sábado, 8 de novembro de 2025

Quis ut Virgo?

A 16 de Outubro de 1793 aconteceu o que foi talvez o crime mais repugnante da Revolução Francesa: a execução da Rainha de França, Maria Antonieta, após um julgamento-farsa no Tribunal Revolucionário.

Plinio Corrêa de Oliveira escreveu acerca de Maria Antonieta: «Existem certas almas que só são grandes quando as rajadas da desgraça sopram sobre elas. Maria Antonieta, que foi fútil como princesa e imperdoavelmente frívola na sua vida de rainha, diante do turbilhão de sangue e miséria que inundou a França, transformou-se de modo surpreendente; e o historiador verifica, tomado pelo respeito, que da rainha nasceu uma mártir e da boneca uma heroína».

A 21 de Janeiro fora guilhotinado o Rei de França, Luís XVI. O Papa Pio VI, na alocução Quare lacrymae, de 17 de Junho de 1793, reconheceu no sacrifício do soberano «uma morte votada em ódio à religião católica», atribuindo-lhe «a glória do martírio». A mesma glória, podemos dizer, tocou a Maria Antonieta, culpada apenas por representar – com a sua própria presença – o princípio da realeza cristã diante do ódio da Revolução.

O escritor britânico Edmund Burke (1729-1797), num dos mais belos trechos das suas Reflexões sobre a Revolução Francesa (1791), escreve: «Já passaram dezasseis ou dezassete anos desde quando vi pela primeira vez a Rainha de França, então Delfina, em Versalhes, e certamente nunca outra visão mais graciosa visitou esta terra, que ela parecia apenas tocar... Oh! que revolução!... Jamais sonhei viver o suficiente para ver tal desastre abater-se sobre ela numa nação de homens tão galantes, numa nação de homens de honra e cavaleiros. Na minha imaginação via dez mil espadas erguerem-se repentinamente para vingar pelo menos um olhar que a ameaçasse de insulto...»

A 4 de Novembro de 2025, na casa generalícia dos jesuítas, foi apresentado Mater Populi fidelis, uma “nota doutrinal” do Dicastério para a Doutrina da Fé, cujo prefeito é o Cardeal Víctor Manuel Card. Fernández.

O documento conta com oitenta parágrafos, dedicados à «correcta compreensão dos títulos marianos», que pretendem esclarecer «em que sentido certas expressões relativas à Virgem Maria são aceitáveis ou não», colocando-a «na justa relação com Cristo, único Mediador e Redentor».

É com profunda pena que lemos este texto que, por detrás de um tom melífluo, esconde um conteúdo venenoso...

Maria Antonieta representava a realeza terrena, reflexo da divina, mas frágil como tudo o que é humano: o seu trono desabou sob a fúria revolucionária. Maria Santíssima, porém, é Rainha universal – não por direito humano, mas por graça divina. O seu trono não está num palácio, mas no coração de Deus.

«O Altíssimo – afiança São Luís Maria Grignion de Montfort – desceu perfeita e divinamente através da humilde Maria até nós, sem perder nada da sua divindade e santidade. E é por Maria que os pequeníssimos devem subir perfeita e divinamente ao Altíssimo, sem temer coisa alguma».

Os homens podem tentar “decapitá-la”, reduzindo-a a simples mulher, mas Maria permanece Mãe de Deus, Imaculada, sempre Virgem, Assunta ao Céu, Rainha do Céu e da Terra, Corredentora e Mediadora universal de todas as graças...

Edmund Burke lamentava que não existissem dez mil espadas prontas para defender a Rainha Maria Antonieta, «perante um único olhar que a ameaçasse de insulto»... Aos pés do seu trono: «Quem como a Virgem?».

Este texto mantém o estilo e conteúdo original, refletindo desde a execução da Rainha Maria Antonieta até reflexões actuais sobre Maria Santíssima e a recente nota do Dicastério para a Doutrina da Fé sobre os títulos marianos.

Professor Roberto de Mattei in Corrispondenza Romana


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6 comentários:

Anónimo disse...

"Ouvi a palavra de Iahweh, israelitas, pois Iahweh abrirá um processo contra os habitantes da terra, porque não há fidelidade nem amor, nem conhecimento de Deus na terra. Mas perjúrio e mentira, assassínio e roubo, adultério e violência, e o sangue derramado soma-se ao sangue derramado. Por isso a terra se lamentará, desfalecerão todos os seus habitantes e desaparecerão os animais dos campos, as aves dos céus e até os peixes do mar." ( Os. 4, 1-3)

Anónimo disse...

Claro que, para além de horrível e cruel, é um crime repugnante!
Contudo, PARA QUEM RESPEITA, E ACREDITA NAS MENSAGENS DO CÉU, tudo poderia, mais uma vez, ser evitado...
Jesus não tinha pedido a Consagração da França, a Santa Margarida Maria, profetizando, também, a morte do Rei?
E ele , acreditou?
Quando a quis fazer, Jesus respondeu:" Agora, é tarde demais!"
E em La Salette?
Nossa Senhora também não avisou que o coração de Napoleão não era sincero?
Que os Cardeais seriam todos mortos?
E acreditaram?
--Não! E tudo aconteceu!
E na ida para a forca gritavam que eram a favor da liberdade, ao que lhes responderam: Mas a vossa liberdade é diferente da nossa...
Assim, por aqui vemos, como a Igreja não aprende com os erros...
E, perante tanta DESCONSIDERAÇÃO, é caso para dizer: A paciência de Deus é realmente INFINITA, e não Se cansa de nos dar " chances", em cima de " chances", mas a arrogância e falta de Fé de quem nos deveria conduzir é tanta, que não aprende!
-- Que Deus nos defenda e tenha Misericórdia, pois mesmo perante, tanta atrocidade, ainda há quem acredite nesses defensores da liberdade...e os queira seguir!

Anónimo disse...

Quando o Cardeal Victor Manuel Fernandez foi escolhido, pelo Papa Francisco, para um cargo tão imprtante e crucial na Igreja, houve a polêmica que houve, relativamente, às suas ideias avançadas e nada abonatórias à Doutrina Tradicional.
Porém, lá continua...
Começo a acreditar, que a sua nomeação foi tudo menos inocente e que muito mais ainda nos espera!

Anónimo disse...

Quando me referi à profecia de N. S. sobre a morte dos Cardeais foi relativamente à Revolução francesa e não em La Salette, onde N. S. pede Conversão e arrependimento ao mundo mas ao Clero, também.
Peço desculpa.

Anónimo disse...

Meu Deus, por mais que me esforce, não consigo ter paz, depois da última decisão da Igreja, relativamente a Maria, nossa Mãe do Céu!
A confusão está lançada e , como hoje, nem tudo o que é dito na Internet é real, fica sempre a dúvida e a frustração de não entender a VERDADE!
Por isso, na minha ignorância, pois nunca estudei Teologia, fixo-me, apenas, nas revelações místicas de Santos e doutores da Igreja.
Ora, se foram consideradas verdadeiras, ou, pelo menos, NADA de contrário à Fé Católica, nelas se encontrou, não as proibindo, portanto, PORQUÊ desprezá-las? Será que Jesus está a brincar conosco, quando as transmite, e pede para que sejam divulgadas?
Assim, e como nada mais posso fazer, vou somente reescrever alguns extratos tirados da
ÚLTIMA GRANDE OBRA: "O Evangelho, como me foi revelado", de Maria Valtorta, mandada escrever, por ELE, precisamente para nos ILUMINAR, sobre as HERESIAS ATUAIS, reafirmando as SUAS palavras, sobre o tema : Nossa Senhora Corredentora!
Peço perdão, se me vou repetir, mas dado as circunstâncias, nunca é demais.

Diz Jesus:"...quantas coisas não constam no Evangelho, ou transparecem apenas por detrás de espessas cortinas, deixadas cair pelos evangelistas, sobre episódios que, pela inquebrantável mentalidade dos Hebreus, eles não aprovam! Credes vós que conheceis tudo o que Eu fiz?..."
"...Eu vos digo que, se tivessem sido escritas todas as orações, penitências, todas as minhas lições para Salvar uma alma, não chegaria uma das vossas MAIORES Bibliotecas para guarda os livros que falassem sobre Mim.
E, então, Eu vos digo, que seria muito mais útil jogar no fogo TANTA CIÊNCIA INÚTIL, POEIRENTA E VENENOSA, a fim de dar lugar AOS MEUS LIVROS e, assim, ficardes a saber mais de Mim, em vez de idolatrar essa IMPRENSA QUASE SEMPRE SUJA DE SENSUALIDADE E DE HERESIA!..."
"...E àqueles que julgam ser exagerado o Meu Amor por Maria, Eu digo: Maria foi a mulher sem pecado, a mais Santa, depois de Cristo ,sem defeitos, em sua Caridade para com Deus, seus pais, esposo e seu Filho, e para com o próximo...."
"...Maria é a esposa de Deus, Mãe virginal de Deus..."
"... Eu vos digo, Jesus é Deu, e que Deus, Uno e Trino, gozava de todo o conforto em Amar Maria, Aquela que Lhe dava UMA REPARAÇÃO pela dor de TODA a raça humana, Ela era o meio, pelo qual, Deus Se glorificava de novo, da Sua Criação, e que de novo forma, cidadãos para os Céus
E, finalmente considerai que , se TODO o AMOR se torna CULPÁVEL, quando cria uma desordem, isto é, quando vai contra a Vontade de Deus e deixa de cumprir a Sua Vontade..
Maria fez isso?
O Meu Amor fez isso? Será que Ela Me entreteve com um amor egoísta, para que Eu não cumprisse a Vontade de Deus, e terei Eu deixado de A cumprir e renegado a Minha Missão, por um amor desordenado?
--NÃO! Um e outro Amor tiveram o mesmo desejo: QUE SE CUMPRISSE A VONTADE DE DEUS, PARA A SALVAÇÃO DA HUMANIDADE! E a Mãe disse TODOS os adeus ao Filho, e o Filho disse TODOS os adeus à Mãe, para que EU fosse entregue ao magistério público e à CRUZ DO CALVÁRIO. E, assim, a MINHA MÃE foi entregue à solidão e à angústia, PARA QUE FOSSE CORREDENTORA, sem ter em conta a nossa humanidade que se DESPEDAÇAVA PELA DOR; será isso uma fraqueza, um sentimentalismo, ó Homens, que NÃO COMPREENDEIS O AMOR A DUAS VOZES?!"...
E, no decorrer da mesma Obra, Jesus especifica, em pormenor, cada dor, tanto emocional, psicológica e até fisiológica, que Maria sentia, em simultâneo, com Ele!

"...E esta Obra, diz Jesus, tem por finalidade, também, iluminar certos pontos que, por circunstâncias complexas, se cobriram de trevas, dentro do quadro evangélico; pontos escuros que, por vezes, parecem fraturas. e que, no poder de as decifrar está a chave para se compreenderem

Eduardo disse...

O Nestorianismo de regresso! São desnecessárias tantas palavras! A negação de Maria Corredentora é a negação da Theotokos (Mãe de Deus). Enfim, é o regresso, sob a capa do modernismo racionalista, aqui tão bem expresso de forma envergonhada neste texto, de uma heresia que, como soe dizer-se, "já tem barbas". Daí se partirá para o regresso da outra, com barbas maiores e mais brancas, da negação da divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo (arianismo). Tudo isto muito bem ordenado para não levantar muitas ondas...a palavra de ordem destes tempos modernos é desfazer o espalhafato do passado pontificado: " silence is golden" como também se dizia numa melodiosa canção dos anos 60 do passado século, que não se deve entender literalmente mas que vem refirmar a intenção daquele espalhafato.