Para ver o quão perturbadora uma sociedade secularista e crescentemente irreligiosa pode se tornar, basta olhar para a Suécia.
O aborto tem sido livre a pedido e disponível sem consentimento
dos pais no país desde 1975, resultando na nação nórdica com a maior taxa
de aborto em adolescentes da Europa (22,5 por 1000 meninas entre 15 e 19 anos
em 2009).
A lei sueca não reconhece de forma alguma o direito à
objecção de consciência para trabalhadores da área da saúde (no último ano,
de forma esmagadora, o parlamento sueco passou uma ordem instruindo a delegação
sueca no Conselho da Europa para lutar contra os direitos dos médicos de
recusar participação em abortos).
Enquanto isso, a educação sexual é gráfica e compulsória,
e às crianças é ensinado que qualquer coisa que gere uma sensação sexual
está OK. A idade de consentimento para ter relações sexuais com adultos é 15 anos. “Nós temos muitas violações da dignidade humana em muitos
níveis, e muitos problemas quando se trata de engenharia social”, explicou
Johan Lundell, secretário-geral do grupo sueco pró-vida Ja till Livet.
“As coisas têm sido assim nos últimos 70 anos.”
Lundell foi um convidado nosso no Dignitatis Humanae
Institute [Instituto para Dignidade Humana], onde ele expôs um catálogo de
ofensas contra a dignidade humana na sociedade sueca. “Nós temos a maior taxa
de abortos em adolescentes na Europa. Por quê? Porque nós dizemos que o aborto
é um direito humano, que não mata nada, apenas acaba com uma gravidez”, relatou.
“E após 20 anos disso, os jovens já não se preocupam. Por que deveriam? Durante cerca de
10 ou 15 anos ninguém tem dito nem mesmo que o aborto, apesar de legal, deveria
ser algo raro.”
O programa de educação sexual, visto por alguns
social-liberais como pioneiro mas por outros como excessivamente explícito, tem
sido colocado por alguns como a principal razão para a baixa taxa de gravidez
na adolescência. Mas o alto número de abortos daquela faixa etária é raramente
discutido, nem os números são divulgados. “Ninguém fala do aborto de crianças”,
disse Lundell. “Eles têm vergonha disso. No entanto nós somos o único país na
Europa em que existem abortos a pedido até a 18ª semana de gestação, sem
procedimentos formais, sem consentimento dos pais, sem consentimento informado.”
O número de estupros na Suécia é outro ponto largamente
desconhecido e pouco divulgado. De acordo com Lundell, ao longo dos
últimos 50 anos – durante essa época de costumes sexuais liberais – aumentaram “1000%”
Lundell observou ainda que todos os outros países querem
reduzir o número de abortos, mas apesar de existirem 550 departamentos
governamentais na Suécia, nenhum tem a missão de reduzir o número de
extermínios. “As crianças são capazes de ver que isso é errado, os pais são
capazes de ver que isso é errado, e como uma sociedade nós não queremos isso.
No entanto, ninguém quer falar sobre isso”, acrescentou Lundell. “É absurdo.”
Ele disse que a Suécia deveria servir
como um aviso para outros países que procuram políticas secularistas e
socialmente liberais “pois então será visto o que é a agenda para o povo, e
como a União Europeia e a ONU estão copiando essas ideias escandinavas.”
Voltando ao assunto da educação sexual, Lundell relata que
os suecos já não se importam em discutir se a homossexualidade é
genética – um argumento comum usado para promover a agenda gay – porque o
movimento é agora tão integralmente aceite que já não necessita desse argumento
como suporte. “Nos livros de educação sexual, não se fala sobre alguém ser
heterossexual ou homossexual – não existem tais coisas porque para eles todos somos bissexuais; é apenas uma questão de escolha”.
Lundell referiu-se a um panfleto para crianças publicado
por associações LGBT, e impresso com a ajuda de financiamentos estatais.
“Eles escrevem positivamente sobre todos os tipos de sexualidade, qualquer
tipo, até mesmo os mais depravados actos sexuais, e isso vai para as escolas”,
explicou. “A informação é colocada em websites, e as crianças na escola são
direccionadas para esses sites para que a possam ver.”
Os professores, conta, são encorajados a perguntar aos
estudantes: “O que te excita?” No entanto Lundell aponta que se um
executivo-chefe de uma companhia perguntasse isso em um encontro de negócios,
ele seria demitido. “Seria assédio sexual”, relatou. “E ainda assim treinam as
pessoas para fazer isso com crianças?”
Alguns pais têm feito reclamações formais, dizendo que isto é conhecimento carnal, muito explícito para salas de aula e denominando as
lições como “vulgares” e “muito avançadas.” Mas a maioria sujeita-se ao
currículo, porque a opção para educar as crianças em casa é quase proibida.
Para muitos estrangeiros, porém, a imagem popular da Suécia
é de uma sociedade razoável, ordenada, justa, e harmoniosa – o exemplo modelo
de um welfare state funcional. Em muitos casos isso é verdadeiro se
alguém observa as taxas de mortalidade infantil, a expectativa de vida, os
padrões de assistência médica e o acesso à educação. O nível de pobreza é
também relativamente baixo.
“Durante muito tempo tem sido dito que se não é possível
realizar um mundo socialista na Suécia, então não é possível em nenhum outro
lugar”, disse Lundell. “É por isso que alguns têm tentado fazer do país um
paraíso socialista. Mas diferentemente, por exemplo, da Itália ou da Grécia, na
Suécia não se trata de socialismo de finanças, mas antes, de socialismo de
famílias – engenharia social, que tem sido muito mais visível por aqui do
que no sul da Europa.”
Per Bylund, um parceiro sueco do Von Mises Institute,
uma vez descreveu o abrangente poder do estado assim: “Uma significante
diferença entre a minha geração e a precedente é que a maior parte de nós não
foi, de maneira alguma, criada pelos pais. Nós fomos criados pelas autoridades
em creches do estado desde a época da infância; e então empurrados para
ginásios estatais, colégios estatais, e universidades estatais; e depois para
cargos estatais e mais educação via poderosas associações trabalhistas e as suas
associações educacionais. O estado está sempre presente e é para muitos o único
meio de sobrevivência – e os seus benefícios sociais a única maneira de ganhar
independência.”
Essa engenharia social, no entanto, tem gerado terríveis
consequências. Poucos países europeus têm testemunhado tão rápido declínio
na instituição do casamento ou tão rápido aumento no número de abortos.
Durante a década de 50 e a primeira metade da década de 60, a taxa de
casamentos na Suécia estava historicamente no seu pico. Repentinamente, a taxa
começou a cair de forma tão rápida que em menos de 10 anos houve um decréscimo
de aproximadamente 50%. Nenhum outro país experimentou tão imediata mudança.
Entre 2000 e 2010, quando o resto da Europa estava
mostrando sinais de uma redução em taxas anuais de aborto, o governo da Suécia
relata que a taxa cresceu de 30.980 para 37.693. A proporção de reincidência de
abortos aumentou de 38,1% para 40,4% – o maior nível já registrado – enquanto o
número de mulheres tendo pelo menos quatro abortos anteriores aumentou de 521
para aproximadamente 750.
Com excepção de poucos activistas robustos como Lundell,
muitos cristãos suecos – e particularmente políticos cristãos – permanecem em
silêncio diante das incontáveis violações sociais contra a dignidade humana. É
também irrisória a resistência a ataques contra a liberdade religiosa para
cristãos, com a prioridade sendo crescentemente concedida à Sharia (Lei
Islâmica).
A julgar pelos números, quase poderia ser dito que a fé
debandou completamente. Ao fim de 2009, 71,3% dos suecos pertencia à Igreja
Luterana da Suécia – um número que tem diminuído um por cento a cada ano nas
últimas décadas. Dentre esses, apenas 2% frequenta regularmente as reuniões
dominicais. De facto, alguns estudos apontam os suecos como o povo menos
religioso do mundo e um país com um dos maiores números de ateus. De acordo
com diferentes estudos conduzidos no início da primeira década de 2000, um
número entre 46% e 85% de suecos não acredita em Deus.
Lundell disse que embora pequena, a Igreja Católica tem um
bom bispo e é ajudada por imigrantes da Polónia e da América Latina. Mas os católicos são geralmente vistos como estrangeiros com pouca influência e são
têm medo das campanhas para não serem vistos como “fundamentalistas”, relata. Até os pentecostais são reticentes em levantar objecções. “Eles são provavelmente a
única igreja pentecostal no mundo que não faz isso”, acrescentou.
Mas apesar de tudo isso, Lundell, cuja organização tem
atraído um crescente número de jovens, mantém-se esperançoso – e também
fundamentalmente fiel à sua pátria. “Estou muito orgulhoso de ser sueco”, disse, “mas envergonho-me com a
política quando se trata de família, políticas sexuais e restrições em
liberdade religiosa.”
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