problemas de uma pessoa matando outra pessoa? Essa é a lógica da guerra. Essa é a lógica da violência. Essa não é a lógica da maternidade.

A mulher, numa situação difícil, necessita da nossa ajuda, da ajuda da sociedade. A morte do filho não resolve os seus problemas de pobreza ou falta de condições para o educar. Além disso, a proibição de abortar protege a mulher das fortes pressões a que muitas vezes se vê sujeita por aqueles que tem ao seu lado.

Por último, não nos esqueçamos de pensar com calma que quando falamos do aborto estamos sempre a fazer referência a algo que é para os outros. Nós somos um embrião que foi respeitado.


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sábado, 28 de janeiro de 2012

Frase do dia

"Em suma, existem somente dois tipos de pessoas: as que dizem a Deus: 'Faça-se a tua vontade'; e aquelas a quem Deus lhes dirá por último: 'Faça-se a tua vontade'." 

C.S.Lewis


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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Nós somos Igreja



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Queres honrar o Corpo de Cristo? - S. João Crisóstomo

Queres honrar o Corpo de Cristo? Então não O desprezes nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem O honres no templo com vestes de seda, enquanto O abandonas lá fora ao frio e à nudez. Aquele que disse: «Isto é o Meu Corpo» (Mt 26, 26), e o realizou ao dizê-lo, é o mesmo que disse: «Porque tive fome e não Me destes de comer» (cf. Mt 25, 35); e também: «Sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a Mim que o deixastes de fazer» (Mt 25, 42.45). Aqui, o corpo de Cristo não necessita de vestes, mas de almas puras; além, necessita de muitos desvelos. Deus não precisa de vasos de ouro, mas de almas que sejam de ouro.

Não vos digo isto para vos impedir de fazer doações religiosas, mas defendo que simultaneamente, e mesmo antes, se deve dar esmola. Que proveito resulta de a mesa de Cristo estar coberta de taças de ouro, se Ele morre de fome na pessoa dos pobres? Sacia primeiro o faminto, e depois adornarás o Seu altar com o que sobrar. Fazes um cálice de ouro e não dás «um copo de água fresca»? (Mt 10, 42). Pensa que se trata de Cristo, que é Ele que parte errante, estrangeiro, sem abrigo; e tu, que não O acolheste, ornamentas a calçada, as paredes e os capiteis das colunas, prendes com correntes de prata as lâmpadas, e a Ele, que está preso com grilhões no cárcere, nem sequer vais visitá-Lo? Não te digo isto para te impedir de tal generosidade, mas exorto-te a que a acompanhes ou a faças preceder de outros actos de beneficência. Por conseguinte, enquanto adornas a casa do Senhor, não deixes o teu irmão na miséria, pois ele é um templo e de todos o mais precioso.


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quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Dar sapatos usados

A Bota Minuto, é uma empresa portuguesa de reparações de calçado e lançou uma campanha para recolher sapatos usados, para serem entregues a instituições de solidariedade social.

Até 15 de Fevereiro, os responsáveis da Bota Minuto convidam as pessoas a desfazerem-se dos sapatos que já não usam e deixá-los em qualquer loja desta cadeia.

Segundo Duarte Ramos, responsável da cadeia de lojas, em 2010 a campanha conseguiu angariar 9000 pares de sapatos e no ano anterior 6000.

"Sendo uma cadeia de reparação de calçado, inúmeros de clientes deixavam cá o calçado e não o vinham buscar, mesmo em sistema de pré-pagamento. Ocorreu-nos encaminhá-los para instituições de solidariedade social", explicou Duarte Ramos à agência Lusa.

A campanha de recolha, que se faz desde 2008, coincide com o período pós-Natal, uma altura em que "os armários se enchem de produto novos e se esvaziam do que já não é usado".

"Já temos um banco de instituições a quem perguntamos todos os anos de quantos pares necessitam", refere Duarte Ramos.

"Sapatos com história" é o mote da campanha deste ano. Quem faz uma doação é
convidado a partilhar a história do seu par de sapatos nas redes sociais. Saiba como no site oficial: http://www.botaminuto.com/

Pontos de Recolha:
Bela Vista Feira Nova, Lj. 27, Av. Santo Condestável - 1900 Lisboa
Atrium Saldanha, Lj. 66 - 1050-094 Lisboa
Mercado Municipal de Campo de Ourique, Lj. 32/33, Rua Padre Francisco - 1350-075 Lisboa
Centro Comercial Amoreiras, Loja 5041, Av. Duarte Pacheco - 1070-000 Lisboa
Centro de Lazer Campo Pequeno, Lj. 136 - 1000-082 Lisboa
Galerias Lambert, Lj.3A, Rua Agostinho Neto 6/7 - Quinta do Lambert - 1769-012 Lisboa
El Corte Inglês, Av. António Augusto Aguiar nº31 - El Corte Inglês - 1069-413 Lisboa
Rádio Renascença, Rua Ivens, 14 - 1249-108 Lisboa
 Rua Dr. António Martins Nº 41A - 1070-092 Lisboa
Av. Infante D. Henrique, 343 - 1800-218 Lisboa
Av. Duque de Ávila, 46 - 1050-083 Lisboa


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Erasing Hate


O ódio de Bryon Widner começou a diminuir quando viu o filho nascer. “Nesse dia vi Deus”, afirma ele. A partir daí, as bebedeiras, a pancadaria e o racismo pareceram-lhe um grande disparate. Tinha uma família e, pela primeira vez na vida, quis trabalhar. Mas o passado perseguia-o: ninguém lhe dava emprego por causa das tatuagens na cara. Precisava de as apagar a qualquer custo. O processo foi filmado pelo canal norte-americano MSNBC e está no documentário Erasing Hate (apagando o ódio).

Bryon entrou num gangue de skinheads aos 14 anos. A avó alcoólica com quem vivia repetia vezes sem conta que ele nunca seria ninguém -acreditou nela. Durante os 16 anos seguintes dedicou-se a esmurrar negros, a embebedar-se e a tatuar o corpo com caveiras, suásticas e outros símbolos. Era um dos mais perigosos skinheads dos EUA, mas em 2006 casou com Julie, também ela skinhead, e tiveram um filho. Tudo mudou: “A primeira vez que se pega num bebé... É um tipo de amor que é difícil expressar”, resume. Diz que o racismo deixou de fazer sentido.

Bryon abandonou o movimento e mudou de cidade, mas as tatuagens tornaram-se um pesadelo. “Agora sei o que os negros sentem quando são discriminados pela cor da pele”, diz no documentário. Sem dinheiro para cirurgias, em 2007 ponderou usar ácido na cara. A mulher decidiu pedir ajuda.

Daryle Jenkins, um activista negro, dirigiu o casal à Southern Poverty Law Center, uma organização que investiga e luta em tribunal contra os skinheads. “Foi como se o Bin Laden tivesse pedido ajuda”, recorda o director, Joseph Roy.
A organização angariou os 25 mil euros necessários para a remoção das tatuagens. Uma benemérita exigiu apenas que Bryon se inscrevesse na faculdade ou num curso profissional. As 25 sessões, iniciadas em 2009 pelo cirurgião plástico Bruce Shack, duraram 16 meses.

No fim de cada uma, Bryon gemia de dor com a pele queimada pelo laser. Nunca nada lhe tinha doído tanto – nem mesmo quando na cadeia o fecharam numa cela cheia de negros, que o espancaram à vontade. in Sábado


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Frase do dia

"Aqueles que dizem que as pessoas, individualmente, não são capazes de mudar nada, só estão à procura de desculpas para não mudar nada." 

Vaclav Havel


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quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A correcção fraterna - S. Josemaria Escrivá

Não vos oculto que, quando tenho que corrigir ou tomar uma decisão que fará sofrer alguém, padeço antes, durante e depois; e não sou um sentimental. Consola-me pensar que só os animais não choram; nós, os homens, filhos de Deus, choramos. Sei que em determinados momentos, também vós tereis que sofrer, se vos esforçardes por levar a cabo fielmente o vosso dever. Não vos esqueçais de que é mais cómodo – mas é um descaminho – evitar o sofrimento a todo o custo, com o pretexto de não magoar o próximo; frequentemente o que se esconde por trás desta omissão é uma vergonhosa fuga ao sofrimento próprio, porque normalmente não é agradável fazer uma advertência séria a alguém. Meus filhos, lembrai-vos de que o inferno está cheio de bocas fechadas.

Para curar uma ferida, primeiro limpa-se esta muito bem e inclusivamente ao seu redor, desde bastante distância. O médico sabe perfeitamente que isso dói, mas se omitir essa operação, depois doerá ainda mais. A seguir, põe-se logo o desinfectante; arde – pica, como dizemos na minha terra – mortifica, mas não há outra solução para a ferida não infectar.

Se para a saúde corporal é óbvio que se têm de tomar estas medidas, mesmo que se trate de escoriações de pouca importância, nas coisas grandes da saúde da alma – nos pontos nevrálgicos da vida do ser humano – imaginai como será preciso lavar, como será preciso cortar, como será preciso limpar, como será preciso desinfectar, como será preciso sofrer! A prudência exige-nos intervir assim e não fugir ao dever, porque não o cumprir seria uma falta de consideração e inclusivamente um atentado grave, contra a justiça e contra a fortaleza. (Amigos de Deus)


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terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Morreu a filha de Stalin que se converteu ao catolicismo

Morreu a filha de Stalin que se converteu ao catolicismo. Morreu sozinha no último dia 22 de Novembro, num asilo nos Estados Unidos. Eis o testemunho da sua conversão: "Há uma coisa que aprendi pela primeira vez nos conventos católicos: a bênção da existência quotidiana, inclusivé da mais escondida; de cada pequena acção e até mesmo do silêncio. Geralmente sou felicíssima na minha solidão; na tranquilidade do meu departamento sinto vivamente a presença de Cristo".



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Os Filhos da Mentira - Pe.Gonçalo Portocarrero de Almada

O milagre da multiplicação dos pais e das mães

Jesus Cristo fez o milagre da multiplicação dos peixes e dos pães, mas a igualdade de género faz mais: multiplica, desgraçadamente, os pais e as mães. Se uma criança pode ter duas «mães», a verdadeira e a falsa, já que não pode ter sido gerada por ambas, pode ter ainda mais. Com efeito, se a verdadeira mãe morre, ficando a filha ao cuidado da falsa e a dita «viúva» casar com outra, também esta será, pela mesma razão, «mãe» da menor, portanto sua «mãe» duplamente falsa. Se aquela «viúva» morrer e lhe sobreviver a pessoa com quem casou, em segundas núpcias, pode esta, a dita «mãe» duplamente falsa, por sua vez casar com uma nova mulher, que será portanto a quarta «mãe» da criança em causa, ou sua «mãe» triplamente falsa. Portanto, se mãe verdadeira há só uma, falsas podem ser três, ou muitas mais!

O mesmo se diga dos «pais». O finlandês Juha Jämsä, casado com o pai de três filhos, que têm mãe, também quer ser «pai» deles: se o conseguir, os ditos terão simultaneamente três «pais» legais: dois progenitores mais um falso pai. Se a mãe voltar a casar com um homem, ainda podem ter quatro: uma mãe e três «pais»!
E se dois homens casados quiserem adoptar um órfão? Não é possível, porque a lei não o permite. Que fazer? Basta dar prioridade ao «interesse da criança», em detrimento da «ideia antiga» de que a adopção deve imitar a «reprodução biológica». Quer isto dizer que um menor deveria poder ser adoptado por um clube de futebol, por um rancho folclórico ou por uma esquadra da PSP. Genial, não é?

E, ainda, se uma mulher quiser ter um filho, mas não casar? Não pode porque, segundo a actual legislação, a procriação medicamente assistida só é viável a pedido da mulher e do seu marido. Mas – contradizem os activistas da ideologia de género – é uma «violência» obrigar uma mulher a casar, ainda por cima com um homem, para que possa recorrer à fecundação artificial! Se for, também o será que, para casar ou conceber, precise de alguém… Se a geração é um direito individual, invente-se então a reprodução assexuada!

Dois conceitos a distinguir: matrimónio e filiação. São cônjuges os casados, são progenitores os pais. O marido da mãe não é, necessariamente, o pai dos filhos dela, nem a mulher do pai é, por força, mãe da geração dele. Por isso, o marido da mãe que não é pai, é padrasto; e madrasta a mulher do pai, que não é mãe. Substituir padrasto ou madrasta por «pai» ou «mãe» é mentir ao filho sobre a sua identidade e filiação.

Há quem entenda que é a competência parental que conta e não a consanguinidade. Mas então, a adopção deveria ser concedida a equipas de especialistas: quinze «pais» peritos em puericultura, culinária infantil, pedopsiquiatria, línguas estrangeiras e dança substituiriam, com vantagem, pai e mãe, ou duas «mães» ou «pais» menos versáteis.

Mais ainda: se é a competência que interessa e não o parentesco, então mesmo o filho do casal natural, pai e mãe à antiga portuguesa, não deveria ser dado aos seus progenitores, como exige a ideologia de cariz biologista, mas entregue ao Estado, que depois o adjudicaria aos que provassem ser os «pais» mais aptos. Assim sendo, todos os cidadãos portugueses que quisessem «ter» geração, mas não «ser» pais, deveriam provar as suas aptidões parentais em exames nacionais: ser-lhes-iam depois dadas as crianças disponíveis, consoante as suas notas. Logicamente, o primeiro classificado teria direito ao bebé do ano.

Foi à revelia da vontade popular que Portugal entrou no restricto grupo dos países que apostaram na falsificação da família e do matrimónio naturais e, pelo menos 62% dos portugueses, não quer que casais do mesmo sexo possam adoptar menores.

Os recém-nascidos têm direito à família de que e em que nasceram: ao pai e à mãe que os geraram. Só a sua inexistência, ou manifesta incapacidade, pode legitimar a sua substituição por pais adoptivos. Mas nunca dois «pais» ou duas «mães», um verdadeiro e outro falso, porque uma mãe não é outro pai, nem o pai uma outra mãe. Além do mais, o pai do filho de duas «mães», como a mãe do filho de dois «pais», não podem, nem devem, ser excluídos da relação parental.

Esta não é, apenas, mais uma causa fracturante, mas uma questão aberrante. A adopção por casais do mesmo sexo é contrária à dignidade humana e ao superior interesse das crianças. Contra este mal maior, há que defender, sempre, o bem do indefeso menor.


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segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Imagem de Nossa Senhora de Fátima resgatada do Costa Concordia




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Ser humano, quem és? - Sofia Guedes

Ontem dia 19 de Janeiro de 2012, estive com um grupo de mais 3 amigos, a assistir silenciosamente nas galerias da Assembleia da República à apresentação dos projectos lei para as “Barrigas de Aluguer”. Enquanto o resto das bancadas tinham muitas pessoas ligadas aos movimentos de lésbicas, gays, etc, nós éramos aqueles 3...Foram quatro horas de silêncio, de paciência de compaixão, mas de uma profunda tristeza e preocupação por estar a assistir mais uma vez ao espectáculo decadente, deprimente e desumano.

Essas quatro horas, deram-me a possibilidade de olhar de cima. Lembrei-me então que ainda mais acima, está Aquele que nos deu vida. Aquele que um dia foi derramado pelo Baptismo à maior parte daqueles que ali estão sentados a desenhar uma estratégia, minuciosa e incisiva para dar cabo do ser humano. É uma operação cirurgicamente pensada, com o objectivo de retirar “sem dor” a alma ao ser humano.
Isto parece uma coisa subjectiva, mas tirar ao ser humano aquilo que o anima, é matá-lo. E por isso vale tudo: na lei dos mais fortes, a primeira coisa a fazer é acabar com os mais fracos, calá-los para sempre. Como? Começa-se por mudar o significado da verdade, depois calar os que falam, em seguida oferece-se presentes grátis, falsos (o vale tudo), a troco de um prazer de poder, de domínio. O chamado presente envenenado!!!

Todos ouvimos, mas nem todos escutaram o que ali se propôs. Máximas como: ter um filho é um “direito” de todos: O homem sozinho, a mulher sozinha, um par de lésbicas, um par de homossexuais, uns que ainda não se definiram e ainda outros que já não são novos, que ultrapassaram a idade fértil. Os “coitadinhos”. Vale tudo para todos. Estou certa que se esta lei passar, chegaremos ao cumulo de uma criança que saiba exprimir-se exija para ela um “boneco” de verdade! Isto não é a brincar.

Só uma deputada foi brilhante = iluminada: a Teresa Caeiro, do CDS-PP. Falou com o coração e a inteligência de mulher, de mãe e pessoa. Colocou questões que provocaram um silêncio impressionante. Lá de cima conseguia-se ver a expressão de espanto de tantas mulheres e alguns homens perante tais questões!!! É que só quem conhece a maternidade pode falar. Só quem olha a sua mãe com carinho, pode saber o que é ser filho de verdade.

Será que temos a consciência do que está a acontecer? Pergunto: “conseguem dormir descansados?” Eu, não! E pergunto a tantos que se dizem cristãos católicos, conhecem a Sagrada Escritura?, conhecem o conteúdo do Catecismo? Aqueles que estão actualizados, já entenderam o que nos diz esta história do Rei David (profeta Samuel), que estamos a seguir neste tempo litúrgico?

Já não consigo esconder ou fingir que isto não tem nada a ver com Cristo! Tem tudo. E eu não tenho medo de assumir. Se me afasto dEle, sinto-me a afogar neste mar de inferno. Somos um pequeno exército, somos os escolhidos e podemos muito!!! Como? Ser presença, mesmo que silenciosa. Podem-nos calar a boca, atar os braços, privarem-nos de tudo, mas a nossa liberdade encharcada de amor, ainda pode muito! Nós de facto não temos a noção do Amor de Deus. Que Ele nos perdoe e nos acorde para sermos homens e mulheres novos, com objectivos, com coragem e com convicção. Amar o próximo como a nós mesmos é o mandamento novo e perene.

Aqui fica o meu grito de alerta: ACORDEM!


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domingo, 22 de janeiro de 2012

A ho(n)ra de Portugal - José Luís Nunes Martins

Tratar os mortos como se nunca tivessem sequer nascido é um princípio do ateísmo moderno que ameaça fazer-se moda em Portugal. O que somos ou não somos, e temos ou não temos, devemo-lo aos que antes de nós por aqui passaram, a muitos pela positiva, a alguns pela negativa. Uns e outros merecem ser chamados ao presente.

Se numa determinada família se esquecem os mais velhos, ela é um ajuntamento, mas não uma família. Se uma nação passa por cima da história em favor de um qualquer benefício imediato, estamos, mais uma vez, a falar de um aglomerado de seres humanos, mas não de uma nação.

São índices da nossa identidade colectiva enfraquecida: não termos bons políticos, não sabermos falar de uma pátria, não termos ideia do que podemos prometer aos nossos filhos.

Portugal merece ter bons líderes, que, sem se preocuparem com popularidades, apontem os caminhos e sigam adiante; que, persistentes na humilde teimosia do amor, sem ofensas nem imposições, façam o que tem de ser feito para bem de todos. Que nos lembrem quem somos, sem paternalismos nem esquecimentos.

Custa-me que haja tantos portugueses preocupados com um acordo ortográfico, e assim esquecidos de que a nossa identidade não são vogais nem consoantes, que se prestam, noutros fóruns, ao desplante de teorizar soluções que passam por ouvirmos os nossos netos e bisnetos falar castelhano. Somos Portugal. Devemos todos, sem excepção, sentir o dever de respeitar quem antes de nós por nós morreu. Senão que emigrem.  
in jornal i


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sábado, 21 de janeiro de 2012

É ocioso estar sempre a discutir a alternativa da razão e da fé - G.K. Chesterton

A mente humana corre perigo, um perigo tão prático como a ladroagem; foi como barreira contra esse perigo que a autoridade religiosa se constituiu, bem ou mal. E é absolutamente necessário que alguma coisa se constitua como barreira contra esse perigo, pois de outra maneira é toda a raça que corre o risco de se afundar.

O perigo consiste no facto de o intelecto humano ter a liberdade de se destruir a si mesmo. Assim como uma geração pode impedir que a geração seguinte venha a existir – entrando em massa para um convento, ou lançando-se ao mar –, assim também um conjunto de pensadores pode, até certo ponto, impedir que haja pensamento, ensinando à geração seguinte que o pensamento humano é totalmente desprovido de valor.

É ocioso estar sempre a discutir a alternativa da razão e da fé. A razão é, ela própria, uma questão de fé. É um acto de fé afirmar que os nossos pensamentos têm alguma relação com a realidade.

Um céptico acabará, mais cedo ou mais tarde, por perguntar a si mesmo: «Por que motivo hão-de a observação e a dedução ser correctas? Por que motivo não há-de a lógica ser tão enganadora como a falta de lógica? Não é verdade que uma e outra mais não são do que movimentos do cérebro de um macaco desorientado?»

Ao que o jovem céptico responde: «Eu tenho o direito de pensar por mim mesmo.»

Já o velho céptico, o céptico perfeito, prefere afirmar: «Eu não tenho o direito de pensar por mim mesmo. Eu não tenho absolutamente direito nenhum de pensar.»

Há um tipo de pensamento que põe fim ao pensamento. E esse é o único pensamento a que é necessário pôr fim. Esse é o mal definitivo ao qual se opõe a autoridade religiosa, um mal que só se manifesta no termo de épocas decadentes como aquela que estamos a viver.


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Vem Senhor Jesus



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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Serão todas as religiões verdadeiras? - Pe. Rodrigo Lynce de Faria

O seu modo de argumentar parecia ter uma certa lógica. «Eu sou daqueles que pensam que todas as religiões são verdadeiras. Pondo de parte algumas degenerações fanáticas, todas levam o homem a fazer o bem, promovem sentimentos positivos e satisfazem a necessidade de transcendência que temos dentro de nós. No fundo, acaba por ser a mesma coisa escolher uma religião ou outra. Viva a liberdade! Quem sou eu para impor a minha religião aos outros?

«Que cada um escolha a sua própria religião. Que cada um escolha aquela que melhor se adapta ao seu modo de ser. Esta é a minha opinião e não acredito que esteja errada. Sobretudo, acho que é a única que pode ser considerada verdadeiramente tolerante. Quem acredita que a sua religião é a verdadeira acaba por ser um bocado fanático. E com pessoas fanáticas não é possível dialogar».

É verdade que todas as religiões, se o são de verdade, possuem algo de positivo. No entanto, isso não é a mesma coisa que afirmar que todas as religiões são verdadeiras. Não é sério dizer que podem ser verdadeiras ao mesmo tempo religiões que afirmam coisas diferentes e contraditórias. Assim como não é sério dizer que dois mais dois são aquilo que mais estiver de acordo com os sentimentos de cada um. A resposta é só uma. Não somos nós que a inventamos. A nós compete-nos somente descobri-la.

Se só existe um Deus, não pode haver mais do que uma verdade sobre Ele. E a descoberta do caminho para chegar a Deus é a mais importante da nossa vida. Dela depende a nossa eternidade. Viver de acordo com uma religião não é algo que esteja ao mesmo nível de escolher um produto num supermercado. Não tem a mesma importância que a selecção da cor de um automóvel que pretendemos comprar.

Uma pessoa não vive de acordo com uma religião porque isso lhe dê uma satisfação maior. Porque a faça sentir-se em harmonia com o universo. Nem porque lhe permita emitir suspiros mais ou menos celestiais. Uma pessoa vive de acordo com uma religião porque acredita que é o seu caminho para chegar a Deus. O seu caminho para que a sua vida tenha sentido. Para que a sua vida não termine no cemitério. Pelo contrário, para todos aqueles que se contentam com ficar por lá, não é necessária a procura de nenhuma religião. Nem é necessário ter a “dor de cabeça” de tentar encontrar a verdadeira.

Para os cristãos esse único caminho para chegar a Deus tem um nome: Jesus Cristo. Ele não é somente um homem especial. É Deus feito homem. Deus que se fez homem e morreu na Cruz para nos salvar. Não foram os cristãos que inventaram a Cruz por ela estar mais de acordo com os seus sentimentos. Foi Deus que escolheu esse modo concreto de nos salvar. Um modo que revela o seu infinito amor por nós e nos pede uma resposta.


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Frase do dia

"Deus reserva muitas coisas para o julgamento futuro, mas algumas delas são julgadas agora, para que aqueles cujo julgamento tarda sejam tomados de receio e se convertam. Pois Deus não gosta de condenar mas sim de salvar, e por isso é paciente com os maus para que eles se tornem bons." 

Santo Agostinho


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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

Correcção Fraterna - Santo Agostinho

O Senhor previne-nos contra os juízos temerários e injustos, pois pretende que ajamos com um coração simples, olhando sempre só para Deus. Dado que ignoramos o motivo de muitas acções, seria temerário da nossa parte julgá-las. Os mais dispostos a fazer juízos temerários e a condenar os outros são aqueles que preferem condená-los a corrigi-los e trazê-los ao bem, uma atitude que denota orgulho e mesquinhez.

Por exemplo, um homem peca por cólera, e tu repreende-lo com ódio. Entre a cólera e o ódio vai a mesma distância que separa a palha do argueiro. O ódio é uma cólera inveterada que, com o tempo, assumiu proporções tais, que bem merece o nome de argueiro. Pode acontecer que te encolerizes quando pretendias corrigir, mas não deves nunca deixar-te levar pelo ódio. Afasta primeiro o ódio para longe de ti, e poderás depois corrigir aquele que amas.


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Frase do dia

"As pessoas apegadas ao mundo, mergulhadas nos seus afazeres, vivem na obscuridade e no erro; nem pensam em conhecer as coisas de Deus, nem pensam na sua salvacao eterna." 

S. Pio de Pietrelcina


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quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Regras espirituais para um Padre que aspire à perfeição (IV)

10. Tornar bem o mal

Será prestável a todos, e cuidará em especial de fazer bem a quem lhe tiver feito mal, pelo menos recomendando-o a Deus; é a vingança dos santos.

11. Mortificação interior e exterior

Esteja atento em praticar a mortificação interior e exterior. Jesus Cristo a recomendou, quando disse: Abneget semetipsum (Matth. 16, 24); o que é absolutamente necessário para chegar à santidade.

Exige a mortificação interior que cada um se vença a si próprio, recusando ao amor próprio tudo quanto o possa contentar. Abstenha-se pois de toda a ação que não tenha outro objeto senão satisfazer a curiosidade, a ambição, ou a vontade própria.

Ame também a mortificação exterior: os jejuns, as abstinências, as disciplinas, e outras coisas semelhantes. Os santos maceraram a sua carne quanto puderam, isto é, quanto lhes permitia a obediência, que é a regra dos santos.

Quanto àquele que, em razão da sua pouca saúde, não puder impor mortificasses exteriores, esse deve abraçar as dores e incómodos que tiver a sofrer, tomando a peito levar tudo com resignação e tranqüilidade. Deve absterse até de dar a conhecer sem necessidade o que sofre, e de se queixar do pouco cuidado dos médicos ou das pessoas da casa.

12. Orar sempre

É necessário orar sempre e recomendar-se a Deus. Todas as nossas boas resoluções e propósitos se desvanecem como o fumo, se nos descuidarmos de orar; porque, sem a oração, ficamos privados das graças necessárias para os cumprir. Devemos ter os lábios sempre abertos para orar, dizendo: Senhor, ajudai-me; Senhor, misericórdia; Senhor, tende compaixão de mim. — Assim o têm feito todos os santos, e assim se têm santificado.

Acima de tudo, não cessemos de pedir a Jesus Cristo o dom do seu santo amor. Dizia S. Francisco de Sales que este dom encerra todos os outros; porque desde que se ama a Deus empregam-se todos os esforços para evitar quanto lhe possa desagradar, e fazer todo o possível para lhe agradar.

Peçamos também sempre a graça de ter muita confiança na paixão de Jesus Cristo e na intercessão de Maria. Não cessemos de recomendar a Deus as santas almas do Purgatório e os pobres pecadores; porque estas orações são muito agradáveis a Deus.
Santo Afonso-Maria de Ligório in A Selva


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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Regras espirituais para um Padre que aspire à perfeição (III)

7. Desejo de morte

Deve o padre desejar muitas vezes o Paraíso, e por consequência a morte, para ir em breve para o Céu amar a Jesus Cristo, com todas as suas forças e por toda a eternidade, sem receito de jamais o perder. Entretanto, procederá sem reservas para com Deus, nada lhe recusando, do que souber que lhe é mais agradável, e estará sempre atento a afastar do seu coração tudo o que não é Deus nem para Deus.

8. Devoção à santíssima Virgem

Esforce-se por conceber uma grande confiança e terna devoção para com a santíssima Virgem. Todos os santos têm alimentado em seus corações uma piedade filial para com a Mãe divina. Cuide de fazer todos os dias uma leitura nalgum livro, que trate das suas glórias e da confiança que devemos ter na sua poderosa proteção. Não deixe de jejuar aos sábados em sua honra, o melhor que possa, e em todas as suas novenas, pratique ao menos alguma abstinência e mortificação. Não deixe de visitar todos os dias alguma imagem sua. Quanto puder, falará da confiança que se deve ter na proteção de Maria, e procurará aos sábados fazer aos fiéis uma pequena instrução na igreja, para os afervorar na devoção a esta compassiva Soberana.

Pelo menos, fale dela em cada um dos seus sermões, e recomende a mesma devoção a todos os seus penitentes, assim como a todas as demais pessoas que possa. Quanto mais se amar a Maria, tanto mais se amará a Deus; porque Maria atrai a Deus os que a amam. Quia tota ardens fuit, diz S. Boaventura, omnes se amantes, eamque languentes, incendit (De B. M. V. s.1).

9. Ser humilde do coração

Esforce-se por ser humilde do coração. Muitos há que são humildes de palavras, mas não do coração; dizem que são os maiores pecadores do mundo, que merecem mil infernos; apesar disso, querem ser preferidos, estimados e louvados. Quando ninguém os aplaude, a si próprios se louvam; ambicionam os empregos mais altos, e não podem sofrer uma palavra de desprezo.

Não procedem assim os humildes de coração: nunca falam dos seus talentos, da sua nobreza, das suas riquezas, nem de coisa alguma que os distinga.

Amará pois os empregos e serviços mais humildes e obscuros. Receberá as afrontas sem se perturbar, e até interiormente se comprazerá nelas, por se tornar assim semelhante a Jesus Cristo, que foi saturado de opróbrios.

Nas contradições que ferirem e irritarem o seu orgulho, faça-se violência para nada dizer nem fazer naquela ocasião, ainda mesmo que seja superior e como tal obrigado a reprimir a insolência de quem o ultraja. Enquanto sentir os nervos exaltados, deve calar-se até que eles acalmem. De contrário, o fumo da perturbação lhe ofuscará a vista; olhará como justo o que diz e faz, ao passo que tudo será falta e desordem. Além disto, quando a correção se faz no momento da exasperação, o inferior não a recebe como reprimenda merecida, mas como efeito da impaciência da parte do superior, o que a torna inútil ou pouco menos. Pela mesma razão, quando o superior conhece que o seu inferior está perturbado, deve diferir a admoestação, esperando que ele acalme; doutro modo, o inferior cego pela sua paixão, longe de receber a repreensão, romperá em maiores excessos.

Santo Afonso-Maria de Ligório in A Selva


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Regras espirituais para um Padre que aspire à perfeição (II)

4. Intenção de fazer tudo por Deus

Em todas as suas acções, deve o padre ter a intenção de tudo fazer só para Deus. Os mestres da vida espiritual chamam à recta intenção uma alquimia celeste, que converte em ouro todas as nossas acções, mesmo as que respeitam às necessidades corpóreas, como o repouso, o alimento e o recreio.

Mas, em especial, é necessário que os exercícios de piedade se façam unicamente para agradar a Deus, e não por motivo de interesse, vanglória, ou gosto próprio; de contrário, tudo se perderá e, em vez de recompensa, se receberá castigo. Para com segurança pois, se fazer por Deus tudo quanto se fizer, convém que se obre sempre sob a dependência dum director.

5. Amor da solidão e do silêncio

É preciso que o padre ame a solidão e o silêncio. Quem trata e fala demasiado com os homens, necessita de tomar cautela; se a não tiver, dificilmente evitará o pecado: In multiloquio non deerit peccatum (Prov. 10, 10). Por isso o Senhor disse: In silentio et in spe erit fortitudo vestra (Ps. 30, 15).

Seremos fortes contra as tentações, na medida em que confiarmos em Deus, e nos afastarmos do comércio com as criaturas. De mais, quem fala muito com os homens, falará pouco com Deus. Na solidão fala e conversa familiarmente o Senhor com as almas, conforme esta exclamação de S. Jerónimo: O solitudo, in qua Deus cum suis familiariter loquilur ac conversatur!

E o próprio Deus nos faz compreender que é na solidão que nos fala aos corações: Ducam eam in solitudinem, et loquar ad cor ejus (Os. 2, 14). As almas que ardem no amor de Deus sempre buscam a solidão: é o que se observa. Corriam os santos a esconder-se nas florestas e em espantosas cavernas, para não serem perturbados pelo ruído do mundo e poderem tratar a sós com Deus. O silêncio e a solidão forçam, por assim dizer, a alma a não pensar senão em Deus.

No entanto, não consiste a virtude em estar sempre calado, mas em falar quando convém. Um bom padre cala-se quando deve calar-se, e fala quando deve falar; mas fala somente de Deus, ou do que interessa à glória de Deus e ao bem das almas. Muitas vezes uma palavra de Deus, dita familiarmente em conversa ou a um amigo, produzirá mais fruto que muitos sermões.

Deve-se pois ter cuidado em todos os entretenimentos, por indiferentes que sejam, de misturar alguma palavra edificante sobre as verdades eternas ou sobre o amor de Deus. Quando se ama uma pessoa, sempre se desejaria falar e ouvir falar dela; quando se ama a Deus, só se fala e quer ouvir falar de Deus.

6. Conformidade com a vontade de Deus

Consiste acima de tudo o amor de Deus na conformidade com a sua santa vontade, especialmente nas coisas que mais contrariam o amor próprio, como são as doenças, a pobreza, o desprezo, as perseguições e as securas espirituais. Devemos estar persuadidos de que tudo isso, que nos advém de Deus, nos é útil, por ser feito ou permitido para nosso bem; porque ninguém há que mais nos ame do que Deus. Se queremos santificar-nos, digamos em tudo quanto nos acontecer: Fiat voluntas tua. Sit nomen Domini benedictum. Domine, quid me vis facere? Sicut Domino placuit, ita factum est. Ita, Pater! quoniam sic fuit placitum ante te.

Em todas as eventualidades da vida, agradáveis ou desagradáveis, procuremos conservar essa paz contínua, essa tranqüilidade inalterável de que os santos nos dão exemplo, dizendo sempre: In pace in idipsum dormiam et requiescam. Uma alma que ama a Deus passa uma vida uniforme, sempre em união com o Senhor; era o que nos seus cânticos exprimia um grande servo de Deus, o cardeal Petrucci, sobre esta palavra do Espírito Santo: Non contristabit justum quidquid ei acciderit (Prov. 12, 21).

Assim, um padre que ama a Deus jamais será abalado pela aflição. Só o pecado lhe deve causar dor; mas esta dor mesmo, como acima dissemos, deve ser uma dor calma, que não perturbe a paz da alma.
Santo Afonso-Maria de Ligório in A Selva


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domingo, 15 de janeiro de 2012

Regras espirituais para um Padre que aspire à perfeição (I)

1. Evitar o pecado e a perturbação depois do pecado

Um Padre que aspira à perfeição e deseja santificar-se, deve primeiro que tudo tomar a peito evitar antes o pecado que a morte, até o mínimo pecado venial deliberado. Depois do pecado de Adão, no estado actual da fragilidade humana, ninguém pode e nunca pôde — à excepção de Jesus Cristo e de sua Mãe santíssima — ser isento de todas as faltas veniais indeliberadas; mas podemos muito bem, com o auxílio de Deus, evitar todas as faltas deliberadas, isto é, cometidas com plena advertência e consentimento; é o que têm feito os santos. Quem aspira à perfeição deve estar bem decidido a deixar-se antes martirizar, do que dizer com advertência plena uma mentira, ou cometer qualquer outro pecado venial, por pequeno que seja.

Tal deve ser a sua resolução; mas, se tiver a desgraça de cair nalguma falta, deliberada ou indeliberada, não se perturbe nem inquiete. Nunca a inquietação vem de Deus, é um fumo que não pode sair senão do próprio abismo da inquietação, que é o inferno. Vem-nos de lá, porque, como dizia com razão S. Luís de Gonzaga, o demónio pesca sempre nas águas turvas.

Quando uma pessoa, por exemplo, cometeu uma falta, perturba-se, e depois perturba-se por se haver perturbado: neste estado de inquietação, não só será incapaz de praticar o bem, mas até facilmente cometerá muitas outras faltas, quer de impaciência, quer doutra espécie.

Por isso, desde que a falta está cometida, é necessário humilhar-se e recorrer logo a Deus: faça um acto de amor ou de contrição, com o bom propósito de emenda, e peça com muita confiança a graça de que necessita, dizendo: Senhor! eis o que eu sei fazer e, se me retirardes a vossa mão, ainda farei pior! Amo-vos, arrependo-me do passado e não quero recair no futuro; dignai-vos conceder-me o socorro que da vossa bondade espero.

Feito isto, ficai em paz, como se nenhuma falta houvésseis cometido. Se até no mesmo dia recairdes, procedei do mesmo modo. se tivésseis a desgraça de recair cem vezes, sempre deveríeis concluir assim: humilhe-se quem se exaltou, mas nunca se fique desalentado. Importa observar que o perturbar-se depois de uma falta cometida, não é efeito da humildade, mas do orgulho: dói-se o pecador do que lhe aconteceu, menos por ser ofensa feita a Deus, do que pela vergonha que sente de se apresentar diante dele com tal mancha. Nunca o padre pois deve perturbar- se com as suas faltas, mas humilhe-se como capaz de cometer essas e ainda outras; faça depois um acto de amor de Deus.

2. Desejo eficaz de adiantar no amor de Deus

Esteja o padre animado do desejo de crescer cada vez mais no amor de Deus. Não querer adiantar na perfeição — que assenta por completo no amor de Deus — é querer atrasar. Non progredi, jam reverti est diz Sto. Agostinho (Epist. 17. E. B. app.). Quem sobe a corrente dum rio, e não luta de contínuo contra o movimento das águas, será por elas arrastado. É o que nos acontece, desde que não lutemos contra a concupiscência da carne.

Os santos desejos adoçam-nos as dificuldades e fazem-nos caminhar para a frente; mas é necessário que sejam firmes e eficazes, isto é, que sejam quanto possível postos em prática. Não tenhamos a linguagem dos que, por exemplo, se limitam a dizer: Ó! se eu tivesse irmãos nem sobrinhos, entraria numa ordem religiosa; se eu tivesse saúde, faria tais penitências...

Esses jamais dão um passo à frente no caminho de Deus; ao contrário, sempre se arrastam nos mesmos pecados, sempre conservam os mesmos apegos e animosidades, caminham de mal a pior.

Haja pois desejo de adiantar no amor de Deus, mas com a resolução firme de fazer todo o possível para chegar ao fim, desconfiando das próprias forças e pondo toda a confiança só em Deus; porque aquele que confia em si, priva-se do auxílio da graça.

3. Devoção à Paixão do Salvador e ao Santíssimo

Para adiantar na perfeição, é também necessário ser muito devoto da paixão de N. S. Jesus Cristo e do Santíssimo Sacramento. Quando se consideram estes grandes mistérios de amor, em que um Deus, para se fazer amar, sacrifica a sua vida e se dá em alimento a um verme da terra, criatura sua, não se pode deixar de arder em amor por Jesus Cristo. Charitas enin Christi urget nos, diz S. Paulo (2Cor 5,14). Quem pensa no amor do nosso Salvador, vê-se como que forçado a amá-lo. Às suas chagas sagradas chama S. Boaventura feridas, que ferem os mais duros corações, e inflamam no amor de Deus as almas mais geladas.

De ordinário pois, não deixe o padre de fazer todos os dias meia hora de meditação sobre a Paixão de Jesus Cristo. Faça além disto durante o dia frequentes actos de amor para com o divino Mestre, começando desde o despertar e procurando adormecer num acto de amor. Dizia Sta. Teresa que os actos de amor são como lenha que entretém no coração o doce fogo do amor divino. Em particular, um acto de amor muito agradável a Deus é o oferecimento de si mesmo, dispondo-se para fazer e sofrer tudo quanto for do beneplácito divino. Santa Teresa repetia este acto pelo menos cinquenta vezes cada dia.

Santo Afonso-Maria de Ligório in A Selva


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sábado, 14 de janeiro de 2012

Para não esquecer o compromisso - Aura Miguel

Quem sabe o Credo de cor?

Para muitos católicos, será difícil rezá-lo, do princípio ao fim, sem se enganar. Pois bem: nos primeiros séculos, os cristãos sabiam de memória o Credo e rezavam-no todos os dias para não se esquecerem do compromisso assumido com o baptismo.

Tinham-no presente na mente e no coração, repetiam-no nas praças, durante as refeições e, mesmo quando o corpo dormia, o seu coração vigiava pelas verdades da fé.

Agora, Bento XVI pede-nos o mesmo. Ao proclamar o Ano da Fé, pede-nos que as palavras sobre as quais está solidamente edificada a fé da Igreja sejam para os cristãos palavras tão preciosas como a menina dos olhos. Sob pena de o testemunho de vida dos baptizados perder credibilidade.


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sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Continua a propaganda pró-homossexualidade...

A "Canção sobre os dois pais", que bem se podia chamar propaganda pró-homossexualidade às crianças da Alemanha (para não dizer lavagem cerebral...).


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quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Busco o rosto de Deus! - Monsenhor Duarte da Cunha

A chegada do tempo de Advento recorda o contínuo desejo que o coração humano alberga de ver a Deus. Em diversas religiões, mas sobretudo na história do povo da Antiga Aliança, encontramos orações, poemas, narrações onde é evidente o pedido de ver o “Rosto de Deus”. Nos salmos, que são inspirados pelo próprio Deus, é recorrente este pedido. É como se Deus, ao ensinar-nos a rezar, nos quisesse dizer que o mais importante é querer encontrá-Lo, vê-Lo, estar com Ele. Celebrar o Natal é afirmar que Deus Se mostrou! O desejo de ver o Rosto de Deus encontra a sua resposta quando podemos ver o rosto de Jesus. E isso faz toda a diferença.

Ao longo de dois mil anos de História da Igreja este desejo não diminuiu. Mesmo que hoje uma certa cultura dominante o queira abafar, ele está gravado no nosso coração. Pode estar esquecido, mas não desaparece. A Igreja recorda ao homem qual o desejo mais profundo do coração humano, mas também mostra que continua a ser possível ver o rosto de Deus em Jesus! Ele mesmo garantiu que enviaria o Seu Espírito e que desse modo estaria presente até ao fim dos tempos. Ele deixou-nos a Eucaristia para que a Sua presença física continuasse na história. Ele identificou-Se com os mais pobres e necessitados, para que O possamos reconhecer no próximo. Apesar de tudo isso, os cristãos quiseram e querem ver o verdadeiro rosto de Jesus de Nazaré. Deus fez-Se homem, e, por isso, assumiu um rosto humano que nós queremos conhecer para perceber como olha e como reage quando o seu olhar cruza com o nosso. A arte cristã sempre tentou apresentar o rosto do Salvador. Impressiona o facto que todas as imagens, ícones e pinturas que retratam Jesus obedeçam a um certo modelo. De onde vem a certeza que Jesus era mesmo assim? Em Turim existe um lençol onde está impresso todo o corpo de um homem morto depois de ter suportado uma série de tormentos que coincidem exactamente com quanto encontramos nos relatos da Paixão de Cristo. 

Hoje os muitos estudos que foram feitos sobre este lençol, que em português erradamente chamamos Sudário (na realidade sudário seria um pano que se colocava sobre o rosto para colher o suor), mostram que é um grande mistério. Como é que aquela imagem está ali gravada? Tudo aponta para que o pano seja mesmo do tempo de Jesus e da zona da Palestina. Muito provavelmente é o lençol onde Jesus foi colocado depois de descido da cruz. Contudo, este lençol não é a única relíquia que nos mostra o rosto de Jesus. Na Idade Média os cristãos que queriam ver Jesus iam a Roma ver a “verdadeira imagem” de Jesus, que ali fora parar depois de ter estado em Constantinopla e antes em Edessa e antes ainda em Jerusalém. No saque de Roma, em 1527, esta imagem desapareceu. Os Papas fizeram uma cópia a partir da memória que se tinha da imagem e de outras cópias que ainda hoje está guardada no Vaticano, mas na realidade sabiam que a imagem verdadeira desaparecera. Entretanto no início do século XVII em Manoppello, perto de Pescara já quase junto ao mar, numa igreja dos capuchinhos surge uma imagem que foi logo chamada “Rosto Santo”. 

Ninguém relacionou com “Vero ícone”que desaparecera de Roma, mas rapidamente os cristãos daquelas zonas perceberam que era algo especial. Não é uma pintura mas parece. Está num pano que não é de linho nem de seda mas de Bisso marinho, que é um tecido raríssimo feito com os fios de umas conchas. Um tecido que não permite ser pintado, e aliás visto ao microscópio não há resquícios de nenhuma tinta entre os fios da malha, que é bem larga, e no entanto é visível o rosto de um homem, de olhos abertos e boca aberta, que parece estar a olhar para nós e a dizer-nos algo. Um pano que permite ver a imagem de um e do outro lado e que quando tem uma luz forte por trás é quase transparente. Um Cristo que olha com mil olhares dependendo da luz! E que não deixa indiferentes os que vão ao santuário. Os estudos que têm sido feitos sobre este pano levaram a concluir que é a mesma pessoa retratada no lençol de Turim. Que destes panos se tenha tirado o modelo para todas as imagens que se fizeram de Jesus parece também certo. E que o pano de Manoppello seja o mesmo que na Idade Média era venerado como o “Verdadeiro Rosto” em Roma também hoje quase todos estão de acordo. Mas tudo isto é descoberta recente. Sabia-se que havia uma imagem impressionante em Manoppello mas nunca se tinha relacionado com o resto. 

Os primeiros livros para o grande público saíram nos últimos 5 anos! O melhor é de Paul Bade que conseguiu mesmo convencer o Papa Bento XVI a visitar o santuário no dia 1 de Setembro de 2006. Num momento em que a nossa civilização se mostra desorientada, não nos bastam engenharias financeiras para sair da crise, precisamos de ver o Rosto de Deus. Que esta imagem reapareça à devoção dos cristãos de todo o mundo agora é providencial para nos recordar que a nossa fé é o encontro com uma Pessoa: Jesus Cristo, e não apenas com uma doutrina ou filosofia. O Natal é mesmo a celebração do nascimento de alguém, do nosso Salvador!


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Frase do dia

"Reclamar é um vício voluntário que faz morrer a caridade." 

S. Pio de Pietrelcina


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terça-feira, 10 de janeiro de 2012

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Cavaleiro do Apocalipse - João César das Neves

O ensaísta britânico Christopher Hitchens faleceu a 15 de Dezembro. Estranhamente todos os seus obituários na imprensa fizeram questão de sublinhar como o autor morrera bem, rodeado pela família e amigos. Isto não costuma encontrar-se nos elogios fúnebres.

A importância da serenidade do óbito vem de Hitchens ser famoso como líder do "novo ateísmo". Pertencia até aos auto-apelidados "quatro cavaleiros do Apocalipse", com os americanos Daniel Dennett e Sam Harris e o britânico Richard Dawkins (manifestando aliás algum paroquialismo e imperialismo anglófono, ao omitir autores influentes de outras culturas). O traço principal do grupo não é o ateísmo, bastante comum, mas o violento e persistente ataque à religião. O que os marca não é aquilo em que acreditam, mas a insistência em criticar os que discordam. A própria referência aos cavaleiros (no original, como se sabe, peste, guerra, fome e morte) mostra o elemento negativo.

O ateísmo é a doutrina religiosa com o dogma de que Deus não existe. Embora se considere científica é uma crença como as demais, pois relativamente à divindade o ser humano nada conhece. A única coisa que podemos é formular convicções. Eu acredito que Deus existe, Hitchens tinha a certeza que não, mas ninguém realmente sabe. Um dia veremos, mas então será demasiado tarde.

O ser humano vive na sua natureza o drama fundamental de não compreender o sentido do mundo e da vida. De onde vim? Para onde vou? Que estou aqui a fazer? Somos os únicos a colocar estas questões, sofrendo a dor de não saber a resposta, da qual depende crucialmente o nosso quotidiano. Para viver todos os dias seria decisivo entender a finalidade última da realidade, que ignoramos. Por isso, relativamente ao sentido da existência e à identidade de Deus, todos estamos na posição da fé. Formulamos crenças e apostamos nelas a nossa vida.

Naturalmente que só podemos fundar a nossa actividade em algo que tomamos como verdadeiro. As bases da nossa existência, mesmo se nunca conhecidas com certeza, têm de ser os pontos mais firmes da nossa identidade. Por isso se defende com mais afinco aquilo em que se acredita do que o que sabemos com segurança. Há mais calor na proclamação da justiça que do vento. Isso torna sempre difícil lidar com as pessoas que centram a sua existência em referências diferentes. Não é nada fácil conversar com alguém que defende princípios radicalmente opostos aos nossos. Imagine-se o embaraço no convívio com promotores do canibalismo, escravatura ou poluição. Por isso é tão comum perder o respeito pela posição alheia, agredindo-a, retórica ou fisicamente. As seculares dificuldades no diálogo inter-religioso nascem disto.

Mas existe aqui uma assimetria curiosa. Se eu escrever algo contra uma fé alheia ou atacar o ateísmo, sou intolerante e fanático. Mas um ateu que critique abertamente a religião e até faça disso carreira profissional, manifesta liberdade de expressão. Durante muito tempo atacar a Igreja era, não perseguição e chauvinismo, mas suprema prova de democracia e humanismo. Os mais ferozes anticlericais chamavam a si mesmos "livre pensadores".

O "novo ateísmo" caracteriza-se precisamente por esta dureza contra a religião, o que é compreensível por várias razões. Primeiro por ser comum em crenças pequenas e inseguras. Depois porque este novo ateísmo tem de viver na evidência do fiasco do antigo. Até há cem anos todos os pensadores cépticos acreditavam piamente na morte próxima da religião e num futuro ateu, crença que falhou redondamente.

Acima de tudo, o ateísmo é a certeza de que a vida não tem sentido e a morte é o nada. Por isso era tão importante observar o fim de Christopher Hitchens. Este autor, a quem os conhecidos descrevem com uma personalidade encantadora, sabe agora se a sua aposta é certa ou errada. Como pessoa religiosa, rezo sinceramente pela alma que ele achava não ter. Faço-o confiante no sentido de humor do Senhor do universo, que deve esmerar-se em receber com especial delicadeza aqueles que pessoalmente O negam.


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domingo, 8 de janeiro de 2012

sábado, 7 de janeiro de 2012

As bodas de Caná - Santo Efraim

Porque terá Nosso Senhor, como primeiro sinal, transformado a água em vinho? Foi para demonstrar como Deus, que transforma a natureza do interior das garrafas, opera também a Sua transformação no seio da Virgem. De igual modo, como milagre máximo, Jesus abriu um túmulo a fim de manifestar a Sua independência em relação à ávida morte, que tudo engole.

Para autenticar e confirmar a dupla perturbação da natureza que são o Seu nascimento e a Sua ressurreição, Jesus transforma a água em vinho, sem em nada modificar as vasilhas de pedra. Eis aqui o símbolo do Seu próprio corpo, milagrosamente concebido e maravilhosamente criado numa virgem, sem intervenção de homem. Contrariamente ao que é habitual, as vasilhas deram ao mundo um vinho novo, sem que nunca houvesse, posteriormente, repetição de tal maravilha. Assim também a Virgem concebeu e deu ao mundo a Emanuel (Is 7, 14), não voltando a conceber. O milagre das vasilhas de pedra é este: a pequenez torna-se grandeza, a parcimónia transmuta-se em superabundância, a água da fonte em vinho doce. [...] Em Maria, contrariamente, a grandeza e a glória da divindade mudam de aspecto, antes tomando uma aparência de fragilidade e de ignomínia.

Aquelas vasilhas serviam para os ritos de purificação dos judeus; nelas, verte nosso Senhor a Sua doutrina: manifesta que veio segundo a Lei e os profetas, mas para tudo mudar através dos Seus ensinamentos, tal como a água se transformou em vinho. [...] «É que a Lei foi dada por Moisés, mas a graça e a verdade vieram-nos por Jesus Cristo» (Jo 1,17). O esposo que morava em Caná convidou o Esposo que veio do céu; e o Senhor, preparado para estas núpcias, respondeu ao seu convite. Os que estavam sentados à mesa convidaram Aquele que instala os mundos em Seu Reino, e Ele enviou-lhes um presente de núpcias que os fez exultar. [...] Não tinham vinho que chegasse, mesmo do de menor qualidade; Ele deu-lhes então um pouco da Sua riqueza: em resposta ao convite, Ele convidou-os para as Suas próprias núpcias.


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Frase do dia

"A tolerância que, por assim dizer, admite Deus como opinião privada mas nega a sua presença no domínio público, na realidade do mundo e da nossa vida, não é tolerância – é hipocrisia."
Papa Bento XVI

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sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Creio, mas não pratico - D. Murilo S. R. Krieger

Quando, num encontro de amigos, a conversa gira em torno de assuntos religiosos, é comum alguém declarar, com naturalidade e segurança: “Creio, mas não pratico!” Trata-se de uma afirmação que parece ser tão bem formulada, tão lógica, que, normalmente, ninguém a contesta. Assim, dias depois, em outro grupo, se a discussão for também sobre questões religiosas, é possível que alguém volte a fazer a mesma afirmação. Mais do que uma afirmação isolada, essa idéia de que se pode acreditar sem colocar em prática aquilo em que se acredita é tão comum que já se tornou uma mentalidade em muitos ambientes.

A justificativa desse comportamento varia de pessoa para pessoa. Há aquela que deixou de lado a prática religiosa pela decepção com um líder da comunidade; outra, sem perceber, abandonou, pouco a pouco, sua vida de fé: passou tanto tempo sem ler a Palavra de Deus, sem rezar e sem assistir à missa dominical que, quando notou, já havia organizado sua vida de tal maneira que não havia mais espaço para expressões religiosas; outras pessoas tinham um conhecimento tão superficial de sua religião que, sem grandes questionamentos, a abandonaram. Há, também, as que procuram o batismo dos filhos, a missa de formatura ou de sétimo dia, tão somente como atos sociais.

Afinal, é possível crer sem praticar? Algumas pessoas deixam a prática religiosa com o argumento de que buscam uma maior autenticidade. Dizem não gostar de normas e ritos: preferem uma religião “mais espiritual”, sem estruturas. Esquecem-se de que somos seres humanos, não anjos. Os anjos não precisam de sinais, gestos e palavras para se relacionarem. Nós, ao contrário, usamos até nosso corpo como meio de comunicação. Traduzimos nossos sentimentos com um sorriso ou um aperto de mão, uma palavra ou um tapinha nas costas; fazemos questão de nos reunir com a família nos dias de festa e telefonamos para o amigo, cumprimentando-o no dia de seu aniversário; damos uma rosa para nossa mãe e nos encantamos com o gesto da criança que abre seus braços para acolher o pai que chega. Como, pois, relacionar-nos com Deus tão somente com a linguagem dos anjos, que nem conhecemos?

A fé nos introduz na família dos filhos e filhas de Deus; nela, é essencial a prática do amor a Deus e ao próximo. Nossa família cristã tem uma história, uma rica tradição e belíssimas celebrações. Pode ser que alguém não as entenda. Mas, antes de simplesmente ignorá-las ou, pior, de desprezá-las, não seria mais prudente procurar conhecê-las, penetrar em seu significado e descobrir seus valores? O essencial, já escreveu alguém, é invisível aos nossos olhos.

Não se pode querer uma fé sem gestos, com a desculpa da busca de maior autenticidade. O Pai eterno, quando nos quis demonstrar seu amor, levou em conta nosso jeito de ser, de pensar e agir. Mais do que expressar “espiritualmente” seu amor, concretizou-o: enviou-nos seu Filho, que habitou entre nós. Algumas Bíblias, em vez de traduzirem o ato descrito pelo evangelista João, na forma clássica – “e o Verbo se fez carne, e habitou entre nós” (Jo 1,14) –, preferem a expressão: “e armou sua tenda no meio de nós”, para expressar a idéia de que Deus, em Jesus Cristo, passou a morar em uma tenda ao lado da nossa. Em sua primeira carta, S. João dá um testemunho concreto dessa experiência de proximidade: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e o que as nossas mãos apalparam da Palavra da Vida (...) isso que vimos e ouvimos, nós vos anunciamos, para que estejais em comunhão conosco” (1Jo 1,1.3). Ele considerou ter sido uma graça especial ter podido ouvir, ver e tocar o Filho de Deus. Jesus, por seu lado, tendo assumido a natureza humana, submeteu-se a ritos: passou noites em oração, foi ao Templo de Jerusalém e frequentou sinagogas.

“Creio, mas não pratico”. A fé (“creio”) e a vida (“não pratico”) não podem estar assim separadas. Por sua própria natureza, devem estar unidas. Uma fé sem obras é morta; obras, mesmo que piedosas, sem fé tornam-se vazias.


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