Em 1962, continuando uma antiga tradição, o Papa, quase Santo, João XXIII recebeu os párocos e pregadores da Quaresma, dando-lhes orientações práticas para a sua acção pastoral durante este tempo litúrgico. A tradicional audiência realizou-se a 22 de fevereiro e, por tratar-se do ano do Concílio, “revestiu-se de extraordinário brilho” [1].
Além dos párocos e pregadores, estiveram presentes cerca de 40 cardeais, uma centena de bispos e os membros da Cúria Romana e das Comissões pré-conciliares. Diante da numerosa assistência, o Papa assinou a constituição apostólica «Veterum Sapientia» sobre o estudo do latim.
João XXIII desenvolveu o seu pensamento em torno de três ideias principais que são condição de fecunda acção pastoral e renovação da vida da Igreja segundo as perspectivas do II Concílio Ecuménico do Vaticano: "Piedade sacerdotal; Ensino catequético e Vida exemplar".
Em relação à Constituição Apostólica «Veterum Sapientia», o Papa decreta uma série de medidas destinadas a revalorizar e intensificar o estudo do latim nos meios eclesiásticos. Na primeira parte do documento, faz a apologia desta língua que providencialmente favoreceu na antiguidade a difusão do Cristianismo no Ocidente e foi adoptada na Igreja ocidental como língua litúrgica e eclesiástica.
Insiste-se no caráter de língua universal que, por não ser “actualmente falada por nenhum povo, pode ser adoptada sem ferir suscetibilidades”; por outro lado, refere-se que “é uma língua cheia de qualidades: concisa, variada, harmoniosa, cheia de majestade” [2].
Para João XXIII, o latim é uma língua estável, “como convém para exprimir verdades imutáveis por natureza e aferir expressões que nas línguas vulgares se arriscam a mudar de significado com o tempo” e, em simultâneo, uma língua cuja aprendizagem é de “grande valor formativo”.
Apesar das discussões, na época, sobre as vantagens de a Igreja conservar o latim como língua oficial, a Constituição procura diminuir as controvérsias levantadas e sublinha: “Que o antigo e ininterrupto uso do latim seja plenamente conservado e restabelecido onde tenha quase caído em desuso”.
Para que tal objetivo seja, realmente, alcançado o Papa decreta algumas medidas:
- “Que os bispos e superiores religiosos velem para que nos seminários e escolas de formação sacerdotal se acatem e cumpram as normas desta Constituição”;
- “Que nada se escreva levianamente contra o uso do latim no ensino e na liturgia”;
- “Que ninguém, nem mesmo as «vocações tardias», seja admitido aos estudos de Teologia e Filosofia sem dominar bem o latim”;
- “Que se crie, em Roma, uma Academia da língua latina para culto desta língua e formação de professores” e
- “Que a Congregação dos Seminários e Universidades prepare um programa de estudos do latim que seja respeitado”.
[1] Cf. Boletim de Informação Pastoral, Nº 16, página 7.
[2] Cf. BIP citado anteriormente.
in Agência Ecclesia
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