quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

Sermão de Quarta-Feira de Cinzas - Padre António Vieira

Ora, senhores, já que somos cristãos, já que sabemos que havemos de morrer e que somos imortais, saibamos usar da morte e da imortalidade. Tratemos desta vida como mortais, e da outra como imortais. Pode haver loucura mais rematada, pode haver cegueira mais cega que empregar-me todo na vida que há de acabar, e não tratar da vida que há de durar para sempre?

Cansar-me, afligir-me, matar-me pelo que forçosamente hei de deixar, e do que hei de lograr ou perder para sempre, não fazer nenhum caso! Tantas diligências para esta vida, nenhuma diligência para a outra vida? Tanto medo, tanto receio da morte temporal, e da eterna nenhum temor? Mortos, mortos, desenganai estes vivos.

Dizei-nos que pensamentos e que sentimentos foram os vossos quando entrastes e saístes pelas portas da morte? A morte tem duas portas: Qui exaltas me de portis mortis. Uma porta de vidro, por onde se sai da vida, outra porta de diamante, por onde se entra à eternidade. Entre estas duas portas se acha subitamente um homem no instante da morte, sem poder tornar atrás, nem parar, nem fugir, nem dilatar, senão entrar para onde não sabe, e para sempre. Oh! que transe tão apertado! Oh! que passo tão estreito! Oh! que momento tão terrível!


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5 comentários:

Antónimo disse...

algo tão simples mas que raramente nos lembramos.

João Silveira disse...

tem razão

Pyny disse...

Gosto!

A. Costa Gomes disse...

A morte é um momento único que merece ser devidamente vivido. Se fôssemos bons uns para com os outros e reconhecêssemos Deus como Pai comum, esta vida seria uma ante-câmara do céu e nada custaria passar, morrendo, para a outra VIDA.

Anónimo disse...

Mas hoje, o problema já não se põe dessa maneira, infelizmente.
Se assim fosse, seria bem mais fácil entender a mensagem do sermão.
Porém, à medida que o tempo avança, o Homem está cada vez mais descrente na Vida Eterna, fixando- se, por isso, neste mundo, e tenta, assim, aproveita- lo ao máximo, sem olhar a meios nem a consequências.
O Homem bestializou- se e, quando o desespero o atinge...simplesmente, escolhe o mais fácil, e suicida- se, não acreditando que, apenas, está a complicar ainda mais a sua sorte, com o risco de perder a alma e a Felicidade Plena por toda a Eternidade.