sábado, 7 de abril de 2018

Malditos Jovens! - Em preparação para o Sínodo da Juventude

Em Civilização, a clássica série da BBC, Kenneth Clark apresenta-nos o sumo da nossa civilização: as ideias e os movimentos que vão e vêm ao longo da história. Longe destes ventos temos a Igreja como o porto de abrigo, a âncora, a alma dos homens. Assim como na arte normalmente um estilo vem substituir outro, nos loucos anos 60 também a Igreja quis abrir-se a novos paradigmas, abrindo assim um perigoso precedente. Mudança implica uma escolha, um lado, um partido, e quando a Igreja joga este duvidoso jogo terreno o resultado são desuniões e lutas. No início do século XX, assim como em toda a sua história, a Igreja guiava o mundo, queda e serena perante as ventanias que batiam nos seus vitrais, mas hoje, devido à politização em que se meteu, a Igreja é guiada pelo mundo, é uma Igreja que vai na onda das mais recentes modas.

Nos loucos anos 60 houve um grande furor em todos os cantos das sociedades católicas. Os jovens exultaram por verem que a sua Igreja era moderna, estava viva, com força para enfrentar o mundo de frente. Os velhos, traumatizados pelas sucessivas guerras, calaram-se e assim, tal como na arte um novo estilo rende o anterior, assim também se pensou que aí viria uma nova Igreja render, destruir e apagar a antiga e velha Igreja.

Podemos dizer que os problemas que a Igreja vivia não eram de todo sérios, até mesmo que a Igreja vivia um dos seus melhores períodos históricos. As estatísticas dizem-nos o contrário do que por vezes os revolucionários dos anos 60 nos pintam. A reacção que existiu por alguma parte da Igreja deveu-se mais a uma antecipação de uma eventual catástrofe do que a um problema existente e sério, no pós segunda guerra mundial. Mas o entusiasmo e a loucura foram de tal modo exagerados que um contemporâneo de Lutero ou de Cranmer não saberia bem dizer em que século estaria, se, como por magia, se visse passear pelas ruas de Lisboa, Madrid, Paris, Viena ou Roma. Padres com picaretas nas mãos a destruírem antigos altares, freiras a despirem-se no meio da rua, novas liturgias, jovens a dançar nos santuários, são tudo imagens que um contemporâneo destes dois bárbaros estava bem acostumado no seu tempo.

O mundo quando viu que a Igreja estava aberta, começou por inserir nos seus jardins uma semente maléfica para a destruição da sua doutrina: a ambiguidade. A semente é hoje uma grande árvore, com frutos e folhagem, que assombram a Igreja. Assombram, porque estes frutos são serpentes e a folhagem é negra e densa. Esta ambiguidade vai rachando os alicerces que sustêm a Igreja, nomeadamente: as palavras de Nosso Senhor, os dogmas e a doutrina; tudo é posto em causa por esta semente. Quem poderá negar que são raros os padres que falam claramente nos nossos dias ou que são raras as mensagens vindas do topo da hierarquia que são alvas como a neve e transparentes como a água? O fumo de Satanás entrou na Igreja de Cristo, como o próprio Paulo VI afirmou em 1972.

O que Jesus diz que seja minimamente contrário ao mundo em que vivemos passou a ser tabu. O que Nossa Senhora disse em Fátima é, a cada dia que passa, mais suprimido e descurado por esta Igreja coberta por estas novas negras árvores que a sufocam e não a deixam respirar. E isto é feito especialmente em Portugal, terra que ela escolheu. Pecado, inferno, salvação, sacrifício, o juízo e a morte são temas que Nosso Senhor cuida com bastante insistência. No entanto foram banidos dos nossos púlpitos e das palavras impressas em jornais e livros de supostos cristãos. Jesus queria que falássemos de modo simples e objectivo: “Sim, sim; não, não. Tudo o que disto passa, procede do Maligno.” (Mt. 5:37). No entanto a Igreja que se quer moderna prefere usar o “nim”.

E quais os frutos de todo este caos criado por estes jovens que agora são os velhos no comando do barco? Da ambiguidade ao espírito rebelde, ficámos com uma sociedade enferma, em que três em cada quatro casamentos são destruídos e a ridícula taxa de natalidade é sinal de muitas mais patologias, assim como é o aborto, a eutanásia e as ideologias de género. A arte produzida é medíocre e de mau gosto. Menos padres e freiras, menos seminaristas e seminários, menos escolas e hospitais católicos. A nova Igreja que os jovens dos anos 60 tinham em mente foi um enorme falhanço que se pode ver nas estatísticas comuns, na moral da sociedade e na pouca fé dos fiéis. Isto é um facto. Podemos andar o dia todo a discutir detalhes, causas e efeitos, mas é certo que algo de muito errado aconteceu nos anos 60.

Sem uma doutrina clara a Igreja tem vindo a morrer, essa Santa Doutrina com que a Igreja pintou os seus mais belos quadros e gerou as suas mais belas flores: os Santos. Por a Igreja não conseguir espalhar a sua mensagem com claridade, é o mundo, que vivia dependente dela, que está doente: os homens perdem a sua alma, a sociedade a sua âncora, a arte a sua fonte. Só a Igreja tem o poder de criar Santos e mudar o mundo, mas este poder está-lhe a ser roubado pelos seus próprios membros, verdadeiros lobos vestidos de ovelhas. Deixaram de pregar Jesus e a verdade, optando antes, por uma fé infantil, superficial e meiga, oposta a Nosso Senhor.

Nos jornais, nos livros e nos púlpitos faz-se uso do vazio e do nada. Quem escreve como católico não consegue dizer uma vírgula que interesse aos jovens, um acento sobre o sobrenatural, uma letra sobre verdadeiras soluções. Vivem mergulhados em resolver problemas que existem devido a outros problemas (muitos deles criados por eles mesmos), mas não conseguem distanciar-se da lama que os assola para ir à base, à raiz. Pensam que são uns radicais, uns modernos, que tudo mudam para resolver o problema do problema, mas não passam de uns velhos retrógrados, agarrados às suas curtas vistas e aos seus queridos anos 60. Tentam limpar a lama com baldes de lama e pensam que estão vivos por fazerem muitas mudanças, mas mais parecem peixes mortos que, sem espernear, são levados na corrente do rio.

Que os jovens pouco ou nada queiram saber da Igreja não é de admirar, desta Igreja sem coragem para afirmar as verdades do Evangelho e enamorada com o mundo da ambiguidade, do “nim” e da falta de confiança. É necessário um radicalismo saudável: ir à raiz dos problemas, da Igreja, do ser católico, da vida eterna, do ser humano. É necessário retirar a lama que esconde a bela e santa Igreja. Os velhos retrógrados, que falam para uma cada vez mais reduzida congregação de outros tantos como eles, quererão ouvir o que estes jovens radicais têm para dizer? Penso que não! Preferem uma fé fraca, ambígua, acomodada, derrotada e sem coragem. Preferem a dúvida à verdade e a lama à água cristalina.

Os jovens católicos que ainda resistem, os stick in the mud como diz Kenneth Clark, ficam com o insólito momento de observar cegos pastores a guiar aleijadas ovelhas para o abismo. Órfãos, teremos que ir aos alfarrabistas, ao OLX e ao ebay procurar livros velhos que nos ensinem as tradições apostólicas, que vão sendo abandonadas. Muito precisamos do radicalismo dos Santos, ou do chicote do Senhor, nestes nossos tristes dias. É uma guerra de gerações a que vivemos e infelizmente quem manda são os filhos dos loucos anos 60. A nós jovens resta-nos esperar pacientemente nas catacumbas por novos ventos, salvar a nossa alma e estudar, para quando chegar o tempo certo restaurar mais uma vez a Esposa do Senhor.

Miguel P. Silva


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