quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Arrependimento e Reparação

Sem uma intervenção de Deus, sem a Sua Graça, somos incapazes de nos arrepender, quando o fazemos é sempre uma resposta a esse maravilhoso e gratuito Dom que Ele nos concede. Esta é uma das razões que nos deve levar a evitar a todo o custo qualquer tipo de pecado, principalmente o grave, mas também o leve ou venial, posto que, como diz a Sagrada Escritura. “quem descuida as pequenas coisas cai insensivelmente nas grandes”. 


De facto, podemos tornar-nos insensíveis à Graça do arrependimento verdadeiro. E não sabemos até quando Deus na Sua infinita Misericórdia e Justiça suportará a nossa dureza de Coração. Estas e outras coisas que a seguir se dirão foram durante séculos objecto de pregação, ensino e meditação. Nos tempos que correm acha-se que a Salvação está no papo e que Deus é um avozinho ternurento incapaz de castigar. Mas esse não é o Deus Bíblico.

 

O arrependimento, a conversão, não consiste somente na dor de ter ofendido a Majestade Divina, mas requer uma mudança de vida disposta a reparar o mal feito (pensamentos, palavras e obras) ou o bem por fazer (omissões). Reparação a Deus, pela falta de correspondência ao Seu Amor, e reparação ao(s) próximo(s). A Deus repara-se pela confissão e Comunhão/adoração Eucarística, e demais orações. Mas em relação ao próximo, exceptuando, casos de impossibilidade, as orações, evidentemente, não bastam.

 

Se eu roubo dinheiro ou preciosidades a outrem, podem dar-me todas as absolvições, que se eu, podendo (e sem necessidade de me denunciar), não restituir o que furtei não sou perdoado. Nem o poder do Vigário de Cristo, como ensina o P. António Vieira, me poderá dispensar da restituição.

 

Do mesmo modo, quem comete actos carnais de impureza com outrem ou o/a tenta nessa mesma matéria, terá de pedir perdão e fazer tudo ao seu alcance para os persuadir à Pureza. A oração e o jejum rigoroso muito podem ajudar nesta purificação e reparação.

 

Alguns dos pecados, às vezes veniais e frequentemente graves, mais cometidos, nos dias de hoje, com uma leviandade assustadora, são os pecados da língua. A intriga, a murmuração, a maledicência, a inconfidencialidade, a insinuação, a difamação, a calúnia, reinam soberanas e impunes. Alguém, nos tempos que correm, ainda se confessará destes pecados? E, no entanto, os seus efeitos são devastadores.

 

Aqui lembro tão só alguns princípios gerais, deixando para outro texto um aprofundamento.

 

1. As conversas privadas são exclusivamente de âmbito privado. Delas não se pode fazer uso com outros.

2. Toda e qualquer pessoa tem direito à honra, ao bom nome e à boa fama.

3. Quem revela um pecado grave oculto (que não é público) comete um pecado grave.

4. Há circunstâncias em que se pode ou mesmo deve declarar algo sobre outrem, a saber, a quem, pelo cargo que exerce, pode e deve ajudar a resolver a situação, ou quando se dá um crime que exige intervenção imediata, ou em caso de aconselhamento espiritual, ou numa necessidade de desabafo urgente, com pessoa que saiba guardar sigilo.

5. A difamação e a calúnia são infames.

6. A intriga e a murmuração são péssimas.

7. O segredo da Confissão é absolutamente inviolável.

8. O que é dito em direcção espiritual é de si mesmo sigilosa, não admitindo comentários nem revelações.

 

Poderia continuar, mas não me quero alongar. Chamo somente a atenção para a necessidade imprescritível de reparação. Por exemplo, repondo o bom nome das pessoas, etc.

 

À honra de Cristo. Ámen.


Padre Nuno Serras Pereira



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3 comentários:

Maria José Martins disse...

Obrigada Senhor Padre pelos seus textos tão claros, coisa rara, nos tempos de hoje.
Gosto essencialmente da maneira SIMPLES e objetiva como chama "às coisas" pelo nome, num tempo em que NADA É PECADO! E, então, a maneira, como tenta catalogá-lo, é uma ajuda fundamental para o nosso Exame de Consciência. Só é pena, que sejamos OBRIGADOS, mais uma vez, a ficar sem o SACRAMENTO da RECONCILIAÇÃO e Outros, por causa do confinamento.

Anónimo disse...

Estamos sempre em falta. Somos sempre pecadores, por mais que queiramos. O Senhor é Amor e nós somos sempre uns ingratos, por mais que façamos.

Se assim é, melhor seria que Deus não tivesse criado esta espécie. É que é pior que a escravatura. Sim, somos livres de obedecer, mas mesmo aí não conseguimos.

Peço desculpa, mas não pega. Ninguém é culpado de ter vindo a este mundo. Eu até agradeceria nunca ter existido.

Maria José Martins disse...

É verdade, caro leitor; "somos sempre servos inúteis!"
E a sua frustração, penso ser a da maioria dos Cristãos, quando não entende a dimensão do Amor que Deus tem por nós, porque está demasiadamente preocupada com o seu EGO. E se falo assim, não é porque não tenha sentido o mesmo, muitas vezes, mas porque penso ter encontrado algumas respostas na vida dos Místicos e, neste momento, na Obra de Maria Valtorta: "O Evangelho como me foi revelado", várias vezes já citada por mim, aqui, neste Blog.
Vou então escrever uma das muitas Passagens que me tocaram. Diz Jesus:" Pilatos, sentado em seu trono, fica-me perscrutando, porque, para ele, Eu sou um enigma; se ele livrasse a sua alma dos cuidados humanos, do orgulho do cargo, do erro do paganismo, logo, compreenderia Quem Eu sou! MAS COMO PODE A LUZ PENETRAR NUM LUGAR, onde há tantas coisas que A impedem?
É sempre assim, Meus filhos. Como pode Deus entrar com a Sua Luz, onde já não há espaço para Ele, pois as portas e as janelas estão barradas, protegidas pela SOBERBA, pela humanidade, pelo vício, pela usura, por tantos e tantos guardas, que estão ao serviço de Satanás?!"
"...Quantos e quantos Pilatos tem este vigésimo Século! Onde estão os HERÓIS do Cristianismo, que diziam SIM à Verdade e NÃO constantemente à MENTIRA? Onde estão os HERÓIS que sabem enfrentar o perigo e os acontecimentos--pensemos na pandemia, fechados em casa, com as igrejas fechadas--com uma FORTALEZA de aço e uma serena PRONTIDÃO, sem adiamentos para que o BEM logo seja feito, e o MAL logo seja evitado, sem SES nem MAS..."
"Quem és Tu?"--perguntais como Pilatos-- Vós sabeis muito bem Quem Eu sou, pois tendes vinte séculos de Cristianismo, que servem de base para a vossa Fé ou para A inculcar...E é a Mim que deveis Adoração e Obediência! Acusais-me de ser Eu o causador de perderdes a Fé, porque não vos escuto; onde está o vosso Amor? Quando é que viveis com Amor e Fé?"
"...Dai-Me pois, aquele Amor e Fé que Me é devido, e Eu vos ouvirei!"
"...A quem Me dá Amor, que é a água que dessedenta os Meus lábios, EU ME DOU A MIM MESMO!"
Deus Premeia SEMPRE, quando vê que sois Fiéis à Justiça, que é uma Emanação de Deus!"

Logo--acho eu--que Deus somente pede ao Homem, QUE SE ESVAZIE de si mesmo e CONFIE, tentando CUMPRIR SEMPRE a Sua Vontade, pois, Segundo Jesus, "a glândula que faz de nós os verdadeiros possuidores da Vida Eterna é o ESPÍRITO, e quanto mais Ele se desenvolver, em Deus, mais possuiremos as LUZES DIVINAS e nos tornaremos possuidores da vida, tal qual, Deus a concebeu para nós, num abraço feliz com a Eternidade, que nos absorve e nos comunica as SUAS PROPRIEDADES!"
Mas, para isso, DEVEMOS ESQUECERMO-NOS DE NÓS PRÓPRIOS e COLOCAR SEMPRE DEUS EM PRIMEIRÍSSIMO LUGAR.