sábado, 28 de agosto de 2021

Quem és tu, meu Deus?

Santo Agostinho, além de um dos maiores santos de todos os tempos, foi um dos melhores escritores da História da Humanidade. As suas "Confissões" relatam - com toda a eloquência que o génio humano consegue atingir - a história de alguém apaixonado por Deus. Logo no início, no capítulo I, o santo pergunta "Quem és tu, meu Deus?", dando, em seguida, a resposta: 

Altíssimo, boníssimo, poderosíssimo, omnipotente ao extremo; 
misericordiosíssimo, mas extremamente justo; 
misteriosíssimo, mas sempre presente; 
belíssimo, mas extremamente forte; 
estável, mas incompreensível; 
imutável, mas mudando tudo; 
nunca novo, nunca velho; 
tudo renovando e envelhecendo os orgulhosos, que não se dão conta disso; 
sempre actuando, sempre em repouso; 
sempre acumulando, sem precisar de nada; 
sustentando, enchendo e sempre te espalhando; 
criando, nutrindo e amadurecendo; 
buscando, mas tendo tudo. 

Tu amas, mas sem paixão; 
és zeloso, sem ansiedade; 
arrependes-te mas não te afliges; ficas irado, mas sereno; 
mudas as tuas obras, mas o teu propósito não muda; 
recebes de volta o que encontras, sem nunca tê-lo perdido; 
nunca estás necessitado, mas os lucros de alegram; 
jamais cobiças, mas cobras juros. 

Tu recebes mais do que o devido, para que possas dever; 
e quem tem o que quer que seja que não seja teu? 

Tu pagas dívidas, sem nada dever; 
perdoas dívidas, sem nada perder! 

E o que acabei de dizer, meu Deus, minha vida, minha alegria?

Santo Agostinho de Hipona in 'Confissões' (I, 4)


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