Os Meios de Comunicação Social estão a acompanhar um PREC (Processo Revolucionário em Curso) no Vaticano. Quase todos afirmam que o Papa Francisco está a ganhar a revolução, embora a situação ainda seja confusa. Neste momento, é absolutamente certo que muita gente, fora e dentro da Igreja, está profundamente abalada com os primeiros meses de pontificado.
Há dias, o Papa Francisco dizia ao Conselho Pontifício para a Nova Evangelização que, para fazer chegar este anúncio «a tantas pessoas que se afastaram da Igreja, é um erro culpar uns ou outros; sobretudo, não é altura de falar em culpas. (...) A nova evangelização, ao mesmo tempo que chama à coragem de avançar contra-corrente (...), só pode usar a linguagem da misericórdia». Francisco repete isto continuamente — para pavor de uns e surpresa de quase todos.
Alguns pró-vida norte-americanos irritam-se, porque o Papa não desmascara os abortistas ou propagandistas homossexuais que começaram a mostrar simpatia pela Igreja. Os apoiantes de Mons. Marcel Lefebvre protestam contra as recentes canonizações de mártires, porque o Papa não achou necessário referir que os assassinos eram muçulmanos...
Ao mesmo tempo, chegam elogios das origens mais improváveis. Até entre nós. O colunista Daniel Oliveira, habitualmente hostil, reconhece que se sentiu tocado pelo que ele chama «a reenvangelização benigna de Francisco» (5 de Novembro, no «site» do «Expresso»). Até se desculpa: «dirão que, sendo eu ateu, nada que diga respeito à Igreja Católica e ao Vaticano me deveria interessar grandemente. Mas interessa-me muito». Daniel Oliveira não tem ilusões acerca da doutrina, «o que é novo neste Papa não são as suas posições», mas percebe que algo se passa: «a postura deste Papa pode vir a ser um terramoto» e, de argumento em argumento, deixa-nos sem palavras: «Por mais estranho que vos pareça, não considero, por isso, negativo que a Igreja Católica (...) recupere, na Europa e na América do Norte, um pouco do poder que perdeu». Como a doutrina da Igreja não muda, ele não acredita que a Igreja se transforme «no que ela não pode, por natureza, ser».
Mas [o Papa] cria pontes mais sólidas entre ela e as sociedades democráticas. E são essas pontes que poderão contrariar a sua decadência no Ocidente». Um ateu a dizer ao mundo que preste atenção à voz da Igreja?! Desejoso de contrariar a sua decadência no Ocidente?! Quando Daniel Oliveira vê aspectos positivos na Igreja católica, já não sei se concordo com ele ou não. Ele próprio não sabe bem se concorda com o Papa ou não. Mas claramente algo mudou e estamos a assistir àquela reevangelização pacífica, benigna, como lhe chama Daniel Oliveira.
Para o Papa Francisco, o centro desta pastoral da misericórdia é o sacramento da confissão. Aí é que se trava a suprema batalha entre a inércia do mal e o abraço de Deus.
Nalguns países, a descoberta da confissão foi uma coisa tão súbita e tão profunda que teve honras de jornais e lançou em campo os especialistas das sondagens. Já se fizeram duas: uma nos primeiros meses de pontificado e outra mais recente, para ver se o fenómeno estava a abrandar. Só em Itália, registaram-se «centenas de milhar de conversões directamente relacionadas com os apelos do Papa Francisco». E na segunda sondagem o ritmo não diminuiu. «Um efeito maciço e até mesmo espectacular», segundo Massimo Introvigne, director da equipa de sondagem.
Este Papa não gosta de fugas: «Alguns dizem: “Ah, confesso-me com Deus”! É fácil, é como confessar-se por email, não é? Deus lá longe, eu digo as coisas e não há um face-a-face, não há um olhos-nos-olhos».
Vergonha? — «Envergonharmo-nos perante Deus é uma graça». «O cristão deve lidar com o seu pecado de uma forma concreta, honesta, e ter a capacidade de se envergonhar perante Deus, de pedir perdão e se reconciliar confessando os seus pecados».
Há dias, a Santa Sé enviou aos bispos um exame de consciência, acerca da pastoral familiar, pedindo-lhes para responderem se são corajosos a propor a doutrina da Igreja, se o fazem com todo o respeito e simpatia para com as pessoas, se as famílias cristãs rezam suficientemente, se têm uma mentalidade saudavelmente aberta à natalidade... Não está fácil ser bispo.
Segundo o Papa, a conversão é já. A revolução é para ontem. E o Papa não quer ninguém de fora.
José Maria André in «Correio dos Açores», 17-XI-2013
José Maria André in «Correio dos Açores», 17-XI-2013
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