segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Trabalhar o casamento dia-a-dia

Emily Marcucci, de Massachusetts e licenciada em Harvard, está casada há 15 anos e é mãe de 8 filhos
Conte-nos um pouco sobre si e a sua família. A que se dedica, e em que trabalha o teu marido?
O meu marido, Michael Marcucci, é advogado e trabalha como sócio de Jones Day, uma firma internacional de advogados, na sede em Boston. Eu fico em casa com os nossos 8 filhos - Madeline, 14, John, 11, Theresa, 9, Josephine, 8, Anthony, 6, James, 4 e Thomas, 4, e Anne, 11 meses.

Quando começaram a sair juntos e a conhecer-se melhor, como abordaram o tema da família? Tinham planeado ter muitos filhos?

Mike e eu conhecemo-nos na Universidade de Harvard e só saímos juntos durante 6 meses antes de nos comprometermos. Mike propôs-me casamento muito pouco tempo depois de se formar e a mim ainda me faltava um ano. Este curto tempo de noivado e a pouca idade com que nos comprometemos, tornou-nos um pouco diferentes dos outros, especialmente na nossa Universidade. Quando saíamos e durante o período de noivado, falámos do nosso mútuo desejo de formar uma família grande. Eu cresci com 10 irmãos e sempre gostei do amor e carinho que recebi de cada um deles. Mike também cresceu numa família muito unida – ele, as irmãs e os pais são muito próximos - por isso, estávamos dispostos desde o princípio a que Deus nos enviasse os filhos que quisesse. Mas não quer dizer que tivéssemos planeado ter este número de filhos – foi parte do plano de Deus e estávamos abertos a ele.
Foi muito bom termos falado sobre a família que queríamos formar e a nossa grande confiança em Deus antes de começar o nosso casamento. Estreámos a nossa vida de casados com as mesmas ideias. No nosso caso, Deus não demorou muito a abençoar-nos com filhos! A Madeline nasceu antes do nosso primeiro aniversário de casamento e fiquei grávida do meu segundo filho quando ela tinha só 9 meses. Porém, o nosso filho Phillip nasceu morto, com 32 semanas. Ficámos desfeitos. Apesar da dor, o nosso casamento saiu fortalecido. Também nos ajudou a abrir um pouco os olhos. Demo-nos conta de que cada filho é um dom especial de Deus, e de que ninguém tem garantia do número de filhos que deseja ter. Os filhos são milagres que Deus faz, a seu tempo. Depois de perder o Phillip, Mike e eu ainda queríamos formar uma família grande, mas começámos a esperar de uma maneira especial por cada filho, do modo como ele ou ela viesse, e a ser agradecidos pelo milagre que cada um deles era e é. Exceto quando Deus nos enviou gémeos, e aí tivemos de pensar em dois ao mesmo tempo!
Mike, marido de Emily, com sete dos seus filhos
De acordo com a sua experiência, como descreve o papel dos pais?
O trabalho de um pai consiste em guiar os seus filhos para que se convertam em adultos responsáveis. Os pais são chamados a amar cada filho incondicionalmente e a ajudá-lo a alcançar o seu máximo potencial. O seu papel consiste em ensinar-lhes o que é bom e o que é mau, em suma, ajudá-los no seu caminho para o Céu.


Também devem amar e respeitar a liberdade dos filhos. Este equilíbrio entre mostrar-lhes o que é correcto e bom, e ao mesmo tempo deixar-lhes a possibilidade de cometerem erros, dá-lhes espaço para crescerem em virtudes e, em última instância, para aprenderem a ser felizes. E para ensinar bons hábitos, o melhor é o exemplo. Por isso, é responsabilidade dos pais trabalhar as suas próprias qualidades humanas. Neste sentido, tentamos mostrar-lhes que “obras são amores, e não boas razões”, como dizia S. Josemaria. Temos esse e outros lemas num quadro branco que serve para a família de “Lista de tarefas” (ver mais abaixo).


8 filhos é um número acima da média que costumam ter os casais hoje em dia. É difícil ser mãe de tantas crianças? Como organiza uma casa assim?
Ser pai ou mãe é difícil, tanto se se tem apenas um filho como 16! Mas, para responder à sua pergunta: - Sim, é muito difícil ser mãe de tantos filhos, mas preferia usar a palavra “desafio”. Claro que há desafios diferentes quando temos um número grande de filhos comparando com um número mais pequeno. Mas, ao mesmo tempo, também há outros benefícios: mais crianças significa mais gente que pode ajudar em casa.
Há alguns truques para organizar famílias grandes, que aprendi de outros pais, incluindo os meus, que têm 11 filhos. Primeiro, o espírito de serviço na família é fundamental, para que cada um saiba que tem um papel importante no cuidado da casa e de cada membro da família. As “listas de tarefas” ajudam a que cada um saiba qual é o seu papel. Temos um grande quadro branco na cozinha que mostra o horário de cada dia e a quem cabe cada coisa. Tentamos fazê-lo divertido, por que não? Durante o verão, as crianças revezam-se a cozinhar uma vez por semana. Os maiores encarregam-se dos mais pequenos. Sentem-se bem nesse papel, e eu também! Significa noite livre para mim!

Ser pai de qualquer número de filhos é um desafio porque (como todos nós) são projetos em curso, alguns mais do que outros. É fácil sentir-se frustrado, de vez em quando, com os filhos. Com mais filhos, há mais oportunidades de sentir esta frustração pela diferença entre o que são hoje e o que tentamos que sejam. Por isso, é muito importante ter espírito de mortificação e paciência na organização da casa. Tirando o filme “Música no Coração (The Sound of music)”, há poucas casas de família grande em que se vive todo o tempo com precisão militar. Uma ajuda grande é conservar o sentido de humor, especialmente nos momentos mais difíceis.


Um último conselho para qualquer mãe, que me indicou uma amiga. Disse-me que aprendeu a “adiantar-se aos seus filhos”. Isto significa que acorda antes de todos, toma uma chávena de café, reza e planeia o seu dia. Penso que este ritual de cada manhã, cedo, ajuda a pôr tudo em perspectiva. Algumas vezes é difícil acordar antes dos filhos, mas este esforço extra pode tornar o dia melhor.
A organização familiar no “quadro de tarefas”

O Papa Francisco está a pedir atualmente muitas orações pela família e pelo casamento. Qual pensa ser hoje o maior desafio para a família?
Um dos grandes desafíos da familia de hoje, pelo menos nos Estados Unidos, é um estilo de vida com muitas ocupações que deixa pouco tempo para a reflexão. Corremos de uma atividade para outra, muitas vezes à custa do jantar em família, e sentar-se a comer em família é um momento especial para consolidar o lar. Uma vez mais, exige muito esforço coordenar os horários de todos, mas estar todos juntos à mesa dá-nos oportunidade de disfrutar da companhia de cada um e de aprender alguns bons modos. Por vezes, jogamos durante o jantar a um jogo chamado “Altos e baixos”. Um por um vamos partilhando os pontos altos e baixos do dia. Até os mais pequenos da família podem participar. A mais nova, Anne, fica sempre muito contente quando estamos todos juntos, e a sua alegria é contagiosa.


Como ajuda os seus filhos a abraçar a fé, a aprender a rezar, a desenvolver hábitos cristãos, etc.?
Tentamos incorporar hábitos de fé na nossa rotina de cada dia. Ensinamos os nossos filhos a oferecer o dia todas as manhãs, a dar graças antes de comer e a rezar antes de dormir. Vamos à Missa ao domingo em família e tentamos participar na Adoração Eucarística mensal na nossa paróquia. Quando é possível, levo os pequenos à Missa comigo durante a semana. Celebramos a festa dos santos dos seus nomes. Também os animamos a ler um pouco sobre os nossos santos favoritos. Entre aniversários e dias festivos sempre há alguma coisa a comemorar! Durante o Advento e a Quaresma temos alguns costumes que ajudam cada um a preparar o seu coração durante esse tempo litúrgico. Finalmente, temos uma lista das pessoas por quem rezamos como família, por exemplo se um parente está doente, ou alguém está à espera de bebé. Todos estes pequenos hábitos de oração ajudam, e são frequentemente grandes momentos em que podemos explicar-lhes a fé num determinado contexto. O objetivo é que isto seja parte natural da nossa vida de cada dia, e não algo que só se faz ao domingo ou que está separado do resto das coisas que fazemos.


Tem algum conselho para os recém-casados?
Sim, digo-lhes que nunca deixem de trabalhar para que o seu casamento seja melhor e mais forte, cada dia, cada ano! O casamento exige uma entrega total, mas também tempo e esforço – por vezes mais do que pensamos - para descobrir a melhor maneira de se dar a si próprio generosamente ao seu cônjuge. Isto pode mudar à medida que os filhos crescem, mas acho que deve ser uma preocupação diária. 

Depois de estarmos casados há 10 anos, o Mike e eu assistimos a uma aula sobre o matrimónio chamada “Amor matrimonial”. Através dela, conhecemos outros pais que também estavam empenhados em construir casamentos sólidos. Um casal ensinou-nos um conceito que ilustra o que quero dizer sobre trabalhar o casamento dia-a-dia. Eles chamavam-lhe “DDA”: “Decisão de Amar” o outro todos os dias em coisas pequenas. Não nos enamoramos sem a nossa vontade e o nosso entendimento. Escolhemos amar uma pessoa e podemos renovar esta decisão todos os dias, escolhendo fazer pequenos actos de serviço. Por exemplo, se é preciso levar o lixo, um marido pode fazer uma “DDA”, levando-o. A mulher pode fazer uma “DDA” e arranjar a cabeça do chuveiro sem pedir ao marido que o faça. É muito divertido mostrar as tuas “DDA” diárias ao teu marido. Ou pedir-lhe gentilmente: Podes fazer uma “DDA” e trazer-me um copo de água fresca?

in opusdei.pt


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