segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Quem escreveu caim?

Gabo o Zé Saramago. Li há pouco as palavras dele proferidas aquando do lançamento do seu novo livro – Caim – e percebi que ele é um homem com uma tremenda fé, maior do que um grão de mostarda. Fé em como Deus não existe. Naturalmente, só alguém com uma crença desta dimensão é que se atreve a escrever um texto sobre uma personagem bíblica. A certeza com que afirma que nada do que vem na Bíblia é verdade faz-me ter também um pouco de fé: acredito que o Nobel das Canárias está a exortar à leitura de um livro ícone do século XX, O Triunfo dos Porcos - George Orwell, para assim compreendermos como se faz uma verdade comunista, destas em que ele tem tanta fé.

Saramago deixa ainda no ar que este mundo onde habitamos só tem violência por culpa das religiões, com o Cristianismo à cabeça. Afirma ele que viveríamos todos em paz, justiça e amor sem as religiões. Se nós não fossemos Cristãos, possivelmente seriamos árabes, pois não teria havido a reconquista cristã. Como tal, Saramago não poderia viver no seu arquipélago que pertence à monarquia outrora liderada pelos chamados reis... católicos. Se também não fossemos árabes, poderíamos ser algo como os índios retratados no filme Apocalypto, embora o mais provável fosse a continuação do paganismo europeu neste lado do planeta.

Em vez de futebol, teríamos circo à moda romana com leões a devorar pessoas, mesmo sabendo que também o circo tem os dias contados conforme a recente portaria 1226/2009 do ministério do ambiente, que já fez saltar a tampa ao Cardinali. Não haveria separação de poderes nem democracia. Na arte, a pobreza seria devastadora, talvez saltássemos directamente das gravuras de foz-côa para os grafittis das paredes do Bairro Alto. A nível literário, não haveria Saramago nem este blog porque os senzas nunca teriam ido a Roma ver o(s) Papa(s). Não nos poderiamos rir das palavras deste Nobel nem os mais ofendidos poderiam perdoar as suas ofensas, pois o perdão seria um conceito inexistente.


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5 comentários:

João Silveira disse...

Ahaha, muito bem dito.

Aqui está um belo video de propaganda católica, obrigado josé: http://www.publico.pt/Videos/633915510157800262

Aqui a resposta, com sotaque brasileiro, do prof.Felipe Aquino: http://blog.cancaonova.com/felipeaquino/2009/10/15/carta-ao-dr-saramago/

Pe Duarte Andrade e Sousa disse...

O que me desiludiu mais foi a falta de cultura bíblica que ele mostrou. que não acredite em Deus, isso infelizmente é um problema dele - e de todos nós. Mas agora que um suposto entendido em literatura (caso a distinção Nobel ainda signifique alguma coisa) seja um completo aselha nas críticas que faz à Bíblia, isso é perfeitamente ridículo. Fica muito espantado por Deus ter criado o mundo em seis dias... Bem, alguém lhe pode explicar a categoria "mito de origem", os diferentes géneros literários que existem, etc, etc? Da peixeira da praça eu não exijo que saiba perfeitamente o que é literatura, agora do Saramago? OU é um grande ignorante, ou uma pessoa muito mal intencionada. Ou uma mistura das duas coisas.
Bem, espero que ao ler poesia, por exemplo, ele perceba que normalmente não estamos perante um relato histórico, e que não fique muito espantado quando ler "O amor é fogo que arde sem se ver", senão vai começar a defender que isso é um disparate e o Camões era uma grande idiota porque quem ama não cheira a queimado, como é
óbvio!

margarida paccetti disse...

E se quando O virmos Ele nos disser que foram mesmo seis dias?
E nós, Homem no centro de tudo, olhamos para o nosso horário e rimo-nos dEle:
Impossível a Ti! Só orçamento é coisa para demorar cinco dias úteis, mais o requerimento, a licença e a papelada que tens de entregar aos Teus inferiores. Além disso naquela altura não havia dia de descanso, isso foi inventado pela democracia de 74.
E os pedreiros querem a obra incompleta porque o mau está a valorizar. Ser mau acabamento é um direito e não uma doença. Não precisamos de Ti, Arquitecto Supremo, vai lá deixar de existir.
Ou sou eu que sou Deus, ou és Tu que tens de ser como eu. Fiz um estudo e seis dias é impossível ou impossível e ridículo: depende da área em que trabalho.

margarida paccetti disse...

Não percebo porque é que não podem ser seis dias. Pode ser que não mas também pode ser que sim.

João Silveira disse...

Deve ser uma embirração com o número 6. Há algum número que seja tipicamente comunista? Se fosse esse era na boa.

"Deputado PSD quer que Saramago deixe de ser português" - http://www.ionline.pt/conteudo/28799-deputado-psd-quer-que-saramago-deixe-ser-portugues