Todos os anos é a mesma coisa. A partir dos primeiros dias do mês de
Maio, dos mais variados locais do país, homens e mulheres fazem-se à
estrada. Alguns caminham centenas de quilómetros, ao longo de vários
dias, outros percorrem distâncias mais curtas. Muitos vão a pé,
desgranando as contas do rosário, apoiados num bordão, de mochila às
costas e bolhas nos pés.
Um destino comum: Fátima. Um denominador
comum: a fé. Mas são muitas as idades, como variadas as condições
económicas e sociais. Muitos vão pedir graças, alguns agradecer, muitos
transportam encargos alheios. Mas há também quem leve apenas o seu rezar
ou, se nem isso souber, tão só o seu olhar.
Talvez não haja
povoação mais desinteressante, em termos humanos, do que Fátima. Mesmo
as grandiosas basílicas não primam pela beleza. A paisagem natural é
vulgar, quase banal. E as lojas de artigos religiosos, geralmente de
gosto muito duvidoso, têm o condão de desanimar até o mais fervoroso
crente.
Sei de pessoas que foram a Fátima pedir emprego e não o
obtiveram. Doentes que imploraram a cura e não lograram debelar os seus
males. Coxos, que coxos ficaram e ainda hoje o são. Mas não conheço
ninguém, absolutamente ninguém, que tendo alguma vez peregrinado até à
Cova da Iria, de lá não tenha trazido uma bênção de Deus.
Por
isso, no deserto em que se converteu o mundo moderno, tão cheio de
coisas supérfluas mas tão vazio do que é essencial, são precisos, mais
do que nunca, estes oásis de espiritualidade. in jornal i
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