sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

Há 7 anos, o adeus ao Papa Bento XVI

Há 7 anos, no dia 13 de Fevereiro de 2013, tivemos a enorme graça de estarmos presentes no último acto público do Papa Bento XVI enquanto Papa, a Missa de Quarta-Feira de Cinzas:

A Missa de Quarta-feira de Cinzas do Papa costuma ser todos os anos na Basílica de Santa Sabina, casa mãe da Ordem dos Pregadores, mais conhecida pela ordem dos Dominicanos. Este ano o local da Santa Missa foi mudado de véspera para a Basílica de S. Pedro devido ao anúncio da abdicação à Cátedra do Bispo de Roma pelo Papa Bento XVI. 

O final desta Missa está por todo o lado na internet. O discurso do Cardeal Bertone, Secretário de Estado do Vaticano, foi comovente, tanto nas palavras como na forma: notou-se o esforço para controlar a emoção enquanto lia o discurso de agradecimento ao Papa Bento. Pouco depois a assembleia (e a basílica estava totalmente cheia!) rebentou num grande aplauso de longos minutos. Conhecendo bem os pensamentos do Papa sobre bater palmas na igreja eu só me atrevi a fazê-lo depois de ver o Msgr. Marini, mestre de cerimónias do Papa, a bater palmas também.

Mas não foi só por isso, claro. A verdade é que este momento contrastou imenso com o ambiente que se viveu na Basílica vaticana durante a cerimónia toda. As fotografias que se vêem nas notícias são o Papa a espalhar sorrisos pela Basílica na procissão de saída. Mas a procissão de entrada foi completamente diferente, não têm noção, eu nunca vi nada assim. 

Antes da procissão começou a Missa com o ritual próprio da Quarta-Feira de Cinzas e houve um tema em gregoriano chamado Audi, Benigne Conditor, dizendo a Deus que o nosso coração se quer preparar para O ver, através da penitência e do jejum. Só depois é que começou a procissão, ao mesmo tempo que se rezou a Ladainha de Todos os Santos. Foi a maior que alguma vez ouvi, incluía santos como S. Paulo Miki, Sta. Rosa de Lima e St. John Fisher e St. Thomas More, entre muitos outros. Todos os padres e bispos, vestidos com as cores da quaresma, passaram sem sorrisos na cara. Eram muitos. 

Eu só me apercebi que os cardeais todos já tinham passado quando vi o Papa a chegar, porque pelos paramentos e com a mitra nem dava para distinguir. O Papa passou numa serenidade e seriedade imensa, a rezar a ladainha, a olhar para o crucifixo do altar, ao fundo da Basílica. Tudo isto fazia a própria basílica, com toda a assembleia, respirar este ambiente austero. Não houve nenhum "Viva il Papa" e os que perderam tempo a tirar fotografias com iPads e telemóveis são uns tontos, levaram todos um grande desprezo do Papa, sempre com o olhar fixo em Cristo na Cruz, no altar. Ou seja, acabou a festa.

É assim que se começa a Quaresma na Santa Sé, servindo como exemplo para todo o mundo Católico. A ladainha de todos os Santos servia para isso mesmo, para nos lembrar que muitos homens e mulheres já passaram por este mundo, sofreram e venceram. Agora estamos cá nós, preparados para fazer penitência e jejum e limparmos a nossa alma de todo o pecado. As cinzas servem também para isso: mostrar que somos pó da terra, não valemos nada sem ser pela infinita graça de Deus. 

Podíamos pensar que isto foi assim por ser a Santa Missa de despedida do Papa Bento XVI, mas não é verdade. Disse-me um amigo que esteve há uns anos em Santa Sabina, também na Quarta-Feira de Cinzas com o Papa Bento, e aí houve alguém que gritou "Viva il Papa" e todos à volta o mandaram calar. Começámos a Quaresma. E durante a Quaresma vamos passar por Sede Vacante. 

Nada é por acaso. 

Attende, Domine, et miserere, quia pecavimus tibi.



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