Foi educada em colégios religiosos e, aos 83 anos, diz que nunca casou porque "não se proporcionou". Georgina Troncoso Monteagudo é a mulher a quem se deve a beatificação da portuguesa Maria Clara do Menino Jesus - que hoje se celebra no Estádio do Restelo. A espanhola garante que foi curada, em 2003, de um pioderma gangrenoso de que sofria há mais de 30 anos, graças à intercessão da freira portuguesa.
Georgina viveu sempre com as irmãs - uma delas é religiosa - em Baiona, nos arredores de Pontevedra, em Espanha. Era tecedeira, trabalhava em casa e costumava visitar uma comunidade da congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição (CONFHIC), fundada por Maria Clara. Tinha 34 anos quando lhe apareceu "um pequeno hematoma" no braço direito. Dias depois tornou-se uma ferida que se espalhou pelo braço inteiro e parte do peito. "Aconteceu de repente, sem aviso ou explicação, fui sujeita a dezenas de testes e exames", recorda Georgina ao i. O diagnóstico não era animador: sofria de pioderma gangrenoso, num nível que, segundo os médicos que consultou em Vigo, não teria cura. Mesmo assim, a espanhola pediu uma segunda opinião a outro médico, em Santiago de Compostela, que lhe recomendou um especialista de Madrid. Ignacio do Carmo era um médico reputado e confirmou o diagnóstico inicial: Georgina não poderia ser curada. "Quanto muito, poderia fazer enxertos, para tentar melhorar." Mas, ao longo dos anos, as úlceras foram alastrando, até perder por completo a mobilidade no braço. "Cheguei a pedir que me amputassem, porque não aguentava a dor."
Até que um dia as freiras lhe deram uma pagela da madre Maria Clara. Disseram- -lhe que rezasse. "Desde esse dia, rezei todos, todos os dias", conta Georgina. E fazia mais do que isso: sempre que vinha do hospital, onde fazia curativos diários, desenrolava as ligaduras e colocava a pagela no interior. "Tirava-a sempre antes de ir às consultas, porque não queria que o médico soubesse." Um dia esqueceu-se e Ignacio do Carmo encontrou-lhe a pagela. "Quem é esta freira que aqui trazes?", perguntou-lhe. E Georgina contou-lhe, a medo, que era uma freira portuguesa que estava em processo de beatificação. O médico ficou em silêncio e depois disse-lhe: "Nestas coisas, todas as intercessões podem ser válidas." A partir desse dia, sempre que o médico fazia o curativo, colocava- -lhe, ele próprio, a pagela. Em 2002, um dia depois de ter estado no consultório, Georgina recebeu um telefonema da mulher do médico. Tinha-lhe sido diagnosticado um tumor no cérebro e, 15 dias depois, Ignacio morreu. No hospital, garantiram--lhe que lhe arranjariam um novo especialista, mas Georgina recusou. A partir de então havia de se curar "somente com a ajuda de Maria Clara". Passou a fazer os curativos em casa. "E rezava."
A 11 de Novembro de 2003, Georgina teve de ir a Vigo e lembra-se de chegar "tardíssimo" a casa. Tão tarde que resolveu não fazer o curativo. Quando acordou, na manhã do dia 12, as ligaduras caíram--lhe aos pés, secas. As feridas tinham desaparecido e a pele "parecia a de um bebé". Chorou e foi ter com as freiras. "Tive a certeza que era milagre", conta. Dois dias depois foi ao médico. "E ele viu-se obrigado a admitir que só podia ser uma coisa sobrenatural." Recuperou também a mobilidade do braço e voltou a trabalhar. Pelo meio, ainda teve de ultrapassar a morte do irmão, que, durante anos, documentou, em fotografias, a evolução da doença. O dossiê, muito completo, veio a revelar-se útil na beatificação. O processo do milagre foi entregue ao então prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, D. Saraiva Martins, em 2005. Depois de analisado pelos médicos e teólogos do Vaticano, teve parecer positivo o ano passado. Georgina diz que não se sente especial: "Todas as pessoas podem conseguir um milagre, basta acreditar." in ionline
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