terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Resoluções de Ano Novo: Recuperar o tempo perdido

I. Um dia de balanço. O nosso tempo é breve. É parte muito importante da herança recebida de Deus.


II. Acto de contrição pelos erros e pecados que cometemos neste ano que termina. Acção de graças pelos muitos benefícios recebidos.


III. Propósitos para o ano que começa.


I. HOJE É UMA BOA OCASIÃO para fazermos um balanço do ano que passou e fixarmos propósitos para o ano que começa. É uma boa oportunidade para pedirmos perdão pelo que não fizemos, pelo amor que nos faltou; um bom momento para agradecermos a Deus todos os benefícios que nos concedeu.

A Igreja recorda-nos que somos peregrinos. 

A nossa vida também é um caminho cheio de tribulações e de “consolos de Deus”. Temos uma vida no tempo, na qual nos encontramos agora, e outra para além do tempo, na eternidade, para a qual nos encaminha a nossa peregrinação. O tempo de cada um é uma parte importante da herança recebida de Deus; é a distância que nos separa do momento em que nos apresentaremos diante de Nosso Senhor com as mãos cheias ou vazias.

Só agora, aqui nesta vida, podemos adquirir méritos para a outra. Na realidade, cada um dos nossos dias é um tempo que Deus nos presenteia para enchê-lo de amor por Ele, de caridade para com aqueles que nos rodeiam, de trabalho bem feito, de virtudes e de obras agradáveis aos olhos do Senhor. Este é o momento de amealhar o “tesouro que não envelhece”. Este é, para cada um, o tempo propício, este é o dia da salvação(1). Passado este tempo, já não haverá outro.

O tempo de que cada um de nós dispõe é curto, mas suficiente para dizer a Deus que o amamos e para concluir a obra de que o Senhor nos encarregou a cada um. Por isso São Paulo nos adverte: Vivei com prudência, não como néscios, mas como sábios, aproveitando bem o tempo(2), pois em breve vem a noite, quando já ninguém pode trabalhar(3). “Verdadeiramente, é curto o nosso tempo para amar, para dar, para desagravar. Não é justo, portanto, que o malbaratemos nem que atiremos irresponsavelmente este tesouro pela janela fora. Não podemos desperdiçar esta etapa do mundo que Deus confia a cada um de nós”(4).

A brevidade do tempo é um contínuo convite para que tiremos dele o máximo rendimento aos olhos de Deus. Hoje, na nossa oração, podemos perguntar-nos se Deus está contente com a forma como vivemos o ano que passou: se foi bem aproveitado ou, pelo contrário, foi um ano de ocasiões perdidas no trabalho, na acção apostólica, na vida familiar; se fugimos com frequência da Cruz, porque nos queixávamos facilmente ao depararmos com a contrariedade e com o inesperado.

Cada ano que passa é um apelo para que santifiquemos a nossa vida diária e um aviso de que estamos um pouco mais perto do encontro definitivo com Deus. Não nos cansemos de fazer o bem, pois a seu tempo colheremos, se não desfalecermos. Por conseguinte, enquanto dispomos de tempo, façamos o bem a todos(5).

II. AO EXAMINAR-NOS, é fácil que verifiquemos ter havido, neste ano que termina, omissões na caridade, pouca laboriosidade no trabalho profissional, mediocridade espiritual consentida, pouca esmola, egoísmo, vaidade, faltas de mortificação na comida, graças do Espírito Santo não correspondidas, intemperança, mau humor, mau génio, distracções mais ou menos voluntárias nas nossas práticas de piedade... São inumeráveis os motivos para terminarmos o ano pedindo perdão a Deus, fazendo actos de contrição e de desagravo. Olhamos para o tempo que passou e “devemos pedir perdão por cada dia, porque cada dia ofendemos”(6). Nem um só dia escapou a essa realidade: foram muitas as nossas falhas e os nossos erros.

No entanto, são incomparavelmente maiores os motivos de agradecimento, tanto no campo humano como no espiritual. Foram incontáveis as moções do Espírito Santo, as graças recebidas no sacramento da Penitência e na Comunhão eucarística, as intervenções do nosso Anjo da Guarda, os méritos alcançados ao oferecermos o nosso trabalho ou a nossa dor pelos outros, as ajudas que nos prestaram. Pouco importa que agora só percebamos uma pequena parte dessa realidade. Agradeçamos a Deus todos os benefícios recebidos ao longo deste ano.

“É essencial conseguirmos novas forças para servir, e que procuremos não ser ingratos, porque o Senhor nos dá essas forças com essa condição; e se não usarmos bem do tesouro e do grande estado em que Ele nos coloca, voltará a tomá-los e ficaremos muito mais pobres, e Sua Majestade dará as jóias a quem as faça brilhar e as aproveite para si e para outros. Pois como poderia aproveitá-las e gastá-las generosamente quem não percebe que está rico? No meu modo de ver, é impossível, de acordo com a nossa natureza, que tenha ânimo para coisas grandes quem não pense estar favorecido por Deus; porque somos tão miseráveis e tão inclinados às coisas da terra, que, na verdade, mal poderá rejeitar todas as coisas daqui de baixo, com grande desprendimento, quem não perceba que tem algum penhor do além”(7).

Temos de encerrar o ano pedindo perdão por tantas faltas de correspondência à graça, pelas inúmeras vezes em que Jesus se pôs ao nosso lado e não fizemos nada para vê-lo e o deixamos passar; e, ao mesmo tempo, encerrá-lo agradecendo a Deus a grande misericórdia que teve connosco e os inumeráveis benefícios, muitos deles desconhecidos por nós mesmos, que Ele nos proporcionou.

III. NESTES ÚLTIMOS DIAS do ano que termina e nos primeiros do que se inicia, desejaremos uns aos outros que tenham um bom ano. Ao porteiro, ao farmacêutico, aos vizinhos..., dir-lhes-emos 'Feliz Ano Novo!' ou coisa parecida. Ouviremos outras tantas pessoas desejar-nos o mesmo e lhes agradeceremos.

Mas o que é que muita gente entende por 'Feliz Ano Novo'? “É, certamente, que vocês não sofram no novo ano nenhuma doença, nenhuma pena, nenhuma contrariedade, nenhuma preocupação, antes pelo contrário, que tudo lhes sorria e lhes seja favorável, que ganhem muito dinheiro e não tenham que pagar muitos impostos, que os salários aumentem e o preço dos artigos diminua, que o rádio lhes dê boas notícias todas as manhãs. Em poucas palavras, que não experimentem nenhum contratempo”(8).

É bom desejar estes bens humanos para nós mesmos e para os outros, se não nos separam do nosso fim último. O novo ano nos trará, em proporções desconhecidas, alegrias e contrariedades. Um ano bom, para o cristão, terá sido aquele em que tanto umas como outras lhe serviram para amar um pouco mais a Deus. Ano bom para o cristão não terá sido aquele que veio carregado – na hipótese de que isso fosse possível – de uma felicidade natural à margem de Deus. Ano bom terá sido aquele em que servimos melhor a Deus e aos outros, ainda que do ponto de vista humano tenha sido um completo desastre. Pode ter sido, por exemplo, um ano bom aquele em que apareceu a grave doença tantos anos latente e desconhecida, se soubemos santificar-nos com ela e com ela santificar aqueles que estavam à nossa volta.

Qualquer ano pode ser “o melhor ano” se aproveitarmos as graças que Deus nos reserva e que podem converter em bem a maior das desgraças. Para este ano que começa, Deus preparou-nos todas as ajudas de que necessitamos para que seja “um ano bom”. Não desperdicemos nem um só dos seus dias. E quando chegar a queda, o erro ou o desânimo, recomecemos imediatamente. Em muitos casos, através do sacramento da Penitência.

Que todos tenhamos “um bom ano novo”! Oxalá possamos apresentar-nos diante do Senhor, no fim deste ano que começa, com as mãos cheias de horas de trabalho oferecidas a Deus, de empenho apostólico junto dos nossos amigos, de incontáveis pormenores de caridade para com aqueles que nos rodeiam, de muitas pequenas vitórias, de encontros irrepetíveis na Comunhão...

Façamos o propósito de converter as derrotas em vitórias, recorrendo a Deus e começando de novo. E peçamos à Virgem Maria, nossa Mãe, a graça de viver este ano que se inicia lutando como se fosse o último que o Senhor nos concede.

Francisco Fernandez Carvajal

(1) 2 Cor 6, 2; (2) Ef 5, 15-16; (3) Jo 9, 4; (4) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 39; (5) Gál 6, 9-10; (6) Santo Agostinho, Sermão 256; (7) Santa Teresa, Vida, 10, 3; (8) Georges Chevrot, O Evangelho ao ar livre.


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