O “Prós e Contras” é um bom espectáculo. O último, sobre a
co-adopção, até me lembrou o circo romano, onde os cristãos eram
lançados às feras. Hoje não é possível fazê-lo, não porque a dignidade
humana ou a liberdade religiosa o impeçam, mas porque os sacrossantos
direitos dos animais o não permitem: um católico é muito indigesto para
os estômagos delicados dos bichos, que requerem alimentos mais ricos em
proteínas. Aliás, já os inimigos das touradas o são em nome dessas
bestas e não, como seria lógico, dos seres humanos que as enfrentam, às
vezes com funestos resultados.
É bizarra a ideia de que um tema
fracturante pode ser resolvido num duelo entre duas equipas, a favor e
contra, no palco, contando cada uma com a sua ululante massa de
apoiantes na plateia. Parece-se com os jogos de futebol e as respectivas
claques, tipo “diabos vermelhos” e “dragões azuis”, embora a bola seja
uma ciência reservada aos profissionais, que a exercem em catedrais,
onde são sagrados campeões. A vida, o casamento, a família, a adopção,
etc., são temas menores, meros objectos da diversão televisiva.
Seguindo
esta fórmula de sucesso, aqui ficam sugestões para novos programas: a
criminalidade, com uma plateia composta por polícias e ladrões,
separados por um cordão de guardas prisionais; a droga, dando metade dos
lugares aos toxicodependentes, cuja experiência com alucinogénios é de
grande interesse público; a democracia, a ser negada por um
nacional-socialista e por um comunista, numa sala irmãmente partilhada
por nazis e adeptos da ditadura do proletariado, de um lado, e
democratas, do outro; e muitos mais, até porque the show must go on!
Ave, Fátima, morituri te salutant!
in ionline
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