A escassos dois anos do primeiro centenário das aparições marianas na Cova da Iria aos três pastorinhos, é pertinente questionar se Fátima já se cumpriu.
Até ser revelada a terceira parte do segredo comunicado aos videntes, a interpretação das palavras de Nossa Senhora estava quase totalmente polarizada por essa incógnita, que deu azo a numerosas especulações. Esta circunstância contribuiu, de algum modo, para o ofuscamento da própria mensagem que, como é óbvio, ia muito além dessa profecia, realizada no atentado padecido por São João Paulo II, precisamente num dia 13 de Maio. Muito embora o Papa polaco não tenha falecido como consequência desse criminoso acto, como a terceira parte do segredo dava a entender, quer o protagonista desse acontecimento, quer também a principal vidente, na altura ainda viva, entenderam que era a esse facto que aludia o misterioso desígnio. Não obstante a Lúcia ter escrito, inicialmente, que o “homem vestido de branco” seria assassinado, a misericórdia divina, por intercessão de Maria, poupou à morte o então sucessor de Pedro.
Também já se cumpriu a tão desejada conversão da Rússia, se por tal se entender a radical mudança realizada nesse país, graças à implosão do regime comunista. Não apenas nessa nação se produziu essa extraordinária alteração política, que nenhum politólogo previu, como também em todos os países satélites da então União Soviética que, sem um tiro sequer, recuperaram a sua independência e liberdade. As conversações entre a Santa Sé e os dirigentes comunistas foram inconclusivas ao longo de dezenas de anos, mas não a consagração desses países e do mundo a Maria, por S. João Paulo II. Pouco depois acontecia a milagrosa queda do muro de Berlim e, com ele, da cortina de ferro que, durante quase meio século, se fechara sobre todos os países da Europa de Leste.
Se é certo que a revelação integral do segredo de Fátima e a conversão da Rússia realizaram, em grande medida, o propósito destas aparições marianas, também é verdade que a mensagem da “Senhora mais brilhante do que o sol” não está esgotada. Com efeito, falta ainda o prometido triunfo do Imaculado Coração de Maria, que inaugurará um tempo de paz para a humanidade e para a Igreja.
O que será essa desejada era de bonança não é possível imaginar, nem saber quando ocorrerá, mas é de esperar que, por mediação de Maria, cessem as furiosas perseguições contra os cristãos que vivem em países onde são vítimas do impiedoso fundamentalismo islâmico, ou da aguerrida intolerância de lóbis anticristãos que, por vezes com a cobertura de organizações internacionais e sob o pretexto de campanhas pseudo-humanitárias, promovem o laicismo.
Triste exemplo deste fanatismo de raiz agnóstica ou ateia é a recente decisão judicial de remover, num país da Europa central, uma estátua de São João Paulo II, com o pretexto de que a mesma é insultuosa para quem não professa a fé católica. Com a mesma razão, ou falta dela, deveriam também excluir-se todos os monumentos de grandes compositores musicais e pintores, pois são um atentado para quantos são surdos ou cegos, respectivamente.
A bem dizer, qualquer símbolo religioso pode ser também visto como um desrespeito pela laicidade do Estado e uma ofensa aos crentes das outras religiões, pelo que seria igualmente pertinente a sua destruição … Aliás, não seria nada de novo, porque os talibans e os guerrilheiros do dito Estado Islâmico assim têm feito por onde têm passado, em relação a todos os vestígios culturais ou religiosos com que não se identificam.
Mas, cumprir Fátima, não é apenas esperar que chegue, finalmente, esse tão desejado tempo de paz, mas apressar, com a nossa oração e o testemunho coerente da nossa fé, o triunfo do Coração Imaculado de Maria. Para um tal propósito, Maria deu-nos uma arma poderosa, precisamente a mesma que fez cair o império soviético e salvou a vida de São João Paulo II: o terço. Que cada conta do rosário seja uma bala contra a guerra e a favor da paz entre as nações e as religiões, para que o Imaculado Coração de Maria triunfe em todas as famílias e corações.
Pe. Gonçalo Portocarrero in Voz da Verdade
3 comentários:
O outro lado da história:
- A Rússia não se converteu. O muro caiu, o nome comunismo desapareceu, mas as estruturas todas se mantiveram. Relembro que Nossa Senhora falou nos erros da Rússia e não do Comunismo. Não podemos confundir a parte com o todo. Recomendo a leitura: A mistica de Pútin da Anna Arutunyan. E verão como pouco ou nada mudou.
- A consagração da Rússia ainda não foi feita. Foi nos dado a entender que a Irmã Lúcia disse que em 1984 foi segundo o pedido. Mas isso é falso. Para além de termos o testemunho do Pe Amorth a dizer que o Papa foi impedido de mencionar a Rússia. há também a prova de que a irmã Lúcia nunca disse que a consagração de 1984 foi válida.
Desculpem a minha insistência. Mas eu não me consigo conter. Leiam o que dizem as pessoas que investigam isto. O livro do Antonio Socci, é resultado de uma investigação séria. Ele tb pensava exactamente dessa maneira até começar a investigar e ver como estava enganado.
Nós não estamos no tempo de paz prometido por Nossa Senhora. Vocês sabem bem disso. Tudo à nossa volta parece estar a desmoronar-se. As guerras. Tudo o que é lei iniqua está a espalhar-se pelo mundo. O flagelo do aborto que mata milhões de seres humanos inocentes. As perseguições aos cristãos. A ditadura do relativismo. A crise na Igreja. etc...
Quantos mais sinais são precisos?
Como Bento XVI disse em 13 de Maio de 2010: "ilude-se quem pensar que a missão profética de Fátima está concluída."
Peço desculpa... mas eu, por motivos de trabalho, tive já entre mãos diversos manuscritos da Ir. Lúcia nos quais ela confirma que a Consagração está feita desde 25 de março de 1984... tantos e tantos...
Ela repetiu-o incansavelmente ao longo dos anos... sempre que era questionada relativamente a essa matéria, a resposta nunca mudou...
"Leiam o que dizem as pessoas que investigam isto"... investigar Fátima e os manuscritos da Ir. Lúcia é o meu trabalho...
e há escritos dela suficientes publicados para se perceber o que ela dizia do assunto...
Recomendo a tal "investigação séria" referida... uma investigação feita a partir das fontes e não do "diz que disse"...
Leiam os escritos dela... perguntem aos familiares dela que a interrogavam... e perceberão que a "Consagração por fazer" é uma "falsa questão"...
Apenas uma pequena "nota bibliográfica"...
"Um caminho sob o olhar de Maria", pp. 205-206...
Se acreditamos nas palavras da Ir. Lúcia para o pedido, porque não acreditamos nas suas palavras para o seu cumprimento?
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