sábado, 29 de fevereiro de 2020

O rito da Sagrada Comunhão em tempos de pandemia - D. Athanasius Schneider

A proibição da Comunhão na boca é infundada em comparação com os grandes riscos à saúde da Comunhão nas mãos em época de uma pandemia. Essa proibição constitui um abuso de autoridade.

Ninguém pode nos forçar a receber o Corpo de Cristo de uma maneira que represente o risco de perda dos fragmentos e diminuição da reverência, como ocorre com o modo de receber a Comunhão na mão. Embora seja verdade que se possa receber a Comunhão num pequeno lenço branco e limpo (como um purificador, um pequeno corporal) directamente na boca, nem sempre é possível praticá-lo e é até mesmo recusado por alguns padres.

Nesses casos, é melhor fazer uma Comunhão Espiritual, que enche a alma de graças especiais. Em tempos de perseguição, muitos católicos foram incapazes de receber a Comunhão de maneira sacramental por longos períodos de tempo, mas fizeram uma Comunhão Espiritual com muito benefício espiritual.

A Comunhão na mão não é mais higiénica do que a Comunhão na boca. De facto, pode ser perigoso para o contágio. Do ponto de vista higiénico, a mão carrega uma enorme quantidade de bactérias. Muitos patógenos são transmitidos pelas mãos. Seja apertando as mãos de outras pessoas ou tocando objectos com frequência, como maçanetas ou corrimões e barras de apoio nos transportes públicos, os germes podem passar rapidamente de mão em mão; e com essas mãos e dedos não higiénicos, as pessoas tocam frequentemente no nariz e na boca. 

Além disso, os germes às vezes podem sobreviver durante dias na superfície dos objetos. De acordo com um estudo de 2006, publicado na revista “BMC Infectious Diseases”, o vírus da gripe e vírus semelhantes podem persistir em superfícies inanimadas, como por exemplo maçanetas, corrimões ou barras de apoio em transportes, e prédios públicos, durante alguns dias. 

Muitas pessoas que vão à igreja e recebem a Sagrada Comunhão nas suas mãos tocaram antes em maçanetas ou corrimãos e barras de transporte público ou outros edifícios. Assim, os vírus são impressos na palma e nos dedos das mãos. E então, durante a Santa Missa, com essas mãos e dedos, às vezes tocam no nariz ou na boca. Com essas mãos e dedos, eles tocam a hóstia consagrada, levando o vírus também à hóstia, transportando os vírus através da hóstia para a boca.

A Comunhão na boca é certamente menos perigosa e mais higiénica em comparação com a Comunhão na mão. De facto, a palma da mão e os dedos da mão, sem lavagem intensa, inegavelmente contêm um acumular de vírus.

A proibição da Comunhão na boca é infundada em comparação com os grandes riscos à saúde da Comunhão nas mãos no tempo de uma pandemia. Essa proibição constitui um abuso de autoridade. 

Além disso, parece que algumas autoridades da Igreja estão usando a situação de uma epidemia como pretexto. Parece também que alguns deles têm uma espécie de alegria cínica por difundir cada vez mais o processo de banalização e dessacralização do Santíssimo e Divino Corpo de Cristo no Sacramento Eucarístico, expondo o próprio Corpo do Senhor ao verdadeiro perigo de irreverência (perda de fragmentos) e sacrilégios (roubo de hóstias consagradas).

Há também o facto de que, durante os 2000 anos de história da Igreja, não houve casos comprovados de contágio devido à recepção da Sagrada Comunhão. Na igreja bizantina, o padre dá a Comunhão aos fiéis com uma colher, a mesma colher para todos. E então, o padre ou diácono bebe o vinho e a água com a qual purificou a colher, que às vezes foi tocada com a língua de um fiel durante a recepção da Santa Comunhão. 

Muitos fiéis das igrejas orientais ficam escandalizados quando vêem a falta de fé dos bispos e padres do rito latino, ao introduzir a proibição de receber a comunhão na boca, uma proibição feita em última instância por falta de fé no sagrado e divino carácter do Corpo e Sangue do Cristo Eucarístico.

Se a Igreja nos nossos dias não se esforçar, novamente com o máximo zelo, para aumentar as medidas de fé, reverência e segurança para o Corpo de Cristo, todas as medidas de segurança para os seres humanos serão em vão. Se a Igreja nos nossos dias não se converter e se voltar para Cristo, dando primazia a Jesus, e nomeadamente a Jesus Eucarístico, Deus mostrará a verdade da Sua Palavra, que diz: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a constroem. Se o Senhor não edificar a cidade, em vão vigiam as sentinas.” (Salmo 126, 1-2).

Recomenda-se a seguinte oração para fazer uma Comunhão Espiritual:

Aos vossos pés, ó meu Jesus, eu me prostro e ofereço-Vos o arrependimento do meu coração contrito, que é humilhado no meu nada e na Tua santa presença. Eu Te adoro no Sacramento do Teu amor, a Eucaristia inefável. Desejo receber-Te na pobre habitação que meu coração te oferece. Enquanto espero a felicidade da Comunhão sacramental, desejo possuir-Te em espírito. Vinde a mim, ó meu Jesus, já que eu, da minha parte, venho a Ti! O amor abraça todo o meu ser na vida e na morte. Eu acredito em Vós, espero em Vós e Vos amo. Amém."

+ Athanasius Schneider, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Santa Maria em Astana

in Rorate Caeli (Tradução: Fratres in Unum)


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