Aqueles que se queixam da severidade do jugo do Senhor talvez não tenham rejeitado completamente o pesado jugo da cobiça do mundo. [...] Dizei-me, o que há de mais doce, de mais repousante, do que deixarmos de estar agitados pelos movimentos desregulados da carne [...]? O que há de mais parecido com a tranquilidade divina do que não sermos afectados pelas afrontas que nos fazem, não recearmos tormentos nem perseguições, conservando uma calma idêntica na felicidade e na infelicidade, vendo da mesma maneira o inimigo e o amigo, tornando-nos semelhantes Àquele «que faz o sol nascer sobre os bons e os maus, e chover sobre os justos e os injustos» (Mt 5,45)?
Tudo isto se encontra na caridade e apenas na caridade. É de facto nela que reside a verdadeira tranquilidade, a verdadeira doçura, pois ela é o jugo do Senhor. Se, por convite do Senhor, carregarmos com ele, encontraremos repouso para as nossas almas, pois «o jugo do Senhor é suave e o seu fardo leve». É que «a caridade é paciente, é benigna, não é invejosa; a caridade não se ufana, não se ensoberbece, não procura o seu interesse, não é ambiciosa» (1Cor 13,4-5).
As outras virtudes são para nós como um veículo para um homem cansado, o alimento para um viajante, a luz para pessoas perdidas nas trevas ou as armas para um combatente. Mas a caridade – que tem de encontrar-se em todas as virtudes para que elas sejam virtudes – é em si mesma, de uma forma muito especial, o repouso do homem cansado, o descanso do viajante, a luz para aquele que chega ao fim e a coroa perfeita para aquele que alcança a vitória.
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