Quem diria que aquele velhinho que diariamente, com a sua maleta, fazia a pé o trajecto do seu apartamento até ao trabalho, iria tornar-se o 265º Papa da Igreja Católica?
Creio
que para muitos, especialmente para os que moravam em Roma, foi uma
surpresa vê-lo na sacada central da Basílica de São Pedro no dia 19 de Abril de
2005, após um dos Conclaves mais rápidos da História, tão rápido quanto o do
nosso Papa Francisco.
Ratzinger
disse, numa entrevista, nunca ter almejado cargos na Igreja e nem mesmo visado os
“holofotes”, mas afirmou também estar à disposição desta mesma Igreja diante duma necessidade. No entanto mal sabia que tamanha disposição e
desapego o levaria à Sé de Pedro.
Um
Papa que na sua infância e adolescência viu os horrores da guerra, foi obrigado
a deixar o seminário para alistar-se e, nesse tempo tão doloroso, foi alvo de
chacota entre os soldados de Hitler, porque alimentava um imutável e concreto
desejo: ser padre.
O
Pontífice que ainda cardeal, ao ser chamado por João Paulo II para trabalhar no Vaticano, sentiu a dor de deixar sua terra natal, a ponto de
querer expressar visivelmente uma vida de simplicidade e renúncia: “Tudo o que
tinha era apenas uma mala, alguns livros e o necessário”, ressaltou.
Um
homem que fez questão de cumprimentar cada um dos vizinhos do modesto
apartamento que habitava antes de transferir-se para o Palácio Apostólico, a
residência oficial do Santo Padre.
Um
Sumo Pontífice que, ao ver uma criança com cancro numa das suas primeiras catequeses, fez o sinal da cruz também no ursinho que ela tinha nos braços, demonstrando que um Papa também é capaz de se baixar para entrar no universo dos
pequenos – tal gesto levou um jornalista judeu a mudar a sua opinião sobre o Bento XVI.
Um
papa que escolheu ser simplesmente Bento, o santo que no silêncio dum
mosteiro devolveu à Europa a identidade perdida.
O pastor que, achando-se
no fim da sua peregrinação terrestre afirmou em 2012 que uma certeza o
motivava a ir em frente: “Deus é, Deus está”.
O
Sucessor de Pedro que usou um relógio cobiçado por colecionadores mas que, para
ele, tinha um valor que não poderia ser calculado por ninguém: era o relógio da sua irmã, que no leito de morte lhe tinha oferecido esta lembrança.
Um Papa
que pouco antes de ser eleito, por causa da sua entrega à Igreja, não tinha
tempo para fazer algo que gostava muito: passear por Roma. “Eu gostaria de ter uma
qualidade de vida mais leve, raramente consigo chegar até à cidade”,
disse.
Ele,
apesar de ter feito tanto, não hesitou em sair de cena para que a Igreja
pudesse seguir adiante, mesmo que isso lhe custasse a falta de reconhecimento
de muitos católicos com falta de memória.
Bento
XVI foi alguém que viveu uma humildade muitas vezes não captada pelas potentes
câmeras de televisão, mas demonstrou aquilo que, um dia, o apóstolo das nações
fez questão de frisar: “Convém que Cristo cresça e eu diminua”.
Rezamos
por ti Bento XVI, o nosso Bento XVI.
Mirticeli Medeiros in Canção Nova
1 comentário:
Que saudades do Papa Bento...
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