Quando havia padres e polícias com fartura, dizia-se que a capital do Minho era a cidade dos três “p” porque, aos dois digníssimos ofícios já citados, havia que acrescentar a impropriamente chamada “mais antiga profissão do mundo”. A polémica, a propósito da entrevista concedida por Bento XVI, também se poderia designar pelos três “p” que a resumem: Papa, preservativos e prostitutos.
Quanto ao Papa, já está tudo dito, mas talvez não seja ocioso recordar que, sempre que Bento XVI se refere a temas de moral sexual, os media prestam-lhe uma enorme atenção, que não lhe dispensam quando apela para causas maiores, como a paz, a pobreza, a fome ou a perseguição dos cristãos na Ásia, por exemplo. Dir-se-ia que algumas pessoas, que têm o seu importantíssimo umbigo um pouco descaído, não querem outra coisa deste Papa e da Igreja que não seja uma bênção para os seus maus costumes ou, pelo menos, um condescendente silêncio para as suas vidas licenciosas.
Em relação aos preservativos, pouco mais há a dizer. Do ponto de vista moral, nada mudou, nem podia mudar. Mas os falsos profetas embandeiraram em arco, para saudarem o que o Papa não disse, mas eles gostariam que tivesse dito. Há quem pense que, mais do que a lei de Deus, a doutrina da Igreja ou a palavra do Papa, o que importa é a opinião pública, que manipulam a seu bel-prazer. E, fatal, como o destino, há sempre alguns pusilânimes que caiem no logro, muito embora há muito se tenha dito que nada de novo há debaixo do sol.
A grande novidade é a utilização, por um Papa, do termo “prostituto”, porque deve ter sido a primeira vez que tal aconteceu. Aliás, o uso do preservativo só foi tolerado em relação aos profissionais desse degradante ofício, não porque uma tal prática possa ser moralmente aceite, mas porque, em certos casos, pode impedir um mal maior, como seria o contágio de uma doença mortal.
Se o entrevistador tivesse questionado Bento XVI sobre um “serial killler” que hesitasse entre utilizar a bomba atómica ou um punhal, é provável que o Santo Padre dissesse que, nesse contexto, seria preferível a segunda hipótese porque, mesmo sendo moralmente condenável, seria socialmente menos prejudicial. Uma bomba atómica pode causar milhares de vítimas, num só instante, enquanto um consciencioso e diligente criminoso que mate à navalhada, só consegue realizar, no mesmo espaço de tempo, uns quantos homicídios.
Claro que, se Bento XVI expressasse publicamente este óbvio veredicto moral, é certo e sabido que, de imediato, as televisões e jornais noticiariam “cum gáudio magno” que, finalmente, o Papa aprovava o esfaqueamento de inocentes, prática antiquíssima e muito na moda em certos ambientes, mas que sectores mais conservadores da Igreja ainda repudiam. E a “boa” notícia – que abriria finalmente as portas da Igreja a muitos profissionais do crime, que dela estão actualmente excluídos – seria decerto festejada pela máfia, pela camorra, pelos terroristas, pelos narcotraficantes e em todas as prisões, pelo menos com o mesmo regozijo com que se supõe que foram recebidas as recentes declarações sobre o preservativo nos prostíbulos masculinos, únicos antros em que o seu uso, ainda que ilegítimo, foi tolerado.
Por ter feito o grande favor de usar uma faca, e não uma arma mais mortífera, a humanidade deveria estar agradecida ao benemérito assassino em série que, em pleno século XIX, semeou o terror em Londres. Se pega a moda de confundir o mal tolerado com o bem permitido, quem sabe se, na próxima visita pontifícia à Grã-Bretanha, não se exige ao Santo Padre que canonize Jack, o estripador?!
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