segunda-feira, 15 de julho de 2019

Situação da liturgia tradicional no mundo no final de 2018

A Paix liturgique tem-se comprometido a publicar todos os anos um balanço do desenvolvimento da missa tradicional no mundo. O balanço deste ano divide-se pela primeira vez em três partes:

- A primeira parte apresenta um panorama das celebrações em todo o mundo;
- A segunda está consagrada aos sacerdotes que celebram esta liturgia;
- A terceira tenta fornecer dados sobre os fiéis que se mostram favoráveis a estas mesmas celebrações.

Pedimos, por isso, a Christian Marquant que respondesse às nossas perguntas, uma vez que foi quem apresentou este estudo durante as quintas jornadas Summorum Pontificum realizadas em Roma, a 29 de Outubro de 2018.

Q –Neste nosso primeiro encontro, trataremos das missas tradicionais que se celebram pelo mundo: o que nos pode dizer a este propósito?

Christian Marquant – Antes de responder, gostaria de fazer duas observações indispensáveis para bem se compreender o que vou dizer.

Desde logo, o que este ano começámos nunca se fez de maneira tão completa, mas, apesar de todo o rigor que empregámos na realização deste trabalho, é perfeitamente possível que tenhamos cometido erros ou esquecido certos elementos.

Assim, agradecemos desde já a todas as pessoas que possam fazer-nos chegar as suas observações e correcções, sendo nosso desejo poder publicar no final de 2019, por ocasião dos 50 anos do Novus Ordo Missae, um balanço mais completo e mais exacto do que aquele que apresentámos para 2018.

Voltando agora à sua questão, faria notar em primeiro lugar que 49 anos volvidos sobre a pretensa interdição da missa tradicional, esta é hoje celebrada, e regularmente, nos cinco continentes: na Europa e na América, claro está, mas também na Ásia, em África e na Oceânia, um desenvolvimento inimaginável meio século atrás.

Q – Poderia dar-nos alguns números?

Christian Marquant – O mais importante é o facto de se constatar que, agora, a missa tradicional é celebrada regularmente; no final de 2018, era-o em mais de 80 países, sem contar as províncias ou departamentos ultramarinos de países como a França.

No entanto, importa fazer notar desde já que, sendo embora verdade que a missa tradicional é celebrada hoje em 80 países, é evidente que esta cifra ainda cobre diferenças flagrantes e disparidades gigantescas: como comparar a França, onde os lugares de celebração ultrapassam os 400, com a Eslovénia, onde, tanto quanto sabemos, a missa tradicional é apenas celebrada numa única igreja ... ou então, comparar os Estados Unidos, onde as celebrações são ainda mais numerosas do que em França, com um país como o Zimbabwe!

Todavia, aquilo que quisemos pôr em realce foi a progressão universal dum fenómeno que não é nem um estilo nem um assunto franco-francês, como tanto se gostava de repetir por entre os inimigos do estabelecimento da paz na liturgia.

Q – Qual é a situação na Europa?

Christian Marquant – A Europa é um caso quase único. Pois aí, a missa celebra-se em todos os países de tradição católica, e hoje em dia, até mesmo naqueles de tradição protestante, e a confirmção encontrá-la-á na lista que deixamos em nota (1).

Q – E na América?

Christian Marquant – Aproxima-se daquela da Europa, pois também nesse continente, a missa tradicional se celebra quase em todo o lado, exceptuando a Venezuela, cuja situação social e política tão particular é bem conhecida, e exceptuando ainda um certo número de países das Antilhas, que, pela sua escassa população, ainda não foram considerados (2).

Q – E a situação em África?

Christian Marquant – A África é, sem dúvida, o continente menos tocado pelo fenómeno da missa tradicional, mas, ainda assim, a lista dos países onde a mesma é celebrada não é negligenciável (3). Mas, falar deste continente obriga-me a assinalar a excepcional e exemplar obra missionária aí levada a cabo pela Fraternidade São Pio X, que conseguiu aí estabelecer poderosos focos de tradição litúrgica em países pobres ou pouco povoados. Estes focos serão, muito em breve, não cabe dúvida, importantes centros prontos a provocar, nos próximos anos, um forte abrasamento nessas regiões. E este movimento continua em marcha, por meio das frequentes viagens missionárias dos sacerdotes dos priorados africanos, sempre à escuta dos pedidos, que conquanto possam não ser para grupos importantes, são ainda assim numerosos e deixam prever que daqui a vinte anos, toda a África será tocada pela liturgia tradicional.

Q – A Ásia?

Christian Marquant – A imensa Ásia é o parente pobre do mundo tradicional (4). Isto não tem a ver com a liturgia tradicional, mas com o facto de que o mundo asiático é apenas marginalmente católico, com regiões quase exclusivamente constituídas por terras do Islão, ou com regiões, como é o caso da Índia e da China, onde a evangelização, não obstantes esforços enormes e ancestrais, apenas se encontra numa fase ainda balbuciante.

Isso não tolhe que, por entre os católicos asiáticos, a missa tradicional não se esteja a estender, na medida em que a mesma responde a um seu profundo desejo de ao mesmo tempo afirmar a sua plena fé católica e nutrir um sentimento fortíssimo de comunhão com a Igreja universal, tanto no espaço como no tempo, resultados que a missa tradicional realiza.

Q – Por fim, a Oceania.

Christian Marquant – Trata-se de um continente onde a tradição litúrgica se encontra em plena expansão (5), o que se deve quer à presença aí de um importante foco europeu desta tradição quer a um movimento de evangelização que está a crescer graças a esta forma litúrgica. Poderia repetir para o mundo oceânico a mesma observação relativa ao notável trabalho missionário empreendido pela Fraternidade São Pio X, que aqui também se volta para esta região pacífica insular.

Q – Disse que a liturgia tradicional era hoje celebrada em 80 países. Crê que estamos a chegar ao limite territorial do seu desenvolvimento?

Christian Marquant – É certo que na Europa e na América, onde quase todos os países católicos já são tocados pelo movimento em favor da missa tradicional, o incremento da liturgia tradicional se fará daqui em diante através de crescimentos internos – isto é, pelo aumento dos lugares de culto e pelo desenvolvimento de certas obras como escolas e, de modo crescente, dos próprios seminários – mais do que por uma extensão a novos países.

Em contrapartida, as informações ao nosso dispor relativamente a África e à Ásia, levam-nos a crer que, nos anos vindouros, a liturgia tradicional se irá instalar num grande número de países, que hoje não se encontram ainda cobertos, mas onde os fiéis a esperam e se estão já a organizar nesse sentido.

Q – Que nos poderia dizer em jeito de conclusão deste primeiro encontro dedicado à presença da missa tradicional no mundo?

Christian Marquant – Retomaria uma afirmação que me parece ser uma evidência: a missa tradicional não é uma moda, mas é antes, para os católicos latinos, a expressão mais perfeita da lex credendi, ou seja, do seu Credo, especialmente no que toca ao sacrifício eucarístico e à presença real na Eucaristia. «Em França, não conseguimos achar nada de melhor», dizia um político célebre. Pela minha parte, diria: «Há cinquenta anos que se tenta e não se conseguiu achar nada melhor do que a missa tradicional.» Não é assim de espantar que haja cada vez mais sacerdotes e fiéis que se voltam para ela logo que podem. É, pois, de esperar um desenvolvimento absolutamente assinalável ao longo dos próximos anos.

 1/1- Países europeus onde se celebra a missa tradicional

Alemanha, Áustria, Bélgica, Bielorrussia, Croácia, Dinamarca, Espanha, Estónia, Finlândia, França, Hungria, Irlanda, Itália, Vaticano, Letónia, Liechtenstein, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Mónaco, Noruega, Holanda, Polónia, Portugal, República Checa, Reino Unido, Rússia, Eslováquia, Eslovénia, Suécia, Suíça, Ucrânia.

1/2- Países europeus onde não se celebra a missa tradicional

Albânia, Andorra, Bósnia-Herzegovina, Bulgária, Chipre, Grécia, Islândia, Macedónia, Moldávia, Montenegro, Roménia, São Marino, Sérvia.

2/1 -Países americanos onde se celebra a missa tradicional

Argentina, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador,  Guatemala,  Haiti, Honduras,  México, Nicarágua,  Paraguai, Perú, República Dominicana, Trinidade e Tobago, Uruguai, EUA.

2/2 - Países americanos onde não se celebra a missa tradicional

Antígua e Barbuda, Bahamas, Belize, Domínica, Guiana, Jamaica, São Cristóvão e Niéves, São Vicente e Grenadines, Santa Lúcia, São Salvador,  Suriname, Venezuela.

3/1 -Países africanos onde se celebra a missa tradicional

África do Sul, Benin, Camarões, Congo Brazzaville, Costa do Marfim, Gabão, Guiné Equatorial, Ilha Maurícia, Quénia, Reunião, Madagáscar, Nigéria, Uganda, Tanzânia, Zimbabwe.

3/2 - Países africanos onde não se celebra a missa tradicional

Argélia, Angola, Botswana, Burkina Faso, Burundi, Cabo Verde, Comores, Egipto, Eritréia, Etiópia, Gâmbia, Gana, Guiné, Guiné Bissau, Lesoto, Libéria, Líbia, Malawi, Mali, Marrocos, Mauritânia, Moçambique, Namíbia, Niger, República Centro-Africana, República de Djibouti, República Democrática do Congo, Ruanda, São Tomé e Príncipe, Senegal, Seicheles, Sierra Leone, Somália, Sudão, Sudão do Sul, Suazilândia, Chade, Togo,  Tunísia, Zâmbia.

4/1 - Países asiáticos onde se celebra a missa tradicional

Ceilão, China, Coreia, Índia, Indonésia, Israel, Japão, Kazakistão, Malásia, Filipinas, Singapura, Taiwan.

4/2 - Países asiáticos onde não se celebra a missa tradicional

Afeganistão, Arábia Saudita, Arménia, Arzebeijão, Barein, Bangladesh, Birmânia, Butão, Camboja, Emiratos Árabes Unidos, Géorgia, Iraque, Irão, Jordânia, Kirguiquistão, Koweit, Laos, Líbano, Maldivas, Mongólia, Nepal, Oman, Uzbequistão, Paquistão, Palestina, Qatar, Síria, Tajiquistão, Tailândia, Turquia, Vietnam, Yémen.

5/1 -Países oceânicos onde se celebra a missa tradicional

Austrália, Fiji, Nova Zelândia (a que cabe juntar os territórios franceses da Nova Caledónia e da Polinésia).

5/2 - Países oceânicos onde não se celebra a missa tradicional

Brunei, Estados Federados da Micronésia, Ilhas Marshall, Kiribati, Nauru, Palaos, Papúa Nova Guiné, Salomão, Samoa, Timor Leste, Tonga, Trinitá e Tobago, Tuvalu, Vanuatu.

Carta 96 da Paix Liturgique em Português


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