Não obstante o seu progresso técnico, o mundo onde vivemos, em última análise – ao que parece – não se tem tornado melhor. Existem ainda guerras, terror, fome e doença, pobreza extrema e desalmada repressão. E mesmo aqueles que, na história, se consideraram «portadores de luz», mas sem ter sido iluminados por Cristo que é a única verdadeira luz, não criaram paraíso terrestre algum, antes instauraram ditaduras e sistemas totalitários onde até a mais pequena centelha de humanismo foi sufocada.
Neste ponto, não devemos calar o facto de que o mal existe. Vemo-lo em tantos lugares deste mundo; mas vemo-lo também – e isto assusta-nos – na nossa própria vida. Sim, no nosso próprio coração, existe a inclinação para o mal, o egoísmo, a inveja, a agressividade. Com uma certa autodisciplina, talvez isto se possa, em certa medida, controlar. Caso diverso e mais difícil se passa com formas de mal mais escondido, que podem envolver-nos como um nevoeiro indefinido, tais como a preguiça, a lentidão no querer e no praticar o bem.
Repetidamente, ao longo da história, pessoas atentas fizeram notar que o dano para a Igreja não vem dos seus adversários, mas dos cristãos tíbios. «Vós sois a luz do mundo». Só Cristo pode dizer «Eu sou a luz do mundo»; todos nós somente somos luz, se estivermos naquele «vós» que, a partir do Senhor, se torna incessantemente luz. E, tal como o Senhor, num sinal de advertência, diz do sal que poderia tornar-se insípido, assim também nas palavras sobre a luz Ele incluiu uma pequena advertência: em vez de colocar a luz num candelabro, pode-se cobri-la com um alqueire.
Perguntemo-nos: quantas vezes teremos coberto de tal modo a luz de Deus com a nossa inércia, com a nossa obstinação, que ela não pôde brilhar, por nosso intermédio, no mundo?
Papa Bento XVI in Vigília de Oração com os Jovens na Viagem Apostólica a Alemanha (Setembro 2011)
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