quarta-feira, 18 de junho de 2014

A Crise da Adolescência

A adolescência é uma fase da vida humana tremenda. Nela existe uma indefinição e uma crise de identidade fortíssima: já não se é criança, mas ainda não se é adulto; despertam-se sentimentos e emoções que já se assemelham, em algumas coisas às dos adultos, mas ainda não se deixaram por completo certos comportamentos infantis.

Na adolescência fazem-se grandes descobertas: descobre-se uma afectividade diferente perante o outro; o mundo ganha uma nova e maior dimensão; as relações mudam; desperta uma capacidade própria de pensar; encontra-se um mundo novo.

Nesta idade põe-se em causa a autoridade dos mais velhos, pensa-se que estes já estão ultrapassados, que o mundo que agora se descobre é diferente do que o dos que nos precederam.

Nesses anos de crescimento, tudo é posto em causa, tudo tem de fazer sentido segundo uma nova mentalidade e que se encaixe na perfeição com as novas emoções e sentimentos.

Sabemos todos (uns melhor, outros menos bem) o sentimento de desajustamento que este processo de crescimento causa.

É um tempo crítico que molda a nossa personalidade. Ou se encontra o equilíbrio e, com a novidade, se continua o que foi transmitido pelas gerações mais velhas, ou se rompe completamente com a história e se fica sempre numa constante busca de se ser diferente.

No primeiro caso, vê-se que a crise acabou e que se formou um adulto equilibrado. No segundo, a adolescência continua e ainda não se chegou a uma verdadeira adultês, mantendo, normalmente uma rebeldia e uma soberba relativamente às gerações passadas.

Graças a Deus, conheço imensos adultos que ultrapassaram a crise da adolescência e são pessoas equilibradas (não sem algumas mazelas!), mas cada vez mais conheço “adultos” que ainda estão a viver a crise da adolescência.

Pior ainda, vejo que estes últimos começam a dominar no meio do mundo e, por isso, também no seio da Igreja.

Vivemos tempos conturbados, em que a novidade, só porque é novidade, é que interessa e é boa. Vivemos tempos em que, no mundo e na Igreja, o que é “velho” é caduco, desajustado e inútil. O Santo Padre tem falado muitas vezes do risco de se considerar os mais velhos como descartáveis.

O problema não é pensar-se isso apenas em relação às pessoas mais velhas, é pensar-se isso de dois mil anos de história, de santos e de vidas de santos, de coisas grandes que se fizeram e se escreveram e enviar tudo isso para a “reciclagem”, não para que ganhem uma nova actualidade, mas para que desapareçam e surjam coisas totalmente novas e distintas.

Quer-se uma nova Igreja, uma nova Teologia, uma nova Liturgia. Será que é preciso romper em definitivo com o que nos chegou como fruto de tantos séculos de santidade? Que se segue? Uma nova Escritura e um novo Cristo?

Dominus nos benedicat, et ab omni malo defendat, et ad vitam perducat aeternam. Amen.

Um Padre


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2 comentários:

Anabela disse...

Com toda a certeza é necessário recuperar o silêncio. Repensar a música, cuidar da beleza das Igrejas, avaliar a iluminação que já não ajuda a interioridade. Falar menos para que se medite mais... « a beleza tão antiga e sempre nova » de Sto Agostinho.

Unknown disse...

Sou adolescente em crise e me encaixo perfeitamente ao que contesta o passado, não quero saber se me taxou de semi-adulto desequilibrado ou apenas inconstante.
A parte dita como o velho vai ser visto como inútil não passa de um exageiro.
O problema é que os adolescentes do presente justamente vêem os erros do passado com mais clareza por viver ainda não ceder ao que você chama de "adulto equilibrado" aquele compactuado com o passado.
O tempo vivente no presente tende a ciência cada vez mais e aponta de modo óbvio a ignorância do passado sobre junto das religiões.Não digo nada contra as religiões, tento apenas afirmar que o conhecimento humano do seculo XXI levou ao patamar nunca antes visto, evolução das espécies, satélites no espaço,possibilidade de vida extraterrestre... Tudo isso transforma esse tempo muito singular e faz parecer o tempo que os vovôs acreditavam na terra quadrada muito besta.
A Física, a Química, a Matemática tornou esse tempo fantástico, o homem extrapolou limites e o universo ficou muito mais científico, composto por matérias, energias, propriedades todas perfeitamentes calculadas ao invés de estrelas distantes criadas por um deus bondoso que ignora computadores, dinossauros, outros deuses, pessoas acéfalas, pessoas isoladas em ilhas sem saber pronunciar palavras e ver outras pessoas, pessoas transexuais, com sindrome de down, bissexuais, hermafroditas, irmãos siameses, clones de animais e humanos... Até onde um deus coordena isso, até onde o céu e o inferno vale para um índio isolado que tem como ritual matar a sua mãe