“Porque Cristo nosso Redentor disse que era verdadeiramente o seu corpo que estava a oferecer sob as espécies do pão, foi sempre a convicção da Igreja de Deus, e este santo Concílio declara agora outra vez, que pela consagração do pão e do vinho, ocorre uma mudança da substância inteira do pão para a substância do corpo de Cristo nosso Senhor, e da substância inteira do vinho para a substância do seu sangue. A esta mudança a Igreja Católica tem, digna e apropriadamente, chamado de transubstanciação.”
Estas palavras do Concílio de Trento (DS 1642), que são também tiradas do Catecismo da Igreja Católica (CIC 1376), deixam claro o dogma da transubstanciação.
Por este mistério, a substância do pão é convertida na substância do Corpo de Cristo. Depois, a substância do sangue é convertida na substância do Sangue de Cristo. E, porque (agora, no céu) o corpo e o sangue de Cristo estão unidos um com o outro e ambos estão também unidos à sua alma e divindade, o corpo e o sangue, alma e divindade de Cristo estão presentes em cada espécie Eucarística e em todas as suas partes.
O dogma da transubstanciação deixa de fora duas outras teorias: a aniquilação e a consubstanciação. A partir deste ensinamento, podemos tirar uma boa analogia para a vida de família.
A heresia da teoria de aniquilição
Aqueles que defendem a teoria da aniquilação defenderiam que a substância do pão não se transforma na substância do Corpo de Cristo, mas antes é totalmente aniquilada e o Corpo de Cristo é então criado ex nihilo e ocupa o lugar da antiga substância do pão.
Nesta teoria (que é uma heresia), o pão não muda, nem é convertido. Pelo contrário, simplesmente deixa de existir. É aniquilado. O pão não se transforma no Corpo, mas deixa antes de existir e o Corpo ocupa o seu lugar.
No entanto, isto não é o dogma da Igreja Católica - porque nós dizemos que a substância muda, por isso é que lhe chamamos transubstanciação. Existe uma mudança real provocada pelas palavras da consagração. Ocorre uma conversão real do pão em Corpo.
Isto pode ser claramente demonstrado até pelas palavras do Salvador: Isto é o meu corpo. Este "isto" é a substância. Primeiro, "isto" é a substância do pão mas, pelo poder das suas palavras, "isto" transforma-se no Corpo de Cristo.
A heresia da consubstanciação
Por outro lado há a heresia da consubstanciação. Esta heresia era defendida por Martinho Lutero, entre outros. É uma heresia um bocado tonta, por lhe faltar alguma genialidade: é o tipo de heresia que só uma mente lenta era capaz de inventar.
A heresia da consubstanciação diz que, ao mesmo tempo da substância do pão, a substância do Corpo de Cristo está realmente presente na Hóstia. Esta teoria ter-nos-ia a dizer (contra todas as possibilidades) que existem duas substâncias presentes na Sagrada Hóstia. O pão continuaria pão, mas, ao mesmo tempo que o pão, estaria o Corpo do nosso Savaldor.
Aqui, mais uma vez, o pão não se altera ou é convertido pelas palavras da consagração, mas antes a substância do Corpo de Cristo é criada do nada e feita presente ao mesmo tempo que a substância do pão.
Mas Jesus não disse, "Isto é o pão e o meu corpo", mas simplesmente "Isto é o meu corpo."
Transubstanciação e a vida quotidiana
Pelo dogma da transubstanciação, Católicos de boas ideias dizem que a substância do pão muda para a substância do Corpo de Cristo. Há uma conversão real do pão ordinário [normal] para a extraordinária Presença de Cristo.
Considerem o que cada uma destas teorias nos pode dizer sobre a vida de família - se, afinal de contas, a Eucaristia é "a fonte e o cumo da vida cristã" (CIC 1324, Sacrosanctum Concilium 47), então devemos supor que o dogma da transubstanciação devia dar algumas luzes sobre a vida quotidiana dos Cristãos.
Teoria da aniquilação: Se a substância do pão foi aniquilado e substância do Corpo de Cristo tomou o seu lugar, seriamos levados a pensar que as coisas normais da vida quotidiana não santificadas pela graça. Pelo contrário, iriamos supor que os elementos normais da vida comum deviam ser aniquilados pela graça e suplantados por um conjunto de actividades espirituais e totalmente extraordinárias. Assim, a vida diária e o trabalho quotidiano não seriam consagrados, mas antes aniquilados. Isto é uma heresia.
Consubstanciação: Se a substância do pão permanecesse e a substância do Corpo de Cristo viesse e descanssasse ao lado do pão, iríamos pensar que as coisas ordinárias da vida diária não são santificadas pela graça. Pelo contrário, iríamos supor que estas actividades comuns, alegrias normais, sofrimentos normais ficavam mas que os actos sobrenaturais viriam ao seu lado e que estes novos actos são santos mas as coisas comuns permaneceriam simplesmente comuns. Assim, não seríamos santificados pelas nossas vidas diárias normais, mas apenas explicitamente por actividades espirituais que façamos. Isto também é uma heresia.
Transubstanciação: No entanto, se a substância inteira do pão muda e é convertida no Santíssimo e Sacratíssimo Corpo de Cristo, então devemos concluir que os elementos ordinários da vida diária não são aniquilados ou simplesmente postos de lado, mas são verdadeiramente santificados pela graça. Devemos afirmar que a nossa santidade consiste em cumprir os deveres quotidianos da nossa vocação e em santificar os nossos trabalhos diários, consagrando-os ao Senhor.
Por fora, a vida do Cristão pode parecer muito normal (na maior parte), tal como a Eucaristia continua a parecer pão e vinho. No entanto, por dentro, a própria substância dos trabalhos converteu-se, porque a graça é um novo tipo de vida e não uma mera diferença de grau.
Existe uma mudança substancial efectuada pela graça na alma Cristã. A vida ordinária de Cristo é "transubstanciada". Os elementos comuns não são aniquilados nem meramente postos ao lado das coisas santas, os elementos comuns são eles próprios santificados pela graça e tornam-se novos trabalhos em Cristo Jesus nosso Salvador.
Que bonito é este dogma! Um mistério para ser vivido!
Fr. Ryan Erlenbush
Sem comentários:
Enviar um comentário