quinta-feira, 14 de setembro de 2017

Saborear a Cruz

A cruz de Cristo! Que mais posso dizer? Não sei orar, não sei o que é ser bom, não tenho espírito religioso, pois estou cheio do mundo. Só sei uma coisa, uma coisa que enche a minha alma de alegria, apesar de me ver tão pobre de virtudes e tão rico em misérias; sei apenas que tenho um tesouro que não trocaria por nada nem por ninguém: a minha cruz, a cruz de Jesus, essa cruz que é o meu único repouso. Como explicar isto? Quem não experimentou, não pode sequer suspeitar do que se trata.

Ah, se todos os homens amassem a cruz de Cristo! Se o mundo soubesse o que é abraçar plenamente, verdadeiramente, sem reservas, em loucura de amor, a cruz de Cristo! Tanto tempo perdido em conversas, devoções e exercícios que são santos e bons, mas que não são a cruz de Jesus, não são o que há de melhor.

Pobre homem que não prestas para nada, que não serves para nada, que arrastas a tua vida, seguindo como podes as austeridades da regra, contentando-te em esconder no silêncio os teus ardores: ama até à loucura o que o mundo despreza por não conhecer, adora em silêncio essa cruz, que é o teu tesouro, sem que ninguém se aperceba. Medita em silêncio diante dela nas grandezas de Deus, nas maravilhas de Maria, nas misérias do homem. Prossegue a tua vida sempre em silêncio, amando, adorando e unindo-te à cruz. Que queres mais? Saboreia a cruz. Saborear a cruz!

S. Rafael Arnaiz Baron (monge trapista) in Escritos espirituais, 03/IV/1938 


blogger

Sem comentários: