terça-feira, 10 de abril de 2012

Ortodoxia - G. K. Chesterton

Este é o emocionante romance da ortodoxia. Hoje caiu-se no estúpido hábito de pensar que a ortodoxia é algo pesado, insípido e seguro. Mas nunca houve nada tão perigoso ou tão excitante como a ortodoxia.

Ela era a sanidade; e ser são é mais dramático do que ser louco. Ela era o equilíbrio de um homem num carro puxado por cavalos em frenética carreira, parecendo dobrar-se aqui ou vacilar acolá, mas apesar de tudo conservando em cada atitude a graça da estatuária e a precisão da matemática.

A Igreja, nos seus primeiros dias, avançava feroz e rápida num corcel de batalha; mas é absolutamente anti-histórico afirmar que ela seguia loucamente no encalço de uma só ideia, como acontece com qualquer fanatismo vulgar. Desviava-se para a direita ou para a esquerda, com o único fim de evitar com precisão os enormes obstáculos.

Deixou de um lado a imensa mole do arianismo que, escorado por todos os poderes do mundo, pretendia tornar o cristianismo totalmente mundano. No instante seguinte, desviou-se para evitar um orientalismo que o teria feito demasiado espiritual. A Igreja ortodoxia nunca seguiu mais fácil nem respeitou as convenções. A Igreja ortodoxa nunca foi “respeitável”.

Teria sido mais fácil aceitar o poder mundano dos arianos. Teria sido mais fácil, no calvinista século XVII, deixar-se cair no poço sem fundo da predestinação. É fácil ser louco; é fácil ser herege. É sempre fácil baixar a cabeça diante da moda de cada época; o difícil é mantê-la sempre no lugar. É sempre fácil ser modernista, como é fácil ser um snob.

Efectivamente, teria sido mais simples se a Igreja se tivesse deixado prender nas armadilhas abertas pelo erro exagero que, moda após moda e seita após seita, foram estendidas ao longo do seu caminho histórico. É sempre mais fácil cair: há uma infinidade de ângulos que nos podem fazer cair, mas há apenas um que nos permite ficar de pé.

Ser arrastado por qualquer um das manias que lhe saíram ao encontro, desde o gnosticismo até à Christian Science, teria sido razoável e decente. Mas evitá-las todas tem sido até hoje uma arrebatadora aventura. E na minha imaginação, a carruagem celestial voa trovejante através das eras, enquanto as cinzentas heresias fogem rastejando; e a verdade selvagem, ainda que cambaleie, mantém-se erecta.


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1 comentário:

NCB disse...

"Becoming a Catholic broadens the mind"
G. K. Chesterton