terça-feira, 11 de outubro de 2011

Soluções para a "crise" da Igreja em Portugal - D.Manuel Clemente

«Divórcio entre fé e vida» e «autenticidade de muitos cristãos comprometidos» encabeçam «sombras» e «luzes» enunciados pelo bispo do Porto

O bispo do Porto considera que há 19 “pontos críticos” da Igreja Católica em Portugal, a começar pelo “divórcio entre fé e vida”, a perda do “ardor evangelizador” e a “falência” dos modelos de iniciação cristã.

A lista pessoal, baseada num documento de trabalho da Conferência Episcopal com vista à renovação da ação pastoral da Igreja em Portugal, foi apresentada por D. Manuel Clemente a 31 de agosto em Fátima, durante a 34.ª Semana Bíblica Nacional.

“A não concretização duma Igreja onde todos tenham uma missão insubstituível a desempenhar”, a “falta de alegria, entusiasmo e esperança” e as “celebrações distantes da vida”, acompanhadas por “homilias extensas e tristes”, constituem os três problemas seguintes.

O elenco das “sombras” inclui uma “Igreja envelhecida, muito clerical e sacramentalista”, onde “diminui a prática e os jovens se afastam”, prosseguindo com a referência ao “individualismo nas expressões da fé, sem responsabilização”.

D. Manuel Clemente salienta as dificuldades de comunicação da Igreja, causadas por uma “linguagem hermética” e “ausência” nos novos media, e constata “a desagregação do ambiente familiar”, com a consequente perda do seu papel na transmissão da mensagem cristã.

Além do enfraquecimento “do sentido do Domingo”, o responsável pela pasta da cultura e comunicações sociais dos bispos de Portugal menciona a falta de consagrados e agentes pastorais, a “fé tradicionalista e pouco esclarecida”, o “esquecimento da Doutrina Social da Igreja” e as “romarias meramente turísticas”.

A “autenticidade de muitos cristãos comprometidos” no mundo e na Igreja, a “redescoberta” da Bíblia e “a valorização de momentos de verdadeiro encontro orante e sacramental com Cristo” encabeçam as 20 “luzes de esperança”.

O historiador destaca seguidamente “a maior atenção aos sinais dos tempos e ao diálogo com o mundo”, a “procura de pontes de diálogo com a cultura” e “o esforço de adaptação às novas linguagens e tecnologias da comunicação social”.

Depois de ressaltar os eventos de “grande vitalidade”, como a visita do Papa Bento XVI a Portugal e as Jornadas Mundiais da Juventude, D. Manuel Clemente releva “a partilha e a solidariedade manifestadas por pessoas e instituições eclesiais, bem como a grande rede de ação social da Igreja”.

O Prémio Pessoa 2009 realça também a existência de “órgãos de colegialidade e participação”, “a presença de sinais de Deus no mundo secularizado, como os santos, os mártires ou a mensagem de Fátima” e o “número crescente dos participantes em peregrinações e outras manifestações de religiosidade popular”.

Entre as 25 sugestões indicadas no documento de trabalho incluem-se “dar visibilidade ao testemunho cristão”, “fazer da caridade a prioridade” dos programas pastorais, ceder “precedência à intimidade com Deus” e formar para “problemáticas” como crentes “divorciados, recasados, em união de facto e outras situações irregulares”.

A Igreja deve igualmente “apostar na evangelização dos novos bairros e urbanizações, das grandes superfícies, das minorias e dos mais pobres”, publicar documentos “simples, breves, espaçados, atuais e voltados para as realidades concretas das pessoas” e pensar num plano evangelizador “de 3 ou 5 anos, para todas as dioceses”.


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9 comentários:

Maria de Fátima disse...

Homilias extensas e tristes !? Não concordo. Não assisti até hoje a uma homília que fosse extensa e triste, nem na minha Paróquia, nem na minha Diocese, nem noutra Diocese/Paróquia, nem no meu País, nem fora dele; nem com sacerdotes mais ou menos novos. E aprendi sempre mais alguma coisa.
Deve ser uma questão de ... Amor (?)e, também, talvez atitude.

João Silveira disse...

Maria de Fátima, não creio que o objectivo seja dizer que todas são assim. Mas pelo menos quase todas as homilias são extensas demais. A pessoa chega ao fim e não se lembra de quase nada. Mais vale dizer poucas ideias, mas que fiquem. Infelizmente há muitos padres que se preocupam mais em brilhar na homilia do que no resto.

Nuno disse...

Eu concordo que há homilias extensas e desprovidas de qualquer interesse. Os padres não são imunes a erros e podem ter dias menos inspirados. Poderá também haver erros na atribuição de tarefas pastorais a padres que claramente não têm o dom da palavra e talvez prefirissem dar o seu testemunho de outra forma (acompanhei pelo menos um caso assim).

Ainda que o cenário ideal seja o de todas as homilías serem inspiradoras, é importante realçar que não se pode ter de uma Eucaristia o mesmo tipo de expetativas que se tem de um espetáculo de entretenimento. Mesmo que hajam homilias que nada nos dizem, poderão ser importantes para outros que connosco participem na Missa. E o facto de estar com eles a rezar em comunidade é muito importante e acaba por ser parte do nosso tempo que oferecemos aos outros. Nesta perspetiva até pode tornar mais meritória a nossa presença nessas Eucaristias.

Maria de Fátima disse...

João, é bom que os padres se preocupem em brilhar, mas, à maneira do Santo Cura d'Ars.
Eu já ouvi uma homília que consistiu apenas numa frase ( mas que frase ! ... )- ficámos ali "agarrados" a pensar.
E, Nuno, é verdade que eu também admiro como é que os Padres têm sempre aquela inspiração. Se fosse eu, não sei ... portanto aceito os dias que tenham bons e os menos bons. Mas, não lhes queiramos tirar a palavra ...

João Silveira disse...

De todo, queremos que os senhors padres continuem a falar e que falem bem, com verdade e caridade. Mas homilias de 20 minutos ou mais são complicadas. Ou é um orador perfeito, ou uma assembleia perfeita, o que é muito difícil de encontrar.

Nuno disse...

Maria de Fátima,
Nem remotamente alguma vez pensaria em tirar as palavras aos senhores Padres. Espero que o meu comentário não leve a uma conclusão dessas. Se for o caso aqui fica a minha correção.

Cordiais saudações
Nuno António

Nuno disse...

O que eu quis dizer é que por vezes, o Padre a quem é atribuída a responsabilidade pastoral não é, entre os vários possíveis, aquele que tem maior dom da palavra.

E não estou a dizer isto com sentido negativo ou positivo mas neutro. Poderão haver outros motivos para que tal aconteça (responsabilidade, proximidade com a comunidade paroquial, etc., etc.,etc.).

NA

Pyny disse...

Sobre a arte de falar ver o Sermão da Sexagésima de P. António Vieira. Muito actual e endereça exactamente estes problemas de que falas João. É um texto essencial!

João Silveira disse...

Já ouvi falar, e acho que li um bocado. Tenho que ler o resto! Obrigado!