Alice Von Hildebrand morreu ontem. Foi uma conhecida professora casada com o ainda mais conhecido professor Dietrich von Hildebrand, a quem o Papa Pio XII apelidou de 'Doutor da Igreja do séc. XX'. Vale a pena ler com atenção esta entrevista dada, em 2001, à 'Latin Mass Magazine':
TLM: Dra. von Hildebrand, no tempo em que o Papa João XXIII convocou o Concílio Vaticano Segundo, a senhora percebeu qualquer necessidade de reforma dentro da Igreja?
AVH: A maior parte da intuição sobre isso vem do meu marido. Ele sempre disse que os membros da Igreja, devido aos efeitos do pecado original e do pecado actual, se encontram sempre com necessidade de reforma. O ensinamento da Igreja, porém, vem de Deus. Nem um único acento deve ser modificado ou necessita de reforma.
TLM: Em termos da crise actual, quando é que percebeu que algo estava terrivelmente errado?
AVH:: Fevereiro de 1965, estávamos num ano sabático em Florença. O meu marido lia um jornal teológico, e de repente, ouvi-o desatar em lágrimas. Corri até ele, temerosa de que o seu coração lhe houvesse causado dores. Perguntei-lhe se estava bem. Ele disse-me que o artigo que estava a ler lhe fez perceber que o Demónio havia entrado na igreja. O meu marido foi o primeiro alemão proeminente se pronunciar-se publicamente contra Hitler e o Nazismo. As suas intuições eram sempre prescientes.
TLM: O seu marido tinha falado sobre seu o temor pela situação da Igreja antes desse incidente?
AVH: Relatei na biografia do meu marido - The Soul of a Lion - que poucos anos após a sua conversão ao Catolicismo, nos anos 20, ele começou a ensinar na Universidade de Munique. Munique era uma cidade católica. A maioria dos Católicos da época ia à Missa, mas ele sempre disse que foi ali que começou a ficar preocupado com a perda do sentido de sobrenatural entre os Católicos. Houve um incidente, em especial, que lhe deu prova disso e o entristecia imensamente. Quando passava por uma porta, o meu marido sempre deixava passar primeiro os seus alunos que eram sacerdotes. Um dia, um dos seus colegas (um Católico) expressou a sua surpresa e desagrado: “Por que razão deixa os seus alunos entrar antes de si?” “Porque são sacerdotes”, respondeu o meu marido. “Mas eles não têm doutoramento”. O meu marido sentiu-se arrasado. Valorizar o doutoramento é uma reacção natural; estar ciente da sublimidade do sacerdócio é uma reacção sobrenatural. A atitude daquele professor provava que a sua reacção em relação ao sobrenatural se havia erodido. Isso foi muito antes do Vaticano II. Mas, até ao Concílio, a beleza e a sacralidade da liturgia Tridentina mascarava esse fenómeno.
TLM: O seu marido achava que o declínio do sentido do sobrenatural havia começado nessa época, e como é que o explicava?
AVH: Não, ele acreditava que após a condenação da heresia do Modernismo pelo Papa Pio X, os seus proponentes retiraram-se para o subsolo. Ele dizia que eles tomaram uma abordagem muito mais sutil e prática. Espalhavam dúvidas simplesmente levantando questões sobre as grandes intervenções sobrenaturais ao longo da História da Salvação, tais como Nascimento Virginal e virgindade perpétua de Nossa Senhora, bem como a Ressurreição e a Sagrada Eucaristia. Eles sabiam que uma vez abalada a fé – a fundação – a liturgia e os ensinamentos morais da Igreja também desmoronar-se-iam. O meu marido intitulou um dos seus livros de 'The Devastated Vineyard' (A Vinha Devastada). Após o Vaticano II parece que um tornado havia atingido a Igreja.
O próprio Modernismo era fruto de calamidade do Renascimento e da Revolta Protestante, e foi um longo processo histórico até que se revelasse. Se fôssemos perguntar a um Católico típico da Idade Média o nome de um herói ou heroína certamente citaria um santo. O Renascimento começou a mudar isso. Ao invés de um santo, as pessoas pensariam num génio e, com a chegada da era industrial, as pessoas citariam um grande cientista. Hoje responderiam com o nome de um desportista ou personagens dos media. Por outras palavras, a perda do sentido do sobrenatural trouxe a inversão da hierarquia de valores.
Mesmo o pagão Platão estava aberto ao sentido do sobrenatural. Ele falou da fraqueza, fragilidade e covardia frequentemente evidenciadas na natureza humana. Foi-lhe perguntado por um crítico por que razão tinha a Humanidade em tal baixa estima. Platão respondeu que não denegria o homem, apenas o comparava a Deus.
Com a perda do sentido de sobrenatural, houve uma perda do sentido da necessidade para o sacrifício. Quanto mais alguém se aproxima de Deus, maior é a sua consciência de ser pecador. Quando mais alguém se afasta de Deus, como hoje, mais escutamos a filosofia new age: “Estou bem, tu estás bem”. A perda da inclinação para o sacrifício leva ao obscurecimento da missão redentora da Igreja. Onde a Cruz é subestimada, a nossa necessidade de redenção é igualmente ignorada. A aversão ao sacrifício e redenção ajudou à secularização da Igreja no seu interior. Temos ouvido durante muitos anos dos sacerdotes e bispos falar sobre a necessidade da Igreja se adaptar ao mundo. Grandes Papas como S. Pio X disseram exactamente o oposto: o mundo deve adaptar-se à Igreja.
TLM: Da nossa conversa, devo concluir que a senhora não acredita que a perda acelerada do sentido do sobrenatural seja um acidente no percurso da História.
AVH:: Não, não acredito. Houve dois livros publicados em Itália nestes anos que confirmam o que meu marido suspeitava há algum tempo: que tem havido uma infiltração sistemática da Igreja pelos inimigos diabólicos durante este século. O meu marido foi um homem muito esperançoso e optimista por natureza. Durante os dez últimos anos da sua vida, porém, testemunhei muitos momentos de grande tristeza, e frequentemente ouvia-o repetir: “Eles dessacralizaram a Santa Esposa de Cristo”. Referia-se à “abominação da desolação” da qual fala o profeta Daniel.
TLM: O seu marido foi chamado 'Doutor da Igreja do Século XX' pelo Papa Pio XII. Ele não teria acesso ao Vaticano para falar dos seus temores ao Papa Paulo VI?
AVH: Foi exactamente o que ele fez! Nunca esquecerei a audiência privada que tivemos com Paulo VI mesmo antes do fim do Concílio Vaticano II. Foi no dia 21 de Junho de 1965. Assim que o meu marido começou a apelar para que ele condenasse as heresias que se espalhavam, o Papa interrompeu-o com as palavras, “Lo scriva, lo scriva.” (“Escreva sobre isso.”). Momentos depois, pela segunda vez, o meu marido expôs a gravidade da situação ao Papa. A mesma resposta. Sua Santidade recebeu-nos em pé.
Estava claro que o Papa se sentia muito inconfortável. A audiência durou apenas alguns minutos. Paulo VI deu imediatamente um sinal ao seu secretário, Pe. Capovilla, para nos trazer rosários e medalhas. Voltámos, então, a Florença onde o meu marido escreveu um longo documento (não publicado até hoje) que foi entregue a Paulo VI na véspera da última sessão do Concílio. Estávamos em Setembro de 1965. Após ler o documento do meu marido, Paulo VI disse ao sobrinho do meu marido, Dieter Sattler, que embaixador alemão da Santa Sé, que tinha lido o documento cuidadosamente, mas que “era um pouco áspero”. A razão era óbvia: o meu marido tinha, humildemente, solicitado uma clara condenação de afirmações heréticas.
TLM: Percebe, certamente, que, ao falar dessa essa ideia de infiltração, haverá aqueles que consideram tal coisa como uma teoria da conspiração.
AVH: Eu só posso dizer o que sei. Está registado publicamente públicamente que Bella Dodd, uma ex-comunista que se re-converteu à Igreja, falou abertamente da deliberada infiltração dos agentes do Partido Comunista nos seminários. Ela contou ao meu marido e a mim que, quando era membro activo do Partido, se encontrou com quatro cardeais dentro do Vaticano, “que trabalhavam para nós”. Muitas vezes ouvi os norte-americanos dizerem que os europeus “cheiram conspiração onde quer que vão”. Mas, desde o início, o Demónio tem conspirado contra a Igreja – e sempre procurou em particular destruir a Missa e destruir a fé na Real Presença de Cristo na Eucaristia.
Por outro lado, eu, nascida na Europa, sinto-me tentada a afirmar que muitos americanos são ingénuos; vivendo num país que tem sido abençoado pela paz, e conhecendo pouco de História, são mais propensos que os europeus (cuja história é tumultuosa) a ser vítimas de ilusões. Rousseau tem tido enorme influência nos Estados Unidos. Quando Cristo disse aos Seus apóstolos na Última Ceia “um de vós Me trairá”, os apóstolos ficaram perplexos. Judas havia agido de tal modo que ninguém suspeitava dele, pois um conspirador astuto sabe como cobrir os seus traços com aparência de ortodoxia.
TLM: Os dois livros escritos pelos sacerdotes italianos que mencionou contêm evidências dessa infiltração?
AVH: Os dois livros que mencionei foram publicados em 1998 e 2000 pelo sacerdote italiano, Don Luigi Villa da diocese de Brescia, que, sob a pedido do Padre Pio, dedicou muitos anos da sua vida a investigae a possível infiltração dos Franco-Maçons e Comunistas na Igreja. O meu marido e eu encontrámo-nos com Don Villa nos anos sessenta. Ele disse-nos que não faz nenhuma afirmação que não possa comprovar. Quando o livro 'Paulo VI Beato?' foi publicado (1998), foi enviada uma cópia a cada um dos Bispos italianos. Nenhum deles fez um aviso de recepção, nenhum deles discutiu as alegações de Don Villa.
Neste livro, ele conta algo que nenhuma autoridade eclesiástica refutou nem pediu para ser retratado – embora nomeie personalidades particulares. Trata do atrito entre Papa Pio XII e o então Bispo Montini (o futuro Paulo VI) que era seu Sub-Secretário do Estado. Pio XII, ciente da ameaça do Comunismo, que logo após a Segunda Guerra Mundial dominava quase metade da Europa, tinha proibido os funcionários do Vaticano de manter qualquer relação com Moscovo. Para sua decepção foi informado, um dia, através do Bispo de Upsala (Suécia) de que a sua ordem estrita havia sido contrariada. O Papa negou-se a dar crédito a esse rumor até receber evidências inegáveis de que Montini mantinha correspondência com várias agências Soviéticas. Durante todo esse tempo, o Papa Pio XII (assim como Pio XI) tinha enviado sacerdotes clandestinamente à Rússia para consolar os Católicos que viviam atrás da Cortina de Ferro. Cada um deles havia sido sistematicamente preso, torturado e mesmo executado ou enviado para o Gulag. Finalmente, um delator dentro do Vaticano foi descoberto: Alighiero Tondi, S.J., que era um conselheiro próximo de Montini. Tondi era um agente ao serviço de Estaline cuja missão era manter Moscovo informada sobre iniciativas tais como o envio de sacerdotes para a União Soviética.
Acrescente-se a isso o modo como o Papa Paulo VI tratou o Cardeal Mindszenty. Contra a sua vontade, Mindszenty foi ordenado a deixar Budapeste. Como quase todos sabem, ele havia escapado aos Comunistas e encontrou refúgio na embaixada norte-americana. O Papa tinha-lhe dado a sua promessa solene de que ele permaneceria primado [Primaz] de Hungria enquanto vivesse. Quando o Cardeal (que foi torturado pelos Comunistas) chegou em Roma, Paulo VI abraçou-o calorosamente, mas depois enviou-o em exílio para Viena. Logo depois, este santo Prelado foi informado que havia sido destituído e substituído por alguém mais agradável ao governo Húngaro Comunista. Mais intrigante e tragicamente triste é o facto de que, quando morreu Mindszenty, nenhum representante da Igreja esteve presente no seu enterro.
Outra das alusões de infiltração de Don Villa é aquela relatada pelo Cardeal Gagnon. Paulo VI tinha pedido a Gagnon para encabeçar uma investigação acerca da infiltração da Igreja por parte de inimigos poderosos. Cardeal Gagnon (há época Arcebispo) aceitou essa tarefa desagradável e compilou um longo dossier, recheado de informações preocupantes. Quando o trabalho foi completado, solicitou uma audiência com o Papa Paulo a fim de discutir pessoalmente o manuscrito com o Pontífice. Esse pedido para um encontro foi negado. O Papa deu ordem para que o documento fosse colocado nos escritórios da Congregação para os Clérigos, especificamente num cofre com dupla fechadura. Isso foi feito, mas, no dia seguinte, a caixa foi arrombada e o manuscrito desapareceu misteriosamente. A política usual do Vaticano é assegurar-se que tais incidentes nunca vejam a luz do dia. Esse roubo foi noticiado até no L’Osservatore Romano (talvez sob pressão porque isto não foi noticiado na imprensa secular). Cardeal Gagnon, logicamente, possuía uma cópia, e, novamente, solicitou ao Papa uma audiência privada. O seu pedido foi novamente negado. Então decidiu deixar Roma e retornar à sua terra natal, Canadá. Mais tarde, foi chamado de volta a Roma pelo Papa João Paulo II e feito cardeal.
TLM: Por que razão o Padre Villa escreveu essas obras tendo como alvo das suas críticas Paulo VI?
AVH: Don Villa estava relutante em publicar os livros. Mas quando vários Bispos começaram a movimentar-se para a beatificação de Paulo VI, esse sacerdote percebeu que era necessário publicar as informações recolhidas ao longo dos anos. Assim fazendo, estava a seguir as orientações de uma Congregação Romana, informando aos fiéis que era o seu dever como membros da Igreja confiar à Congregação qualquer informação que pudesse obstruir as qualificações do candidato para a beatificação. Considerando o pontificado tumultuoso de Paulo VI, e os sinais confusos que fornecia, por exemplo, mencionando o “fumo de Satanás que entrou na Igreja”, e, entretanto, recusando-se a condenar oficialmente as heresias; a sua promulgação de Humanae Vitae (a glória do seu pontificado), mas a sua cuidadosa recusa em proclamá-la ex-cathedra; oferecendo o seu Credo do Povo de Deus na Praça São Pedro, em 1968, e novamente fracassando em declará-lo como unificador de todos os Católicos; desobedecendo as ordens estritas de Pio XII em não manter contacto com Moscovo, e agradando o governo Comunista Húngaro ao renegar a promessa solene que havia feito ao Cardeal Mindszenty; o seu tratamento com relação ao santo Cardeal Slipyj, que passou 17 anos num Gulag, para depois se tornar num prisioneiro virtual no Vaticano; e finalmente, solicitando ao Arcebispo Gagnon para investigar uma possível infiltração no Vaticano e depois recusar-lhe uma audiência quando o trabalho estava completo – tudo isso fala fortemente contra a beatificação de Paulo VI, ecoando em Roma: “Paolo VI, Mesto” (Paul VI, o triste). É inegável que o dever de publicar essa informação deprimente foi oneroso e custou grande sofrimento a Don Vila. Qualquer Católico rejubila quando pode levantar os olhos e contemplar com veneração irrestrita um Papa. Mas os Católicos sabem também que, embora Cristo não tenha prometido conceder líderes perfeitos, prometeu que as portas do Inferno nunca prevaleceriam. Não nos esqueçamos que muito embora a Igreja tenha tido alguns Papas muito maus, tem sido abençoada com grandes Papas. Oitenta deles foram canonizados e vários beatificados. Esta é uma história de sucesso sem paralelo no mundo secular.
Apenas Deus é juiz de Paulo VI. Mas não se deve negar que o seu pontificado foi muito complexo e trágico. Foi sob o seu pontificado que, num curso de 15 anos, mais mudanças foram introduzidas na Igreja que em todos os séculos precedentes juntos. O que é preocupante é que quando lemos o testemunho de ex-Comunistas como Bella Dodd, e estudamos documentos maçónicos (datados do século XIX, e geralmente escritos por sacerdotes dissidentes como Paul Rocca, podemos ver que, em larga extensão, a sua agenda foi implementada: o êxodo de sacerdotes e freiras após o Vaticano II, teólogos dissidentes não censurados, o feminismo, a pressão sobre a Roma para abolir o celibato sacerdotal, imoralidade entre os clérigos, liturgias blasfemas, as mudanças radicais que foram introduzidas na sagrada liturgia e um ecumenismo sem rumo. Apenas um cego poderia negar que muitos dos planos do Inimigo têm sido perfeitamente realizados.
Não devemos nos esquecer que o mundo foi abalado com o que fez Hitler. Pessoas como o meu marido, porém, perceberam o que estava de facto escrito em Mein Kampf. O plano estava ali. O mundo simplesmente optou por não acreditar. Ainda assim, por mais grave seja a situação, nenhum Católico deve esquecer que Cristo prometeu que estará com a Sua Igreja até ao fim do mundo. Devemos meditar sobre a cena relatada no Evangelho quando o barco dos apóstolos foi ameaçado por uma forte tempestade. Jesus dormia! Os apóstolos, assustados, acordaram-No: Ele disse uma única palavra e, de repente, tudo se acalmou. “Ó vós, que tendes pouca fé!”
TLM: Segundo os seus comentários sobre o ecumenismo, não concorda com a política actual de “convergência” ao invés de “conversão”?
AVH: Deixe-me contar um episódio que causou grande pesar ao meu marido. Em 1946, depois da II Grande Guerra, o meu marido ensinava na Universidade de Fordham, e apareceu nas suas aulas um estudante judeu que tinha sido oficial da Marinha durante a Guerra. Um dia confidenciou ao meu marido como era belo o pôr-do-sol no Oceano Pacífico e como isso o tinha levado à busca da verdade sobre Deus. Decidiu ir para a Universidade de Columbia (Estados Unidos da América) estudar filosofia, mas percebeu que não era isso que procurava. Um amigo sugeriu-lhe que fosse estudar filosofia para Fordham e mencionou o nome Dietrich von Hildebrand.
Depois da primeira aula com o meu marido ele sabia que tinha encontrado o que procurava. Um dia, depois das aulas, o meu marido e o estudante foram dar um passeio a pé. Ele disse ao meu marido que estava surpreendido com o facto de que vários professores, depois de saberem que ele era judeu, lhe terem assegurado que não o tentariam converter ao Catolicismo. O meu marido, estupefacto, parou, virou-se para ele e disse: "Eles disseram o quê?!" O estudante repetiu a história e o meu marido disse-lhe: "Eu iria até ao fim do mundo e regressaria para fazer-te católico." Resumindo, o jovem converteu-se ao Catolicismo, entrou na única Cartuxa nos Estados Unidos (em Vermont) e foi ordenado Padre cartuxo!
TLM: A senhora passou muitos anos dando aulas em Hunter College.
AVH: Sim, e vários dos meus alunos tornaram-se Católicos. Oh, quantas e belas histórias de conversão poderia contar aqui se houvesse tempo – jovens que foram arrebatados pela verdade! Eu gostaria, entretanto, de deixar claro um ponto: não converti os meus alunos. O máximo que podemos fazer é rezar para sermos instrumentos de Deus. Para sermos instrumentos de Deus, devemos esforçar-nos para viver diariamente o Evangelho em todas as circunstâncias.
Apenas a graça de Deus pode-nos conceder o desejo e capacidade para isso. Eis um dos temores que tenho em relação aos Católicos tradicionais. Alguns roçam o fanatismo. Um fanático é aquele considera a verdade como uma posse sua em vez de ser um dom de Deus. Somos servos da verdade, e é como servos que devemos procurar partilhá-la. Estou ciente de que há Católicos fanáticos que usam a Fé e a Verdade como um instrumento intelectual. Uma apropriação autêntica da verdade conduz sempre ao esforço para a santidade. A Fé, nesta crise actual, não é um jogo de xadrez intelectual. Para aqueles que não se esforçam para ser santos, a Fé reduzir-se-á a isso. Tais pessoas fazem mais mal à Fé, particularmente se estes são defensores da Missa Tradicional.
TLM: Então a senhora acha que o único cenário para uma solução da crise actual é a renovação de um esforço para a santidade?
AVH: Não nos podemos esquecer que estamos lutando não apenas contra a carne e o sangue, mas contra “potestades e principados”. Isto deveria provocar-nos suficiente temor para nos esforçarmos mais que nunca para a santidade e rezar fervorosamente para que a Santa Esposa de Cristo, que se encontra agora no Calvário, saia desta terrível crise mais radiante do que nunca. A resposta Católica é sempre a mesma: absoluta fidelidade aos santos ensinamentos da Igreja, fidelidade à Santa Sé, recepção frequente dos sacramentos, Terço, leitura espiritual diária, e gratidão por termos recebido a plenitude da Revelação de Deus: “Gaudete, iterum dico vobis, Gaudete.”
TLM: Não posso terminar a entrevista sem fazer uma pergunta já um tanto gasta. Há quem critique a Missa no Rito Romano Tradicional dizendo que a crise na Igreja se desenvolveu no tempo em que a Missa era assim celebrada oferecida no mundo inteiro. Por que razão faz sentido achar que o seu retorno é intrínseco à solução da crise?
AVH: O Diabo odeia a Missa Antiga. Ele odeia-a porque é a formulação mais perfeita de todos os ensinamentos da Igreja. Foi o meu marido que me deu essa visão sobre a Missa.
O problema que deu início à crise actual não foi a Missa Tradicional. O problema foi que os sacerdotes que a ofereciam já haviam perdido o sentido do sobrenatural e do transcendente. Apressavam-se nas orações, murmuraram e não as enunciaram. Isto é um sinal do que eles trouxeram para a Missa: o seu crescente secularismo. A Missa Antiga não suporta irreverência, e foi por isso que tantos sacerdotes ficaram satisfeitos ao vê-la desaparecer.
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