quinta-feira, 6 de setembro de 2018

O problema da Pedofilia está na Igreja, ou na sociedade?!

Curiosamente, quando se faz uma pesquisa na Internet relativamente ao problema da Pedofilia, o Google indica centenas de páginas de notícias sobre os escândalos na Igreja Católica, numa desproporção completa relativamente às estatísticas e à necessidade de informação sobre o assunto. O jornal O Público de hoje (25/08/2018) enche algumas páginas sobre os 4 casos de Pedofilia de clérigos portugueses ao longo de algumas dezenas de anos. Desses quatro, comprovadamente pedófilos, uns foram condenados por aliciamento, isto é, não chegaram ao acto. Um deles era estrangeiro e fugiu para a sua terra. Em seguida preenche mais uma página colocando novamente em dúvida a prática do celibato na Igreja. Ora, num país como o nosso em que a mesma imprensa noticia que existe um caso de abuso de menores a cada dois dias[1], parece que a Igreja deve ser estatisticamente e de longe uma das reincidentes mais raras no grande rol de situações familiares e profissionais da nossa sociedade… 

De facto, a cada dois anos surgem mais de 500 casos de actos maliciosos praticados contra menores, segundo um trabalho muito interessante realizado pela Universidade de Coimbra[2]. O que significa que a cerca de 5 000 casos perpetrados em Portugal, menos de 2 foram cometidos por Clérigos… A sociedade tem razão em condená-los? Sim, sem dúvida, pois é dever do Sacerdote ser santo e exemplo, e como tal devem exigir-lhe muito mais do que a uma pessoa comum, deve ser julgado e condenado caso se prove a sua culpa por algo que é proibido pela Lei de Deus e vai sendo proibido, não globalmente, pela lei dos homens. Por isso, a condenação exemplar dos culpados uma vez reunidas as provas. Também a posição da Igreja  deve ser transparente e justa, e o Papa Francisco tem feito um esforço, nem sempre compreendido ou apoiado, nesse sentido. O que não se entende é a mediatização massiva do assunto como se este fosse um problema da Igreja e não da sociedade como um todo.

A primeira coisa a ter em conta é que os sacerdotes não desceram da Lua. Não são Marte ou de Plutão. São seres de carne e osso, e não vieram de desertos, ou de lugares isolados, mas do seio da sociedade em que vivemos hoje. Eles viram os mesmos programas de televisão cheios de violência e sexo, tiveram acesso fácil às mesmas páginas de internet que o comum dos cidadãos, estão expostos diariamente como qualquer pessoa à tentação e à dificuldade, ao assédio e ao permissivismo. Fazem parte de uma mesma geração que condenou qualquer autoridade, inclusive moral, a partir do Maio de 68. 

Numa sociedade que exalta a homossexualidade com as suas marchas e o seu orgulho, que naturalizou o que antes era antinatural, e criminalizou quem pensa o contrário. Uma sociedade que colocou como modelo de perfeição estética uma espécie de perpétuos adolescentes, um homem e uma mulher sem pelos, joviais, pele esticadinha, carinha de bonequinhos e bonequinhas, com proporções por vezes idênticas às das estátuas das divindades gregas, aliás, tempos de grande permissivismo em matéria de Pedofilia onde crianças de 4 e 5 anos eram vendidas para prazer e perversão dos seus donos. 

A Igreja Católica foi a que mais combateu tudo isso e levou dignidade à criança e à mulher desde a Antiguidade. Se estamos a voltar ao paganismo, talvez seja na mesma medida em que o mundo se afasta da influência da Igreja e volta às delícias e prazeres como fim último desta vida. Não é a Igreja que está podre, mas esta sociedade, que ainda recentemente viu na França a descriminalização do acto sexual com o menor, seja de que idade for, desde que ele seja conivente com a prática,[3] aliás, questão já muito aberta em grande número de países e reivindicada a cada Marcha Gay…

Mas vamos a números e a dados concretos segundo esse trabalho da Universidade de Coimbra e outros estudos.[4] Mais de 60% dos casos de abusos a menores é realizado por parentes, dentro de casa. E grande parte destes abusos é levado a cabo pelos padrastos das pobres vítimas… Curioso, porque a imprensa não divulga os desastres provocados pelas famílias redesenhadas, ou condena com a mesma veemência com que o faz com a Igreja as separações familiares, o amor livre e a infidelidade conjugal??! 

E por que razão numerosos artigos são escritos em vista de acabar com o celibato dos padres, sendo que a maior percentagem de abusos é de pessoas com vida sexual activa e com parceiros, entre estes, 1/3 são homossexuais? Porque não se pensa em acabar com o permissivismo e laxismo ao qual chegámos na nossa sociedade em termos de acesso à imoralidade e ao amor livre? Porque não se faz a apologética da família una, tradicional? 

Respondo: porque não se quer acabar com o mal pela raiz, apenas achincalhar com a Igreja. Na Igreja não se encontra o problema da pedofilia, mas a solução, na medida em que aquilo que sempre recomendou e ensinou, está muito longe do coração dos homens e mulheres de hoje. Este é o momento das pessoas aproximarem-se de Deus, e não afastarem-se Dele com o pretexto dos escândalos que saem a público. A percentagem de médicos pedófilos é muito maior do que a dos padres, mas não é por isso que vamos deixar de ir ao médico ou colocar em causa os médicos honestos ou mesmo a medicina. 

Da mesma forma, não é coerente colocar em causa Deus, ou a partir de muito poucos que tão mal se portam, condenar a Igreja ou colocar sob suspeita toda uma maioria coerente com a sua vocação e que desenvolve trabalhos excelentes, bem conhecidos pela sociedade que os rodeia e que se beneficia, mas pouco divulgados pela imprensa que vai atrás somente daquilo que vende: escândalos e sensacionalismo.

P. José Victorino de Andrade in Aportes da Igreja
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[1] Cunha, Secundino (2006), “Uma criança abusada em cada dois dias”. Página consultada em 20 de Janeiro de 2006. Disponível em: http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=188613&idCanal=181 Apud FONTES, Ivo. Abuso Sexual de Menores. Coimbra: Universidade de Coimbra, 2006.

[2] Disponível em: http://www4.fe.uc.pt/fontes/trabalhos/2005027.pdf

[3] Ver http://www.lefigaro.fr/actualite-france/2018/08/03/01016-20180803ARTFIG00271-consentement-sexuel-la-loi-ne-pose-pas-de-limite-d-age.php

[4] Um texto muito interessante e pormenorizado sobre isto foi escrito por Mons. João Dias, no qual também baseio alguns parágrafos deste artigo, disponível em: http://www.presbiteros.org.br/a-igreja-e-imaculada-e-indefectível


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1 comentário:

Voris disse...

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