domingo, 21 de fevereiro de 2016

D. Athanasius Schneider fala sobre alguns temas "quentes"

A MISSA "TRIDENTINA"
RC: Vossa Excelência é muito conhecida por celebrar a Missa "Tridentina" por todo o mundo. Quais são, segundo Vossa Excelência, as lições mais profundas que se aprendem ao dar a Missa "Tridentina", como padre e como bispo, e que outros padres e bispos podem esperar receber ao celebra- la?
D. Athanasius Schneider: As lições mais profundas que aprendi ao celebrar o Rito Tradicional foram estas: Sou apenas um simples instrumento de uma acção sobrenatural muitíssimo sagrada, cujo principal celebrante é Cristo, o Eterno Sumo Sacerdote. Sinto que durante a celebração da Missa perdi de certa forma a minha liberdade individual, uma vez que as palavras e gestos são prescritos até nos mais ínfimos pormenores e não posso descartá-los. Sinto profundamente no meu coração que sou apenas um servo e um ministro, que embora tenha livre arbítrio, com fé e amor, cumpro não a minha vontade, mas a vontade de Outro.
O Rito Tradicional e mais que milenar da Santa Missa, que nem o Concílio de Trento modificou porque o Ordo Missae antes e depois do Concílio eram quase idênticos, proclama e poderosamente evangeliza a Incarnação e a Epifania da indescritível santidade imensa de Deus, que na liturgia como "Deus connosco" e "Emanuel" se torna tão pequeno e perto de nós. O Rito Tradicional da Missa é uma obra de arte e, ao mesmo tempo, uma proclamação do Evangelho, que realiza o trabalho da nossa salvação.
RC: Se o Papa Bento está certo ao dizer que o Rito Romano existe (ainda que estranhamente) em duas formas em vez de uma, porque razão é que ainda não é exigido que os seminaristas estudem e aprendam a Missa Tridentina como parte do seu plano de estudos do seminário? Como pode um pároco da Igreja Romana não saber ambas as formas do único Rito da sua Igreja? E como é que é possível que seja negada a tantos Católicos a Missa Tradicional e os respectivos sacramentos se é uma forma igual?
D. Athanasius Schneider: De acordo com a intenção do Papa Bento XVI, e as normas claras da Instrução Universae Ecclesiae, todos os seminaristas Católicos devem saber a forma tradicional da Missa e ser capazes de a celebrar. O mesmo documento diz que esta forma é um tesouro para toda a Igreja - e portanto para todos os fiéis.
O Papa João Paulo II fez um apelo urgente a todos os bispos para acomodar generosamente o desejo dos fiéis em relação à celebração do Rito Tradicional da Missa. Quando os clérigos e bispos põem entraves ou restringem a celebração da Missa Tradicional, não estão a obedecer ao que o Espírito Santo diz à Igreja, e estão a agir de um modo muito anti pastoral. Não se comportam como os detentores do tesouro da liturgia, que não lhes pertence, uma vez que são só os administradores.
Ao negar a celebração da Missa Tradicional ou ao obstruir e a discriminar, comportam-se como um administrador infiel e caprichoso que, contrariamente às instruções do pai da casa - tem a despensa trancada ou como uma madrasta má que dá às crianças uma dose deficiente. É possível que esses clérigos tenham medo do grande poder da verdade que irradia da celebração da Missa Tradicional. Pode comparar-se a Missa Tradicional a um leão: soltem-no e ele defender-se-á sozinho.

A RÚSSIA AINDA NÃO EXPLICITAMENTE CONSAGRADA
RC: Há muitos ortodoxos russos onde Vossa Excelência vive. Aleksandr de Astana ou alguém do Patriarcado de Moscovo perguntou a Vossa Excelência acerca do recente Sínodo ou sobre o que está a acontecer à Igreja sob Francisco? Interessam-se sequer?
D. Athanasius Schneider: Os Prelados Ortodoxos, com os quais contacto, geralmente não estão bem informados acerca das disputas internas na Igreja Católica, ou pelo menos nunca falaram comigo desses assuntos. Ainda que não reconheçam a primazia jurisdicional do Papa, veem mesmo assim o Papa no primeiro cargo hierárquico da Igreja, do ponto de vista na ordem do protocolo.
RC: Estamos apenas a um ano do centenário de Fátima. A Rússia não foi, indiscutivelmente, consagrada ao Coração Imaculado de Maria e certamente não foi convertida. A Igreja, embora impoluta, está numa desordem completa - talvez ainda pior que durante a Heresia Ariana. Irão as coisas ficar ainda piores antes que melhorem e como devem os verdadeiros Católicos fiéis preparar-se para o que aí vem?
D. Athanasius Schneider: Temos de acreditar firmemente: A Igreja não é nossa, nem do Papa. A Igreja é de Cristo e só Ele a detém e lidera infalivelmente mesmo nos períodos mais negros de crise, como de facto está a nossa situação.
É uma mostra do Divino carácter da Igreja. A Igreja é essencialmente um mistério, um mistério sobrenatural, e não podemos aproximarmo-nos dela como fazemos a um partido político ou uma sociedade puramente humana. Ao mesmo tempo, a Igreja é humana e no seu nível humano está actualmente a sofrer uma dolorosa paixão, participando na Paixão de Cristo.
Podemos pensar que a Igreja nos nossos dias está a ser flagelada como foi Nosso Senhor, está a ser despida como foi Nosso Senhor na décima estação da Via Sacra. A Igreja, nossa Mãe, está atada por cordas não só pelos inimigos da Igreja, mas também por alguns dos colaboradores das classes do clero, e até mesmo do alto clero.
Todos os bons filhos da Mãe Igreja, como corajosos soldados, devem tentar soltar esta Mãe - com as armas espirituais de defesa e proclamação da verdade, promovendo a liturgia tradicional, adoração Eucarística, a cruzada do Santo Terço, a batalha contra o pecado na sua vida particular e aspirar à santidade.

Temos de rezar para que o Papa consagre explicitamente a Rússia ao Imaculado Coração de Maria com brevidade, para que então Ela possa vencer, como a Igreja rezou desde a antiguidade:"Alegrai-vos, ó Virgem Maria, porque sozinha derrotastes todas as heresias do mundo inteiro" (Gaude, Maria Virgo, cunctas haereses sola interemisti in universo mundo).

O resto da entrevista exclusiva ao blog católico Rorate Caeli pode ser lida aqui (em inglês): 
http://rorate-caeli.blogspot.com/2016/02/exclusive-bishop-athanasius-schneider.html


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1 comentário:

Ir. Benedita asm disse...

Continuação do meu comentário anterior...

Entre outros escritos publicados, veja-se por exemplo as pags. 205-206 de "Um caminho sob o olhar de Maria", onde para além da transcrição do que a a Ir. Lúcia escreveu sobre o assunto no seu último escrito publicado, "Como vejo a Mensagem", podemos ver a publicação de uma carta de 29 de agosto de 1989 na qual ela expressamente afirma que as consagrações anteriores a 25 de março de 1984 não foram válidas e porquê, e que afirma claramente que a Consagração está feita tal como Nossa Senhora pediu desde essa data...