Porque a normalização da homossexualidade é a realização da
ideologia heterossexual. “Gay” e “homossexual” não são taxonomias mas
ideologias. Não são orientações mas desorientações: bi-, homo-, ou hétero-,
sexualidade hifenizada faz-nos perder o nosso sentido de direção para o
verdadeiro sexual e as vítimas desta ideologia são as crianças.
As palavras “homossexual” e “heterossexual” são neologismos
do século XIX feitos para separar o romance da responsabilidade e o sexo da
fecundidade. “A heterossexualidade foi feita para servir este fantasioso quadro
de regulação de ideais”, escreve Michael Hannon, resumindo Foucault, “preservar
a proibição social contra a sodomia e outros desenfreios sexuais sem a
necessidade de recorrer à natureza procriadora da sexualidade humana”. O mito
tornou-se um facto, e é por isso que tantos heterossexuais são a favor da
homossexualidade. A homossexualidade ratifica a heterossexualidade.
Os mesmos princípios e práticas que ajudam e estimulam a
ideologia homossexual só validam a ideologia heterossexual: a coabitação, o
divórcio sem culpa, o sexo estéril, a exultação do amor romântico, a história
banal do casal que se revolta contra o mundo para que possam fugir juntos para
o pôr-do-sol, a suposição que ter filhos é um estilo de vida opcional, ou até
mesmo algo que se pode comprar através da adoção ou da fertilização “in vitro”.
Heterossexualidade, eu diria, é na verdade proto-homossexualidade.
O Proto-homossexual
Quem é o Proto-homossexual? É o trovador poeta de França do
século XII idealizando romance e paixão sexual, o Cavaleiro da lenda do Rei
Artur que se compromete a servir a sua senhora com verdade e cortesia como se
ela fosse uma deusa digna de adoração. Ele acredita que o amor erótico é uma
elevada experiência espiritual, a experiência mais elevada. O manual de Andreas
Capellanus diz que o secretismo e o suspense vão reavivar a chama da paixão;
que obrigações familiares e filhos vão sufocá-la. Lancelot e Guinevere traem o
Rei Artur, Tristen e Iseult infringem a lei, Romeu e Julieta ficam malucos e em
nome do “amor”, cada nova aventura, causa uma dor não merecida aos outros. Tudo
isto, claro, matéria-prima para filmes de sucesso e para romances bestseller na América, hoje em dia.
A verdadeira falha em todo o sistema do Amor Cortês é a sua
tendência inerente para a anarquia e o narcisismo. Encontrando-se sozinhos no
escuro, longe das responsabilidades diárias e dos constrangimentos sociais, os
casais não se tentam conhecer realmente um ao outro. O suposto amor um pelo
outro é auto absorvido, a sua vida amorosa é pouco mais do que masturbação
mútua. Com a imagem lisonjeira que vêm nos olhos um do outro, eles imaginam-se
idênticos. O heterossexual, que é o proto-homossexual, olha para a sua amada
como se estivesse a ver o seu reflexo na água.
O narcisismo proto-homossexual, o seu sentimento elevado de
si mesmo, leva-o a acreditar que a força irresistível a que chama “amor” é
intrinsecamente enobrecedor e que as suas relações não precisam de nada a não
ser de consentimento mútuo. Mas a sua paixão só o impulsiona ao engano é à
crueldade não intencionada- para a sua amada, para a própria família e para a
dela, para os filhos que eles possam ter e para ele próprio.
Apaixonados que se levantam contra o mundo para se poderem
casar é um cliché muito visto. No entanto, “casamento como revolta” e “sexo
como realização pessoal” mantém-se o estádio inquestionável sobre quem
cortejar, casar ou divorciar. Esta é a casa que construímos para conceber e
criar crianças.
É um “castelo de cartas”. Tendo já derrubado as pressões
sociais e morais da sociedade e erigido um sistema de namoro parecido com a
guerra civil, tendo já privatizado o casamento e tendo-o transformado numa
declaração sobre a liberdade e a preferência erótica- “é a minha escolha, o meu
amor!”- o proto-homossexual fecha as cortinas do seu quarto para encontrar
apenas mais um obstáculo à sua felicidade: a fertilidade.
Muito antes de alguém ter sonhado em normalizar a sodomia, a
ideologia heterossexual sustentou que o sexo devia ser, em primeiro lugar,
recriação. O único problema disto é que o sexo é naturalmente criativo. Mas,
tal como a ideologia heterossexual, a tecnologia também evoluiu: com o latex, os procedimentos cirúrgicos
certos e os químicos, foi-se tornando possível acreditar que o sexo é
essencialmente recriação, uma crença muito acelerada pela pornografia. Duma
simulação da realidade, como a sodomia, a pornografia tira, muito astutamente,
de cena, a fertilidade. O sexo não é sobre um futuro florescimento mas sobre
uma diversão imediata.
(Tem de ser mencionado que a contracepção artificial foi
considerada imoral pelos Cristãos, Protestantes e Católicos do mesmo género, em
todos os sítios e em todos os tempos até à Conferência de Lambeth em 1930.
Dentro de uma única geração a universal e inquebrável ética cristã foi coberta,
sufocada e apagada. A condenação do que Martin Luther King considerava como um
acto “muito mais atroz do que o incesto ou o adultério” é agora visto como um
equívoco católico.)
A pornografia é o desvio, o controlo da natalidade, a
cortina de fumo e o aborto o último recurso. Mas há outro problema. Depois de
fazer as suas declarações e de se ter divertido, o proto-homossexual percebe que
entrou num vínculo indissolúvel.
A ideologia heterossexual levanta uma questão: se o
casamento não é, antes de tudo, uma compreensiva união conjugal, se é um
vínculo sentimental com a tua Pessoa Número Um, porque é que deve ser
permanente? E assim encontramo-nos cara-a-cara com a ideia dos anos 70, o
divórcio sem culpa. Se o teu esposo ganhou peso, se o espirro dele te
envergonha, se o sexo é tépido, se a tua realização pessoal ou a tua felicidade
estão em jogo, podes largá-lo num piscar de olhos. O divórcio sem culpa dá uma
ventilação completa aos valores heterossexuais.
A evolução lenta do heterossexual é, de facto, a urgência do
homossexual. Com a imagem lisonjeira reflectida nos olhos do amado, a
heterossexualidade é só outra versão do Amor de Cortesia. A aceitação cultural
da sodomia, tão obviamente estéril e infrutífera, só legitima a crença de que o
sexo é pura recriação. O “casamento” entre pessoas do mesmo sexo reforça o
sistema do divórcio sem culpa afirmando que o casamento não é, em primeiro
lugar, sobre o compromisso e os filhos, mas sobre a felicidade. Junta-se,
simplesmente, à tradição heterossexual de ver o casamento como uma forma de
revolta.
A alegação de que o comportamento homossexual está errado
seria a realização de outros para um padrão moral ao qual o próprio
comportamento heterossexual não está em conformidade. Bi-, homo-, hétero-,
qualquer forma de sexualidade hifenizada quer a mesma coisa: sexo sem limites
morais ou generativos, relações sem constrangimentos culturais ou familiares. Quem é o proto-homossexual? És tu e sou eu.
A verdadeira vítima
O proto-homossexual coloca o casal contra a sociedade, até
contra a família. Ele faz contraceptivos e pornografia, ele legaliza o aborto e
legisla sobre o divórcio sem culpa e o “casamento” entre homossexuais e quando
acaba com o seu terceiro casamento sente que foi vítima, entre todas as coisas,
de preconceito religioso! Mas quem é a verdadeira vítima da sexualidade
hifenizada?
As verdadeiras vítimas da sexualidade hifenizada não são as 'lobistas' lésbicas ou os gays. As verdadeiras vítimas são os mais novos e os
mais inocentes entre nós. O amor livre tem custos e quem os paga são as
crianças.
O debate sobre o “casamento” gay não é sobre a
homossexualidade mas sobre o casamento. Não é sobre quem se pode casar mas
sobre o significado de casamento. O significado do casamento depende do que
realmente é uma pessoa humana e a verdade é que cada um de nós nasceu de uma
mulher e de um homem. O casamento e os filhos estão inevitavelmente ligados.
Se os humanos não se reproduzissem sexualmente e se os bebés
nadassem simplesmente para fora das mães como os tubarões, então a instituição
do casamento nunca teria sido estabelecida. Historicamente, as leis sobre o
casamento foram feitas para reforçar a ligação entre pais e filhos,
especialmente entre o pai e os filhos. O verdadeiro tema são os direitos das
crianças.
Num esforço para desviar a atenção dos direitos das crianças
vai-se argumentar que o casamento foi redefinido antes. Quantas mulheres teve
Jacob? O casamento não foi já entre um homem adulto e uma adolescente? As leis
contra a mistura de raças estavam escritas nos livros há menos de 60 anos.
Enquanto a nossa sociedade redefine quem conta e quem interessa, vai ser
argumentado, o casamento muda. Para além disto, se casais heterossexuais podem
adoptar crianças, porque é que os casais homossexuais não podem?
Mas a poligamia não é um argumento para o "casamento" gay. Nem
sequer o facto de haver exemplos de poligamia na história, é um argumento para
a poligamia. A excepção não prova a regra: a excepção quebra a regra. As leis
contra a mistura de raças não foram uma redefinição do casamento conjugal mas a
imposição de preconceitos racistas contra a instituição do casamento. A única
altura em que homens com mais de 18 anos puderam casar-se com raparigas com
menos de 18 anos não desafia, de todo, a definição tradicional de casamento;
quanto muito, desafia a definição contemporânea de adulto.
A questão não está em se uma mulher que se sinta atraída por
outra mulher possa ser mãe, mas se duas mães fazem um casamento e se o
acoplamento de duas mulheres é uma maneira saudável de criar filhos. A adopção
existe por causa da tragédia que é o abandono ou a morte. Mesmo assim, todas as
crianças têm o direito de ter um pai e uma mãe. Só porque acontecem tragédias,
tal não nos dá permissão para, preventivamente, privar as crianças do direito
de ter um pai e uma mãe.
A questão não se prende com o facto de saber se uma pessoa
que se identifique como homossexual conta ou importa. A questão está em saber
se uma relação homossexual constitui um casamento. A questão está em saber,
dado o facto de que o ser humano se reproduz sexualmente e que os nossos filhos
não nascem auto-suficientes, se o casamento continua a ser o meio natural de
florescimento humano. O sexo foi artificialmente separado da procriação, a
família, o propósito natural (biológico) do nosso corpo, e os filhos pagaram o
preço.
No fim de contas, todos pagam o preço. Nós não somos pavões.
Nós não nos limitamos a acasalar. Nós casamos. Nós ansiamos por relações de
confiança e duradouras, pela totalidade e por uma vida séria e profunda- e pelo
nosso futuro. O parto, o lar e os filhos, a preocupação com o futuro, com a
linhagem, tudo isto está em jogo com a revolta contra a sexualidade humana. O
espasmo utópico da sexualidade hifenizada é prejudicial para o homem, para a
mulher e, especialmente, para as crianças. Eles são a prova da civilização
avançada.
As crianças têm direito à vida. As crianças têm direito a
ter um pai e uma mãe. As crianças têm o direito a ser educadas em casamentos
fiéis e comprometidos. Quem somos nós para privá-las disso?
Nós estamos orientados
Falando em orientação sexual, eu sinto-me quase um
revolucionário (no sentido de um círculo voltando ao seu principio, ao seu
sítio certo). Estou a tentar expor a orientação sexual em cada um de nós- a
orientação que é tão boa que dói. Nós vingamo-nos chamando-lhe Atracção ou Desejo
Sexual. É a orientação sexual que não podemos ignorar ou que não podemos
admitir mas que no entanto queremos fazer os dois. Não podemos admiti-la porque
ameaça todo o falso programa dentro do qual temos vivido. No entanto, não podemos
ignorá-lo porque está escrito nos nossos próprios corpos ou no mais profundo do
nosso coração. Eu gostava de lançar a ideia de que nós não somos nem hetero nem
homossexuais, somos simplesmente (agora parece inacreditável) sexuais. Como
homens e mulheres somos, todos, orientados.
E isto persegue-nos. Nós fingimos que a ligação entre o sexo
e a fecundidade é uma barbaridade da idade mais escura. Nós esterilizamo-nos a
nós próprios, tomamos comprimidos que suprimem a nossa fertilidade, como último
recurso abortamos e comportamo-nos como se tivéssemos resolvido o assunto. Mas
tudo isto é um estratagema. Sob as taxonomias sexuais e os subterfúgios
tecnológicos permanece a inegável orientação sexual para a reprodução sexual. O
ciclo menstrual, a erecção, o útero e os seios, tudo nos lembra dessa
orientação. Nem um preservativo consegue esconder o facto do que o que está a
ser derramados é uma semente. A biologia e a natureza humana lembram-nos que a
sexualidade humana é orientada para os filhos e para o futuro.
Esta orientação tem sido deformada e desumanizada por toda a
nossa tecnologia e manipulação. Mas para além de tudo o que possamos ser, como
homens e mulheres, nós somos sexualmente complementares e mutuamente envolvidos
na geração. Isto não é uma construção social. Esta é a permanente e irreduzível
verdade sobre a biologia e a natureza humana. Esta é a nossa herança e o nosso
futuro. Esta é a nossa destruição. Nós dependemos desta orientação para o
florescimento do nosso próprio futuro.
Nós somos, cada um de nós, orientados para o sexual. A
sexualidade sem o artifício de um prefixo ideológico é a profunda reserva de
vida, de geração, de filhos. E como os filhos humanos requerem uma quantidade
incalculável de cuidado físico e moral, o sexo e o casamento estão, como sempre
estiveram, ligados.
A história de Ovid serve de aviso: o Narciso apaixona-se
pelo seu próprio reflexo na água, recusa o afecto de Echos e morre porque o amor
sem o outro é estéril e sem esperança. Como o amor sexual é naturalmente
criativo, seria um erro esperar, como o Narciso, que um amante espelha-se
exactamente quem somos. Os apaixonados não estão ligados por sentimentos (como o
trovador poeta pensava), mas pela ligação matrimonial, que deve ser aberta à
vida e à responsabilidade pelo outro. O casamento é a correlação social para o
facto biológico da fecundidade humana.
A definição tradicional de casamento não tem raízes na
religião nem na homofobia mas na natureza biológica e humana. O “casamento” gay
pode fazer sentido numa ideologia pessoal, mas não faz sentido para a
sociedade. O casamento não foi estabelecido porque os humanos são românticos e
gostam de intimidade mas porque os humanos reproduzem-se sexualmente e as
crianças precisam de um pai e de uma mãe para serem concebidos e criados.
Todos têm o direito de se casarem, mas isso não faz com que nenhuma relação
romântica ou sexual seja um casamento, apesar da ideologia heterossexual dizer
que assim é.
A heterossexualidade é, na verdade, proto-homossexualidade: a
diferença entre a heterossexualidade e a homossexualidade é uma questão de
preferência, mas os valores e os objectivos são os mesmos. No entanto, o
casamento lembra-nos que estamos orientados para o sexual, e é por isso que se
tornou num campo de batalha. É por isso que tantas pessoas hétero são a favor
da homossexualidade.
Tyler Blanski in Crisis Magazine
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