Começa hoje o Advento, que antecede o tempo de Natal:
1. Prioridade dos ciclos
A formação do Ano Litúrgico teve início pelas festas de Páscoa e Pentecostes. Só mais tarde acrescentou-se o Ciclo do Natal.
2. Natureza do ciclo do Natal
O ciclo principia pelo Advento (= vinda), que abrange 4 semanas de preparação. As festas centrais deste ciclo são o dia de natal de N. S. Jesus Cristo e a Epifania. A Epifania é mais antiga e liturgicamente superior (2i. ordinis), o Natal, porém, (3i. ordinis) tem a prioridade nos Mistérios do Redentor e dá o nome ao ciclo. Objeto deste ciclo é a aparição de Cristo na gruta, na circuncisão, perante os magos, perante os discípulos em Caná, perante o povo no Jordão, perante Simeão no templo, perante os doutores (Dom. inf. oct. Ep.)
3. História do Advento
Em Espanha, já o Sínodo de Saragoça (380) [1º Concílio de Saragoça; ao todo, foram quatro] prescreveu 3 semanas de preparação para a Epifania, em que se celebrava outrora o Natal de Cristo. Em Tours, o Bispo Perpétuo (+ 491) ordenou 6 semanas de preparação para o Natal em 25 de Dezembro. Em Roma, o Advento é mencionado no [Decreto] Gelasiano (fins do século V). Os Domingos do Advento foram, por muito tempo, em alguns lugares, cinco; ainda hoje no Rito Ambrosiano são seis; em Roma, quatro, desde o V século. O Rito Grego não conhece o Advento, mas sim um jejum de 40 dias.
O Advento começa no Domingo próximo da festa de Santo André (30 de Novembro). Se a festa ocorre na primeira metade da semana, o Advento começa na festa ou no Domingo precedente, do contrário, no seguinte. A razão mística pela qual Santo André introduz o Ano Eclesiástico é o seu empenho em conduzir seu irmão Pedro a Nosso Senhor. A razão natural é o cálculo das 4 semanas do Advento. Este não poderia começar a 26 de Novembro, porque seriam mais do que 4 semanas (29 dias), nem a 4 de Dezembro, porque seriam menos que 4 semanas até a festa de Natal. Só o dia 30 de Novembro regula o cálculo litúrgico entre 27 de Novembro e 3 de Dezembro.
4. Carácter do Advento
1) É o tempo da preparação para o aniversário da vinda do Salvador, causa de novas graças. Pois só a esta se pode aplicar o invitatório nas vésperas de 24 de Dezembro: Hodie scietis, guia veniet Dominus et mane videbitis gloriam ejus, repetido várias vezes; a antífona: Crastina die delebitur iniquitas terrae; em 21 de Dezembro, a antífona: Quinta die veniet ad vos Dominus.
Esta ideia manifesta da vinda do Redentor inspira toda a Liturgia do Advento.
No 1º Domingo do Advento, o Senhor está longe. A antífona das primeiras vésperas é: Nomen Domini venit de longínquo; Aspiciens a longe. (1° Resp.); Prope est regnum Dei. (Evang.)
No 2° Domingo: O desejo da Igreja é mais ardente, quase impaciente: Jerusalem, cito veniet salus tua, quare mcerore consumeris. (1.° Resp.) Tu es, qui venturas es. (Evang.)
No 3° Domingo Gaudete: Prope est iam Dominus. (Invit.) Alegrai-vos. Pois o Senhor já está perto. Gaudete, Dominus enim propeest. (Capit.) Medias vestrum stetit. (Evang.)
No 4.° Domingo: Pulchriores sunt oculi eius vino et dentes eius lacte candidiores (2° Resp.); Videbit omnis caro salutare Dei. (Evang.) Depois os textos do dia 21-24 de Dezembro.
2) 0 Advento é o tempo de preparação para a segunda vinda de Jesus Cristo, como muitos textos o provam, mas só em segundo lugar. Os hinos nas matinas, laudes e vésperas mencionam primeiro o Nascimento de Jesus, em segundo lugar o Último Juízo, do mesmo modo a oração da vigília.
3) Na Liturgia encontramos continuamente os dois elementos: penitência e alegria.
a) Os sinais de penitência: no ofício do tempo, não se canta Te Deum; rezam-se as preces feriais; Missa sem Glória, com paramentos roxos, sem órgão, ornato simples do altar; o diácono e o subdiácono não usam dalmática nem tunicela (vestimenta laetitiae: Pontif.); em lugar delas usa-se o estolão para o diácono, nas igrejas maiores; e as igrejas paroquiais, quanto a este efeito, são igrejas maiores (d. 3352 ad 7); nas outras, o diácono e subdiácono vestem só alva, estola e manípulo. (Miss. rubr. XIX, 6, 7.)
b) Os sinais de alegria são: sempre aleluia; o vivo desejo do Redentor nas antífonas ad laudes nos domingos e na última semana; as antífonas O ad vesperas; no Domingo Gaudete, em que os paramentos podem ser cor de rosa, é permitido o órgão e o uso da dalmática e da tunicela.
4) As regras litúrgicas mencionadas obrigam só nas funções litúrgicas do tempo, não obrigam porém nem nas festas nem nas funções extra-litúrgicas, p. ex., devoções e bençãos.
5. O Advento é símbolo do tempo antes do Nascimento de Jesus Cristo. Os suspiros: Rorate, caeli, desuper et nubes pluant Iustum (Is 45, 8) e numerosas aspirações distribuídas por todas as partes do Ofício e da Missa claramente provam-no.
6. O uso do Presépio, antigamente muito espalhado no Brasil, merece ser preferido ao da árvore de natal, que é ornada também pelos incrédulos e pagãos modernos.
7. Entre os sinais de alegria deve-se contar o culto especial da SS. Virgem, devido a Ela, como Mãe do Menino Deus. Nos responsórios e antífonas é Ela muitas vezes mencionada; a oração de Beata está prescrita como comemoração comum, e em muitos lugares cantam-se as Missas: Rorate. Durante o tempo do Advento, ocorrem duas festas solenes com as suas oitavas.
a. Imaculada Conceição, a 8 de Sezembro, em honra de Maria, concebida sem pecado.
Os primeiros vestígios desta festa encontram-se no Oriente, em meados do século VIII, no Ocidente, no século IX, em Nápoles; na Inglaterra, pelo ano 1100, já se encontra com o nome de "Conceição da B. V. Maria". Espalhou-se rapidamente. Papa Sixto V, O.F.M., a introduziu no Calendário Romano. Papa Clemente IX (+ 1670) acrescentou a oitava. Papa Pio IX, com imenso júbilo de todos os fiéis, definiu em 1854 o Dogma da Imaculada Conceição e elevou a festa a dia santo de guarda.
b. Nossa Senhora de Guadalupe, no México, Padroeira da América Latina, a 12 de Dezembro; antigamente a 26 de Fevereiro.
Em 1531, Maria SS. apareceu a um índio mexicano, João Diogo, e o encarregou de pedir ao Bispo que mandasse construir um santuário em honra dela. Como o prelado desejasse uma prova da veracidade da mensagem, Maria Santíssima apareceu a Diogo outra vez, entregando-lhe rosas lindíssimas, apesar do inverno, tempo em que não havia flores. Na capa, em que as levou ao bispo, apareceu pintada a imagem da Mãe de Deus tal qual Diogo a tinha visto. Foi prova suficiente para se reconhecer que a mensagem era genuína. Erigiu-se um templo magnífico.
Pe. João Batista Reus SJ in 'Curso de Liturgia' (Artigo I. Ciclo de Natal. § 67 - O Advento)
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