sábado, 30 de julho de 2022

A evidência racional do sobrenatural

É por motivos racionais, embora não seja por razões simples, que adiro ao cristianismo. Consistem esses motivos numa acumulação de factos diversos, que é também aquilo que justifica a atitude do agnóstico comum. Acontece, porém, que o agnóstico percebeu tudo mal. Ele é descrente por uma série de razões - todas elas falsas. 

Ele duvida porque a Idade Média foi uma idade bárbara, quando a verdade é que não foi; porque o darwinismo está provado, quando a verdade é que não está; porque não há milagres, quando a verdade é que há; porque os monges eram preguiçosos, quando a verdade é que eram diligentes; porque as freiras são infelizes, quando a verdade é que são particularmente alegres; porque a arte cristã era triste e apagada, quando a verdade é que era feita de cores berrantes e recoberta a ouro.

Contudo, no meio destes milhões de factos, todos orientados para o mesmo ponto, há naturalmente uma questão que se coloca, uma questão suficientemente sólida e distinta para ser tratada de forma breve, mas independente; refiro-me à ocorrência objectiva do sobrenatural. Dispomos de uma quantidade imensa de testemunhos humanos a favor do sobrenatural. 

Se as pessoas os rejeitam, só pode ser por uma de duas razões: rejeitam a história que o camponês conta acerca do fantasma, ou porque o homem é um camponês, ou porque se trata de uma história de fantasmas; isto é, ou negam o princípio de base da democracia, ou afirmam o princípio de base do materialismo, que consiste na impossibilidade abstracta de haver milagres. Têm todo o direito de o fazer; mas, em ambos os casos, essas pessoas é que estão a ser dogmáticas. Nós, os cristãos, aceitamos os indícios de facto; os racionalistas é que se recusam a aceitar as provas, e são constrangidos a fazê-lo em virtude do credo que professam. 

Por mim, não estou constrangido por credo algum relativo a esta matéria; de maneira que, analisando de forma imparcial determinados milagres dos tempos medievais e modernos, cheguei à conclusão de que eles de facto de se deram. Todos os argumentos contra estes factos são circulares. 

Se eu disser: "Os documentos medievais atestam determinados milagres como atestam determinadas batalhas", respondem-me: "É que os medievais eram supersticiosos"; mas, se eu quiser saber em que medida é que eles eram supersticiosos, a resposta será, em última análise, que o eram porque acreditavam em milagres. Se eu disser: "Um camponês viu um fantasma", respondem-me: "É que os camponeses são muito crédulos"; mas, se eu perguntar: "Mas porque é que eles são crédulos?", a única resposta que recebo é: "Porque vêem fantasmas." 

G.K. Chesterton in Orthodoxia


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1 comentário:

Maria José Martins disse...


Conclusão: "Preso por ter cão e preso por não o ter..." Ou seja: "Cego não é o que não vê, mas aquele que não quer ver..."

Quando alguém, com HUMILDADE, se abre à procura da VERDADE, mesmo que seja ATEU ou agnóstico, Deus perscruta o seu coração e acaba SEMPRE por Se revelar...Depois, depende da abertura e da disposição ou disponibilidade de cada um, para que ELE possa continuar a agir...
"Deus revela-Se àqueles que O PROCURAM e esconde-Se àqueles que O TENTAM!"
"Há um vácuo em forma de Deus, no coração de cada homem, que não pode ser preenchido por qualquer coisa criada, mas, apenas, por Deus, O Criador, revelado por Jesus Cristo!"--Pascal