'Lamentação sobre Cristo morto' - Giovanni Bellini (séc. XV) |
Nos tempos do império romano,
falava-se da Roma Eterna, mas foi com o cristianismo que Roma conseguiu verdadeiramente
sobreviver à caducidade dos séculos. Sobreviveu e tornou-se presente, com esta vitalidade
nova, de uma ponta à outra do orbe terrestre.
Inclusivamente, alguns quiseram
que, como centro da Igreja, Roma se libertasse da referência geográfica e começasse
a vaguear pelo mundo. A dada altura, Constantinopla proclamou-se a Segunda Roma
e, séculos depois, Moscovo declarou-se a Terceira Roma. O urbanismo de Moscovo
e a arquitectura do Kremlin correspondiam à miragem dessa Terceira Roma, também
ela com aspirações a ser Eterna. Muitas capitais que acalentaram sonhos de
grandeza num mundo globalizado, como Lisboa, Moscovo, etc., descobriram que
tinham sete colinas. Exactamente sete colinas, como a Primeira Roma nas margens
do rio Tibre.
Agora, Moscovo alberga realmente
uma extraordinária «Roma Æterna» – assim se chama, com o título em latim, a
exposição de 42 peças do Museu Vaticano patentes na Galeria Tretyakov. As filas
de visitantes dão a volta aos quarteirões para admirar obras-primas de Raffaello,
Caravaggio, Bellini, Guercino, Perugino, Poussin, Reni, Forli... Além de que o
Vaticano disponibilizou um elenco notável de obras-primas, que não costumam sair,
sobretudo em tão grande número, a exposição celebra a ligação espiritual da
Rússia à Igreja católica. O curador russo, Arkady Ippolitov, associa a arte à
fé: «o conceito dos Museus Vaticanos expressa o que Roma é». A Roma Eterna «não
é apenas uma cidade, não é uma capital, mas o núcleo da história europeia e a
quintessência, o que há de melhor, no espírito europeu».
A sala principal da exposição
reproduz a planta da praça de S. Pedro. A primeira peça é a «Bênção de Cristo»,
do século XII. Outras peças importantes são as «Lamentações de Cristo Morto»,
de Bellini e de Crivelli: aconselho uma visita aos comentários da Maria Zarco (http://adeus-ate-ao-meu-regresso.blogspot.pt/2016/12/vai-um-gin-do-peters_27.html).
O último quadro da exposição é «As observações astronómicas», de Creti, pintado
para convencer o Papa Clemente XI a financiar a construção de um observatório
astronómico em Bolonha (a manobra promocional surtiu efeito!).
A iniciativa da exposição «Roma
Æterna» partiu do encontro do Papa Francisco com Vladimir Putin, em 2013, e
completar-se-á quando, no final de 2017, uma colecção de obras da Galeria
Tretyakov visitar o Vaticano, «como testemunho de amizade entre a Igreja
Ortodoxa e a Igreja Católica».
Dentro de Itália, além dos
bombeiros vaticanos que acorreram a socorrer as vítimas dos recentes
terramotos, a Directora do Museu Vaticano, Barbara Jatta, anunciou que uma
vintena dos 65 restauradores do Museu se voluntariou para se deslocar às
cidades afectadas, para ajudar a recuperar o património artístico no local. Ao
mesmo tempo, o Governo italiano enviou para as oficinas de restauro do Vaticano
as peças de maior valor.
Colaborando em todas as
direcções, o Museu Vaticano quer fazer destas palavras do Papa Francisco, uma
espécie de lema: «a beleza une-nos». Um dos projectos internacionais
anunciados pelo Museu Vaticano é trazer uma exposição a Lisboa por ocasião da
visita do Papa Francisco a Fátima, em Maio. Já marquei na agenda.
José Maria C.S. André in Correio dos Açores, 15-I-2017
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