A igreja vazia, os altares desnudos, a lâmpada do sacrário apagada e, este próprio, aberto e vazio. Nosso Senhor não está – é visível. Foi-nos tirado, por causa nossas culpas e nossas faltas. Foi julgado, condenado e crucificado pelos meus crimes.
A cerimónia da Paixão é sóbria como convém a um dia como este. O sacerdote entra em silêncio e prostra-se no chão: singelo gesto para expressar o luto de toda a Igreja porque o Senhor está morto. E Ele está morto porque foi assassinado, e fomos nós que O assassinámos: prostrar-se com o rosto por terra é também sinal de vergonha. De angústia diante da enormidade da nossa malícia, tão grande que foi capaz de matar a Deus.
O Senhor está morto! E nós, agora, não temos a onde ir. Porque nós estragámos até mesmo a maior das Graças que poderíamos receber dos Céus. Nós crucificámos o Filho de Deus, que viera ao mundo para nós. E, durante o tradicional canto da cerimónia de adoração da Cruz, o Altíssimo nos interpela, queixando-Se e perguntando o que foi que nos fez para que O matássemos. Perguntando o que mais poderia ter feito por nós para que o amássemos. Lançando-nos à face a nossa ingratidão: só na Cruz nós exaltamos Aquele que tanto nos exaltou. Infelizes de nós! Porque retribuímos com a máxima ingratidão a Quem tanto nos amou.
E é essa a Sexta-Feira da Paixão: a festa do amor desprezado, o clímax da nossa ingratidão. A memória do dia mais triste da história da humanidade: quando os homens mataram Deus. O Amor escarrado e humilhado, escarnecido e Crucificado, elevado no Madeiro e, ainda assim, amando…! O beijo que nós damos na cruz tem outro sentido, mas é impossível não lembrar de Judas traindo com um beijo o Filho do Homem. Também eu estou naquele beijo, também é minha aquela traição. É esta a hora das trevas e não somos meros espectadores no drama da Sexta-Feira Santa. Somos todos protagonistas na Crucificação de Cristo. São os meus pecados que Lhe rasgam a Carne, que Lhe vertem o Sangue, que O pregam na Cruz.
E, na Cruz, humilhado e obediente até a morte, Nosso Senhor entrega o espírito. E está consumado, condenado por nós, crucificado por nós, morto por nós. Não há espaço para Ele no nosso mundo! E as palavras arrependidas do centurião são também nossas, porque reflectem também a nossa dor e o nosso desespero quando, com as mãos cheias de sangue, tomamos consciência do grande crime que acabámos de cometer: Ele era verdadeiramente o Filho de Deus… e matámo-Lo! Infelizes de nós!
Jorge Ferraz in Deus lo vult
Jorge Ferraz in Deus lo vult

1 comentário:
E, perante esta meditação, como conseguimos ainda pecar, para,
depois, voltar a ser perdoados!!...
Só mesmo uma Misericórdia Infinita, de um Deus Amor, é capaz de tal dedicação!
-Perdoa, Senhor, toda nossa ingratidão !
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