quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

Um Santo do século XX fala de Misericórdia

Deus não se cansa de perdoar

A sagrada Escritura adverte que até o justo cai sete vezes. Sempre que leio estas palavras, a minha alma estremece com um forte abalo de amor e de dor. Uma vez mais, vem o Senhor ao nosso encontro, com essa advertência divina, para nos falar da sua misericórdia, da sua ternura, da sua clemência, que nunca acabam. Estai seguros: Deus não quer as nossas misérias, mas não as desconhece e conta precisamente com essas debilidades para que nos façamos santos.

Um abalo de amor, dizia-vos. Considero a minha vida e, com sinceridade, vejo que não sou nada, que não valho nada, que não tenho nada, que não posso nada; mais: que sou o nada! Mas Ele é o tudo e, ao mesmo tempo, é meu, e eu sou d'Ele, porque não me repele, porque se entregou por mim. Contemplastes amor maior?

E um abalo de dor, pois examino a minha conduta e assombro-me perante o conjunto das minhas negligências. Basta-me examinar as poucas horas decorridas desde que me levantei hoje, para descobrir tanta falta de amor, de correspondência fiel. Penaliza-me deveras este meu comportamento, mas não me tira a paz. Prostro-me diante de Deus e exponho-lhe claramente a minha situação. Logo tenho a segurança da sua assistência e oiço no fundo do meu coração o que ele me repete devagar: meus es tu!. Sabia - e sei - como és; para a frente!

Não pode ser de outra maneira. Se acorrermos continuamente a pôr-nos na presença do Senhor, aumentará a nossa confiança, ao comprovarmos que o seu Amor e o seu chamamento permanecem actuais: Deus não se cansa de nos amar. A esperança demonstra-nos que, sem Ele, não conseguimos realizar nem o mais pequeno dever; e com ele, com a sua graça, cicatrizarão as nossas feridas; revestir-nos-emos da sua fortaleza para resistir aos ataques do inimigo e melhoraremos. Em resumo: a consciência de que somos feitos de barro ordinário há-de servir-nos, sobretudo, para afirmarmos a nossa esperança em Cristo Jesus.

S. Josemaria Escrivá, Amigos de Deus, 215.



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1 comentário:

Ir. Benedita asm disse...

A santidade não é possível sem a experiência da misericórdia... pois apenas aquele que se sabe amado até à misericórdia, até ao perdão imerecido daquilo que não tem qualquer tipo de justificação, é capaz de viver em resposta a esse mesmo amor gratuito e fiel, amando não pelo que se recebe, mas porque se foi amado primeiro...
E a santidade não é outra coisa que o esforço diário e perseverante de viver essa resposta com um ardor sempre renovado... caindo, sim... mas levantando-nos confiados que Aquele que nos amou primeiro continua e continuará a amar-nos com o mesmo amor de sempre... pois "não pode negar-se a si próprio"...
Deus é misericordioso não pelos nossos méritos, mas por fidelidade a si próprio... pois o "hesed" hebraico está tão ligado ao amor "entranhado", "visceral" da mãe, como à fidelidade a toda a prova daquele que ama... e quem faz esta experiência a um nível existencial, profundo, é incapaz de viver como se não a tivesse feito... pois como diz S. João da Cruz, estamos "feridos de amor"... e apenas o Amor pode curar a nossa ferida...