Para perseverar na vida da oração, é preciso evitar que, logo à partida, se entre por falsas pistas. Por isso, é indispensável compreender o que é específico da prece cristã e distingui-la de outras buscas e outros caminhos espirituais. Isto é tanto mais necessário quanto o materialismo da nossa cultura suscita, como reacção, uma sede - que é boa - de absoluto, de mística, de comunicação com o Invisível, mas que, frequentemente, acaba por se perder em experiências decepcionantes ou, até, destruidoras.
A primeira verdade fundamental que precisamos de entender e sem a qual não poderemos ir muito longe é que a vida de oração - ou, por outras palavras, a prece contemplativa - não é fruto de uma técnica, mas um dom que devemos acolher. (...) Não há método de oração, quer diz, não há um conjunto receitas ou de procedimentos cuja aplicação seja suficiente para orar bem. A verdadeira prece contemplativa é um dom que Deus faz gratuitamente, mas é preciso saber como acolhê-lo.
É necessário insistir neste ponto. Sobretudo hoje, por causa da ampla difusão no nosso mundo dos métodos de meditação orientais, como o ioga e o zen, etc., por causa da mentalidade moderna que quer reduzir tudo a técnicas e, finalmente, por causa de uma tentação permanente do espírito humano de fazer da vida - mesmo da vida espiritual - algo que se possa manipular à vontade, temos frequentemente e de modo mais ou menos consciente uma imagem falsa da vida de oração, como se fosse uma espécie de ioga cristão: progredir-se-ia na oração mediante processos de concentração mental e de recolhimento, de técnicas apropriadas de respiração, de atitudes corporais, de repetição de certas fórmulas, etc. Depois de, pelo hábito, se ter adquirido a prática destes elementos, eles permitiriam que o indivíduo acedesse a um estado de consciência superior. Esta visão das coisas, que está subjacente às técnicas orientais, influencia por vezes a concepção que se tem da oração e da vida mística no cristianismo e dá delas uma visão completamente errada.
Errada porque a pessoa se agarra a métodos em que, afinal, é o esforço do homem que é determinante, quando no cristianismo tudo é graça, tudo é dom gratuito de Deus.
Jacques Philippe in Tempo para Deus: Guia para a vida de Oração
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