Tratar os mortos como se nunca tivessem sequer nascido é um princípio do ateísmo moderno que ameaça fazer-se moda em Portugal. O que somos ou não somos, e temos ou não temos, devemo-lo aos que antes de nós por aqui passaram, a muitos pela positiva, a alguns pela negativa. Uns e outros merecem ser chamados ao presente.
Se numa determinada família se esquecem os mais velhos, ela é um ajuntamento, mas não uma família. Se uma nação passa por cima da história em favor de um qualquer benefício imediato, estamos, mais uma vez, a falar de um aglomerado de seres humanos, mas não de uma nação.
São índices da nossa identidade colectiva enfraquecida: não termos bons políticos, não sabermos falar de uma pátria, não termos ideia do que podemos prometer aos nossos filhos.
Portugal merece ter bons líderes, que, sem se preocuparem com popularidades, apontem os caminhos e sigam adiante; que, persistentes na humilde teimosia do amor, sem ofensas nem imposições, façam o que tem de ser feito para bem de todos. Que nos lembrem quem somos, sem paternalismos nem esquecimentos.
Custa-me que haja tantos portugueses preocupados com um acordo ortográfico, e assim esquecidos de que a nossa identidade não são vogais nem consoantes, que se prestam, noutros fóruns, ao desplante de teorizar soluções que passam por ouvirmos os nossos netos e bisnetos falar castelhano. Somos Portugal. Devemos todos, sem excepção, sentir o dever de respeitar quem antes de nós por nós morreu. Senão que emigrem.
in jornal i
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