terça-feira, 22 de novembro de 2011

O sacerdote católico - Cardeal Piacenza

Grupo ACI: Um conjunto de factos e sobreexposição mediática criou uma “crise”, por assim dizer, da imagem do sacerdote católico. Como recuperar esta imagem, para bem da Igreja?

Cardeal Piacenza: Na teologia católica, imagem e realidade nunca se separam. A imagem é curada quando curamos a interioridade. Devemos curar sobre tudo “por dentro”. Não devemos preocupar-nos
muito por “parecer por fora”, mas por “ser realmente”.

Grupo ACI: Alguns defendem que esta “crise” é mais uma razão para as “reformas exigidas” sobre o modo de viver o sacerdócio. Fala-se, por exemplo, de sacerdotes casados como uma solução tanto para
a solidão dos sacerdotes como para a falta de vocações sacerdotais. O que significa verdadeiramente a “reforma do clero” no pensamento e magistério do Santo Padre Bento XVI?

Cardeal Piacenza: Se seguíssemos esse tipo de argumentos, criaríamos uma ruptura inaudita. Os remédios sugeridos agravariam terrivelmente os males e seguiriam a lógica inversa do Evangelho.

Fala-se de solidão? Mas por quê? Acaso Cristo é um fantasma? A Igreja, é um cadáver ou está viva? Os Santos sacerdotes dos séculos passados foram homens anormais? A santidade é uma utopia, um assunto para poucos predestinados, ou uma vocação universal, como nos recordou o Concílio Vaticano II?

Não se deve baixar e sim elevar o tom: esse é o caminho. Se a subida for árdua devemos tomar vitaminas, devemos reforçar-nos e, fortemente motivados, sobe-se com muita alegria no coração.

Para ser fiéis é necessário estar apaixonados. Obediência, castidade no celibato, dedicação total no serviço pastoral sem limite de calendário ou de horário, se estamos realmente apaixonados, não são percebidos como limitações, mas como exigências do amor que por nós não poderíamos conseguir. Não são um molho de “nãos” mas um grande “sim” como o de Nossa Senhora na Anunciação.

A reforma do clero? É o que eu reclamo desde que era seminarista e depois jovem padre (falo dos anos 1968 -1969) e encho-me de alegria ao ouvir o Santo Padre invocar continuamente essa reforma como uma das reformas urgentes mais necessária na Igreja. Mas a reforma de que estamos a falar tem de ser católica e não “mundana”!

Sendo muito breve, pode-se dizer que o Papa considera muito importante um clero seguro e humildemente orgulhoso da própria identidade, completamente identificado com o dom de graça recebido, de tal maneira
que distinga claramente entre o “Reino de Deus” e o mundo. Um clero não secularizado, que não sucumba às modas passageiras nem aos costumes do mundo. Um clero que reconheça, viva e proponha a primazia de Deus, e que tire todas as consequências dessa primazia.

Em duas palavras, a reforma consiste em ser o que devemos ser e procurar cada dia chegar a ser o que somos. Trata-se portanto de não confiar tanto nas estruturas, nas programações humanas, mas sim
e sobre tudo na força do Espírito.


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