Carta
do Pe. Davide Pagliarani, Superior Geral da Fraternidade Sacerdotal de São Pio
X, dirigida a todos os fiéis confinados aos seus lares e que não têm agora
acesso à Santa Eucaristia, devido à epidemia do corona vírus.
Caríssimos fiéis,
Neste momento de provação,
certamente difícil para todos vós, gostaria de vos dirigir algumas palavras.
Não sabemos quanto tempo
durará a situação actual, nem, sobretudo, como as coisas evoluirão nas próximas
semanas. Diante dessa incerteza, a tentação mais natural seria procurar
desesperadamente garantias e explicações nos comentários e hipóteses dos mais
instruídos “especialistas”. Muitas vezes, no entanto, essas hipóteses – abundantes por todos os lados – contradizem-se e aumentam a
confusão, em vez de trazer um pouco de serenidade. Sem dúvida que a incerteza é
parte integrante desta prova. Cabe-nos saber como tirar proveito disso.
Se a Providência permite
uma calamidade ou um mal, sempre o faz para obter um bem maior que, directa ou
indirectamente, incide sempre nas nossas almas. Sem essa premissa essencial,
corremos o risco de desesperar, porque uma epidemia, uma outra calamidade
ou qualquer provação nunca nos encontrarão suficientemente preparados.
Neste ponto, o que Deus
quer que entendamos? O que Ele espera de nós nesta Quaresma em particular,
quando Ele parece ter decidido quais os sacrifícios devemos fazer?
Um simples micróbio é capaz
de colocar a humanidade de joelhos. Na era das grandes conquistas tecnológicas
e científicas, é, sobretudo, o orgulho humano que ele coloca de joelhos. O
homem moderno, tão orgulhoso das suas realizações, que instala cabos de fibra
óptica no fundo dos oceanos, constrói porta-aviões, centrais nucleares,
arranha-céus e computadores, que depois de pisar a lua continua a sua conquista
até Marte, este homem é impotente diante de um micróbio invisível.
O alvoroço mediático nos
últimos dias e o medo que podemos ter disso não nos devem fazer perder esta
lição profunda e fácil de entender, para os corações simples e puros que examinam
com fé os dias actuais. A Providência ainda hoje ensina por meio de eventos. A
Humanidade – e cada um de nós – tem a oportunidade histórica de retornar à
realidade; à realidade e não ao virtual, composto de sonhos, mitos e ilusões.
Traduzida em termos
evangélicos, esta mensagem corresponde às palavras de Jesus que nos pede para
permanecermos unidos, o mais próximo possível, a Ele, porque sem Ele nada
podemos fazer ou resolver, seja qual for o problema (cf. Jo 15, 5). Os nossos
tempos incertos, a expectativa de uma solução, o sentimento do nosso desamparo
e da nossa fragilidade devem encorajar-nos a procurar Nosso Senhor,
implorar-Lhe, pedir o Seu perdão, rezar-Lhe com mais fervor e, acima de tudo,
abandonarmo-nos à Sua Providência.
A isto acresce a
dificuldade, ou mesmo, a impossibilidade de participar livremente da Santa
Missa, o que aumenta a dureza desta provação. Mas resta, nas nossas mãos, um
meio privilegiado e uma arma mais poderosa do que a ansiedade, a incerteza ou o
pânico que podem causar a crise do corona vírus: trata-se do Santo Rosário, que
nos liga à Santíssima Virgem e ao Céu.
Chegou a hora de rezar o
rosário nas nossas casas de forma mais sistemática e com mais fervor do que o
habitual. Não percamos o nosso tempo diante dos ecrãs e não nos deixemos dominar
pela febre mediática. Se tivermos que observar o confinamento, aproveitemos a
oportunidade para transformar a nossa “prisão domiciliar” numa espécie de feliz
retiro familiar, durante o qual a oração encontre o seu lugar, o seu tempo e a
importância que merece. Leiamos os Evangelhos por completo, meditemo-los
calmamente, escutemo-los em paz: as palavras do Mestre são as mais eficazes,
porque alcançam facilmente a inteligência e o coração.
Agora não é o momento de
deixar o mundo entrar nos nossos lares, agora que as circunstâncias e as acções
das autoridades nos separam do mundo! Tiremos proveito dessa situação. Demos
prioridade aos bens espirituais que nenhum germe pode atacar: acumulemos
tesouros no Céu, onde nem os vermes nem a ferrugem o destroem. Pois onde está o
nosso tesouro, ali está também o nosso coração (cf. Mt 6, 20-21).
Aproveitemos a oportunidade
de mudar as nossas vidas, conscientes de como nos abandonar à Providência Divina. E não nos esqueçamos de rezar por aqueles que estão a sofrer neste
momento. Devemos recomendar ao Senhor todos aqueles para quem se aproxima o dia do julgamento, e pedir-Lhe que tenha misericórdia de tantos contemporâneos nossos
que permanecem incapazes de tirar boas lições dos acontecimentos actuais para as suas almas.
Rezemos para que, uma vez
superadas as provações, eles não voltem à sua vida anterior, sem mudar nada. As
epidemias sempre serviram para trazer os tíbios à prática religiosa, ao
pensamento de Deus, à detestação do pecado. Temos o dever de pedir essa graça a
cada um de nossos conterrâneos, sem excepção, incluindo – e acima de tudo – aos
pastores que não têm espírito de fé e que já não sabem discernir a vontade de
Deus.
Não desanimemos: Deus nunca
nos abandona. Saibamos meditar nas palavras cheias de confiança que a nossa Santa
Madre Igreja coloca nos lábios do sacerdote em tempos de epidemia: “Ó Deus que
não quereis a morte, mas a conversão dos pecadores, volvei com bondade ao vosso
povo que se volta para Vós e, enquanto fiel a Vós, livrai-o com misericórdia do
flagelo da Vossa cólera”.
Confio-vos diante do
Altar e à paternal protecção de São José.
Que Deus vos abençoe!
Pe.
Davide Pagliarani +
Sem comentários:
Enviar um comentário