quarta-feira, 30 de março de 2016

Cardeal Sarah e o espírito de oração

O eminente Cardeal Robert Sarah é hoje Prefeito da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, um dos cargos mais elevados na hierarquia da Igreja. Mas nem sempre foi assim.

No seu recente livro, o Cardeal Sarah fala da sua vida e de como descobriu a vocação. Este homem da África subsariana nasceu numa aldeia no mais interior possível da Guiné - a mais de 500km da capital. Como é possível que alguém de um contexto tão humilde tenha chegado onde chegou? Tudo se deveu à acção de uma pequena comunidade de missionários na aldeia da família do Cardeal Sarah. Aqueles missionários da Congregação do Espírito Santo (Holy Ghost Fathers), hoje conhecidos como padres espiritanos, mudaram a vida daquelas pesssoas, em particular daquele pequeno rapazinho africano de apenas oito anos.

A diferença estava, claro, na sua vida de oração - hoje muito esquecida entre os religiosos Católicos. Vejam como conta o Cardeal Sarah: 

Como descreveria a espiritualidade que os padres espiritanos lhe passaram? 
“Penso que o que mais profundamente me impressionou, desde muito jovem, mesmo já antes de começar a ter catequese, foi a regularidade da sua vida de oração. Nunca esquecerei o rigor espiritual da sua rotina diária.
Os dias dos Espiritanos estavam ordenados como os dos monges. Muito cedo de manhã iam para a Igreja rezar juntos e individualmente. Depois cada um celebrava Missa no seu altar, com alguém a servir. Depois do pequeno-almoço, iam para o seu trabalho. Ao meio-dia encontravam-se outra vez na igreja para a oração do meio-dia e para o Angelus. Assim que acabavam o almoço, regressavam à igreja para fazer acção de graças e a visita ao Santíssimo Sacramento. 
Depois de um período de descanso, eu costumava olhar com curiosidade enquanto eles rezavam individualmente, por volta das quatro da tarde, enquanto liam um pequeno livro. Como podem imaginar, era a recitação do breviário... No final do dia, por volta das 19h, vinha a oração da noite com todos e depois o jantar. Às 21h, à volta da grande cruz, um dos Padres passava tempo connosco com imensa alegria, respondendo a questões e tentando introduzir-nos à vida Cristã, aos valores espirituais e à história sagrada. Acabávamos sempre a nossa vigília com uma música. (...) 
Ourous [a aldeia] era habitada por grandes e santos missionários; estavam completamente consumidos pelo fogo do amor de Deus. Tinham qualidades humanas, intelectuais e espirituais excepcionais, mas todos morriam muito jovens. (...) 
Todos os dias, os Padres do Espírito Santo viviam ao ritmo do Ofício Divino, da Missa, do trabalho e do Terço e nunca fugiam aos seus deveres de homens de Deus. (...) Quantas vezes fiquei profundamente absorvido pelo silêncio que reinava na igreja durante as orações dos Padres! Primeiro, sentado na parte de trás da igreja, eu via estes homens e pensava no que estariam a fazer, ajoelhando-se ou sentados na penumbra, sem dizer nada.... Mas pareciam estar a ouvir e a conversar com alguém na semi-escuridão da igreja, à luz das velas. Eu estava verdadeiramente fascinado pela sua prática de oração e pela atmosfera de paz que se gerava. Acho que é justo dizer que há um verdadeiro heroísmo, grandeza e nobreza nesta vida de oração regular. O homem só é grande quando está de joelhos diante de Deus.
in Sarah, God or Nothing (Ignatius Press, 2015).
[tradução do inglês pelo blog Senza Pagare]



blogger

2 comentários:

Francisco disse...

Um excelente exemplo! Obrigado pela partilha.
Sabem quando estará o livro Deus ou Nada editado em Portugal?

Anónimo disse...

http://worldnewsdailyreport.com/philippines-baby-born-with-stigmata-of-jesus-christ-attracts-thousands-of-believers/

Boa tarde, li esta bonita história e pedia - caso fosse possível - que nos iluminassem um pouco sobre stigmata. Fazer um post sobre este fenómeno e qual a posição da nossa Igreja quanto ao mesmo.

Obrigado!